Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 13
O Dia da Festa da Colheita!




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Na manhã tão esperada os Petrescu levantaram cedo para a comemoração, Damian estava terminando de abotoar seu colete, estava excitado pensando em todas as brincadeiras divertidas que faria acompanhado de seus amigos, esta era uma das poucas ocasiões em que podiam rir e conversar sem que nada os impedissem.

Olhou-se no espelho, vestia um fraque cinza claro com uma camisa branca, sapatos negros de couro, bonitos e bem lustrados, os cabelos caídos aos ombros, estava satisfeito com o que via refletido, porém lembrou-se de Benjamin Grigore, pensou que jamais em sua vida estaria tão elegante e refinado quanto ele, afinal a profissão de ferreiro não lhe daria dinheiro o suficiente nem para o broche cravejado com esmeralda que estava em ambas as mangas do fraque de veludo do moço.

Pôs a mão em um dos bolsos de sua calça e de lá retirou o pequeno rubi, fitou-o atentamente durante alguns minutos, não conseguia desvencilhar-se dele um só instante, temia perdê-lo e não queria imaginar o que lhe aconteceria se isto chegasse ao conhecimento daquele homem tão rico e bem apessoado.

___ Damian, está pronto?!___ ouviu o grito de seu pai vindo do andar de baixo.

___ Eu já vou descer!___ respondeu guardando a pedra escarlate novamente em seu bolso.

Antes de chegar ao último degrau da escada já podia ver seu pai com um simples fraque bege, porém que transmitia muita elegância, afinal Ionel não se importava muito com a moda, mas sabia se vestir.

___ Pois bem, estou aqui ___ disse ele com um jovial e empolgado sorriso em sua face.

___ Está muito elegante, fiu, aposto que sairá do baile esta noite com alguma dama muito sortuda!

___ Assim espero, tata!

___ Bom vamos logo, não quero perder as palavras de Padre Cosmin.

___ Certo, tata, vá na frente.

___ Tudo bem, fiu.

O garoto estava quase saindo quando avistou Viorica na cozinha picando alguns tomates sobre uma tábua de madeira, olhara para seu pai, estava distraído tagarelando com o cocheiro enquanto subia na carruagem, decidira ir rapidamente até perto da menina.

Seus passos foram lentos e silenciosos, ela não percebera a presença do rapaz praticamente ao seu lado, Petrescu pôde ver cristalinas lágrimas banhando os olhos opacos da empregada, engoliu grosso e depois disso resolveu falar:

___ Não vai à festa da colheita?

Percebera que a assustara, subitamente a jovem limpara suas mãos no avental e enxugara as lágrimas que caíam sobre seu rosto, tentou sorrir para disfarçar sua dor, mas era tarde, o ferreiro já havia notado.

___ Ah não, meu senhor, tenho tantas coisas para fazer, não posso me ocupar com tolices, tudo deve estar em perfeita ordem para quando retornarem do festival e...

Ela o encarou lutando para não chorar, então abaixara a cabeça e com suas mãos começou a torcer o avental, o jovem caminhara até próximo dela e com seus dedos tocando o queixo da menina levantou seu rosto e encontrara seus negros olhos tristes.

___ Lágrimas e tomates não a trarão de volta.

Viorica fez um bico e apertando os olhos deixou as lágrimas correrem sem cessar, Damian afastou-se dizendo:

___ La revedere¹.

Ao ouvir a porta bater, a órfã sentou-se à mesa jogando seu magro corpo sobre ela e chorou com toda a força que possuía tentando matar a dor que somente aumentava a cada lágrima derramada.

Do lado de fora da casa, Ionel colocara a cabeça para fora da janela da carruagem para indagar:

___ O que houve, Damian?

___ Nada, tata, eu só... Fui verificar se estava tudo em ordem na casa.

___ Viorica cuidará de tudo durante nossa ausência.

___ Certamente, tata.

___ Vamos suba logo, fiu, não quero perder as palavras do padre.

O garoto subiu e entrou na carruagem com o auxílio do cocheiro sentando-se de frente para seu pai fechando a pequena porta de madeira revestida de veludo na parte interior, o homem que lhe ajudou ajeitou-se em frente ao veículo segurando as rédeas dos cavalos em cada uma das mãos e batendo em seus lombos para que se pusessem a andar.

