A Harmonia escrita por LittleLemonPie


Capítulo 7
Ajuda um tanto gelada.


Notas iniciais do capítulo

Rescrito para tirar os espaços gigantes!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/344254/chapter/7

Eu não sei que horas eram. Só sei que na abertura, que Pitch chamava de porta, dava para ver a luz do sol entrando aos poucos. E o clima também pouco me interessava: meus olhos estavam normais! Quer dizer, um pequeno pedaço, muito pequeno, mas, já era um bom começo.
Pode-se dizer que eu estava bem feliz, pois eu demorei uma hora inteira para me acalmar. E pode-se dizer que Pitch devia estar muito bravo, pois, não vou negar, ele ia arrumando a bagunça que eu ia fazendo enquanto pulava ao redor do covil dele.
–Será que você pode se acalmar agora? -ele falou num tom arrogante enquanto se largava na poltrona e olhava feio para um pesadelo.
–Você não tem o menor senso de humor.
–Meu nome é Pitch. Breu! O pesadelo! Bicho-papão! Vivo dos restos que os guardiões me deixam. Por que razão eu teria senso de humor?
Bufei e me larguei na poltrona oposta à dele.
–Vamos acabar logo com isso. -Ele continuou. -Qual é o próximo sentimento?
–O próximo? -Eu dei de ombros. -Podemos escolher. Não há uma ordem certa.
–Pelo menos podemos pegar o mais fácil... Quais faltam?
Eu pensei bem tentando me concentrar nos sentimentos. Eu não tinha fácil acesso aos outros como ao Laranja e o Roxo. Os outros pareciam crianças mimadas que não queriam confessar o que faziam de errado. Eu conseguia poucas informações sobre eles.
–Ódio...e Amor, Antipatia e Simpatia... Alegria e Tristeza...
–Tristeza! Seria um bom começo! -Ele observou.
–Mas precisamos da alegria junto. E, tristeza é a mais difícil de se conseguir! Sua cor é a cinza. A mistura de Branco, a paz e Preto, o medo!–De medo eu entendo! -Ele estufou o peito orgulhoso. -Mas que raios a paz tem a ver com isso? Tudo bem, o medo pode causar a tristeza, mas...paz?
Eu suspirei e fechei os olhos me concentrando o máximo que eu podia. "Sentimentos estúpidos..." Eu pensava. "Me obedeçam!". Eles pareceram não gostar daquilo pois me deram um "banho" de sentimentos alternados, o que, pelo menos, me deu chance de extrair algumas informações.
–Tristeza...ficar só, se fechar em um quarto e chorar. Isso é um tipo de paz. Ficar só. -Eu abri os olhos um pouco tonta e chacoalhei a cabeça.
–Entendi. Isso significa que...
–Que eu terei de ficar de ficar com medo e sozinha. -eu o interrompi. -Só e não vou poder junta-las e formar a tristeza. E se quisermos aproveitar a deixa...
–Teremos que te fazer rir enquanto faz isso. -ele me interrompeu, desta vez. -Uma mistura e tanto de sentimentos. É seguro?
Eu permaneci em silêncio. Claro que não era. Apenas dei de ombros após alguns minutos e olhei para ele.
–Vamos fazê-lo. É complicado para mim, mas depois que matarmos esse, o resto será mais fácil em comparação. E também, com a sua ajuda será mais fácil.
Ele assentiu.
–Mas você também precisa ficar feliz. E com isso, eu não posso ajudar. Precisamos de ajuda.
Eu o olhei.
–Ajuda? De quem?
Ele rolou os olhos e suspirou.
–Frost. -falou num tom de desprezo.
–Jack Frost?
Ele assentiu.
–O guardião da diversão. Ele com certeza vai conseguir ajudar com isso.
–Como vamos acha-lo? -levantei uma sobrancelha.
–O lago congelado, em Burgess. Ele mora lá.
–Então vamos!
Eu até que estava animada para recuperar 4 cores de uma vez, mas também estava com medo. Eu sabia que não era seguro. E eu também estava com medo de que Jack Frost não me ajudasse e eu tivesse que fazer de outro jeito, que, com certeza, seria mais difícil.
Ele foi em direção à uma sombra.
–Quando eu passar, passe logo em seguida. Continue andando e não pare.
