Agora que tudo estava mais calmo, estávamos todos espalhados pela sala. Eu e meu pai tocávamos a canção que ele havia feito pra mim logo depois que nasci, minha mãe conversava com Jake, querendo saber como andava Billy e os outros lobos e tia Alice brincava com tio Jasper do outro lado da sala. Meu pai estava com um humor melhor, mas melancólico, e começou a tocar a canção que ele fez pra minha mãe, que logo foi para junto dele, olhando abobalhada como se fosse a primeira vez que a ouvia. E eu sabia que nenhum dos dois estava prestando mais atenção em nada.

Eu me levantei, e fui sentar-me do lado de Jake, que me abriu um sorriso e passou os braços sobre os meus ombros. Eu podia ficar assim a vida inteira.

- Eu estou surpresa como tudo correu bem. - disse retribuindo o sorriso de Jake - Tio Jasper, porque você não usou seus poderes para acalmar meu pai? Teria sido mais fácil fazer ele parar e me ouvir - e eu fiz a minha melhor cara de decepção. Ele sempre caia nela, virava uma manteiga derretida comigo. Eu podia reclamar da habilidade manipuladora da minha família, mas sempre que podia fazia uso dela. E ser a caçula sempre ajudava.

- Eu fiquei tão surpreso que me esqueci desse detalhe - ele sorriu como se pedisse desculpas.

- Ve se lembra da próxima vez, viu? - eu aproveitei, e disse fazendo uma cara manhosa.

- Próxima vez? -minha mãe disse, voltando do mundinho para onde ela e meu pai tinham ido. Todos da sala menos meu pai e Jacob ficaram confusos.

- É claro, como se vocês não conhecessem o gênio, do senhor superprotetor exagerado - Eu disse, brincando - Não duvido nada que ele demore uns bons meses para ele não pirar toda vez que eu e Jake nos beijarmos - eu disse, finalmente caindo na gargalhada. E todo mundo me acompanhou, menos o próprio que fez cara feia.

- Não achei a menor graça, mocinha - ele disse, revoltado.

- É, mas todos nós achamos - respondeu minha tia Alice, fazendo uma careta para ele.

Meu pai voltou a tocar, dessa vez a preferida de Esme, e eu comecei a brincar com o cabelo de Jacob, que estava enorme. Eu estava distraída, quando tia Alice me assustou com um berro. Na verdade não só a mim, todo mundo olhou assustado para ela.

- AH! Nessie! Eu quase esqueci do seu presente! - Ela disse, arrancando caras indignadas de toda a sala, enquanto me puxava pela mão e me arrastava pelas escadas.

- Tia, meu presente pode esperar. Meu aniversário é só amanhã! - eu resmunguei. Mas não adiantava argumentar com tia Alice, ela nunca perdia a chance de fazer um alarde.

- Mas esse é o presente da festa, Nessie! Só uma lembrancinha, porque o principal eu vou dar amanhã mesmo - disse ela fazendo uma cara desapontada irresistível - Não faça isso comigo, eu tive que esperar até agora para te dar ele depois da sua fuga! - E ela me deu o olhar de cachorro sem dono pra qual eu nunca tive coragem de recusar alguma coisa.

- Tá bom tia, qual é a minha lembrancinha? - eu disse, sabendo muito bem, que se tratando de Alice Cullen, não podia ser nada "inha".

Entramos no quarto dela, e ela saiu em direção ao closet enorme. Eu esperei sentada na cama, mas em um segundo ela estava de volta sacudindo uma sacola rosa enorme da Victoria's Secret.

- Tia, que diab... - E então, eu fui interrompida pelo meu pai, que apareceu correndo pelo quarto e arrancou a sacola da mão dela.

- ALICE! - Ele berrou, se pudesse, eu acho que ele estaria vermelho agora - Eu vou ficar com isso. MUITO OBRIGADO. - e saiu porta afora.

- EDWARD! SEU RIDÍCULO! - ela disse, indignada - E NEM ADIANTA, ISSO NÃO VAI CABER NA BELLA! - ela berrou ainda depois de um segundo, e nós duas caímos na gargalhada.

- Posso saber o que tinha na sacola, tia? - eu perguntei, ainda rindo.

- Ah, era só uma coisa pra você usar, agora que já esta mocinha - ela disse, piscando - Mas tudo bem, meu presente principal é melhor. Isso foi só uma coisinha que eu vi e não resisti. Ia ficar linda em você.

Nós descemos para a sala aonde minha mãe e Jacob nos olharam confusos.

- O que foi isso? - perguntou a minha mãe.

- Nada, mãe - Eu disse dando um sorriso enorme - Meu pai só andou roubando peças de lingerie que a tia Alice comprou pra você desfilar pra ele mais tarde - eu disse, caindo na gargalhada com a minha tia.

- Não foi nada disso Bella - ele se defendeu me olhando feio - Você tinha que ver a coisa indecente que a Alice tinha comprou. Eu nunca ia deixar ela usar aquilo - ele disse, com a cara mais incrédula do mundo. Eu ainda não sabia como ficava surpresa quando ele fazia essas coisas.

- Edward – ela disse, rindo e balançando a cabeça – Eu não sabia que você tinha tantos problemas com lingerie, acho que eu vou começar a não usá-las já que elas te incomodam tanto – e ela sorriu pra ele, maliciosa.

Todos nós caímos na gargalhada de novo. Ele olhou pra minha mãe com uma cara que misturava indignação e fúria, que ela fez logo sumir dando um beijo logo nele, murmurando “Bobo”. Eu me sentei do lado de Jacob de novo, e estava brincando com a minha mão na dele, quando bocejei.

