A Harmonia escrita por LittleLemonPie


Capítulo 8
O verdadeiro Pitch não é tão ruim.


Notas iniciais do capítulo

Primeiro quero me desculpar pelo outro capítulo. Eu tentei arrumar os espaços mas não sei o que aconteceu! Algumas das frases saíram repetidas mas isso eu pude arrumar.
Divenire foi composta por Ludovico Einaudi. Ele continua vivo, com uns 52 anos se não me engano mas eu amo a música dele e não achei nada que fosse tão bonito e velho suficiente para a época Amber.
ATENÇÃO: esse capítulo possuiu um pouco de spoiler para quem está lendo a série Os Guardiões da Infância (livro que inspirou o filme).
Título de bósnia eu sei...Ia ser cão que ladra não morde mas achei nada a ver.



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Tudo que estava acontecendo era cansativo. Não só o fato de termos que achar um jeito de recuperar meus sentimentos mas também porque eu tinha que aturar Pitch, ele reclamava muito, e a preocupação com os sentimentos desequilibrados, e o fato de não poder ter ficado com alguém mais "aturável" como Jack ou os outros guardiões, eles tinham trabalho a fazer, e a dor de cabeça que me dava para manter os sentimentos equilibrados, eu tinha perdido anos de prática, e aquele pesadelo horrível que Pitch conseguiu me dar, e... eram muitos "es".

Aquele filhote de lobo, quando ele me mordeu, me fez me sentir melhor. Eu caí no sono e consegui ter um sonho ótimo.

Pela primeira vez parecia que os detalhes bons do meus passado me vinham à cabeça. Eu via minha família sorrindo, meus amigos, meu tutor, eu via a gata que havia em minha casa, Gellatin Zini. Eu havia dado-lhe o nome e o sobrenome. Minha música preferida "Divenire" tocava ao fundo no meu sonho. Havia uma mesa repleta das comidas que eu mais gostava. Tudo era tão perfeito que eu queria chorar.

A última coisa de que me lembro era de respirar fundo e quando abri os olhos eu estava no escuro completo. Meu coração disparou mas eu não me mexi, tentei apenas me acalmar, e aos poucos me lembrei de onde estava.

Me acostumei o suficiente com a escuridão para conseguir me levantar, andei até o armário e o empurrei para que a luz fraca da janela coberta pudesse entrar ao menos um pouco. Outro problema: os medonhos e Breu podiam enxergar no escuro. Eu não. Sentei na cama conseguindo enxergar melhor e me espreguicei, olhei ao redor e reparei no lobinho que estava ao lado do pé da cama.

–Ei. Acorda. -Eu o chamei. Ele continuava respirando mas não se mexeu.

Toquei-o e seus olhos negros se preencheram com um brilho âmbar, como se ele fosse um robô sendo ligado e ativasse o "modo defesa", virou-se e fincou os dentes pontiagudos no meu pulso. Não mexi, apenas controlei o medo, e a dor, aquilo doeu muito, e fiquei parada fitando-o com os olhos. Mas eu juro que queria ter levantado e saído correndo.

A cria olhou para cima quando meu sangue começou a escorrer para o focinho dele e ele se assustou, parecia ter finalmente reparado o que foi que ele mordeu, e me soltou choramingando com as orelhas abaixadas. Ele lambeu o machucado como quem pedia desculpas mas aquilo não estava ajudando em nada já que ele deixava areia preta no meu braço enquanto me lambia.

–Está...tudo bem... -passei a mão na cabeça dele. Então abanou o rabo e esfregou a cabeça na minha mão. Sorri fraco, apertando meu pulso, enquanto ele tentava pegar o próprio rabo. Ele girou e girou e girou até escorregar e atravessar as sombras do canto da minha cama.

Chamei-o e passei a mão à procurar dele. Nada.

Me levantei, abri a porta e dei uma volta no covil até achar Pitch examinando o globo de luzes. Passou o olho em mim, olhou o globo e voltou a atenção para mim.

–O que fez no braço? - ele perguntou sem tom, mas como eu ainda sentia uma pequena pontada de raiva no coração por causa do dia anterior, o que só aumentou minha dor de cabeça para controlar o vermelho, eu ouvi como se ele tivesse falado frio.

–Um dos seus medonhos.

Ele riu ironicamente.

–Sempre a culpa é da pessoa má.

Eu não entendi o comentário e franzi o cenho.

–Estou falando sério!

