Afável escrita por Pimentinha


Capítulo 3
Bocejos e feridas


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, perdão pela demora exagerada. E em segundo, boa leitura!



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Capítulo III

Bocejos e feridas

.

Bebeu o restante do suco, pedindo mais ao garçom. E eu nem havia chegado à metade do meu copo.

— Sou eu, ou realmente é algo... Err... Adverso, saber que você dormiu com o Capitão Yamato?

— Para mim também foi estranho no início. – falei, notando alguns garotos nos observarem. — Mas depois, eu não sei... Era como se já fosse algo essencial na minha vida.

— Dormir com o Yamato-taichou?! – indagou, com um tom de voz mais elevado, fazendo os garotos me mandarem um sorriso sacana.

— Não. – corrigi. — Estar junto dele.

— Mas eu estava falando sobre sexo, Testão. – revirei os olhos. — E eu realmente não consigo acreditar. – meneei a com a cabeça, pensando que, em momento algum, tais fatos haviam se passado na minha cabeça. Quem diria que essas coisas poderiam ter acontecido? — Cara, ele poder transformar qualquer parte do corpo dele como uma madeira!

— Oi?

— Ele nem precisa de remédio algum!

— Ino.

— Enquanto eu estava sendo esmagada pela bola de banha, você estava lá, se esbaldando com o Capitão.

— Você deveria ter atacado o Shikamaru, já que não gosta de gordura. – bebi mais um pouco do suco, vendo-a espreitar os olhos.

— Você sabe muito bem que eu estava tentando fazer ciúmes ao Shikamaru. – fez um bico, cruzando os braços. — Não acredito que você me deixou ir para a cama com o Chouji, só para poder ir com o Yamato.

— Eu nem sabia que ele estava lá, quando resolvi ir embora. – dei mais uma mordida no sanduiche praticamente intocado, vendo o garçom trazer o suco solicitado por Ino. — Além do mais, você já estava se jogando nos braços dele muito antes de eu ir embora.

— Certo, certo, vamos fingir que esse pesadelo nunca aconteceu, ok? – suspirou, rodando o canudinho em seu copo. — Agora admita, você tem que estar bêbada para ficar com eles, assim como eles ficam bêbados para ficar contigo.

— Hein? – fiz uma careta, olhando-a confusa. — Do que você está falando?

— Ah, para pra pensar, no seu aniversário, todo mundo estava bebendo. Depois no aniversário do Sasuke...

— Eu não bebi nesse dia...

— Bebeu refrigerante! – acusou, fazendo-me revirar os olhos. — E bebeu uma garrafa de saquê para poder ficar com o Yamato.

— Ino, não procure defeitos nos meus relacionamentos somente porque você dormiu com o Chouji.

— Não fale sobre aquela bola de banha! – exasperada, não notou alguns risinhos de uma garçonete.

— Certo, façamos de conta que tudo o que fiz foi por causa da bebida, mas com os demais não foi assim.

— Sério? – apoiou-se na mesa, mandando-me um olhar divertido. — Ficou sem beber água feito um camelo?

Revirei os olhos.

— Você entendeu o que eu quis dizer, Porca.

— Ah, você não aguenta brincadeiras. – suspirou. — Mas e então, você havia dito que o Sasuke havia sido o terceiro, não é? – concordei. — E como foi? Também foi após a saída de algum bar?

— São cinco ocasiões distintas, Ino. – falei, bebendo um pouco de suco. — E, embora haja coisas em comum, cada um foi diferente.

— Com cinco belos ninjas não há como um relacionamento cair na rotina, não é? – indagou, rindo abertamente.

— Não mesmo.

. . .

Bocejei, acomodando-se melhor na cadeira de couro, ela emitiu um ruído estranho, todavia, ignorei-o. Olhei para a janela, notando que o sol mal havia dado as caras, e eu já era obrigada a estar no escritório da Hokage. Bocejei novamente, chamando a atenção da mulher. Cocei a cabeça um pouco sem jeito, desviando de seus olhos âmbar desconfiados. Depois de tantos anos como a minha shishou – praticamente uma segunda mãe –, é claro que meus movimentos eram facilmente interpretados por ela.

— A noite foi boa, ontem? – arqueou uma sobrancelha, olhando-me seriamente. Pensei um pouco, lembrando-se de ter saído com Naruto na noite anterior ao Ichiraku, e por comer demais, o loiro passou a madrugada inteira correndo ao banheiro. Obviamente tive de cuidar dele e, consequentemente, não dormir a noite. — Pelo visto não. – comentou, por apenas me observar.