Breu entrou na escuridão e eu o segui. A escuridão me cercava era alucinante, estranha e me deixava confusa, minha cabeça girou e eu pensei em gritar. Mas ao invés disso eu continuei reto, até ver a luz e depois um lago congelado à minha frente. Haviam algumas árvores coníferas cobertas por neve em volta, e logo atrás uma grade que se contorcia na parte superior formando as palavras "Parque Nacional de Burgess", do outro lado havia uma estrada e várias casas que seguiam pela cidade.
Pitch estava parado ao lado de uma árvore.
–Boa viagem? -ele perguntou ironicamente como se já soubesse que a resposta era "não".
–Prefiro ir à pé. -retruquei.
–Infelizmente, o Polo Norte fica longe de mais para se ir à pé.
–Como assim? -eu franzi o cenho sem entender aquele comentário.
–Jack Frost não está por aqui. Caso estivesse, eu já teria sido atacado.
Eu suspirei. Não queria entrar nas sombras de novo. E foi o que eu disse.
–Eu não quero entrar nas sombras de novo! Tem certeza de que ele não está aqui? -Eu me transformei em lobo e farejei o ar. Só ai eu reparei que minha boca era como se ela tivesse sido cortada por uma faca para formar os dentes, e se "enganchava" no focinho de um jeito que eu não conseguia mexe-lo normalmente, então eu precisava chegar bem perto e me virar a cabeça para onde estava cheirando. O que dificultava muito o faro.
–Não adianta Amber. Ele não está aqui. Então provavelmente está no polo. Mas continue assim, talvez a viagem a perturbe menos se for um animal.
Breu entrou nas sombras e eu assenti seguindo-o.
Realmente foi menos perturbador. Saímos bem perto do esconderijo de Norte, o que quer dizer que os yetis nos capturaram em questão de minutos.
Eles seguraram os braços de Pitch e iam aos pares, na frente, atrás, e aos lados. Já eu, apenas um yeti me segurava pelo cangote. Olhei para Pitch, que me mandou um olhar como quem dizia para que eu não reagisse. E eu mandei um olhar em resposta tentando dizer "Como se eu conseguisse me mexer com essa bola e pelos enorme e bombada me segurando!".
Nos levaram até uma porta onde dava-se para ouvir as vozes dos quatro guardiões, apenas um yeti entrou e podemos ouvi-lo falar algo em sua língua e então a voz de Norte quebrou o silêncio que havia se formado.
–Pitch? Aqui? Como assim, Pitch Black está aqui?
A porta se abriu, o yeti que me segurava me abraçou a cabeça com medo de que eu tentasse escapar. Mas eu podia sentir que os guardiões tinham suas armas apontadas para nós.
–O que você está fazendo aqui? - Pude ouvir Norte perguntar com raiva que, a cada palavra, foi diminuindo o tom de voz.
–Precisamos de ajuda. -Pitch respondeu em um tom sério. -Do Frost.
–Minha?! -Eu ouvi a voz dele e a ponta de seu cajado encostando no chão. -Precisamos? Nós? Quem?
Eu tentei tirar a cabeça do corpo do yeti para olhar-los. Mas era inútil, eles são muito fortes. Então eu senti uma mão leve tocando meu pescoço e o braço do yeti se afrouxou em volta do meu pescoço e eu pude levantar a cabeça. A mão em meu pescoço era a da fada, que recuou ao olhar para meu rosto, mas mantinha o olhar em mim.
Eu desviei o olhar para os outros guardiões.
–O que é isso? -Jack Frost perguntou franzindo o cenho para mim. - Mais um de seus pesadelos?
Pesadelo? Aquilo me preencheu de raiva. Acho que meu olho deixou aquilo claro.
–Ei! Achei o comentário ofensivo! -Eu retruquei.
Ele levantou as sobrancelhas em espanto e olhou para os outros guardiões, que estavam todos me olhando.
–Mais alguém ouviu essa voz ecoando na cabeça? -Ele disse virando de novo para mim vendo que eu o estava olhando feio. - Desculpe... Quem é você?
Eu estava prestes para responder. Mas Breu foi mais rápido.
–Esta é...
–A harmonia.- Toothiana completou.
É, essa tinha me surpreendido. Todos me olharam.
–Eu...Nós...Achamos que você tivesse morrido. - ela continuou.