Breu me encarou com dúvida no olhar.

–Meus pesadelos não estão aqui. Posso senti-los. Todos, sem exceções, estão do outro lado do mundo espalhando o terror em onde é noite.

–Mas é verdade! Um estava aqui, um lobinho pequeno que me arrancou sangue! -Soltei meu pulso e o estendi, deixando à mostra o machucado, e o sangue voltou a escorrer.

Ele pegou meu pulso e amarrou forte um lenço feito de areia preta.

–O filhote de lobo entrou nas sombras e sumiu. - Eu disse, então percebi que Breu estava me encarando como se me analisasse profundamente. - O que foi?!

Ficou mais um tempo me encarando até voltar à realidade.

–Frost disse que você teve um sonho quando desmaiou.

–E um agora de pouco. -falei.

–Confie em mim. -Foi a única coisa que ele me disse antes de segurar meus pulsos juntos, fazendo o corte latejar de dor, e me segurar contra a parede.

Ele soltou uma das mãos dos meus pulsos e criou uma foice negra. Por um instante ou um segundo ou um minutos talvez, não sabia mais tinha perdido a noção de tudo, eu jurei que ia morrer. Sim, sou um espírito, o que não tira o fato de que eu posso sumir para sempre e realmente "descansar por toda a eternidade".

Pensei em fechar os olhos mas não fiz isso, algo me dizia que eu devia confiar nele, vi ele direcionando a foice até mim rapidamente, mas antes que ela me atingisse , ouvi um rugido. Um vulto preto saiu das sombras, pulou, destroçou a foice, criando uma chuva de pó negro, e tentou avançar em Breu. Ele desviou do vulto, que finalmente havia parado e eu pude ver o que era: Um guepardo negro.

O animal se posicionou na minha frente como que quisesse me proteger, e avançou contra Pitch mais uma vez, mas não antes de assumir a forma de um lobo adulto. Breu criou um bastão com uma bola de espinhos na ponta no movimento mais rápido que já o vi fazer, e derrubou o lobo com um golpe.

–Não ouse me desafiar. -Ele disse autoritariamente em alto e bom som. - Não tenho controle sobre você, o que NÃO -ele praticamente berrou.- quer dizer que você seja mais forte! Sou o rei dos pesadelos e você é apenas um medonho! -Ele bufou.

O pesadelo se recompôs de pouco em pouco e rosnava para ele mas não ousava se mexer. Pitch riu gozando da sua derrota e depois me olhou.

–Essa coisa é seu pesadelo e seu sonho. Um medonho e uma luz. Nunca consegui controla-lo.

–M-meu...pesadelo?! - Eu olhava fixamente pro lobo que havia sentado e virava a cabeça para me olhar.

–Sim. Você sempre teve tudo controlado, que eu não conseguia transforma-lo em pesadelo puro. Podia optar entre mim e Sandman, mas mesmo assim eram raras as ocasiões que ele ia até Sandman.

Era verdade. Não me lembrava muito de ter tido sonhos. Respirei fundo e passei a mãe na cabeça do lobo.

–Por que? Por que está aqui? -perguntei, mas ele pareceu não entender pois tudo o que fez foi abanar o rabo e se desfazer virando um filhote dourado.

–Foi assim que teve sonhos. Por algum motivo ele decidiu que deveria te-los e veio até você. -Breu explicou.

–Porque estou cansada, não aguento mais, minha cabeça dói, esse lugar me dá calafrios, seus medonhos me enlouquecem sussurrando coisas enquanto eu ando por ai. Quer mais algum motivo? - Desabafei, atacando palavras uma atrás da outra, minha voz ia passando de amargura para raiva.

Respirei fundo e silenciosamente para evitar chorar. Olhei para ele que mantinha a postura mas eu podia ver dor e tristeza em seus olhos. Nunca esperava ver o rei dos pesadelos, o breu, a escuridão, daquele jeito.

–Me desculpe eu só... -comecei.

–Não, eu devo lhe pedir desculpas. Só vi a mim mesmo. Me desculpe, em nenhum momento eu me preocupei em realmente ajuda-la e ontem...

–Esqueça ontem. Foi horrível, mas esqueça. Você está me ajudando! Só faltam mais quatro sentimentos.