— Então. – comecei a falar, antes que ela começasse a entrar em detalhes da minha noite. — Por que fui chamada aqui?

— Sasuke pretende doar boa parte das casas do complexo Uchiha. – ponderou um pouco, apoiando sobre a mesa. — Na verdade ele deseja doar todas as casas, exceto a casa principal.

— Hm. – e o que eu tinha a ver com isso?, pensei.

— Preciso de alguém que vá até lá, vistoriar o estado das casas. – manei com a cabeça, ainda sem entender o que ela queria dizer. — E essa pessoa será você.

— Eu? – apontei para mim mesma, descrente. — Eu não sou nenhuma especialista nessas coisas, shishou. Além do mais, não há uma pessoa melhor para avaliar isso?

— Não. – respondeu seca. — Pois eu estou mandando você. – sorrindo para mim, diabolicamente, entregou-me um pergaminho amarelado. — Considere isso como uma missão Raking D.

— Uma missão para Gennins? – perguntei, desanimada.

— Não confio nesses pirralhos. – deu de ombros.

— Certo. – falei, levantando-me. — Com licença, shishou.

Desci as escadas correndo, esbarrando com Shizune no meio do caminho e lhe mandando um sorriso rápido. O complexo Uchiha não era muito longe dali, e o quanto antes acabasse aquela missão estúpida, antes eu voltaria para casa e dormiria sossegadamente. É claro, também haveria a possibilidade de Naruto ainda estar no meu apartamento, mas se fosse o caso, a ponta pés ele sairia de lá. Virei uma esquina, avistando ao longe o portão do complexo e Sasuke parado ali. Estava com as mãos no bolso, olhando para outra direção quando cheguei até ele.

— Sasuke-kun. – falei, recuperando o fôlego. — Tsunade-shishou me mandou aqui...

— Eu sei. – interrompeu-me, adentrando no complexo. Parada, apenas o fitei se distanciar. — Venha logo.

Revirei os olhos, seguindo-o. Caminhamos em silêncio, praticamente ignorando a existência do outro, enquanto lia as instruções descritas no pergaminho. Deveria ser feito um levantamento sobre a quantidade de casas, o estado de cada uma, cômodos, as cores, a mobília, vegetação, metros quadrados e população. Sorri, olhando a ultima pergunta, respondendo-a rapidamente.

Era estranho caminhar naquele local, que mais parecia uma cidade fantasma. Uma vila dentro da vila. Não sabia muito bem como era o cotidiano dos Uchiha’s, mas aparentemente, com os seus próprios recursos, eles não necessitavam de muito de Konoha. Eram independentes, assim como Sasuke é. Não havia nada de peculiar ou exorbitante em sua arquitetura e design, embora fosse nítido certo tipo de disciplina até mesmo nas moradias.

Adentramos em casa por casa, fazendo pequenas anotações, em silêncio, obviamente. Notei alguns olhares de Sasuke na minha direção, contudo, ignorei, prestando mais atenção na missão. E entre um bocejo aqui e outro ali, as quarenta e seis casas foram minuciosamente analisadas. Fomos para a casa principal, no qual era ocupado por Sasuke, ajeitamo-nos no sofá para terminar de preencher algumas papeladas. E, sim, ainda em silêncio. Bocejei mais uma vez, fazendo-o me olhar instantemente.

— Para uma quarta-feira, a noite de ontem foi boa pelo visto. – comentou por alto, anotando alguma coisa numa folha qualquer.

— Na verdade foi péssima. – respondi, pensando no trabalho que Naruto me deu.

— Ele não se comportou direito? – questionou, num tom impassível.

— Não, ele... – parei, olhando-o rapidamente. — Do que você está falando?

— Você sabe do que eu estou falando. – respondeu, sem me olhar.

Então aquele era um dos momentos em que uma pessoa fingia saber do que estava falando, apenas para que a outra se soltasse e falasse o que é que queria ouvir. Sendo um jogo ainda mais sujo do que o famoso “jogar verde e colher maduro”. Suspirei, mandando-lhe em pérfido sorriso. Ajeitei uma mecha de cabelo atrás da orelha, voltando a fazer as minhas anotações, fazendo Sasuke me olhar, esperando por alguma réplica minha.

— Não é fácil fazer plantão até altas horas da madruga. – bocei. — Não sabe quantas coisas atípicas aparecem naquele hospital.

— Hn. – resmungou, olhando-me fixamente. — O garoto era loiro?