–Essa é a harmonia? Que estava presa e... -ele me olhou atentamente. -Anos atrás Homem na Lua nos disse que você havia morrido! -Jack exclamou.
–Não foi ele.- O Coelho falou. -No dia em que ele mencionou aquilo, por alguma razão eu senti que não era ele. Não parecia ser o Homem na Lua.
Sandman assentiu e fez uma careta.
–Provavelmente foi o mago que a prendeu. A barreira dela estava cedendo, se tentassem mais algumas vezes teriam tirado ela de lá. -Pitch comentou no mesmo tom sério. Tentando sair dos yetis que ainda não haviam nos soltado.
Eu olhei para ele e franzi a testa. Ele nunca havia comentado aquilo. Sabia que eu estava lá e não havia me tirado de dentro.
Forcei meu corpo a voltar ao normal nos braços apertados do yeti.
–Você sabia que a barreira estava quebrando?! E não fez nada?! -Eu acho que falei num tom mais bravo do que queria.
Ele assentiu.
–Não era importante para mim na época.
Como minha "prisão" estava muito apertada e era muito forte eu voltei a forma de lobo e rosnei baixo.
–Para que precisam da ajuda de Jack? -Norte perguntou.
Explicamos a história para eles e para quê precisávamos do Jack.
–Bom, diversão é a minha praia! - Jack riu.
–Espera! Não seria mais fácil você, Harmonia... -O Coelho começou.
–Amber... -corrigi.
–Amber. -O Coelho continuou e apontou para a fada.- pegar suas memórias com Tooth? Poderia ser mais rápido, parceira.
A fada negou com a cabeça.
–Ela pode se lembrar da vida passada mas os dentes não julgam o equilíbrio espiritual como uma lembrança de infância importante. -ela deu ênfase em "infância".
–Fora que, para mim, isso era normal como respirar. -eu suspirei. -Não conseguiria achar a diferença entre as emoções.
Discutimos mas um pouco sobre o assunto. Os guardiões perguntaram à Pitch a razão de querer ajudar e ele contou a mesma história que havia me contado. Sobre como ele precisava do meu trabalho para continuar o dele. Pode parecer estranho mas eles acabaram concordando. Eles sabem que não há como matar o medo e que na verdade, as vezes é necessário um pouco dele.
Após conversarem à sós com Jack por um bom tempo, nós retornamos ao covil. Onde Breu foi fazer os preparativos para o "show" dele, enquanto eu ficava conversando com Jack.
–Quer dizer que você parece uma robô com os sentimentos em equilíbrio? -Ele perguntou.
–Não! -Eu acho que devo ter corado por alguma razão. -Minha expressão facial representa o sentimento que eu senti primeiro, mas dentro de mim o oposto o neutraliza, não deixando que um extravase. Assim como o laranja está fazendo com o roxo. -eu apontei as duas cores no meus olhos. -Roxo representa a confusão e dentro dele há a ansiedade, que é o que eu estou sentindo. Porque eu adoro falar sobre a função das emoções e isso me deixa ansiosa para termina a fala. -Eu tomei um folego, e eu vi que ele parecia segurar o riso, o que me fez corar mais ainda, mas eu continuei a explicar. -O laranja, a tranquilidade, ameniza o roxo para que eu não seja tomada por esse sentimento.
–Por isso você está corando tanto agora! Não controla um dos sentimentos!
Aquilo me deixou meio sem graça.
–É...acho que sim. -eu dei de ombros tentando não parecer incomodada com o comentário.
Pitch voltou.
–Vocês estão prontos?
–Explique-me o plano novamente. -Jack pediu.
Segundo o que Amber disse, temos 20 minutos depois que a primeira cor se estabilizar. Vou assustar e enlouquece-la com memórias tristes, aumentando o preto, enquanto a "empurro" até um dos quartos. Uma vez dentro, vou fechar a porta. E você -Ele apontou para mim.- vai ter que se esforçar ao máximo para se acalmar sozinha, aumentando o branco E criando o cinza. Vamos esperar dois minutos, e você, Jack -ele olhou para o menino.- entrará e terá que fazê-la rir antes que as três cores se desequilibrem.
Ele assentiu e encarou o chão como quem pensasse.
–Não parece seguro...
