Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 12
Mais Uma Perda




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Finalmente algo para distraí-lo, um grande feriado estava se aproximando, a comemoração de um deus que o garoto desconhecia. Damian sempre ia à igreja com seu pai, mas nunca acreditara em deuses, muito menos em Cristo, olhava para todas aquelas imagens pintadas nas paredes e até no teto da igreja, porém nunca entendeu o que elas realmente significavam. Não ousaria dizer que a crença em deuses era tola, pois poderia até ser acusado de bruxaria, um perfeito herege que merecia arder no inferno, uma vergonha para seu pai.

Ionel tornou-se religioso quando Katrina morrera, todos os domingos ia à igreja e ouvia as doces palavras de Padre Cosmin, tão profundas que o faziam chorar, olhava para a imagem da Virgem Maria e só conseguia ver a falecida esposa refletida ali. Era bela e inocente e ambos foram abençoados com um divino presente, não foi justo este fim, ela não poderia ter partido.

Este feriado era para comemorar a boa época da colheita nas lavouras, uma época de fartura para toda a população, haveria dança durante o dia, apresentações, peças de teatro, combates simulados e durante à noite uma missa em celebração à colheita e logo em seguida, um romântico baile de máscaras, que era tradicional.

O ferreiro passou a deixar um pouco de lado a adaga em processo de fabricação e todos os pensamentos que giravam em torno dela e do estranho lorde, que nunca mais vira desde aquele dia. Começou a preencher sua mente com os preparativos para a grande festa.

Trabalhava com satisfação nas armaduras, espadas, escudos, ferraduras e muitas outras peças, ajudava seu pai à pintá-las, teriam de se apressar, faltavam apenas alguns dias para a comemoração e todos da aldeia já estavam empolgados. Todavia, algo aconteceu que deixou pai e filho entristecidos faltando apenas alguns dias para as comemorações.

A cada vinda, o tenebroso inverno tornava-se mais cruel, tomava para si vidas inocentes de idosos e crianças tão vulneráveis à baixa temperatura que transpassava menos de cinco graus, alguns adultos sadios também eram vítimas da temida pneumonia e da tuberculose. 

Durante todos os invernos sempre fora assim e neste não seria diferente, desta vez ele levaria alguém que Damian muito amava, não só ele como Ionel e até Viorica. Irina passava dias e noites tossindo, sua temperatura sempre alta, estava fraca e mal conseguia fazer as tarefas domésticas, até uma noite passar duras e longas horas tossindo e padecendo de dores em seu peito, então a manhã seguinte chegou, tendo um olhar a menos para contemplá-la. 

Os três ficaram entristecidos, a dor que caiu sobre eles não tinha como ser expressada, porém o melhor que podiam fazer era providenciar um bonito funeral e encarregarem-se de que a imagem de mulher batalhadora e carinhosa que moldava Irina jamais fosse esquecida.

A mulher tivera um enterro digno junto aos parentes da família Petrescu, estava perante eles desde o nascimento de Ionel, não seria justo desprezá-la no momento de sua partida. Chamaram o padre que disse belas palavras bíblicas diante do caixão de madeira fechado, todos ali presentes trajavam luto.

O moço não conseguia prestar atenção nas palavras do velho padre, sua mente vagava por outras dimensões, por mais que seus celestes olhos estivessem fixos no leito onde sua segunda mãe para sempre jazeria, seus pensamentos refletiam apenas uma imagem, a prateada adaga, seu gume brilhando com a luz da lua e pequeninas gotas de rubi caindo ao chão.  Direcionou seus olhos à Viorica, a pobrezinha chorava baixo, porém descontroladamente, Ionel estava com os olhos baixos e as mãos cruzadas, aparentemente sério, estavam ali somente eles, a garotinha e o padre, nada nem ninguém mais.

Naquela noite, o rapaz descera até à cozinha segurando a pequena jóia em uma das mãos e na outra um castiçal, quando abrira a porta, deparou-se com a menina debruçada sobre a mesa, a cabeça entre os braços, ela emitia finos sons chorosos. Rapidamente ele colocou o rubi no bolso de sua ceroula e pôs-se a andar em direção ao seu quarto, porém foi visto.

A jovem levantou a cabeça enxugando as lágrimas e chamou:

___ Sr. Petrescu?

Damian virou-se balbuciando:

___ Ah... Îmi pare rău, não quis assustá-la, eu somente vim pegar um copo d’água, lamento incomodá-la, bună seara.

___ Eu que peço perdão, senhor, não deveria estar na cozinha chorando feito uma tola, aqui não é o meu lugar, rău, eu mesma lhe servirei o copo com água.

O adolescente a pegou pelo braço dizendo:

___Você não é uma tola, tem mais que o direito de chorar pela morte de Irina, afinal era sua mãe. Confesso que estou muito abalado... Ela era uma mãe para mim e para meu pai também, todos nós lamentamos por sua perda.

Num repentino ato, a garota o abraça fortemente e começa a chorar com a cabeça encostada em seu peito nu.

___ Ela era minha única família, tudo que eu tinha.

Podia sentir as lágrimas quentes da jovem órfã em contato com sua pele pálida e fria, no início ficou assustado com o súbito abraço, mas aos poucos começou a entrelaçar o frágil e pequeno corpo da empregada e afagar-lhe os cabelos escuros, apoiou sua cabeça sobre a dela e disse em voz baixa e branda:

___ Vai ficar tudo bem...


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