— Na verdade tinha cabelos castanhos. – respondi, querendo saber até onde ele chegaria. — Por quê?

— Acho que vi um loiro comer de mais ontem. – meneei com a cabeça, sabendo perfeitamente de quem ele falava. — Pensei que ele iria para o hospital.

— Talvez tenha ido para casa. – comentei, bocejando novamente.

— Ou quem sabe para a sua. – falou, voltando a escrever.

Ajeitei-me melhor no sofá, pigarreando um pouco.

— Minha casa? – ele não me olhou. — Não sei de que loiro que você está falando. – bocejei novamente, sentindo meus olhos pesarem.

— Naruto. – retorquiu, em seu tom indiferente.

— Eu já tratei inúmeras vezes de Naruto, admito. – bocejei. — Mas não me lembro de tê-lo na minha casa ontem à noite.

— Sério? – colocou alguns papéis sob a mesa, voltando a me fitar. — Pensei tê-lo visto sair de lá, hoje mais cedo.

— Talvez ele tenha ido bater na minha porta, porém eu não estava. – dei de ombros. — E o quê estava fazendo próximo da minha casa, Sasuke?

— Caminhando pela rua, evidentemente. – deu de ombros. — Acredito que ainda seja um espaço público de Konoha.

— Aham. – espreitei os olhos em sua direção, terminando de anotar algumas informações. — Mais tarde passarei na casa do Naruto, para ver como ele está.

Ficamos em silêncio por mais um tempo, e a calmaria apenas aumentava o meu sono. Bocejei mais algumas vezes, ignorando os negros olhos que me tocavam descaradamente. Mentalmente, matei Naruto por ter comido de mais, e dei um chute no traseiro de Yamato, por estar há semanas numa maldita missão. E, também mentalmente, escondi a garrafa de saquê da shishou, castigando-a por ter me obrigada a participar dessa maldita missão. Ah, e também daria um soco na cara de Sasuke por suas insinuações.

— Foi desde o seu aniversário? – indagou, quebrando o silêncio. Olhei-o rapidamente, sendo capturada pelo breu de seus orbes. — Foi depois daquela noite que vocês começaram?

Taciturna, de certa forma, realmente estava confusa.

— De quê você está falando?

— Do Naruto. – respondeu, acomodando-se melhor no sofá. Bocejei, desejando estar na minha cama. — Não finja não saber do que estou falando.

— Mas eu realmente não...

— Sakura.

Suspirei, notando que não adiantaria fugir de um tópico que, incansavelmente, ele voltaria a levantar.

— Não. – falei, fazendo-o me olhar rapidamente. Soltando mais um bocejo, completei. — Desde o seu aniversário.

— Hn. – grunhiu, sem me olhar. Eu não fazia a menor ideia do que se passava na sua mente, mas era óbvio que ele estava surpreso. Continuamos calados, por certo tempo, e eu já me preparava para sair, quando sua voz voltou a ecoar. — Por que ele?

Havia várias respostas para essa pergunta, desde um “eu não sei” à um “ele foi o primeiro a me procurar”, no entanto, nenhuma parecia valer a pena para ser dita. Embora vivendo em um mundo diferente de a dos civis, em regras, conduta ética e moral distintos, não havia um parágrafo referente à sexo e relacionamentos amorosos no manual ninja. Assim sendo, eu não tinha uma resposta na ponta da língua, muito menos uma justificação cabível por me envolver com os meus colegas de time.

— Eu não sei. – lhe respondi, voltando ame sentar ao seu lado. — Eu juro que não sei.

Seria muito mais fácil estar com qualquer um, que não fosse alguém do Time Sete. Aliás, seria muito mais fácil para todos se por acaso não nos apaixonássemos. Eu poderia até estar com Naruto e Yamato simultaneamente, e ter plena consciência da falta de escrúpulos que tinha, entretanto, meu coração batia mais forte por cinco pessoas diferentes e, embora já tendo dois, desejava secretamente os três restantes.

— É algum tipo de vingança? – perguntou, fitando a parede.

— Vingança? – ponderei. — Contra você? – ele continuou calado, obrigando-me a simplesmente continuar a falar. — É claro que não.

— Então por que no meu aniversário?

— Eu não sei... Apenas aconteceu...

Repentinamente, seu corpo jazia sobre o meu, ambos no sofá. Segurando os meus braços, seu rosto estava próximo ao meu, fazendo seus fios negros roçarem em minha face. E, embora sob a adrenalina, não pude conter mais um bocejo. Ele revirou os olhos, para logo em seguida me olhar sério.

