Paradoxo Temporal escrita por Vanessa Sakata
Notas iniciais do capítulo
PENÚLTIMO CAPÍTULO!
Música: "Sometimes you can't make it on your own" - U2
Estava esgotado, no seu limite, mas não arredava o pé dali de jeito nenhum. Por mais que seu corpo implorasse por um descanso ao seu corpo ferido, não estava disposto a obedecê-lo. Não queria sair dali.
Não, enquanto a pessoa mais importante de sua vida estava ali lutando para sobreviver. Desta vez, a luta não era usando uma espada de madeira, ou uma katana. Nada de movimentos amplos ou ataques potentes.
Era uma luta na qual estava completamente imóvel. Era uma luta da qual o lendário Shiroyasha não tinha como fugir, e não tinha como contar com ajuda. Dependia apenas dele, de seu corpo, de tubos de oxigênio e alguns outros paramentos.
Desde que chegara ali, Gintoki começara a travar aquele combate, mesmo em coma induzido. Era necessário, pois ao dar o ataque final contra Kasler e transpassar-lhe o coração com a katana, ele também fora transpassado, porém não lhe atingira o coração, mas sim um de seus pulmões.
A que preço executara sua vingança? Sua vida estava correndo risco ainda!
Tough, you think you've got the stuff
You're telling me and anyone
You're hard enough
Teimoso, você acha que entende das coisas
Você diz pra mim e pra qualquer um
Que você é duro o suficiente
Por que ele tinha que ser o teimosão, o sabe-tudo, o cabeça-dura? Por que tinha que manter aquela pose de durão, mesmo sem nenhuma condição de continuar a enfrentar Kasler?
You don't have to put up a fight
You don't have to always be right
Let me take some of the punches
For you tonight
Você não tem que propor uma briga
Você não tem que estar sempre certo
Me deixe levar alguns socos
Por você esta noite
– Você é um idiota, pai...! – Ginmaru murmurou. – Não tinha que provar nada pra gente, você tinha lutado pra caramba! Eu poderia dar aquele golpe no Kasler no seu lugar, eu tava mais inteiro...! Não esperei dez anos pra te ver assim...!
Listen to me now
I need to let you know
You don't have to go it alone
Me ouça agora
Preciso que você saiba
Você não tem que suportar isso sozinho
As lágrimas insistiam em aparecer nos olhos do jovem albino, que se esforçava ao máximo para impedir seu surgimento. Queria ter conseguido dizer a Gintoki, queria que ele o tivesse ouvido... Queria ajudá-lo naquela luta contra Kasler! Queria que ele soubesse que não precisava carregar sozinho o fardo da sua ausência por longos dez anos.
Queria ter podido ajudá-lo e evitar que ele estivesse ali em um leito com ferimentos tão graves, que poderiam ceifar a sua vida mais cedo ou mais tarde.
– Pai, você não tem que suportar tudo sozinho... Não deveria ter feito aquilo...! Não deveria...! Por que você tem que ser tão estúpido...?
And it's you when I look in the mirror
And it's you when I don't pick up the phone
Sometimes you can't make it on your own
E é você quando olho no espelho
E é você quando não atendo o telefone
Às vezes você não pode fazer isso sozinho
Viu seu reflexo em um vidro. Seu rosto abatido, repleto de curativos estava ali refletido nitidamente, mostrando que era quase uma cópia de seu pai. Olhos vermelhos, cabelos prateados e a expressão facial. Por mais que sua personalidade fosse ligeiramente diferente da de seu pai, ele era muito semelhante.
Estava tão absorto em seus pensamentos, que nem deu atenção ao seu telefone celular vibrando no bolso da calça. Para muita gente, seu comportamento parecia patético.
“Dane-se!”, pensou enquanto fitava o rosto inconsciente de Gintoki. “Não saio daqui até que você acorde, não importa se você me acha estúpido, afinal, somos parecidos!”
We fight all the time
You and I… that's alright
We're the same soul
I don't need… I don't need to hear you say
That if we weren't so alike
You'd like me a whole lot more
Nós brigamos o tempo todo
Eu e você... Está tudo bem
Nós somos a mesma alma
Não preciso... Não preciso ouvir você dizer
Que se não fossemos tão parecidos
Você gostaria de mim um pouco mais
Não desgrudava os olhos daquele vidro que os separava, mesmo querendo parar de olhar para lá. Não conseguia fazer isso. Seu coração, por mais que doesse por isso, não o permitia sair dali.
Não queria sair dali e perdê-lo. Não queria que seus esforços despendidos por dez anos fossem sepultados.
Sentiu uma mão tocar-lhe o ombro com firmeza.
– Ginmaru, vá descansar.
Reconheceu facilmente a voz de quem lhe dizia aquilo. Olhou para trás e viu ali a versão vinte anos mais jovem de seu pai. Seu rosto estava com vários curativos e ele mancava por conta do pé direito machucado e, além disso, tinha um ar de preocupação.
Listen to me now
I need to let you know
You don't have to go it alone
Me ouça agora
Preciso que você saiba
Você não tem que suportar isso sozinho
– Não vou sair daqui. Não adianta encher o saco, não adianta insistir. Eu não esperei dez longos anos e não fui lá buscar você, o Shinpachi-kun e a Kagura-chan para ver tudo ir por água abaixo.