- Acho que já esta na hora de alguém ir para casa dormir – Ele disse, se recuperando do ataque da minha mãe – Vamos Bella? – ele perguntou se levantando, com os olhos intensos no dela.

- Vamos – ela disse, acompanhando ele, sem quebrar o olhar dos dois - Acho que Nessie vai querer acordar cedo e bem disposta amanhã – ela finalmente virou pra mim, com um sorriso.

- Mas mãe, eu queria ficar aqui mais um pouco com o Jake – eu disse, manhosa.

Então um rosnado saiu do peito de meu pai, fazendo eu e Jacob pularmos de susto.

- JACOB BLACK, VOCÊ PODE FAZER O FAVOR DE PARAR DE PENSAR NA MINHA FILHA USANDO PRATICAMENTE NADA?  – ele berrou – Já é torturante o bastante eu ter que ver você com as suas mãos nela, não preciso ficar vendo ela seminua na minha cabeça também, seu cachorro pulguento! – ele bufou, e eu segurei para não cair na gargalhada. Oh pai, porque você tinha que ser tão exagerado?

- Eu só estou pensando na sua segurança, senhorita Renesmee Cullen. Alguém tem que ser responsável nessa família – ele disse em resposta aos meus pensamentos. Minha mãe tentava segurar o riso, assim como eu – Vamos, para casa, mais uma dessas e eu tenho um ataque do coração, por mais impossível que isso seja – Ele disse indignado, saindo para a varanda com a minha mãe.

- Vamos, Nessie. Eu vou até lá com vocês – disse Jacob, recuperado do susto, beijando a minha cabeça, e me fazendo corar.

Me despedi de tia Alice, que tinha voltado á sala depois de ouvir o último incidente, e ia berrar com tio Jasper, que também tinha se ausentado sem eu perceber, mas ele logo apareceu, pedindo desculpas, explicando que demorou a vir porque estava no celular com meus avós e depois tia Rose. Todos iriam voltar no dia seguinte para o meu aniversário. Pelo visto, a festa do dia anterior não tinha bastado para a família. Íamos todos comemorar juntos no dia seguinte. Dei um beijo nos dois e fui andando com Jake para a varanda, ele me abraçando pela cintura.

Quando chegamos lá, meus pais tinham recomeçado o que tinham parado no sofá. E eu tive uma brilhante idéia.

- Mãe, vocês não querem ir na frente? A noite está bonita, e eu queria ir andando com o Jake – eu disse, fazendo a minha melhor cara de filha comportada e inocente.

- É uma ótima idéia, filha – e ela saiu correndo levando meu pai pelo braço. Eu só ouvi ele xingando alto, e logo eles estavam fora de vista.

- QUERO VOCÊ EM CASA DAQUI Á 30 MINUTOS, RENESMEE! – berrou meu pai de longe – E EU VOU FICAR DE OLHO EM VOCÊ, VIRA-LATA!

- Essa foi fácil, Jake – eu disse, surpresa.

Ele agarrou mais a minha cintura e me puxou pra mais perto.

- Eu disse que eu podia com essas feras – ele disse, me dando um beijo de tirar o fôlego. Eu esqueci de respirar, e quase desmaiei quando ele quebrou o beijo rindo, e me virou para nós irmos, ainda me segurando pela cintura.

- Convencido – eu disse, tentando me recuperar.

A caminhada para casa não demorou o quanto eu esperava. Eu não queria que Jake fosse embora, mas eu sabia que seria abusar demais da minha sorte pedir para que ele passasse a noite.

Quando cheguei, meu pai estava andando em círculos pela sala, ansioso. Eu me comovi com a cena, e fui correndo dar um abraço no pai perfeito que eu tinha. Eu o agarrei e dei um beijo, que ele retribuiu, me abraçando mais forte.

- E o que eu fiz para merecer isso? – ele perguntou, me dando um beijo na testa.

- Nada exatamente. Só ser o pai mais perfeito do mundo – eu disse, lhe dando um beijo na bochecha – E por não ter matado o Jake, claro. – eu sorri.

- Mas isso ainda pode acontecer, se aquele safado fizer alguma coisa pra te machucar – ele disse, meigo mais sério.

- Não se preocupe pai, nada de ruim vai acontecer – eu disse, dando outro beijo nele. – Eu te amo, sabia?

- Eu também, pequena – ele disse, ainda me abraçando – Você precisa ir dormir, está tarde – E ele me pôs no colo, e foi me levando para cama, como fazia várias vezes quando eu adormecia no sofá.

- Cadê a mamãe? – eu perguntei com o rosto no ombro dele, bocejando.

- Ela foi resolver umas coisas com a Alice. Não se preocupe, ela vai estar aqui quando você acordar, ela ainda quer conversar algumas coisas com você – ele disse trincando os dentes, e me pondo na cama.

- Conversar o que? – eu perguntei, confusa. Agora meus olhos nem abriam mais, eu não sabia que estava tão cansada.

- Durma, Nessie. Você teve um longo dia. Amanhã ela conversa com você – ele disse, me cobrindo e me dando um último beijo na testa.

- Eu te amo, pai – eu disse, quase inconsciente.

- Bons sonhos, meu anjo – ele disse, enquanto apagava a luz.

E eu finalmente caí no sono. Tinha sido um dia longo extremamente longo. E o seguinte não ia ser diferente.