— Você sabe que poderia ser a Senhora Uchiha. – falou, num tom rouco.

— Não é do meu desejo.

— Mas foi.

— Aos doze anos. – dei de ombros.

— Por que o dobe? – indagou.

— E por que não?

— Você está apaixonada por ele? – continuou me olhando, sem se importar que a nossa posição fosse bastante inadequada.

— Sim. – respondi, convicta.

Seus olhos estavam direcionados aos meus lábios, e pouco a pouco eu o sentia se aproximar. Seus lábios roçaram nos meus, coagindo-me a suspirar languidamente. Fechei os olhos, percebendo que uma de suas mãos tocava-me sem nenhum pudor. Naquele momento, pensei que, provavelmente, Naruto já estaria nu, brincando com os meus pés e também no Yamato, que estaria fazendo-me sentar em seu colo, permitindo que eu fosse a dona do jogo. No entanto, eu estava com Sasuke, permitindo que a sua arrogância trilhasse o nosso caminho.

Nossos lábios se encostaram, e sem nenhuma reserva a sua língua invadiu a minha boca, dominando-me. Seu corpo passou a se esfregar ao meu, e ainda que apreciasse seu gesto, tudo o que eu mais desejava continuava sendo dormir tranquilamente. Mas é claro, se fosse com Sasuke eu não me incomodaria de jeito algum. Soltei uma de minhas mãos, massageando seus negros cabelos, ele sorriu em meus lábios, afastando-se.

— O dobe não precisa saber disso. – comentou, tirando a própria camisa.

Acomodei-me melhor no sofá, observando a sua pele pálida, e seus movimentos descarados, arrancando o meu short.

— E nem deve. – falei, ajudando-o a me despir, ainda bocejando.

— Vamos ver se você ainda irá pensar no dobe. – falou, beijando um das minhas pernas.

— Isso é uma espécie de competição? – questionei, fazendo uma careta.

— Apenas feche os olhos.

Obedeci, repousando agradavelmente a minha cabeça no encosto do sofá. Era tão confortável. Suas mãos faziam uma suave caricia na minha pele, fazendo-me relaxar. Embora o pensamento de haver uma simples competição entre ele e o Naruto martelasse a minha mente. Será que eu era o prêmio de uma estúpida competição entre os dois? Não, Naruto não seria capaz disso... Suspirei. Suas mãos impertinentes moviam-se de maneira a roubar a minha sanidade, fechei os olhos firmemente, jogando a cabeça para trás, porém, a sensação prazerosa apenas aumentava o meu bem-estar. O sofá tão macio fez-me se questionar se eu não estava nas nuvens. E sem saber ao certo em que momento aconteceu, minha mente foi guiada ao delirante mundo dos sonhos.

. . .

— Por favor, me diz que esse seu “delirante mundo dos sonhos” foi uma metáfora para o “delirante mundo dos orgasmos arrebatadores”? – revirei os olhos com a sua pergunta, notando uma garçonete que tentava escutar a nossa conversa. — Por Kami, Sakura! – exclamou, com olhos arregalados. — Quem na face da Terra dormiria na hora H com o Sasuke?

— Não foi bem a hora H, Ino. – corrigi-a. — Era apenas a preliminar.

— Certo. – suspirou um pouco, para logo em seguida voltar à antiga posição. — Por Kami, Sakura! – exclamou, voltando a arregalar os olhos. — Quem na face da Terra dormiria na preliminar com o Sasuke? – revirei os olhos, fazendo-a rir. — Sério, isso realmente deve ter ferido o orgulho Uchiha.

— E como. – comentei desanimada. — Ele me deixou dormir até o fim da noite, deixando-me trancada na casa dele.

— Então, quando ele chegou, terminou o que havia começado, presumo.

— Não. – respondi. — Aproveitei a ausência dele e fugi pela janela.

— Oh! – pensou um pouco, e logo se voltou para mim. — É impressão minha, ou ele só sabia do Naruto?

— Ele não fazia a menor ideia do que acontecia entre o Yamato e eu. – falei, bebendo o restante do meu suco. Anelei pensativa. — E se ele não sabia de nada, não seria eu quem lhe contaria.

— Está certo. – a loira falou, ajeitando-se na cadeira. — Afinal, que diferença faz um a mais ou um a menos. – olhei-a seriamente, notando o falso sorriso ser desenhado em sua face. — Ah é, esqueci que você não gosta de brincadeiras. Foi mal, Testão. – olhou para o lado, notando o olhar curioso da garçonete e, ranheta, mandou-lhe um olhar ameaçador. — Enfim, você acha que o Sasuke só fez aquilo para competir com o Naruto?