–Vamos começar. -Eu toquei as costas de Pitch para que ele fosse na frente. Passei ao lado de Jack e murmurei para que apenas ele ouvisse -E não é.
Eu não sei exatamente porque eu não queria que Breu ouvisse. Acho que eu estava com medo de que ele não me ajudasse mais. Olhei pelo canto do olho e pude ver Jack assentir e nos seguir. De algum jeito eu sabia ele era rebelde o suficiente e concordaria mesmo que fosse arriscado.
Paramos na parte do hall principal, o qual havia mais portas.
–Muito bem. Podemos? -Pitch perguntou.
Eu assenti e Jack se afastou.
Olhei nos olhos amarelos dele e uma sensação estranha me ocorreu. A voz dos meu familiares ecoava na minha cabeça murmurando palavras ruins. Memórias horríveis bombardeavam minha cabeça: Tudo pelo que eu era culpada voltava à minha mente de uma vez, meus fracassos, meus defeitos, minhas mentiras ao longo da vida e como eu era ruim em tudo que queriam que eu fosse boa. "Desgraça." as vozes juntas murmuravam. Coisas que na época não me abalavam, agora me desmoronavam. Eu sentia as lágrimas escorrerem pelos meus olhos. Eu tentava me livrar delas mas elas não paravam de escorrer nem por um segundo.
Tentava abrir os olhos e não conseguia. Na verdade nem queria, tinha medo de ver o que havia à frente. Abri apenas um pouco e vi uma imagem rala de um caminho pelo qual eu poderia fugir, me levantei e corri às cegas enquanto batia na mobília e me machucava. Eu sentia a escuridão me engolindo. Aquilo me sufocava. "Inútil" "Desprezível" "Mentirosa" sussurravam e eu corria para a direção contrária, ainda sem olhar.
Eu tropecei e caí com tudo no chão.
Silêncio. Havia parado. Respirei fundo e as lágrimas foram diminuindo. Criei coragem para abrir os olhos e olhei em volta, estava em uma sala vazia. Segurei meus joelhos e encarei a parede por um tempo indeterminado. Aquela quietude era boa, eu não pensava em nada. Mas após um tempo, ficar sozinha estava me embrulhando o estômago, mesmo assim eu não me mexia.
A maçaneta da porta rodou e eu me arrastei para o canto da sala. A porta se abriu e eu vi Jack Frost entrando. Ele caminhou até mim e se agachou colocando a mão em meu ombro.
–Desculpe a demora. Você está bem?
Eu neguei com a cabeça. E ele suspirou.
–Ele foi longe demais. Deve ter se empolgado... -ele balançou a cabeça como desaprovamento.- Tive que fechar a porta e bater nele para que voltasse ao normal.
Continuei sentada. Não estava com vontade de me mexer.
–Vamos! -ele me puxou pela mão. -Não pode ficar assim!
Levantei pelo impulso dele, mas eu realmente não estava afim. Tinha certeza de que choraria de novo se levantasse.
–Não precisa ficar assim por causa daquele morcego gigante! -ele olhou nos meus olhos- Estão praticamente cinza.
Imaginar aquilo me fez chorar e eu o abracei.
–Nah! -ele deu tapinhas na minha cabeça. -Acalme-se. Olhe, me diga, o que ele te mostrou?
–Os momentos em que minha família me despreza e goza de mim, quando eu era viva. Minhas memórias de vergonha, fracasso e mentiras mais profundas que antes eu conseguia ignorar.
–Ei! -ele ria e mantinha os olhos azuis em mim. -Vai com calma! Está molhando meu casaco!
Eu sequei minhas lágrimas e o soltei, rindo um pouco e ele sorriu.
–Desculpe.
–Que isso! Viu? Não é tão difícil! Você é a harmonia, Amber. E se tem algo muito importante que você não pode esquecer é que você não deve se importar com as coisas ruins do passado. Apenas as boas. -Ele apertou me nariz, congelou o chão da sala, deslizou até o meio e me chamou.
Eu me levantei e tentei ir até ele. A verdade é que eu nunca tive tempo para patinar, então eu cai lindamente. Mas isso me fez rir.
Ele deslizou até mim e me ajudou a ficar em pé.
–É como andar mas sem tirar o pé do chão. Empurre para frente mas jogue o peso para trás e não olhe para o chão.
