Fazia cinco minutos que eu não conseguia tirar os olhos do relógio. Precisava sair correndo se quisesse evitar a dar a Jenny mais uma desculpa para não ir à boate que ela queria tanto que eu a acompanhasse. Não que eu odiasse sua companhia, mas não gostava de ir a esses lugares e apesar de eu ter contado isso a ela Jenny sempre insistia.

Olhei para o lado e notei Ian me observando, como sempre ele me conhecia muito bem e provavelmente sabia que eu queria da Jenny, sorri sem graça e tentei prestar atenção na aula.

Ian e eu namoramos durante um ano sendo que já nos conhecíamos desde os nove. Desde que tínhamos terminado apesar de não termos brigado não nos falávamos direito, parecia estranho e errado. Isso era horrível afinal sempre fomos muito amigos, me sentia culpada por isso afinal tinha sido eu que tinha se afastado, e agora só conversávamos quando Jenny estava perto e foi assim que ele descobriu dos planos dela.

O sinal bateu marcando a hora da saída, corri para juntar todas as minhas coisas. Ainda me observando Ian foi ao encontro de Jenny e começou a falar algo com ela apesar de estar me olhando com os cantos dos olhos. Agradeci-o mentalmente. Então ele realmente estava me ajudando a fugir dela... Como sempre Ian se mostrava um garoto maravilhoso.

Sai da escola o mais rápido possível e anotei mentalmente que tinha que agradecer Ian pelo que tinha feito. Sentindo-me culpada por ter fugido da minha melhor amiga resolvi escutar música e tentar esquecer o que tinha ocorrido, provavelmente teria que “sumir” durante o fim de semana. Isso não seria legal, sentiria a falta da Jenny, mas torcia para que ela me perdoasse.

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Era domingo de manhã o céu estava nublado e parecia que iria chover a qualquer momento, um ótimo clima para ficar de moletom debaixo das cobertas. E era exatamente isso que eu estava fazendo. Pelo menos até minha irmã mais nova bater em minha porta avisando que Jenny estava me esperando.

Lembrando-me do que tinha acontecido na sexta feira e de como ignorei todas suas ligações me senti meio apreensiva em ir ao seu encontro. Respirei fundo e fui até sala, Jenny estava com seu cabelo preto amarrado em rabo de cavalo e vestia um moletom assim como eu. Estranhei, ela geralmente sempre se arrumava mesmo que fosse para ir até minha casa. De repente notei que ela não parecia bem, me preocupei, será que era por que a evitei todo esse tempo?

— O que houve? — perguntei quando ela se virou para mim.

— Por que você não retornou nenhuma das minhas ligações? — ela perguntou séria, parecia que tinha acontecido algo mais sério e me preocupei ainda mais.

— Me desculpe, foi infantilidade minha. Fiquei com medo de ter que inventar uma desculpa para não sair... Eu não estava muito animada... — olhei-a e Jenny parecia estar com raiva de algo.

— Meu pai. — ela falou ignorando tudo que eu havia dito. Entretanto aquelas palavras chamaram minha atenção, Jenny nunca falava de seu pai.

— O que tem ele?— perguntei ainda confusa.

— Ele está vindo morar aqui! — ela praticamente gritou bastante exaltada.

Agora estava entendendo o que estava acontecendo. Jenny nunca teve um bom relacionamento com os pais. Sua mãe havia engravidado com apenas 16 anos e após 2 anos juntos seu pai tinha ido embora. Ela sempre dizia que ele tinha sido irresponsável a largando e depois nunca a procurando. Ela só o via quando era obrigada a ir visita-lo e ainda assim nunca comentava das visitas.

— Quando ele está chegando?— perguntei delicadamente tentando deixa-la mais calma.

— Amanhã! — Jenny parecia desesperada, me senti culpada por ter ignorado todas aquelas ligações.

— Calma vai dar tudo certo, talvez você nem tenha que vê-lo muitas vezes. — corri para abraça-la.

— Duvido muito... Conversei com minha mãe e ambos terão que dividir a guarda. Ou seja, terei que passar semana sim semana não com ele. — ela sentou irritada.

— Me desculpe, queria muito te ajudar de alguma forma... — de repente vi um brilho em seu olhar. Notei que tinha lhe dado alguma ideia, me sentindo meio apreensiva esperei para ouvi-la.

— Por favor, volta para casa comigo segunda! Meu pai vai me buscar para sua nova casa e seria muito mais fácil ter esse primeiro contanto com uma amiga junto! — isso parecia realmente importante para ela. Não sabendo como recusar assenti.

Jenny pulou deu vários gritinhos de alegria como uma criança feliz. Sentia-me alegre por tê-la ajudado de alguma forma, mas não achava certo estar presente em seu primeiro contato com seu pai.

Além disso, estava sentindo uma sensação desagradável sobre aquela situação. Ignorando isso me levantei para preparar um chocolate quente para minha amiga. Passamos o dia conversando e vendo filme tentando esquecer a chegada do pai de Jenny. Quando ela foi embora, já tarde da noite, tínhamos esquecido o que tinha acontecido pela manhã e parecia que a semana seria totalmente normal. Deitei em minha cama jamais imaginando o que estava prestes a acontecer.