FLASH BACK

– Não, eu não gosto de você como amigo - O que? Por quê? Eu havia dito algo errado para ele não gostar de mim como uma amiga? - Não é que eu não queira ser seu amigo, é só que eu acho que amo você.

Fiquei um tanto imóvel, Amar... Minha mãe sempre me falava do amor; poderia Ken sentir isso por mim? Eu poderia ama-lo da mesma forma? Antes que minhas perguntas pudessem ser respondidas, Ken me beija na face e saí correndo, acenando. Eu deixo minha mão vagar até o rosto, onde sinto minha bochecha arder. Antes de Ken virar a esquina e sumir, ele grita.
– Até mais, Ailyn!

FLASH BACK OFF

Abro meus olhos com dificuldade, sentindo uma ardência que fazia com que eu quisesse fecha-los. Ah, não me diga que fui lavar os olhos e confundi com álcool novamente. Aquilo foi um erro infeliz. Percebo que estava cercada pela cor branca, e que eu estava deitada. Só poderiam ser duas coisas: Ou eu morri, ou eu estava no hospital.
Uma mulher de branco se aproxima, e a minha pergunta é automaticamente respondida.

– Ave Maria! - Digo.

– Que? - Ela riu. Não ria Maria! - É um hospital religioso, mas você não precisa exagerar.

A enfermeira aparentemente, - eu cometi um engano e não era a mãe de Jesus - tirou algo do meu braço, uma espécie de cabo. Enquanto ela começa a esterilizar tudo, eu afundo minha cabeça na almofada. Santo cristo, a mãe de Jesus me tirou um cabo.
A minha memória voltava aos poucos enquanto ela ajeitava as coisas em um carrinho. Sim, eu estava jogando pela escola... Nós havíamos ganhado? Claro que sim, eu pedi ao Castiel. Em consequência disso eu havia batido a cabeça, talvez o suficiente para me fazer desmaiar, ou me jogaram uma daquelas balinhas ruins na boca novamente. Céus, devo parar de pensar em drogas. Mamãe ficaria triste.

– Quem me trouxe aqui, Maria? - Digo, enquanto tento me levantar, mas ela faz menção para que eu permaneça sentada.

– É Liny - Ela diz - Foi seu namorado.

Uni o cenho. Ou eu bati a cabeça muito forte e esqueci que tenho um namorado, ou a Maria, digo, Liny que bateu. Se fosse isso, acho melhor ela deitar. Eu sinceramente não me lembro de ter um.

– Mas eu não tenho um namorado – Nego - Tenho?

– Bom, então é um rapaz muito gentil, porque esse é o hospital mais caro da cidade - Ela diz, levando o carrinho para fora do quarto - Sua família chega logo.

Tombei minha cabeça para trás, confusa com a afirmação dela. Talvez tenha sido Nathaniel.

「DRESS」

– Não se mexa – Adverte Rosalya – Não posso errar os olhos.

Ela aplica algo gelado e liquido em meus olhos, e eu rio suavemente, mas depois enrijeço devido à advertência anterior dela. Eu estava muito animada, especialmente porque nunca havia me maquiado antes! Rosalya Já estava pronta com seu vestido negro decotado em “V” que era justo em seu corpo e se soltava na cintura. Um salto preto que deixava seus dedos dos pés a amostra; Estava feliz por ter uma amiga tão bonita como Rosalya. Gostava imensamente dela.

– Pronto... – Ela disse enquanto guardava o objeto cilíndrico. – Pode olhar no espelho agora!

Levantei-me da cadeira de meu quarto e abri o meu armário; Existia um espelho colado a porta.

– Está lindo Rosalya!

Agradeci, mas depois apreciei minha imagem arrumada mais um pouco. Meus cabelos estavam como o com um pequeno coque lateral, que ela fez pegando delicadamente um pouco da camada de cima do meu cabelo. Tudo isso ela prendeu com uma pequena rosa azul. Meus lábios estavam alaranjados, como um pêssego, e tinham gosto de pêssego!

– Não lamba!

