Acordei atrasada como sempre e corri para me arrumar. Sem nenhum animo de vestir algo mais elaborado coloquei a primeira calça jeans e blusa de manga comprida que vi pela frente. Olhando-me de frente ao espelho notei como parecia mais velha que minhas amigas. Sempre comentavam que parecia ser mais velha do que realmente era, mas nunca havia ligado, entretanto por alguns segundos me senti mal por não transparecer ter a minha idade real.

Na cozinha minha mãe se encontrava lendo seu jornal matinal que sempre lia antes de ir para seu trabalho. Quando notou que eu tinha me aproximado me olhou de soslaio, mas continuou prestando atenção em alguma matéria importante.

— Bom dia querida— ela cantarolou olhando para seu novo relógio de pulso. — Acordou atrasada novamente, quer que eu te leve?

Assenti timidamente, eu odiava atrasar minha mãe para o trabalho, mas nas últimas semanas eu sempre estava acordando atrasada dependendo dela para me levar. Alegre que não iria chegar mais atrasada ainda tomei rapidamente um copo de leite e fui para nosso carro.

O caminho até a escola foi silencioso. Minha mãe apesar de ser cuidadosa e preocupada nunca foi de conversar, sempre ficava calada e geralmente só falava algo quando eu perguntava. Então eu e minha irmã acostumamos a não conversar muito no ambiente familiar apesar de sempre ela ir até meu quarto a noite para contar sobre seu dia. Então podia dizer que era com ela que tinha mais contato e minha família e até considerava uma amiga próxima.

A entrada da escola já estava vazia mostrando que a maior parte dos alunos já se encontrava nas salas esperando pelos professores. Sem querer me atrasar sai esbaforida do carro e me dirigi rapidamente para a sala de aula.

— Annie, você é a melhor amiga do mundo! — foi oque ouvi vindo da cabeleira negra ao mesmo tempo que deixava minha mochila em minha carteira.

— Obrigada Jenny! — minha amiga, que se sentia despreparada para passar um tempo sozinha com seu pai pela primeira vez tinha me convencido a acompanha-la durante o dia enquanto ficasse na casa de seu pai.

Sabia que não era certo me intrometer nesse momento, mas como sempre nunca conseguia dizer não a ela, e por isso era considerada sua melhor amiga. Suspirei com a situação em que me encontrava.

— Eu juro que nunca mais vou fazer isso. Você precisa passar um tempo apenas com seu pai! — eu protestei mais uma vez desnecessariamente afinal como sempre ela não iria me escutar.

— Aham, eu sei— disse aleatoriamente já prestando atenção em Ian que se aproximava de nós.

— Bom dia garotas! Como estão? — Ian perguntou com um alegre sorriso espantado em seu rosto e suas mãos em seus bolsos.

Jenny lhe contou sobre a chegada de seu pai para a surpresa de Ian, assim como tinha sido para mim e depois que eu iria acompanha-la. Notei que Ian me olhava de uma forma estranha e lhe olhei como se dissesse que não tinha como ter negado. Aproveitando a deixa fiz mais alguns protestos contra a ideia de Jenny que não tiveram efeitos nenhum.

O dia passou mais rapidamente do que o usual, não sabia exatamente porque eu estava me sentindo tão ansiosa. Apesar de que nunca tinha visto o pai de Jenny isso não me parecia um bom motivo para ficar ansioso afinal ele era bem mais velho mesmo que mais novo do que os outros pais. Talvez fosse o motivo de que ele provavelmente fosse tão bonito quanto sua filha, mas algo em sua chamada estava chamando minha atenção.

O almoço sempre era o momento que mais gostava durante meu dia no colégio, mas no dia de hoje eu estava sem fome e com vontade de ir embora logo. Encarei minha bandeja cheia de comida intocada tentando esquecer esses pensamentos que insistiam em permanecer em minha mente.

— Você não parece muito animada em conhecer o pai de sua amiga... — levantei meu olhar e vi que Ian estava sentado na minha frente tomando um gole de seu suco. Dei de ombros.

