Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 14
Rosalind Iordache




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Realmente o vilarejo estava fabuloso, correntes feitas por flores entrelaçadas em cordas foram distribuídas por todos os cantos, haviam várias barracas feitas de madeira, cada uma com uma especialidade, alimentos, roupas, acessórios, tecidos, bebidas e muitas outras coisas sendo vendidas a um preço muito baixo e acessível a todos.

As pessoas iam e vinham de todos os lugares, as vozes se confundiam assim como as cores, os rostos, os sons, no centro da linda praça tão florida havia um sexteto tocando várias melodias alegres e festivas, crianças, jovens e adultos já começavam a se aproximar para apreciar a boa música, alguns até arriscavam alguns passos de sirba reunindo-se em trios ou até quartetos, porém o festival ainda não iniciara-se.

Damian andava ao lado de seu pai, percebia que ele estava animado, pois não parava de olhar para todos os lados enquanto o jovem apenas observava tudo sem muita atenção, seus olhos vagavam sem se fixar em algo que realmente valesse a pena.

O sol estava quente, porém não tão forte quanto no verão, estava um clima agradável e a festa era principalmente para dar as boas-vindas à primavera que acabara de chegar, o moço para se proteger estava usando um chapéu rodeado por uma faixa negra de cetim, a cor equivalia a de seu terno, o acessório o ajudava a não queimar o rosto e era um tanto fora de moda. Usava luvas brancas de seda nas mãos, isto também lhe auxiliava a mantê-las a salvo dos pérfidos raios solares e ainda dava um ar mais garboso à sua aparência.

Muitas garotas passavam diante do rapaz sorrindo e acenando, em seus olhos podia notar-se o desejo que tinham de passar pelo menos uma noite com o jovem venusto de traços tão voluptuosos, porém ele nada fazia, apenas sorria e acenava com um gesto educado e cavalheiresco.

Ionel bate suavemente no braço do rapaz avisando:

___ Vamos, o Padre Cosmin dará início ao festival!

Os dois seguiram até a pracinha onde estava o padre seguido de seus coroinhas, a população reuniu-se à sua volta para receber sua bênção e ouvir suas belas palavras que dariam início à magnífica festa em comemoração à primavera.

___ Meus fiéis amigos, hoje estamos aqui para celebrarmos o início de uma nova e colorida estação, uma estação de renovação e de alegria para as crianças, os jovens, os adultos e os anciãos que puderam ver o sublime desenvolvimento desta vila com o passar dos anos e...

Como era de se esperar, o ferreiro não estava prestando atenção em nenhuma palavra que julgava tediosa daquele velho cristão, por mais que fixasse seus olhos no rosto enrugado daquele homem, sua mente viajava para outros mundos e quem pudesse notar no fundo de seu olhar veria que não estava ali, por fora aparentemente, mas por dentro não tinha alma, estava vagando por uma existência desconhecida.

Algo prendera sua atenção e o fez voltar para aquele vilarejo colorido e ansioso para festejar, a alguns metros de si avistara Rosalind com ambas as garotas daquela noite deliciosa que passara à beira do lago com os amigos, todos banhados por um pálido e ardoroso luar.

Seus olhos tornaram-se ainda mais azuis e a luz que emanava deles poderia refletir todo o local se por acaso o sol repentinamente se apagasse, naquele momento havia somente ela cercada por nada, um nada onde a bela jovem reinava suprema e sozinha, um nada onde a garota era o centro das atenções, um nada que a distanciava de seu corpo e de sua alma.

Rosalind estava maravilhosa, sua delicada beleza tal qual a de um cândido anjo ou até mais magnífica, podia ver seu sorriso lívido brilhando radiante feito uma meia lua, seus cabelos cacheados caindo sobre o rosto, usava um delicado e florido chapéu boneca, os raios solares quando resplandeciam em seus fios davam-lhe um tom afogueado semelhante à uma intensa e sensual chama dançando na lareira. Suas maçãs do rosto estavam rubras e suculentas como se fossem realmente o fruto do pecado, seus olhos apertavam quando sorria, um sorriso encabulado e repleto de graça.

O moço começou a notar as vestes da donzela, um delicado vestido de um amarelo claro, suas mangas iam até os cotovelos decoradas por rendas brancas com delicados pontos e flores precisamente trabalhadas, sua costura era suave, as anáguas por debaixo do vestido davam a impressão de não ser tão volumoso, pois haveria dança e música, provavelmente a jovem não queria esforçar-se tanto ao festejar com uma roupa pesada, usava luvas de arrastão brancas e entre os dedos segurava um guarda-sol feito de seda.