–Mas eu nunca tive a real intenção de fazer isso... - a voz dele estava fraca. - Eu te disse que precisava pois sem você era sem graça, que as pessoas ficavam parecendo mortas. É verdade mas...não foi só por isso. A harmonia sempre existiu naturalmente mas o Homem da Lua te escolheu para que além de existir naturalmente, você possa usa-la para ajudar as pessoas. -ele suspirou com dor, como se cada palavra lhe machucasse o coração. - Quando você foi pega tudo se desestabilizou...inclusive a natureza.

–A natureza? -Aquilo realmente foi inesperado. Em que mundo Pitch se importaria com um bando de árvores?

–A mãe natureza. Depois que você se foi, ela começou a ficar fraca. Perder o poder. Ninguém podia fazer nada e ninguém podia te tirar de lá. Eu tentei repetidas vezes, todos tentaram, mas aquela magia não cederia tão rápido eram necessários anos. Após todos acharem que você estava morta, te esqueceram. Por mera coincidência fui tentar mais uma vez e você havia se libertado pela própria força de vontade.

–O que a mãe natureza tem a ver com essa história? Ela está bem? Viva?

–A mãe natureza é minha filha, Seraphina. -Eu jurei que ele fosse chorar, mas não o fez. -Ainda está morrendo, por aí. Não consigo acha-la, e não me permite por perto. Se você não se estabilizar um dia ela irá morrer e a natureza voltará a ser natural. Ninguém a controlará. E eu perderei minha filha e qualquer chance de me aproximar dela.

Eu estava boquiaberta, não sabia o que pensar, dizer ou perguntar. Breu tinha uma filha! Isso parecia surreal.

–Me desculpe. -Ele repetiu.

Abracei-o, ele hesitou e depois de um tempo retribuiu o abraço, deu um passo para trás pisando em uma sombra e afundou nela quase me fazendo cair. Me deixou na sala escura sozinha. Eu meio que podia entender, devia ser difícil passar por aquilo, não ter ninguém para contar e ter de contar para uma pessoa que tinha acabado de fazer ele se sentir mal simplesmente por ser sozinho e viver no escuro.

Olhei para trás. Meu pesadelo ou sonho não estava mais lá.

–Gellatin. Vou te chamar assim. -falei para o nada e me retirei do covil.


...



Andei o dia inteiro, respirando ar livre. Reparei então que algumas pessoas ou crianças me viam.


Um homem me olhou feio, talvez pela minha aparência achassem que eu era uma daquelas garotas punk. Uma menininha me viu e chamou a atenção da mãe para dizer o quão legal eram meus "piercings", sua mãe apenas a ignorou; Algumas crianças choraram ao me ver; Um adolescente comentou sobre meu "look" para os amigos e eles apenas o zoaram, perguntando se estava louco ou delirando, ele me olhou com uma sobrancelha arqueada e eu apenas retribui levantando as duas sobrancelhas e dando de ombro como quem dizia "O que posso fazer?".

Estava anoitecendo e eu ainda não havia voltado para o covil. Andei até chegar em uma rua escura. A única luz acessa era a do começo da rua na calçada em que eu estava, andei um pouco mais e percebi que as luzes apagadas estavam quebradas.

Ouvi um barulho vindo do outro lado da rua, eu parei e fiquei observando. Três meninos de roupa de couro, estilo punk e super musculosos saíram correndo de um becos gritando apavorados. Um passou ao meu lado, me olhou bem, gritou novamente e saiu correndo.

–Muito bom! -Eu ouvi a voz de Pitch rindo e o vi sair da escuridão, vindo em minha direção, pressionando o abdômen de tanto rir. -Aquele ali com certeza não dorme de noite!

–O que está fazendo?! - Eu estava surpresa em vê-lo rir daquele jeito. Coisas incomuns estavam acontecendo aquele dia.

–Me divertindo, oras! - Disse controlando o riso, virou-se para as sombras e fez um gesto me chamando. - Vamos!

–Aonde?

–Você não estava cansada? Então vamos esfriar a cabeça.

Ele entrou nas sombras e eu corri seguindo-o.

Aparecemos em uma esquina. Havia uns garotos assustando criancinhas, bem menores que eles, que saíam da escola, período da tarde, e estava indo para casa. Devíamos estar em Michigan pelo sotaque das crianças. Aos poucos meus ouvidos foram se acostumando com a língua e pude entender o que elas falavam.

Como lá já estava mais escuro os garotos facilmente se escondiam atrás de árvores e assustavam as crianças fazendo-as cair e se ralarem.

–Cruel! -comentei.

–Nem tanto! -Pitch retrucou.