– Ei, ei, você é teimoso demais...!
And it's you when I look in the mirror
And it's you when I don't pick up the phone
Sometimes you can't make it on your own
E é você quando olho no espelho
E é você quando não atendo o telefone
Às vezes você não pode fazer isso sozinho
– Tenho a quem puxar. – Ginmaru deu um leve sorriso, mas sem tirar os olhos do outro Gintoki que estava do outro lado do vidro. – Foi assim até a vovó Otose morrer. E vai ser assim até que meu pai acorde... Ou até que eu tenha certeza de que ele nunca mais vai acordar.
– Você é quem sabe. – o Yorozuya respondeu. – Mas não acho que vá ser necessária qualquer vigilância. – sorriu de forma despretensiosa. – Ele não vai se entregar tão fácil. Ninguém conhece melhor o Shiroyasha do que ele mesmo. Teimosia está no nosso DNA, não concorda?
Essa última frase dita por Gintoki deixou Ginmaru mais esperançoso. Não tinha como negar, a teimosia estava realmente no DNA dos Sakatas.
– Tem certeza de que quer continuar a ficar aqui, Ginmaru?
– Absoluta.
O Yorozuya se retirou dali, murmurando alguma coisa como reabastecer seu corpo com uma generosa dose de açúcar, e deixou Ginmaru mais uma vez ali sozinho, encarando o vidro que o separava de seu pai.
I know that we don't talk
I'm sick of it all
Can - you - hear - me - when - I -
Sing, you're the reason I sing
You're the reason why the opera is in me…
Sei que não conversamos
Já estou cheio de tudo isso
Você pode me ouvir quando eu
Canto, você é a razão de eu cantar
Você é o motivo pela ópera estar em mim
Dez anos que não se viam, não se falavam, nem mesmo brigavam. Ginmaru estava cansado de tudo aquilo. Não aguentava mais. Aquilo tudo lhe doía demais. Seu pai era a razão de ele lutar tanto e de fazer o que fez até então.
Passou dez anos acreditando que seu pai voltaria. E ele voltou. Mesmo com tudo fazendo que fosse possível uma nova separação, talvez até definitiva, o jovem acreditava que isso não iria acontecer.
Rezava a lenda que o Shiroyasha não era de desistir. E ele já vira essa lenda se mostrando verdadeira por várias vezes.
Where are we now?
Still got to let you know
A house still doesn't make a home
Don't leave me here alone...
Onde estamos agora?
Eu tenho que te deixar saber
Uma casa ainda não faz um lar
Não me deixe aqui sozinho...
– Pai, onde você está...? – Ginmaru já estava além do seu limite emocional. – Por favor, não me deixa sozinho de novo...! Por favor...!
Apoiou seu braço direito no vidro e, em seguida, repousou sua testa no braço. Não aguentava mais aquilo, aquela angústia era insuportável. Era demais para ele, tanto que não deu outra: acabou desabando mais uma vez.
As lágrimas em abundância percorriam sua face, acompanhadas por soluços. Era insuportável ver Gintoki completamente imóvel ali, totalmente inconsciente.
And it's you when I look in the mirror
And it's you that makes it hard to let go
Sometimes you can't make it on your own
Sometimes you can't make it
The best you can do is to fake it
Sometimes you can't make it on your own
E é você quando olho no espelho
E é você que faz isso ser difícil de passar
Às vezes você não pode fazer isso sozinho
Às vezes você não pode fazer isso
O melhor que você pode fazer é fingir
Às vezes você não pode fazer isso sozinho
Os olhos embaçados pelas lágrimas que caíam sem parar mais uma vez procuraram ver através do vidro, mas também viram seu reflexo novamente ali. Talvez a maior diferença que havia entre os dois era o fato de Ginmaru se achar mais “chorão”.
No entanto, seu pai parecia ser um mestre em disfarçar suas emoções por trás daquela máscara de durão. Queria aprender com ele ao menos fingir que poderia suportar tudo sozinho, mas ao mesmo tempo queria que ele não fingisse.
Após alguns instantes, conseguiu se acalmar, porém a muito custo. Precisava se recompor logo; agora estava um pouco mais aliviado. Secou os olhos com as mãos, antes que alguém percebesse. Não queria que se preocupassem com ele também.
Assim que secou os olhos, olhou por através do vidro novamente. E viu que os olhos vermelhos de Gintoki se abriam lentamente e, em seguida encararam os olhos vermelhos do filho. Em seu rosto abatido pela fraqueza e pelo cansaço, um leve sorriso surgiu, acompanhado por um aceno feito com a mão direita.
Foi o suficiente para que os temores de Ginmaru se dissipassem por completo.
“Ele não vai se entregar tão fácil. Ninguém conhece melhor o Shiroyasha do que ele mesmo.”
Era verdade. Ninguém conhecia melhor o lendário Shiroyasha do que ele mesmo. O alter-ego mais jovem do seu pai tinha toda a razão. Afinal, os dois eram a mesma pessoa.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!