— Bom, talvez sim, à princípio. Mas creio que depois ele mesmo acabou se envolvendo mais do que imaginaria que pudesse.

— Por exemplo...?

— Por exemplo, assim como ele passou a me buscar no hospital, quando eu fazia plantão noturno. – pensei mais um pouco. — Ou quando ele ficava enciumado por eu passar tempo demais tratando de alguns caras. Ou então quando ele passou a me ligar todas as noites. E também...

— Chega. – ela me interrompeu. — Mas eu ainda acho estranho a Tsunade ter te mandado lá no complexo, não sei não, estou achando que foi algum tipo de armação.

— Você acha?

— O quê? Você não acha que tenha sido?

— Sasuke não entregaria o Complexo assim de graça. – falei, notando o seu olhar curioso. — É provável que ele tenha pedido algo em troca.

— E talvez a Hokage tenha a mandado para lá, sabendo que seria uma boa moeda para troca? – dei de ombros. — Por que ela nunca fez isso comigo? Talvez haja alguma pendência de Konoha para Suna.

— Mesmo que houvesse, Porca, ela não te mandaria. – seu olhar praticamente me fuzilou, obrigando-me a completar o meu raciocínio. — Uma vez que a mente de certo estrategista trabalharia em prol de algum contratempo de tal negociação.

— Hmpf. – grunhiu. — É bem provável mesmo. – sacudiu o copo, mandando um sinal para o garçom, e este rapidamente olhou para mim, esperando que lhe pedisse por mais também. No entanto, apenas neguei com a cabeça. — Enfim, já se foram o Naruto, Capitão Yamato e o Sasuke. – suspirou, mexendo nas madeixas loiras. — Quem é a próxima vítima?

O garçom trouxe o suco solicitado, levando consigo inúmeros copos vazios. Aguardei sua retirada, para que a nossa conversa não fosse ouvida por ele, entrementes, Ino me encarava ansiosa.

— Kakashi-sensei.

— Ah! – deu um pulinho estranho na cadeira, aproximando-se mais. — Finalmente!

— Por que a felicidade?

— E por que não?

— Bom, eu não sei. – comentei, vendo um senhor nos olhar. — Mas é de se estranhar a sua exaltação.

— Olha, não é por nada não, mas... Eu realmente estou curiosa sobre ele.

— Sobre ele?

— Ah, você sabe. – gesticulou com as mãos. — Ele tem aquele jeitão dele, todo indiferente, nem aí para as coisas. Não sei, é estranho imaginar que tenha rolado algo entre vocês.

— Hm.

— Ele é o mais bem dotado, né? – apoiou-se na mesa, erguendo as sobrancelhas repetidas vezes.

— Como é? – cruzei os braços. — Não vou falar sobre isso.

— Aposto que é! – declarou, sorrindo de orelha a orelha.

— E o que te faz pensar isso?

— Ele é o mais velho ali.

— Idade não comprova nada.

— Então ele não é?

— Eu não disse isso.

— Então ele é. – revirei os olhos. — Mas se não for, com certeza é o mais “bom de cama”.

— E por quê?

— Porque o Icha Icha tem algo a ensinar ali.

E ela estava certa sobre isso, pensei.

. . .

E, como o habitual, no anoitecer de uma sexta-feira, fomos ao Ichiraku. Bom, não foi o Time Sete completo, afinal, Kakashi-sensei e o Capitão Yamato haviam saído em missão e Sai, excentricamente, negou ir ao restaurante, alegando se preocupar com o consumo excessivo de massa. Pois, segundo um livro, além do prazer instantâneo, tal alimento gera muitas incidências de doenças que, para qualquer tipo de pessoa, o exagero pode levar ao óbito, ou pior, ao excesso de peso. E pelo visto, o branquelo era extremamente preocupado com a sua forma física.

Suspirei, notando as duas pessoas que me esperavam na saída do hospital. Sasuke e Naruto me aguardavam, de braços cruzados. Sorri um riso amarelado, escondendo a maneira estranha como o meu estômago se revirou. Não era como se eu não gostasse de estar junto a eles. Eu gostava, tinha de admitir, no entanto, não era do meu agrado estar com mais de um. Dentro de mim, algo me repudiava por estar engando a três, ao mesmo tempo em que desejava cinco, todavia, estava presa numa embaraçosa situação em que eu mesma não fazia muita coisa para mudar.