Conforme eu ia caindo isso ia me animando a levantar e tentar novamente. Eu levantava, dava um passo e caía. Isso me fazia rir.
–É bem divertido! -Eu comecei a rir e perdi o equilíbrio, tentei jogar o peso para o lado e acabei girando no gelo.
–Eu sei! -Ele riu também. -Esse giro foi muito bom!
Eu sentia a alegria me invadindo. E uma luz preta piscou no quarto. Jack parou e eu sentei no chão.
–Você está bem? -Ele deslizou até mim.
Eu fiz que sim com a cabeça mas minha vista estava embaçada.
Preto e Branco piscaram. Logo em seguida o cinza. Aquilo estava me dando uma dor de cabeça enorme mas eu tentei não interferir nos 4 sentimentos que estavam se reconstituindo. Minha cabeça queria explodir. Eu respirei. Pensei em sentir outro sentimento mas eles também interfeririam, então eu deveria me concentrar um pouco nas quatro.
Respirei de novo. Jack estava lá para me ouvir e ajudar, mas ele também estava quieto me aguardando, meus familiares decepcionados e me humilhando, meu medo de nunca ser boa para eles. Fechei os olhos e segurei minha cabeça pensando no que tinha acontecido naqueles...o tempo. Eu deveria ter só mais dois minutos no máximo.
"Vamos...mais rápido!" Eu pensei e me concentrei o máximo que podia. Um flash amarelo. E logo em seguida quatro juntos. Preto, Branco Cinza e Amarelo.
Eu abri os olhos e me levantei em desespero. Ouvi Jack chamar meu nome.
–Eu não enxergo! -consegui dizer e procurei por ele tateando ao redor.
–Aqui! -ele chamou e segurou meu pulso.
Senti a pressão da minha cabeça se aliviar. Meus olhos se abriram, eu vi Jack, o pó dourado e depois tudo escureceu.
Eu tive um sonho estranho mas bom. Eu era uma loba mesclada que corria para aonde queria. Seis filhotes me seguiam e brincavam. Me olhavam com orgulho e carinho como se algum dia estivessem se perdido e agora estavam felizes por me acharem.
Abri os olhos e voltei à realidade. Eu estava deitada em um sofá. Eu podia ouvir vozes no fundo e aos poucos elas foram ficando mais perto, mais claras e comecei a reconhece-las. Jack e Pitch apareceram um de cada lado.
Chacoalhei a cabeça que continuava dolorida.
–O que aconteceu? -Eu olhei de um para o outro.
–Você sobrecarregou e desmaiou.
Eu ainda não conseguia diferenciar uma voz da outra. Pude ouvir um suspiro e a voz, logicamente, de Pitch.
–Sinto muito por...tudo.
Senti meu estômago embrulhar então apenas assenti.
–Pelo menos funcionou.- Eu comecei a diferenciar as vozes. Jack quem falara.
Aquele enjoo continuava então coloquei a mão não boca como me forçando à não vomitar. Olhei para ele e depois para Breu e estendi-lhe o outro braço abrindo e fechando a mão rezando para que ele entendesse que eu queria o espelho.
–Pelo menos funcionou.- Eu comecei a diferenciar as vozes. Jack quem falara.
Aquele enjoo continuava então coloquei a mão não boca como me forçando à não vomitar. Olhei para ele e depois para Breu e estendi-lhe o outro braço abrindo e fechando a mão rezando para que ele entendesse que eu queria o espelho.
Pitch me olhou franzindo a testa e só entendeu depois que eu apontei para meus olhos. Ele se virou para as sombras.
–Só um momento. Jack por favor leve-a para fora e pegue um pouco de água. Não é só porque eu moro em uma caverna que vou deixa-la suja com vômito.
Jack assentiu e me ajudou a levantar e à subir até a superfície, para fora do covil. Ficar de pé só piorou minha ânsia. Eu queria agradecer-lhe mas eu tinha a sensação horrível de que não poderia abrir a boca.
–Ãh...fique à vontade. - ele disse quando saímos para fora da caverna. -Eu vou buscar água.
Eu abracei uma árvore e fiquei parada até vomitar. Ok. Sem detalhes. Me virei e fiquei apoiada na árvore até ver Jack voltando com uma garrafa de água. Ele me entregou e eu a bebi.
