Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 101
Adeus, papai!




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Damian não ouviu mais a voz de Benjamin, não queria nem ao menos abrir os olhos para ver se ainda estava parado em sua frente admirando de um modo tão macabro sua mais terrível dor, queria apenas depositar docemente todas as suas mais amorosas e fúnebres lágrimas sobre o corpo de seu pai, seu herói, seu protetor, um ser humano tão bom e honesto que não merecia este triste fim.

Por um momento, passou por sua cabeça se Ionel havia sofrido. Enquanto estava desfalecido e escondido na relva alta de uma deserta estrada escura, Ionel acordava subitamente de um doce sonho, colocaria os sapatos pegando um pequeno castiçal, desceria vagarosamente as escadas, pois o motivo para despertar bruscamente fora um barulho que presumiu vir da cozinha, ele então desceria e encontrar-se-ia com a pérfida escuridão.

Cada ação passava-se claramente na mente de Damian como se fosse exatamente assim que acontecera, a medida em que lamentava pela triste e confusa verdade latejando em sua cabeça, Ionel então moveria rapidamente o castiçal de um lado a outro apertando os olhos para que pudesse enxergar o que a fraca chama da vela capturasse, ele então veria os olhos de Benjamin cruéis e sedentos, um par de chamas coriscantes no negrume, porém não havia uma cega sede, mas sim uma sede vingativa, esta era sua sede, tão pura e voraz, uma sede que faria de tudo para saciar.

Ionel tentaria gritar, mas os movimentos do outro foram mais rápidos agarrando-o antes que um único ruído pudesse ser emitido, levá-lo-ia à sala num ato tão veloz como um piscar de olhos, segurá-lo-ia com bruta e incomum força nunca encontrada antes em nenhum outro homem, Benjamin puxaria os cabelos do homem, que aos poucos perdiam sua cor negra dando lugar a um tom cinza brilhante, inclinando forçosamente sua cabeça para o lado, cravaria suas lúridas presas na pele enrugada e morena do ferreiro e então teria sua vingança.

Era doce e amarga ao mesmo tempo, esperou tanto por aquele instante, mas então saberia que Damian iria chegar, iria encontrá-lo morto aos seus pés e sofreria, a dor do adolescente seria a sua dor, mas não poderia parar, a raiva lhe cegava e conduzia todas as suas ações, seus olhos adquiriram o tom do sangue e então sua sede de vingança e o fluido vital se encontravam em uma espécie de rito sagrado onde nada pudesse sair errado.

Damian então chorava, as lágrimas misturavam-se ao sangue coagulado do pai manchando o chão da sala, estava ali. Mas uma coisa era ainda mais cruel que ver seu grande herói ser derrotado por seu outro herói, era sentir o cheiro do sangue de Ionel e de uma maneira tão horrenda, sentir atração por ele.

Sabia que não faria, não provaria de uma só gota, mas a vontade era tanta e fazia a dor aumentar, tornar-se tão intensa a ponto de pensar em tirar a própria vida para que ela pudesse se findar.

Benjamin admirava o garoto em prantos estendido sobre o corpo de Ionel, entendia perfeitamente a dor dele, o que o deixava enraivecido, pois julgava uma dor desnecessária, ele estava ali para amá-lo, estava ali para ser tudo que quisesse que fosse, estava ali tão e somente por ele, pensava que não merecia encarar tal cena, era por ele que Damian deveria estar chorando e não pelo velho ferreiro.

___ Damian, eu...

___ Cale-se!

Finalmente o olhar do garoto encontrou-se com o do vampiro, instantaneamente pareciam iguais, porém Damian trazia uma peculiar sanha que lhe dava um majestoso e assustador brilho não somente em seu olhar, mas também em seu rosto empalidecido.

___ Eu não quero ouvir uma palavra que saia desta sua boca imunda ___ falava o menino ainda suportando a ira entre os dentes cerrados.

___ Não pode dizer isso, eu não mereço o seu ódio ___ por outro lado, o lorde continuava irredutível.

___ Você merece bem mais que apenas o meu ódio ___ disse o jovem desvencilhando-se da mão fria do ferreiro e levantando-se.

___ Um dia irá compreender que o que fiz...

___ O que você fez? Você destruiu a minha vida, tirou tudo de mim, tudo o que eu mais amava e pra quê?

___ Eu quero você, Damian.

___ Me quer?___ indagou o garoto com um sorriso abismado e lágrimas nos olhos ___ Isto só pode ser um sonho, isto não pode estar acontecendo.

___ Pare de dizer isto, será pior lutar contra a verdade.

___ Que verdade? De que você é um monstro sanguinário que deveria estar trancafiado em um caixão com uma estaca enfiada neste seu morto e pútrido coração? Esta é a verdade!

___ Tudo o que fiz foi por você! Eu o amo e o quero junto a mim!___ mais uma vez Ben alterara sua voz, desta vez para um tom de súplica.

___ Isso jamais irá acontecer, eu nunca serei como você, Ben ___ Petrescu fechou os olhos exalando um suspiro cansado e tristonho, a tristeza e a raiva tentando ser amenizadas dentro dele, ambas não querendo se calar ___ Vá embora... Desapareça da minha vida, é o melhor que tem a fazer.

___ Eu nunca faria isso!___ explodiu enfim o lorde ___ Entenda, Damian, nada nem ninguém me afastará de você, nunca!

Petrescu deu as costa a Grigore por um instante, segurou a cabeça entre as mãos, a cada palavra pronunciada pelo rapaz a sua frente fazia com que a dor se intensificasse.


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