— Só não queria atrapalhar esse momento. Mesmo que Jen negue é importante para ela... — eu falei indiferente tentando não deixar aparecer meu nervosismo para Ian que me conhecia melhor que ninguém.

— Talvez ela só não consiga encarar isso sozinha em um primeiro momento. — eu suspirei quando ele disse isso. — Relaxa vai da tudo certo!

Notei que ele sorria confiante enquanto sua mão pousava sobre a minha. Senti-me incomodada, apesar de termos terminados a mais de 3 meses a presença dele ainda me deixava inquieta.

— Tomara que sim! Tenho certeza que Jenny sente falta de uma figura paterna— sorri tentando parecer confiante. Após alguns segundos ainda me observando com uma expressão indecifrável fomos interrompidos por Jen e mais alguns amigos que chegaram com suas respectivas bandejas cheias de comida gordurosas.

O restante do almoço foi tranquilo e eu ate me distrai esquecendo o que ia acontecer no fim do dia. Apesar de tudo, esse encontro ainda estava me incomodando... Jenny nem parecia lembrar que seu pai que iria nos buscar e me senti feliz por ela estar encarando bem essa nova situação, pelo menos por enquanto.

Durante a ultima aula sempre que virava para o lado via um Ian observador cujo olhar vacilava entre eu e o professor de matemática e também uma Jeniffer inquieta e ansiosa. Após um longo dia finalmente ela parecia sentir a inquietude que eu senti durante todo o período de aula.

O sinal tocou e eu me dirigi a Jen que ainda estava sentada e sem pressa nenhuma. Depois de uns cinco minutos arrumando sua mochila seguimos em um silencio mortal até a entrada do colégio. Perguntando-me se seu pai já estava aqui passei meu olhar no estacionamento.

Vários grupos de alunos veteranos se encontravam perto de alguns carros. Uma menina do comitê de boas-vindas entrava em um carro, cheia de cadernos, tinha também vários ônibus escolares. Um rapaz jovem também se encontrava encostado mexendo no celular. Provavelmente jogando algum jogo levando em conta sua concentração. Sorri os homens nunca realmente cresciam...

— Ali está ele. — Jenny declarou desanimada. Revirei os olhos e a segui sem ter nenhuma ideia de como ele poderia ser.

Após cruzar metade do estacionamento percebi que seguíamos em direção do rapaz que jogava em seu celular. Eu pensei que estava ficando maluco, o pai de minha amiga não podia ser tão novo, eu sempre soube que ele tinha virado pai ainda adolescente, mas mesmo assim isso era impossível, o homem a nossa frente parecia ter no máximo 30 anos.

Notando que tinha pessoas se aproximando e que uma delas era Jenny o homem se desapoio do carro e guardou o celular. Ele sorria de ponta a ponta, parecia imensamente feliz em vê-la. Perguntei-me se Jenny não estava brincando comigo e ele na verdade era alguns de seus primos da faculdade. Parecia que não, quando ela estava próxima o suficiente dele Jenny foi puxada para um abraço de urso do seu pai que parecia realmente feliz, totalmente diferente dela.

Após segundos a abraçando ela a soltou e finalmente me viu. Seus olhos se arregalaram parecendo surpreso ao me ver. Senti-me sem graça estragando aquele momento, mas estava fazendo aquilo pela minha amiga, pensei.

— Essa é Annie minha melhor amiga, ela vai para casa conosco. — Jenny declarou antes que seu pai dissesse qualquer coisa.

Ele se aproximou de mim para um aperto de mão e finalmente o reparei. Seus olhos castanhos puxados para o cinza completamente intensos também me observava com cuidado. Seu corpo parecia forte por dentro de sua camiseta branca que marcava seu tanquinho. Seus cabelos negros caiam sobre seu rosto deu uma forma que o deixava mais bonito ainda.

— Olá meu nome é Luke prazer em conhecê-la! — ele disse sorrindo me fazendo sentir sem graça. Sorri de volta fazendo seu sorriso aumentar ainda mais.