–Obrigada Jack.
–Pela água ou pela ajuda? -Ele sorriu.
–Os dois. -Eu ri um pouco. Tinha motivo para ser o guardião da diversão, o pouco que ele falava podia tirar um sorriso do seu rosto. O enjoo voltou e eu cobri a boca de novo.
–Você está bem? -Ele perguntou e eu assenti. - Se quiser...
Pitch saiu do buraco do chão, interrompendo a fala de Jack, caminhou até nós e me entregou o espelho e encostou na árvore ao lado de Jack. Eu peguei o espelho e me olhei. Quatro cores haviam sido adicionados no olho direito. E ao todo eram 6 cores devidamente posicionadas. Preto, Branco, Cinza, Amarelo, Laranja e Violeta.
–Achei que você não podia sair no sol. -comentei enquanto olhava para meus olhos no espelho.
–Eu? -Pitch indagou e eu fiz que sim com a cabeça. -Sou o bicho-papão, não um vampiro! Apenas prefiro evitar a luz do sol...
Um silêncio seguiu-se enquanto eu analisava cada sentimento.
–Você sonhou com isso quando desmaiou, não é? -Jack perguntou, quebrando o gelo e, olhando nos meus olhos. -Seis lobos seguindo um maior.
Eu respirei fundo.
–Sim.
Pitch nos olhou levantando uma sobrancelha.
–Quando isso?
–Logo quando ela desmaiou. -Jack apontou para mim. -Antes de arrasta-la para fora do quarto, havia lobo e lobinhos sobre a cabeça dela.
–Sandman não tem acesso ao meu covil. -Ele franziu o cenho olhando para o buraco. O meu enjoo vinha e voltava. Eu me virei para a árvore e vomitei novamente. -Acho melhor descansar.
–Sim...-eu desencostei da árvore com um impulso e começei a andar até o buraco.
–Amber! - A voz de Jack me chamou e me virei enquanto ele se aproximava com os braços abertos. -Não vai se despedir do seu lorde salvador? -Eu tentei segurar o riso e ele sorriu do jeito abobado, como fazia de vez em quando. -Tenho que voltar ao pólo.
Eu o abracei.
–Boa sorte. Espero que consiga recuperar suas luzes. Nos chame se precisar novamente.
–Minhas luzes?
–As pessoas que acreditam em você são luzes. -Pitch assentiu.
–Sim. -Jack olhou para ele e depois para mim. -Luzes são muito importantes para nós espíritos. Principalmente se for um guardião.
O vento soprou, Jack sorriu e saiu do chão.
–Infelizmente, até um dia senhor todos-sintam-medo-de-mim. -Ele subiu mais quando Pitch fuzilou-o com o olhar. -Tchau senhorita dos olhos coloridos.
Jack se virou e foi embora. Pitch entrou no covil e eu o segui, saltando buraco à baixo. Meu enjoo havia passado, mas com boa parte do meu poder de volta eu senti a necessidade de descansar então retornei ao meu quarto.
Abri a porta e empurrei o armário para tapar a luz do sol de final de tarde. Deitei-me na minha cama e fechei os olhos.
Eu estava sonolenta, quase dormindo, quando ouvi um barulho vindo de baixo da cama. Sentei-me e olhei ao redor. Atirei me para fora da cama e olhei de baixo da cama. Dois olhos grandes e amarelos estavam focados em mim, eu me assustei e pulei para trás enquanto um cavalo negro saia de baixo da minha cama.
–Como coube ai?! -Talvez essa não tenha sido a pergunta ideal, mas era realmente interessante saber como um cavalo havia se enfiado lá.
Ele relinchou e ficou imóvel. Eu voltei para a cama.
–Vamos! Eu quero dormir. Quer ficar ai, fique! Mas em silêncio.
Ele se aproximou, os olhos vidrados em mim.
–O que você quer?
Eu toquei-lhe o focinho e seus olhos se arregalaram como se tivesse levado um susto. Dissolveu-se e tomou a forma de um filhote de lobo da cor dourada.
Olhei-o por um longo tempo enquanto ele brincava de tentar morder meu cabelo. Ele desistiu do meu cabelo e me mordeu a mão, fazendo-me deitar a cabeça no travesseiro e cair no sono instantaneamente.


~le aproveitando~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Harmonia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.