Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 17
Uma Missão: O Entretenimento!




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Damian pôs-se a andar desviando-se das pessoas amontoadas, da música alta e quase ensurdecedora, andava cada vez mais rápido, queria fugir daquela multidão, por mais que estivesse cercado de pessoas sentia-se só, seu pai não se importaria com sua ausência e quanto à Rosalind...

O adolescente subiu um pequeno morro esforçando-se um pouco, o sol não perdoava um só instante e esforçar-se com uma roupa tão calorosa quanto o fraque que usava não era fácil. Recostou-se sobre a sombra de uma árvore fechando os olhos, queria pensar que estava bem longe dali, num lugar onde não houvesse nada nem ninguém, apenas ele e sua desleal imaginação, tão cruel e sedutora que se fosse tomar forma, seria a fiel imagem de uma deusa poderosa e injusta. Sentia a brisa em sua ebúrnea face trazendo a tranqüilidade do silêncio até seus ouvidos, até suas narinas que absorviam sofregamente aquela calma na qual tanto precisava, porém não durou muito. Ouviu uma fina voz invadindo sua mente:

___ Senhor Petrescu?

Abriu os olhos direcionando-os para o ponto de onde escutara o chamado e surpreendera-se ao notar que era Viorica. A menina estava diferente, com um vestido cor-de-rosa claro, simples porém formoso contornando seu corpo e mostrando que aos poucos deixava de ser criança para se tornar uma mulher, e pelo visto seria uma mulher encantadora, sapatos rosados e bem lustrados, um véu branco feito de seda e muito bem rendado entre os dedos cobertos por luvas de mesma cor, os cabelos cacheados e caídos aos ombros como cascatas de uma majestosa cachoeira, estava muito bonita para uma simples empregada.

___ Viorica?___ disse Damian ao fitá-la, talvez só chamasse por seu nome para ter a absoluta certeza de que era a mesma Viorica.

___ Perdoe-me, não quis assustá-lo, senhor.

___ Não precisa pedir perdão, o que faz aqui?

___ Estive pensando no que me disse antes de sair e percebi que tens razão, senhor, lágrimas e tomates não irão trazer minha mãe de volta.

___ Peço desculpas, dragul meu, não devia ter dito aquilo, não quis ofendê-la muito menos magoá-la.

___ Nu, de forma alguma o senhor me ofendeu, pelo contrário ___ disse ela aproximando-se ___, o senhor fez-me pensar.

___ Eu fui um tolo isso sim.

___ Não, senhor, certamente que não.

Um breve silêncio se formou, o rapaz não podia parar de admirar aquela menina tão patética que falava baixo e vivia encolhida como se fosse um bebê no útero de sua mãe, porém estava tão atraente naquele momento.

___ Então... Por que não está apreciando o festival?

___ Não quis aparecer diante de todos sozinha, fiquei observando de longe.

___ Quer que eu lhe acompanhe?

O inocente e tímido sorriso da entristecida órfã o convidou a sorrir também, Damian então disse brandamente estendendo-lhe o braço:

___ Venha, ficará perto de mim e de meu pai durante as atrações.

___ Eu lhe agradeço, senhor Petrescu.

___ Hoje é um dia de comemorações, não existem senhores e empregados, hoje somos todos iguais e acima de tudo bons amigos, me chame apenas de Damian.

___ Como quiser, senh... Quero dizer, Damian.

Ele riu com o modo desajeitado da garota e juntos voltaram para perto de seu pai e da família Dumitrescu, Ionel ao ver o filho acompanhado, perguntou:

___ Damian, o que fazia junto de Viorica?

___ Eu a encontrei observando o início do festival de longe e a convidei para juntar-se a nós, fiz mal?

___ Ora, de modo algum, Viorica é parte da família, como se fosse uma irmã mais nova minha, pois Irina era como uma mãe para mim.

Realmente era sua irmãzinha, porém bastarda, porém querida. Ionel nunca tocava neste assunto, tanto é que se o garoto Damian não houvesse flagrado um diálogo entre o pai e o avô em um dos almoços da família, jamais saberia de tal segredo, julgou que logo o esqueceria, mas ao fitar o semblante cândido e juvenil daquela criatura, lembrou-se do segredo, do mistério, da vergonha.

Infelizmente seu orgulhoso e fútil avô não estava mais respirando e desfrutando do lado obscuro e libertino da vida, um súbito câncer no pulmão o fizera definhar em questão de meses, não era tão repentino assim, na verdade todos já esperavam por isso, viúvo e portador de três terríveis vício, o fumo, a jogatina e o sexo, fora afundando-se lentamente em cada um daqueles pérfidos prazeres, prazeres breves e incalculados, quase jogou o nome da família na lama. Ionel por algumas vezes dizia ao filho que tinha sorte por não tomar conhecimento da vida do avô, era um parvo que há muito tempo já devia ter partido.

A jovenzinha apenas sorriu timidamente abaixando os olhos diante da fala do homem, Damian notara o repentino aborrecimento da empregada e tentou animá-la.

___ Ei, veja só como aquele palhaço é tão tolo!___ disse ele apontando para um homem andando sobre pernas de pau e fazendo malabarismo simultaneamente, pôde ouvir os finos risos da órfã e sentiu-se satisfeito por conseguir alegrá-la.

Durante o resto do espetáculo o moço ficara encarregado de animar e impressionar a pequena garota, apontava para tudo quanto era lado buscando prender sua atenção com características insignificantes, mas que para ela eram novas e sublimes. Comprara-lhe uma maçã do amor e continuara enfeitiçando-a contando sobre a festa com riqueza de detalhes e adorava ver seus negros olhos arregalando-se de surpresa e interesse.

A música cessou-se, os palhaços, os músicos e os dançarinos inclinaram-se e acenaram agradecendo ao povo por terem apreciado o espetáculo que durara três horas inteiras, aos poucos foram saindo caminhando para perto de amigos e parentes, cada um com uma fantasia e aquilo tornara-se um breve desfile onde fora esbanjado cor e alegria.

Damian e Tristan viram Sr. Costel dirigir-se ao centro da pequena arena montada com antecedência, arquibancadas feitas de madeira, porém fortes o bastante para sustentar todo o vilarejo que certamente iria comparecer para celebrar o início da primavera, todos puderam enxergá-lo com nitidez e fizeram silêncio quando o sujeito introduzira sua fala com o tradicional Senhoras e Senhores!

___ Dentro de alguns instantes vocês verão o torneio de arco e flecha, a arena será preparada enquanto os competidores também se preparam em suas tendas...

Tristan deu um leve tapa no ombro do amigo dizendo:

___ Chegou a hora, vamos para a tenda nos preparar, Damian.

___ Certo.

O rapaz levantou-se, porém Viorica disse algo que o deteve e o fizera virar-se na direção dela.

___ Mult noroc, Damian, torcerei por você.

___ Mersi, Viorica ___ respondeu ele sorrindo, um sorriso sincero e tão terno diante da equivalente ternura em pessoa que vos falava.


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