De tempos em tempos Damian observava seu pai, tentava captar cada minucioso detalhe daquele homem tão gentil, sempre lhe ensinando a seguir um caminho honesto e correto, o garoto certamente o amava muito, o velho ferreiro era seu herói, um cavaleiro como nas histórias medievais do romantismo europeu que Irina lia para ele quando era apenas uma doce criança, em todos os contos de cavaleiros, sempre imaginava que o mais bravo e destemido era seu pai, o idolatrava ainda mais quando lhe dava aulas de esgrima, surpreendia-se ao vê-lo manuseando tão fácil e habilmente um instrumento afiado e perigoso como uma espada.

Damian era um garoto taciturno, sempre só com seus próprios pensamentos, deixando que eles o dominassem e o fizessem ver o que estava além da lógica, porém estava ali diante de seus olhos. Desde a infância era assim, os livros lhe pareciam bem mais interessantes do que qualquer outra coisa que lhe sugerissem e por viver assim tão solto ao vento observava o mundo extremamente calado e atento aos detalhes, por menor que fossem.

Quando passou a conhecer e entender melhor as coisas mundanas notou algo estranho, não se parecia em nada com seu querido pai, Ionel tinha uma pele morena, cabelos e olhos castanhos, uma boca fina assim como seu nariz e o contorno triangular de sua face, para ele, o homem lhe parecia um desconhecido, nada herdara do humilde trabalhador.

Havia certa vez lido sobre genética em alguns escassos livros de ciências da época, as explicações eram muito vagas, quase nada se sabia sobre isto, o rapaz buscava respostas para esta questão que desde a puberdade lhe incomodava martelando incessantemente a cabeça, entretanto nada encontrara, apenas citações que de nada valeram. Todavia o moço não mais importava-se com isto, acreditava que os traços que adquirira do pai não eram explícitos, mas sim interiores como a bondade, o carinho, a paciência, o ar jovial e a habilidade na fabricação de peças de metal.

___ Minha Nossa, estou fervendo aqui dentro, vou abrir um pouco as janelas!___ falou Ionel com uma voz abafada afrouxando seu plastron.

O pai ao abrir as janelas da carruagem, deixou que um fio de luz do meio-dia adentrasse o interior obscuro do meio de transporte penetrando na ebúrnea cútis da mão de Damian, que estava sobre o banco de couro, após o raio tocar-lhe o jovem esquivou-se e encolheu-se no canto do veículo onde a penumbra ainda prevalecia.

O viúvo notara a repentina reação do filho e perguntara com preocupação:

___ O que houve, Damian?

___ O sol, tata.

___ Oh, meu Deus, de novo não... ___ exprimiu o senhor com ar desanimado.

___ Deveríamos solicitar uma visita do doutor Valeriu em nossa casa para te reexaminar e ver o que está acontecendo ___ sugeriu o velho ferreiro.

___ Não será necessário, tata.

___ Como não?! Desde criança você tem estas estranhas queimaduras apenas por ficar pouco tempo exposto ao sol, alguma coisa tem de ser feita!

___ O doutor Valeriu disse uma vez que era pela razão de minha pele ser muito pálida, esta é a explicação.

___ Mas o que podemos fazer? Esperar que você vire pó quando a luz do sol tocar em sua pele?

___ Não seja tolo, tata!___ exclamou o rapaz revirando os olhos.

Fez-se um chateado silêncio que durou alguns minutos morrendo com a voz de Ionel dizendo ao olhar pela janela da carruagem:

___ Olhe! Como a vila está magnífica! Decoraram até a igreja!

O cocheiro deteve os cavalos e ajudou os cavalheiros a descer, começaram a caminhar lentamente observando todos os detalhes.


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Notas finais do capítulo

1. "La revedere" significa "Até logo ou Adeus" em romeno.



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