Se eu teria coragem de terminar com algum deles?

De jeito algum.

Era impossível fazer uma escolha.

— Hey, Sakura-chan! – Naruto se aproximou, jogando um braço em volta do meu pescoço. — Pronta para se empanturrar no Ichiraku?

— Estou sempre pronta, Naruto. – respondi, evitando olhar para Sasuke, que caminhava ao nosso lado.

— É uma pena que o sensei e o Yamato-taichou estejam numa missão, né, Sakura-chan? – perguntou-me, enquanto eu tirava seu braço de cima de mim.

— Sim, o que seria do nosso jantar de sexta-feira sem o time completo? – fingi interesse, andando calmamente.

— É verdade. – respondeu, caminhado ao meu lado com as mãos sobre a própria cabeça.

Olhei para Sasuke, do outro lado, que parecia nem estar se preocupando com o jantar. Talvez não estivesse mesmo, afinal, essa estranha tradição fora criada pelo Naruto e eu, desde o fim da guerra, para enfim reunir o complexado Time Sete. Após algumas quadras, chegamos ao restaurante, acomodando-se no balcão. Naruto jazia ao meu lado esquerdo e Sasuke à minha direita. Continuei a encobrir o embaraço, principalmente quando algum deles, disfarçadamente, passava a mão pelas minhas pernas por debaixo do balcão. Cogitei até retribuir o afago, mas pensei que seria canalhice demais. Como se enganar três caras não fosse pior, refleti.

A lua começava a bailar com as nuvens, naquele céu acinzentado, e a nossa conversa não tinha vida, ao contrário da taciturnidade que nos encobria. Era óbvio que o assunto que tinha com cada um era distinto, e talvez por isso, não havia espaço para um tópico em comum, ou melhor, talvez não fosse tão fácil assim achar um que realmente dizia respeito à nós três, sem expor os nossos segredos (ou seria apenas o meu?). Suspirei, pousando o hashi na minha tigela vazia.

— E quando o Kakashi-sensei e o Capitão Yamato voltam da missão? – perguntei como quem não queria nada, embora estivesse preocupada com a saída dos dois.

— É uma missão sem previsão, Sakura-chan. – Naruto falou de boca cheia. — Acho que seja uma missão Raking S.

— É uma missão Raking S, Naruto. – Sasuke falou, corrigindo o loiro.

— E será que eles vão ficar bem? – perguntei, fazendo o possível para não parecer mais preocupada do que deveria. — Faz mais de uma semana que partiram, não é mesmo?

— Yep. – o loiro respondeu, limpando a boca com a manga da blusa. — Mas não se preocupe, Sakura-chan. – falou, tocando em meus ombros. — Nada de ruim irá acontecer com eles. – sorri para ele, que me mandou um riso reconfortante. Por debaixo da mesa, Sasuke beliscou a minha coxa, fazendo-me saltar. — Está tudo bem com você, Sakura-chan?

— Sim. – respondi rapidamente. — Eu apenas solucei.

— Ah. – continuou sorrindo, assim como Sasuke. — Acho melhor eu te levar para casa.

— Pode deixar que eu a levo, dobe. – Sasuke falou, chamando a nossa atenção. — A casa dela é bem próxima da minha.

— E da minha também, teme. – o loiro rosnou enquanto encarava Sasuke, que também o encarava.

— Certo. – comecei a falar, tentando quebrar aquele estranho clima. — Os dois me levam, hm?

É claro que eu poderia muito bem ir sozinha para casa, assim como poderia tê-los dito isso, no entanto, não estava a fim de iniciar uma nova discussão, entre nós três. Caminhamos calmamente pelas ruas, que perdia o seu movimento por conta do horário. Provavelmente já se passavam das nove da noite e a maior parte da população civil – que compreendia a grande maioria –, já havia se retirado para dormir. Olhei para os dois, já prevendo que ambos, obviamente tentaria invadir o meu quarto durante a noite. Não seria a primeira vez que alguém fazia isso, embora eu sempre pedisse para que não o fizessem.

— Provavelmente mamãe irá me visitar essa noite. – simplesmente falei, desinteressada. — Ela terá uma consulta amanhã cedo, e já que serei a médica dela, ela irá pousar na minha casa.

— Hn. – o Uchiha resmungou, pensativo.

— Ela irá ficar por muito tempo? – Naruto tentou fingir não estar tão interessado.