Ele criou uma sombra e estourou as luzes mais próximas tornando impossível de se enxergar. As crianças gritaram e correram para todos os lados. Me concentrei e virei lobo podendo finalmente enxergar.

–Não deixe os que estavam assustando saírem!

Apenas fiz o que ele disse. Rosnava no escuro para os garotos e eles recuavam achando que eu era um de seus amigos e diziam que não tinha graça.

Os reuni para perto de Pitch que os assustou dizendo "olá" com uma voz grossa e rindo por trás deles. Eles passaram por mim correndo e chorando.

Breu secava uma lágrima de tanto rir.

–Aaah...não vai me dizer que você não riu!

–Não achei engraçado. Eles era apenas crianças e você os fez chorar!

–Pff...Por favor! Você ajudou! Então, vamos fazer mais divertido.

Eu ia perguntar o que, mas ele apenas me puxou pela pata em direção as sombras.

...

Fomos à quase todos os países da América assustando bêbados o que era bem mais engraçado já que eles cambaleavam de um lado para o outro e caiam no chão sempre dizendo coisas engraçadas. Aos poucos eu acabei me empolgando com isso e não precisava mais da forma de lobo para assusta-los.

Durante a noite inteira ficamos assustando-os, e as vezes entravamos nas casas de alguma criança, que ficava brincando com os amigos ou jogando vídeo game até tarde, ou adulto ocupado ou estudioso que ficava na rua até tarde.

Assustamos um homem em Nova York que derrubou um monte de papelada na rua, caí encostada em Pitch rindo enquanto ele tentava correr e pegar todos os papeis na rua na sem atropelado.

Acho que fui perdendo a noção de quão ruim aquilo foi ficando porque de vez em quanto eu me pegava estendendo a mão para ajudar os bêbados, que assustávamos, a se levantar e quando ele ia pega-la eu a retirava e via ele cair mais uma vez. Eu e Breu riamos tanto que por algum momento achava que fossemos explodir. Quem pudesse me ver, ou vê-lo, ou à ambos, acharia que nós é que estávamos bêbados.

Ignorava a dor de cabeça que aumentava ou a pontada que meu olho sentia.

...

Andamos mais um pouco pela rua, já um pouco cansados. E avistei ,num canto da rua, um bando de garotos no estilo bad boy fumando. Senti uma vontade tremenda de assusta-los e mostrar que a rua era minha. Não sei de que parte de mim vinha aquilo.

Apressei o passo mas Breu me segurou o pulso antes.

–Me larga! -tentei puxar meu braço, a mão dele deslizou até a cicatriz da mordida, fazendo-a arder, e tive de relaxar para não machucar mais.

–Aonde pensa que vai? Deve ter uns dez garotos ali sobre efeito de, provavelmente, uma droga. Nem eu faria isso.

–Você deu a ideia de vir para a rua! -Rolei os olhos, ele me olhou fundo nos olhos mas ele não me soltou.

–Vamos embora. Agora. -Ele sibilou.

–Você não manda em mim! - Talvez o bom senso tivesse batido na minha cabeça porque eu senti uma dor horrível e minha raiva aumentar. -Eu faço o que eu quiser! Eu os MATO se eu quiser!

–Você quer me escutar?! Eles não te fizeram nada! E você vai estragar tudo! -Ele levantou a voz. -O seu olho ele está-

Virei lobo, mordi o braço dele antes que ele acabasse a fala, ele silvou de raiva e eu saí correndo em direção aos meninos.

Alguma coisa me mandava parar mas minha cabeça explodia de raiva.

"Vai mata-los injustamente. Não te fizeram nada."

Eu chegava mais perto correndo pela sombro em caso de poderem me ver.

"Vai mata-los sem razão. Assim como você foi morta."

Parei bem perto do grupo e me encolhi nas sombras. Não queria mais mata-los, não valia a pena usar a repugnância de uma rebeldia para tirar a vida. Assim como me aconteceu. Por uma estupidez, um ato de covardia, sem razão...eu fui morta. Dinheiro, ignorância, raiva...nada disso era razão para se matar alguém. Eu senti afeto por aqueles meninos. Eles quase teriam sido mortos como eu.

Minha cabeça doía eu me virei e tentei andar até Pitch arrastando a cabeça pela parede das casas por causa da dor.

Eu não conseguia vê-lo. Não via mais nada a não ser um clarão verde-azulado e desmaiei.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse capítulo! Ainda tem mais um!