Lya

Ele ainda dormia serenamente.Ainda permanecia em seu mundo dos sonhos.Em um mundo em que tudo era perfeito em sua vida.Ele ainda era puro,amado e bem cuidado.Em um sonho em que eu não existia

O encontrara a muito tempo,neste mesmo lugar.Lembro de como chorava.Lembro de quão assustado estava.Mas ele se acostumara a dormir no gramado.

-Ah!Você acordou,garoto. - Eu disse. - Está com fome?Quer achar algumas raízes?

Kani concordou sonolento.

Levantei e arrumai levemente a saia escura que havia recebido há tempos atrás.

Trocara meus sapatos por comida,outro dia,mas esta já havia acabado.Agora sinto falta dos tamancos revestidos em lã.

Saímos em direção as árvores.Mas já não havia mais frutos ou raízes secas.

O barulho que nossos pés descalços faziam ao pisar nas folhas secas enchia o arvoredo.Um barulho seco e desconcentrante.

-Olhe. Raízes de macieira.-Me abaixo para pegar um punhado e tentar sentir o aroma.Não senti nada. - Ainda estão bons.Mas nada mais  parece ter cheiro por aqui...

Ouço passos.Passos fortes,duros e hostis. Como alguém que foge,mas sem tanta pressa.

Fiquei estática.Fiz sinal para Kani fazer o mesmo.

Depois de tantos anos de convivência,sabíamos nos comunicar por gestos,olhares ou leves acenos.

Os passos se aproximavam.

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Judith.

Devo ter acordado antes do sol,mas me falta sono nesses últimos meses.

Minha vida se transformara em um vazio superficial.Como se houvesse uma estesia.Não sinto dor ou felicidade.Vivo em um limbo de melancólica.

O compartimento era branco.Um completo vazio.Cada compartimento tinha duas camas,duas mesas de estudos,dois baús  grandes que ficavam nos pés das camas e duas prateleiras em uma estante.Tudo era exatamente igual .Nada podia ser mudado.Não podíamos sair dos compartimentos,a não separa fazer refeições,ir às aulas e fazer os testes e exames médicos.

Agathe era minha colega de quarto.Era bonita.Levemente desengonçada e de pele morena.Nunca realmente conversamos,mas é o máximo que posso chamar de "amiga" por aqui.

O barulho infernal do despertar tocara.Levanto de minha cama com pesar.

O uniforme é feito por uma saia azul até o começo dos joelhos,camisa,sapatos,meia e colete brancos e um chapéu também azul com o pequeno simbolo da instituição. A única coisa que me diferenciava era uma bolsa de couro gasta,a única herança que meus pais me deixaram.

Dei bom dia a Agathe e segui para fora do compartimento.Mostrei minha pulseira ao detector.Agora eles sabiam que eu estava lá.Que ainda estava viva.

O grande corredor,frio e branco.Como qualquer outro daquele lugar.Tudo ali era frio e superficial,nunca se compararia a uma casa,mesmo que o tempo que havia passado ali,eram quase o dobro que já havia ficado em casa.Mas eu não tinha mais casa.Não tinha mais pais e meu irmão.Ah meu pobre irmão!Desaparecido.Já não se ouvia noticias há meses.

Mas nada ali me tirava a atenção da mensagem.A mensagem que ninguém havia dado atenção.A não ser eu.