— Eu não sei. – dei de ombros, enquanto parávamos de fronte ao meu prédio. — É uma série de exames.

Eles deram de ombro, fingindo não se importarem (mas se importavam, claramente), despedindo-se num aceno rápido. Entrei no prédio, vendo-os se distanciarem. Subi as escadas rapidamente, suspirando quando finalmente me vi longe daqueles dois. Não que fosse do meu desejo afastá-los de mim, evidentemente que não, no entanto, não seria nada agradável se os dois aparecessem essa noite para uma visita. Um caos seria estabelecido e é provável que o Time Sete perdesse a sua essência, afinal, a nossa tão comentada amizade já não seria mais a mesma.

Se é que ainda fosse.

Tomei um banho rápido, seguindo diretamente para a cama. O dia seguinte seria longo e a necessidade de uma bela noite de sono era constante. Porém, três distintos homens vagavam pela minha mente. Deitei-me na cama, apenas fitando o teto. O quê diabos eu estava fazendo?, me perguntei, fechando os olhos. Estava botando a perder uma amizade de longos anos, e eu não era mais capaz de controlar os meus próprios atos. Talvez eu devesse simplesmente acabar com tudo aquilo e fingir que nada aconteceu. Mas aconteceu e eu seria eternamente perseguida por meus demônios (ou seria pelo Time Sete?).

Um vento estranho bateu na janela e um baque surdo fez-se pelo quarto.

— Sakura...

Sentei-me rapidamente, notando haver uma pessoa caída próxima à janela. Corri velozmente em sua direção, encontrando Kakashi ao chão, coberto de sangue. Ele odiava hospitais e não seria a primeira vez que vinha diretamente a mim, mas nunca em tal horário, muito menos no estado em que se encontrava. Peguei-o no colo, sem muita dificuldade, pousando-o sobre a minha cama. Acendi a luz do abajur, notando o seu estado deplorável. Ele jazia desacordado, e sob a sua blusa, notei que seu batimento cardíaco era muito fraco. Concentrei uma boa quantidade de chakra em minhas mãos, passando a curá-lo.

Seu torso necessitava de mais cuidados, de modo que tive de rasgar a blusa escura que usava e, também, retirar o seu colete. Pouco prestando a atenção na sua pele convidativa, direcionei minhas mãos por seus ferimentos, notando o quão resistente Kakashi era. Seja de onde for que estivesse vindo, era necessária muita resistência para suportar a caminhada com tais machucados. Suas pernas também requeriam cuidados, e sem se importar com algum tipo de acanhamento, arranquei a sua calça e me chocando ao notar uma shuriken cravada profundamente em sua coxa. Ele era um irresponsável, pensei. Deveria ir diretamente a um hospital, não ao meu quarto. E se eu não estivesse aqui?

Olhei para o homem repousado em minha cama, que trajava apenas uma cueca escura e sua habitual máscara. Fitei a sua face encoberta, havia um corte profundo em sua bochecha e provavelmente seria necessário arrancar o tecido dali para poder curá-lo. Estremeci, ao imaginar que finalmente o veria sem a sua máscara – e também por tê-lo de tal maneira em minha cama. Uma mão vacilante tocou a borda da máscara. Suspirei. Direcionei alguns dedos, fazendo-os arrastarem o tecido.

— Sakura. – sua voz calma e preguiçosa me chamou a atenção. — O quê está fazendo?

— Eu preciso tirar a sua máscara para curar o seu rosto. – falei baixo, fitando seus olhos.

— Não tire a máscara.

— Mas eu preciso...

— Então não me cure.

O tecido permanecia a umedecer rapidamente, evidenciando que o sangramento era contínuo. Tive uma imensa vontade de socá-lo, por conta de esdrúxula birra, no entanto, apenas voltei a direcionar meus dedos na borda do tecido negro.

— Você veio até aqui, não veio? – falei, ignorando o seu protesto. — Então eu irei curar tudo o que for necessário.

— Sakura. – segurou o meu pulso, firmemente. — Como o seu superior digo para você parar. – falou em seu tom calmo.

— E como a sua médica, sensei, eu irei, sim, curá-lo. – voltei a segurar em sua máscara, enquanto ele tentava me afastar. — Kakashi-sensei.

— Sakura.

Teimosamente, suas mãos impediam-nas minhas de se aproximar, e numa estranha batalha, subi em cima dele, pousando-me em seu colo, notando como se mexeu rapidamente. Continuei a tentar alcançar a sua máscara, assim como ele tentava me afastar. Segurei uma de suas mãos acima da cabeça, observando como uma das minhas era presa nas costas. De fato, era uma estranha batalha. Inconscientemente, remexi-me em seu colo, fazendo-o gemer.

