Levantei-me assustada ainda madrugada, com os gritos de Annie. Corri em direção ao seu quarto, deparei-me com seu rosto carregado pelo medo e marcado por lagrímas. Aproximei-me dela e a envolvi em meus braços, perguntando-lhe o que havia acontecido. Mas ela apenas fungou me fazendo entender que havia tido mas um de seus costumeiros pesadelos. Deite-me junto a ela, e a esperei adormecer.

Lembrei-me de quando ela foi abandonada, ainda bebê pelos meus próprios tios. Seus cabelos eram ralos e seus olhos grandes e escuros como a noite, me encaravam com curiosidade.Seu corpo estava envolto em um cobertor azul dentro de uma cesta, onde havia um bilhete deixado por meus tios. Inicialmente fiquei assustada e sem saber o que fazer, mas minha mãe decidiu acolhê-la, e logo me apeguei a ela, a considero minha irmãzinha.

Moramos em um bairro rico na capital de São Paulo, na zona leste. Minha mãe trabalha como dançarina na escola de samba, por isso passa parte do tempo fora de casa, treinando para o carnaval. E eu estudo em uma escola perto de casa, já estou no segundo ano do ensino médio e Annie estuda na mesma escola que eu. Quando voltamos para casa, passo meu tempo livre cuidando dela. Ficamos a tarde toda sozinhas, uma vez que minha mãe só chega à noite.

Depois de algum tempo que Annie havia dormido, eu senti a exaustão voltar ao meu corpo, me aconcheguei ao seu lado e cai na inconsciência.

Acordei na manhã seguinte, me arrumei e fui à escola junto com Annie. Chegando lá deparei-me com Guilherme, o garoto mais inteligente da sala. Todas suas notas eram acima da media e ele sempre me ajudava nas vésperas de prova, mas só; não éramos tão amigos assim. Sentei-me ao seu lado sem dizer uma palavra e logo me lembrei de sua historia. Sua mãe havia morrido em um trágico acidente doméstico quando ele tinha apenas nove anos e desde então seu pai vem cuidando dele e de seu irmão mais velho, Riderch. Então, nossos pais se conheceram em uma de nossas reuniões de escola e vêem se apaixonando desde então, e agora estão em um relacionamento serio.

– Ellbony - Chamou Guilherme, interrompendo meus pensamentos. - você virá junto com sua mãe jantar em minha casa?

– Jantar?- perguntei.

– É, ela não lhe avisou?

– Não, não comentou nada.

– Mas você irá?

– Provavelmente sim.

– Tudo bem.- disse sorrindo. Retribuí o sorriso, e me virei pois o professor entrava na sala.

O dia decorreu rapidamente. Acabei resolvendo ir ao jantar de hoje à noite, então separei uma roupa para Annie e fui para o meu banheiro me arrumar.

Ouvi a porta bater, o que indicava que mamãe havia chegado. Continuei secando o cabelo quando ouvi um grito agudo que reconheci como de Annie. Larguei tudo e corri para o andar debaixo.