Recolhi a língua e apreciei meus olhos delineados com preto, e a cor de meus olhos estavam realçadas devido a uma “neblina” azul logo acima. Meu vestido era azul-marinho, e deixava meu pescoço e ombros à mostra. Sua manga se iniciava no meu braço, justamente onde eu tinha uma marca de vacina, e acabava ali mesmo. Ela era pomposa e delicada. No lugar de um decote, tinham babados na cor preta que se seguiam até as mangas e davam a volta pelas minhas costas. Na minha barriga havia botões pretos pequenos e discretos, e na cintura um leve puxão para as costas que acabava em um lindo laço cheio de babados. A saia ia até antes da coxa e era volumosa graças a uma saia de armação, e também tinham babados nas pontas.

Quantos babados!

Nos pés um sapato preto com um laço, estilo “lolita” como a Rosalya chamava. O vestido foi um presente dela e de Leigh.

– Rosalya, está lindo! – Eu disse girando junto com o vestido.

Até agora, meu dia estava ótimo! Pela manhã, Garry havia me ligado me informando de uma conversa que tivera com a minha mãe, e me parabenizou pela passagem de ano. Lamentou que não pudesse me ver por conta de um TCC ou coisa assim. Eu ainda não tinha descoberto quem tinha me colocado naquele hospital, mas anotei o sobrenome da família e descobriria se desse tempo.

A campainha toca, e antes de ir atendê-la, recoloco o colar de urso que aquela pessoa havia me dado. A pessoa que eu queria esquecer.

Nathaniel POV

Houve um momento de silêncio até que atendessem a porta. Eu e Leigh estávamos claramente nervosos, e aquelas gravatas apertadas não ajudavam em nada. Tentei afrouxa-la de forma que não bagunçasse muito antes que Ailyn me visse. Meu terno era preto e gravata azul – Rosalya me recomendou esta cor – e calçava sapatos sociais.

Ao abrirmos a porta, Rosalya veio diretamente até Leigh, que trajava um terno mais clássico – tinha até babados haha –, e o abraçou. Aquela cena pouco me interessava. Procurei-a com os olhos, e a encontrei junto à porta, com seu gato acariciando suas pernas tão brancas. Ela estava simplesmente maravilhosa. Seus ombros trouxeram-me sentimentos que eu preferia evitar, mas estava simplesmente linda. Por um momento estranho, tive vontade de tocar no pequeno coque na lateral do cabelo. Parecia fofo. O restante de seu cabelo estava solto, e já eram capazes de tocas os ombros.

– Você está linda Ailyn – Eu sorri, tentando não parecer um pervertido – Fez um ótimo trabalho Rô.

Ela piscou para mim, e sorriu.

Ailyn POV

Assim que chegamos à festa, senti vontade de dançar com todos os meus colegas. Parecia tão divertido! Arrepiava-me com frequência, sentindo um ventinho em baixo, então uma de minhas mãos estava junto ao corpo, enquanto a outra estava “enroscada” no braço firme de Nath. Ele estava bem bonito, e sua franja estava ajeitada de lado, com uma mexa solta.

Procuramos uma mesa para depositarmos nossos itens lá – embora eu só tenha um celular – e fomos encontrar nossos amigos. Violetta estava com um rapaz de cabelos verdes e olhos da mesma cor. Apresentou-nos como Jade. Ele estava com um terno preto, uma camisa verde e uma flor branca junto ao peito. Violetta estava de roxo e preto, um vestido de tecido fino e delicado, com mangas curtas. Encontrei Castiel e Melody em uma mesa próxima. Melody de azul claro e Castiel também de terno, porém aberto e de gravata solta. A camisa estava desabotoada em cima. Corro até ele, e o abraço.

– Você podia ter caído sua encrenqueira – Ele diz, me olhando de cima enquanto cutuca meu coque – Belo coque.

– Rosalya fez para mim! – Sorri.

– Você está bem bonita, mas... – Ele lança um olhar para Nath, e me da um beijo estalado na bochecha. – Acho que seu namoradinho está querendo dançar com você.

– Ele não é meu namorado – Digo, pensando na enfermeira. – E você é namorado da Melody?

– Não, mas somos um belo casal de rejeitados – Ele riu.