Ela estava linda, porém ainda lembrava uma típica e humilde camponesa, talvez fosse isto que a tornava ainda mais bela, seu modo formoso, todavia nada exagerado ao se vestir, não era como as outras damas do povoado que exageravam em suas vestes e nas maquiagens pálidas para parecerem bonecas doentes, na opinião do jovem era tolice as mulheres seguirem tão cegamente um padrão de beleza, Rosalind escapava um pouco, mas ainda sim era escrava da cruel moda e dos tolos costumes.

Rosalind Iordache tinha um ar puro e afável, uma virgem imaculada, uma imagem santificada que ninguém jamais denegrira ou profanara, uma deusa, um anjo, uma feiticeira que o envolvera num encantamento desde a primeira vez que repousara suas preciosas safiras sobre aquele esbelto corpo de linhas sensuais.

Decidiu não mais ficar parado sem nada a fazer, pôs-se a caminhar lentamente afastando-se de seu pai que nem ao menos notara seus movimentos, estava demasiado atento ao aparentemente longo discurso do padre.

Aproximando-se das três jovens que logo o viram, o rapaz retirou seu chapéu inclinando sutilmente para frente num ato de respeito e educação para com elas, sorrindo ele disse:

___Bună ziua¹, senhoritas.

As duas moças responderam com um ar encantado ao cumprimento do adolescente, entretanto, foram os lábios da bela dama Iordache que prenderam sua atenção, acompanhou atentamente o movimento deles ao dizer:

___ Bună ziua, Damian.

___ Estão ansiosas para o festival?

___ Da, estamos!___ disseram ambas as garotas, porém a terceira não se manifestara.

___ E você, Rosalind?

___ Ah, tenho certeza de que será estupendo!

___ Certamente será ___ respondera ele com um enorme sorriso em seu semblante.

___ Ãh, Rosalind, importa-se se a deixarmos por alguns instantes?___ perguntara uma de suas amigas.

___ É claro que não, mas por quê?

A jovem de cabelos de bronze olhara na mesma direção em que ambas as amigas fitavam e vira seus pretendentes devolvendo-lhes os olhares, a moça sorriu e disse:

___ Oh é claro, ficarei em ótima companhia.

___ Voltaremos logo, La revedere, Damian.

___ La revedere, senhoritas.

As garotas fizeram com que ambos ficassem a sós, Damian para não deixar o silêncio reinar tentou introduzir um diálogo:

___ Me parece que elas estão apaixonadas.

___ Estão sim.

___ Pensam em se casar com eles?

___ Ionela me disse que seus pais gostam muito de Ciprian e que ambas as famílias se gostam, não seria uma união infeliz.

___ Creio que ambos estão muito apaixonados.

___ Ah sim, pelo que me consta ambos parecem muito felizes! Alina e Liviu também.

___ Isto é muito bom! Em breve esta vila será prestigiada com dois matrimônios.

___ Acredito que será muito mais breve do que imaginamos.

Os dois riram, porém logo o sorriso se desfizera dos lábios carmesins do cavalheiro, começou a encarar a garota seriamente como se a estivesse desafiando.

___ E você?___ perguntou ele.

___ Ah... Tata está querendo que eu me case, mas ainda não sabe a quem destinar-me, ele disse que já estou em idade de ter uma família e cuidar de minha própria casa, está difícil convencer alguém que queira minha mão seguida de um dote tão pequeno, pois... ___ o rapaz notara que a meia lua tão lívida cuja as extremidades estavam esticadas para cima mudaram a direção, caindo e seguindo a linha do arredondado e fino queixo ao mesmo instante que os olhos dela tornavam-se úmidos e suas sobrancelhas caíam para os lados ___ Ah, Damian, conhece a situação de minha família.

___ Sim conheço, porém acho tolice as pessoas se preocuparem tanto assim com dinheiro e bens materiais.

___ Oras, você não se importa com isso?

___ Nu, de que valem tantos bens e dinheiro se nada levaremos para o túmulo?

A donzela riu.

