Depois de que eu arranquei Nathaniel da casa de minha tia, ele sugeriu que conversássemos no parque local. Eu nunca tinha ido a um parque, então quando vi todos aqueles brinquedos fiquei tão animada que corri e brinquei com todos. Quando me dei conta que só criancinhas estavam brincando neles, olhei para Nath que estava parado no lugar em que eu o deixei, com um sorriso de canto. “Acho que eu fiz algo errado”. Ele apenas inclinou a cabeça e sorriu, e voltei até ele com a cabeça baixa.

Nos sentamos em um balanço, e eu esperei que ele dissesse alguma coisa.

– Castiel fez alguma coisa pra você? – Nath olhou para mim, e nesse momento eu soube.

Castiel tinha feito algo pra mim, e eu não tinha problema que as pessoas soubessem, mas medo. Tinha medo por mim e por ele, porque apesar de tudo, eu não odiava Castiel. E tinha medo das pessoas que gostavam dele pudessem dizer. Mas Nathaniel...

Fitei o chão. Relembrar tudo aquilo me deixava vulnerável, assustada como eu nunca tinha me sentido antes. Eu não sabia como me sentir sobre aquele acontecimento. Não ligava muito para o fato dele ter me visto nua, esse tipo de coisa sempre pode acontecer, quer dizer, quando eu tinha que ir ao médico eles me viam sem problemas. Pra mim não era errado. O problema era fazer aquilo com alguém que não ama.

– O Castiel me beijou – Eu disse séria, dessa vez olhando diretamente para os seus olhos cor de mel.

– Ele não fez apenas isso, fez? – Sua expressão era um tanto astuta, mas ele tinha acertado. Será que ele lia mentes?

Pensei em algumas palavras aleatórias e conclui que ele não lia mentes, então era seguro. Contei a Nathaniel todos os detalhes, inclusive as coisas estranhas que ele disse. Nath escutou calado, apenas maneava com a cabeça uma hora ou outra. Quando terminei, ele se levantou e pediu que eu ficasse de pé. Me ergui do balanço e parei na frente dele, inclinei a cabeça de leve para cima, de forma que pudesse olha-lo diretamente.

– Isso tudo é culpa minha – Lamentou ele – Me perdoe por ser você a sofrer por mim.

Eu não estava entendendo nada, porque afinal, não fazia sentido. Mas mesmo assim lágrimas escorreram dos meus olhos, como se meu corpo soubesse. Queria então que ele me contasse. Nath me abraçou forte, e não foi um simples abraço. Suas mãos subiram em minhas costas, fazendo meu corpo estremecer de um jeito agradável. Era como se ele quisesse me proteger de algo.

– Nath... Eu não entendo – Encostei meu rosto em seu coração, ouvindo as batidas regulares dele. – Porque ele a faria algo a mim para atingir você?

Ele me afastou sutilmente, limpou as lágrimas que ainda restavam e abaixou-se a altura dos meus olhos. Vi um sorriso forçado se formar em seus lábios e soube o que ele estava pensando. Talvez ler mentes fosse o mesmo que compreender o olhar. “Você é esperta, sei que entenderá”.

– É porque eu estou começando a gostar de você. - Por um instante eu fiquei tensa, mas se era gostar, eu também gostava! Não era nada demais.

– Mas porque ele quer se vingar de você? – Perguntei, confusa. – Você fez algo a ele?

Ele pensou por um instante, e respondeu hesitantemente.

– Ele teve uma namorada, mas ela não era muito “boa” entende? – Eu assenti – Ela me cortejava – Ele riu ao dizer isso – E ele entendeu o oposto.

– Mas você deveria contar a ele! – Eu disse.

– Ele não acredita em mim – Lamentou – Mas não importa, temos que ir para o ensaio, e achei melhor saber o que tinha acontecido entre vocês dois.

Como eu pude esquecer! O festival estava próximo e o primeiro ensaio seria hoje!

Comecei a puxar animadamente Nath, dizendo que tínhamos que ir logo; Mas ele parou. Assim que eu voltei a encara-lo, meu sorriso se desmanchou ao ver sua expressão melancólica.

– Algo errado?

– Você não me respondeu – Ele fez um tom de súplica – Sobre eu estar começando a gostar de você;

– Claro que eu gosto de você Nath – Se eu falava com ele, obviamente gostava dele.

Puxei ele pelo braço novamente, mas ele se manteve parado. Uma corrente de ar passou por nos dois, e o vento fez com que nossos cabelos dançassem. Já era em torno de quatro horas da tarde, e tínhamos que estar lá logo. Porque ele continuava parado? Será que queria desistir?

– Gosta mesmo? – Ele levantou uma sobrancelha.

– Sim? – Eu respondi hesitante, em dúvida.

– Desse jeito?

Eu ia perguntar que jeito, mas ele foi mais rápido. Pegou minha mão que estava “boiando” entre nós e me puxou para um beijo. Não foi como o de Castiel, um tanto rude e cheio de pensamentos desconhecidos; Foi gentil, como uma caricia. Eu estava de olhos abertos pelo acontecimento repentino, mas ele tinha fechado os seus. Ele não tinha colocado a língua como Castiel, apenas beijou sutilmente os meus lábios. Quando nos separamos, ele estava um pouco corado, e eu senti minhas próprias bochechas arderem.

Ele queria uma resposta.

– Eu não... – Porque Ken sempre vinha a minha mente nessas horas? – Não sei...

Senti suas mãos afagarem minha cabeça, calmamente.

– Tudo bem, não vou pressionar você. – Ele consultou o relógio do parque – Melhor nos irmos rápido.

Andamos em silencio em direção a um canto da cidade. Entramos em uma porta num lugar escuro, e os sons da música alta começam. Assim que chegamos, pude ver Alexy, que veio me receber. Armim estava em um canto jogando seu gameboy, Lysandre estava arrumando o som do microfone e Castiel e Iris conversavam animadamente enquanto tocavam em algumas cordas da guitarra.

– Que bom que chegaram, agora podemos começar o ensaio! – Eu me sentei ao lado de Alexy em uma cadeira de plástico, e Nath subiu no “palco” com o restante da banda. Lysandre explicou a ele algumas coisa, mostrou umas folhas e Nath apenas assentiu. Armim começou a coordenar tudo, mostrando quando cada um tinha que começar, e depois de algumas tentativas, finalmente deu para entender uma pequena parte da musica, até porque, eu ainda não tinha escutado nenhuma música de verdade antes, e o idioma era difícil de se entender tão rápido.

You're so cold

Keep your hand in mine

Wise men wonder While

Strong men die

Show me how it ends. It's alright

Show me how defenseless you really are

Satisfied and empty inside

Oh, that's alright, let's give this another try