Casal? Eles iam se casar?! Senti uma pontada no meu peito, mas Castiel provavelmente não sabia, porque me pediu para ir antes que Nath pulasse nele. Entretanto antes de ir, me fez prometer que dançaríamos em algum momento. Nath me abraçou com força, e encostou o queixo nos meus ombros nus. Suspirou pesadamente e fez com que eu me arrepiasse de uma forma agradável.

– Vamos dançar – Não era uma pergunta.

Ele me conduziu até os casais, e ficamos próximos a Rosalya e Leigh. Uma nova música começa a tocar, e Nath me guia em uma dança. Mas eu não sabia dançar.

– Nath – Chamo – Eu não sei dançar muito bem.

– Não tem problema. Apenas relaxe e se divirta.

Então eu o fiz. Deixei que ele me guiasse em todas as danças, e com o tempo aprendi, uma vez que ele sussurrava instruções. No meio de uma das danças, Castiel toca suavemente o ombro de Nath e pede que eu o conceda uma dança. Nath não pode negar, porque Melody o arrastou dali para dançar. Ele me lançou um olhar angustiado.

– E então encrenqueira, agora nós vamos dançar de verdade – Ele riu maliciosamente e lançou um olhar para a banda que estava tocando algumas músicas no palco.

Uma música mais pesada começa, tais como as que a banda tocou no dia do festival esportivo. Ao invés de ser guiada, todos os casais se sacudiam e faziam movimentos loucos, e eu apenas ria enquanto Castiel me influenciava a fazer o mesmo. Uma dança acelerada de tirar o fôlego. As luzes do salão que a escola havia escolhido como formatura tinha um ar bem clássico, como a de um palácio, mas com aquelas luzes...

Quando ouve uma pausa para os discursos de formatura, eu fui até a mesa com alimentos e peguei uma pequena porção de salgados e reuni em um prato. Caminhei até a varanda feita de mármore, e fechei a porta de vidro atrás de mim. A noite estava linda. O céu estava respingado com branco, e o ar límpido. Logo, Senhor Luvinhas apareceu.

– Finalmente garoto – Eu disse deixando a bandeja em cima da cerca de mármore. – Eu sei que você não deveria estar aqui, mas eu vou ter que voltar para casa durante as férias, e você vai ter que ficar com a titia.

– Animais de estimação são proibidos, você sabe. – Meu vestido se agitou quando me virei rapidamente, assustada.

Um garoto de cabelos castanhos e olhos cor verdes me repreendeu, e eu comecei a gaguejar. Ele não podia contar a ninguém! E se tirassem o senhor Luvinhas de mim? Luvinhas olhou para ele por um instante e desceu do muro. Tentei detê-lo, porque ele não gostava de homens e se machucasse o garoto eu estava perdida. Mas ele não o fez. Fez carinho na perna dele e o garoto se inclinou para acaricia-lo.

– Acho que posso fingir que não vi – Ele piscou. Eu retribuo com um sorriso aliviado.

– Obrigada – Digo – Você é como um cavalheiro! – Disse, examinando suas vestes. Seu terno era muito mais complexo do que os demais. Havia até mesmo uma medalha em seu peito.

– De nada – Ele diz enquanto elimina a distância entre nós – Mas eu não sou um cavalheiro.

Sem motivo algum, ele me beija. No inicio, eu tento fugir, mas nem mesmo com a minha força consigo fugir. Seus braços eram rígidos e eu me desesperei com isso. Ele não era gentil como Castiel, nem mesmo cuidadoso e malicioso como Castiel. Seu beijo era voraz, e mesmo eu tento certeza que não o conhecia e que ele não me amava, senti um desejo interminável no modo como ele movia os lábios. Seus braços me cercavam com força e ternura, e por um momento me permito desfrutar de todo carinho que ele demonstrava.

– Não faça isso – Disse quando ele finalmente se afastou, desvencilhei de seus braços e me afastei até encostar-me à porta de vidro. – Nunca beije quem não ama! Luvinhas espere me na saída.

Deixei aquele lugar e fui até meus amigos, que me olhavam com preocupação. A festa estava em seu término, e enquanto todos conversavam animadamente, toquei meus lábios.

Aquele beijo tinha sabor de pêssego.