___ É um pensamento curioso.

___ Você acha?

___ Acho, mas não é estranho vindo de um garoto como você.

___ Não entendi o que quis dizer.

___ Damian, nos conhecemos há alguns anos, não são muitos, mas são o suficiente para que aprendesse um pouco sobre você. 

___ O que aprendera sobre mim?

___ Que sempre vive com a cabeça cheia de sonhos. A maioria deles, fúnebres.

___ Não é bom sonhar?

___ É ótimo, mas devemos ser realistas, sonhos não são reais.

___ Podem não ser, porém a vontade de realizá-los é e é ela que move as pessoas para que realizem seus sonhos.

___ Certamente que sim, mas o que quero dizer é ...

___ Salut², como estão?___ falou Tristan surpreendendo-os.

___ Oh salut, Tristan!___ cumprimentou a jovem sorrindo.

___ Atrapalho algo?

___ Claro que não, estávamos apenas conversando ___ respondeu ela.

O amigo olhou para o rosto sério do jovem ferreiro, que logo tratou de sorrir para disfarçar sua irritação.

___ Da, estávamos apenas conversando ___ confirmou Damian esticando os lábios, porém ao mesmo tempo mordendo o interior das bochechas.

___ Ótimo, e sobre o que era o assunto da conversa?

___ Sonhos ___ replicou o garoto Petrescu.

___ É um assunto interessante, porém deixo para tratá-lo apenas quando me deito para dormir.

Tristan começou a rir e seu riso contagiou a bela senhorita, o adolescente sentiu uma pontada de ciúme e raiva, contudo novamente disfarçou com um riso forçado para que ninguém notasse sua leve sanha. Seus olhos tal qual o mar bravo e inquieto fitaram o amigo como se estivesse marcando seu rosto para nunca mais esquecer-se.

___ E então, Damian, preparado para as competições?

___ É claro, me preparei durante todo o inverno. E você?

___ Estou sempre preparado,prietenul meu .

___ Sempre tão convencido, Tristan.

___ Oras, prietenul meu, todos nesta aldeia sabem que sou o melhor competidor, não importa qual modalidade seja, eu sempre venço.

___ Não conte vantagem antes do tempo, prietenul meu.

___ Não estou contando vantagem, Damian, estou prevendo algo já esperado pelo povo!

Petrescu notara que Dumitrescu parecia muito convencido e por um momento julgou isso propício, se à esta altura já estava gabando-se sem nem ao menos ter ganho as competições, na hora estaria vangloriando-se demais para concentrar-se. Por ora, espantou estes pensamentos e disse sorrindo:

___ Eu também espero que se saia bem, prietenul meu.

___ Não tenho dúvidas de que vencerá, Tristan ___ disse Rosalind.

Damian não somente viu, mas sentiu o desejo da garota para com o companheiro e aquilo o perturbou ainda mais, porém algo amenizara sua raiva voltando sua atenção para onde a população estava concentrada, os bumbos começaram a soar dando início ao festival, às danças e às competições.

___ É hora de deixarmos as donzelas torcendo enquanto iremos competir, não é mesmo, Damian?

___ Da ___ respondeu o moço sorrindo.

___ Então vamos, meu caro, e, bela dama, vá para junto de suas amigas, teus donaires olhos irão guiar-me para a vitória ___ falou o jovem burguês beijando a mão de Rosalind, a garota encabulara-se.

___ Mult noroc³, cavalheiro!

O ferreiro deixou-se possuir instantaneamente por uma fúria descontrolada que agia no ritmo de sua fértil imaginação, os olhos refletindo intensas labaredas de ódio e através deles pôde ver Tristan ardendo, sua pele borbulhando, sua carne tostando e seu sangue sendo derramado, curiosamente ao tocar o chão transformando-se em pequeninas pedras de rubi, seus gritos eram tão reais que poderia jurar que tudo estava acontecendo naquele exato momento e diante de sua vista.

A voz da moça invadira sua mente fazendo-o esquecer de tais pensamentos e voltar sua atenção inteiramente à ela.

___ Damian?___ indagou a senhorita.

___ Da?

___ Mult noroc a você também.

O rapaz sorrindo inclina-se e tira o chapéu.

___ Mulțumesc, milady.

___ Vamos logo, Damian, vamos mostrar a este povoado quem são os verdadeiros heróis.


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Notas finais do capítulo

1. "Bună ziua" significa "Boa tarde" em romeno.
2. "Salut" significa "Olá".
3. "Mult noroc" significa "Boa sorte".
4. "mulțumesc" significa "obrigado".



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