E então ele já havia prendido as minhas duas mãos e nos girado na cama. Sim, obrigando-me a ficar por debaixo dele. Nervosa, puxei a minha mão de volta e consequentemente a sua face mascarada ficou próxima a minha. Próxima até de mais, diga-se de passagem. Encaramo-nos por um tempo e o meu coração passou a bater num ritmo adverso.

— Eu realmente preciso, e irei, tirar a sua máscara, sensei. – falei, mandando-lhe um sorriso de puro escárnio.

— Nem pense nisso, Sakura-chan. – devolveu-me o deboche.

— Droga, é só a porcaria de uma máscara, Kakashi-sensei.

— Eu sei. – respondeu. — Mas eu me sinto nu sem ela.

— Você está apenas de cueca, agora. – proferi, notando seus olhos se espreitarem. — Realmente se preocupa mais com a máscara? – aproveitei de sua distração, voltando a jogá-lo na cama e me pondo em cima dele, novamente. — Eu juro que não contarei nada do que eu ver aqui para ninguém, sensei.

— Eu quero garantias. – falou, olhando-me fixamente.

— Que tipo de garantia? – relaxei, ponderativa.

— Esse tipo de garantia.

Sua mão rapidamente abaixou a máscara, e antes que eu pudesse ver a sua face, seus lábios já haviam capturado os meus. Fechei os olhos, sentindo as suas mãos vaguearem pelas minhas costas e cintura. Aproveitei a ocasião e levei a minha mão à sua bochecha machucada para curá-lo, senti-o de se contrair, mas logo voltou ao normal. Ofeguei ao sentir o toque inebriante de sua língua, roubando-me o pouco da sanidade que me sobrava. Esfreguei-me em seu colo, fazendo-o gemer. Porém, não era bem um gemido de prazer, pelo contrário, parecia um murmúrio de dor ou algo do tipo.

— O que você tem? – perguntei, afastando-me de seus lábios.

— Nada. – respondeu.

Olhei para as suas pernas, subindo um pouco mais o meu olhar. E embora escura, havia uma mancha densa em sua cueca. Sem me importar com o decoro, levei uma mão para dentro do tecido, fazendo-o saltar. Certo, ele estava excitado, no entanto, havia um corte no lado esquerdo de sua virilha que, continuamente, sangrava e lhe causava dor.

— Por que não me avisou que também havia uma ferida aqui? – perguntei, tentando abaixar a cueca.

— Será por que eu não queria que você me curasse ai?

— Oh, então não devia ter vindo até aqui. – falei seca, puxando o tecido de uma vez. Sorte a minha de a luz do abajur ser fraca, pois, caso contrário, ele teria visto o meu rosto corar. — E eu também não preciso falar sobre isso a ninguém.

— Eu ainda quero garantias.

— Achei que já havíamos “tratado” disso. – falei, referindo-me ao beijo.

— O beijo era à altura da máscara. – deu de ombros, olhando para o brilho verde em minhas mãos. — Agora tem que ser à altura da cueca.

Parei, olhando-o rapidamente. Embora embaraçada, não pude deixar de ligar sua colocação com uma outra, mas qual?...

— Hey! – exclamei, chamando a sua atenção. — Isso foi o que o Yagami disse à Kori!

— Como é? – fez-se de desentendido, descaradamente.

— Icha Icha Tactics. – respondi, terminado de curá-lo. — A Kori havia descoberto que o Yagami estava tendo um caso com a esposa do Senhor Feudal. Então, para ela não contar a ninguém, o cretino a induz a dormir com ele, sabendo que ela era casada. Assim, também tendo feito o que não deveria, Kori aceita guardar o segredo do safado do Yagami!

— Veja só quem anda lendo coisas que não deveria. – revirei os olhos. — Mas eu ainda quero a minha garantia.

Jogou-me na cama, pousando sobre mim. É claro que tudo não passava de um desculpa para o que desejávamos fazer, mas de certa forma, foi uma grande realização para nós dois. Tanto por nos entregarmos a uma coisa que ansiávamos fazer desde o meu aniversário, quanto fingir ser Yagami e Kori.


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Notas finais do capítulo

Depois de um longo recesso, estou de volta! A fic ainda terá mais dois capítulos, que pretendo terminar de postar até março.

Comentários são mais do que bem-vindos e apreciados! :DD



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