Paradoxo Temporal escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 28
Sobrevivência em meio à destruição




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Um conseguira transpassar a espada no outro, e era possível ver as lâminas se projetando pelas costas dos dois.

– Este último golpe... – Gintoki disse, para depois cuspir uma quantidade generosa de sangue. – É por todos aqueles inocentes que você me fez matar...!

Suas mãos lambuzadas de sangue do enjiliano, com muito esforço, conseguiram arrancar a espada que perfurara o coração de Kasler. O corpo do ditador caiu inerte, arrancando a espada que transpassara o albino. Este, antes de ir ao solo também, foi seguro por outra pessoa.

Ginmaru evitara a queda do pai, que estava vivo, porém gravemente ferido. Ele conseguira transpassar o coração de Kasler e tivera muita sorte de o seu não sofrer o mesmo golpe.

– Ginmaru... – Gintoki murmurou. – Eu venci...?

– Sim. – o jovem disse enquanto olhava para o ferimento de seu pai, bem no lado esquerdo do peito, porém mais próximo do ombro. – Você venceu. Kasler está morto.

Seu pai sorriu:

– Então consegui limpar as minhas mãos... De todo aquele sangue inocente...!

Gintoki teve um acesso de tosse, que fez com que ele vomitasse mais sangue, para preocupação ainda maior de Ginmaru e Shinpachi. Ele podia ter vencido, mas ainda era cedo pra dizer se sobreviveria.

– Ginmaru! – Shinpachi chamou a atenção do jovem albino. – Saia daqui AGORA! Leve o seu pai para um lugar seguro! Faça qualquer coisa pra mantê-lo a salvo!

– Pode deixar, Sensei!

Ginmaru, com cuidado, colocou Gintoki em suas costas. Sentiu no mesmo instante o peso que carregaria dali. Mas isso não tinha importância. Precisava sair dali, pois o Terminal começava a desabar.

O jovem olhou para trás e perguntou:

– Sensei, e você?

– Não se preocupe comigo, vou ficar bem. – o Comandante do Shinsengumi respondeu ajeitando os óculos. – Vou tentar me comunicar com o Katsura-san e saber onde ele e o pessoal estão.


*


Agora era correr contra o tempo. O Trio Yorozuya, acompanhado de Katsura, corria como um bando de malucos para fugir de toneladas e toneladas de concreto que começavam a cair logo atrás deles.

– Isso tá ficando pior que fugir da casa do Hedoro-san! – Shinpachi comentou.

– Pelo menos lá é uma árvore e não tem tudo desabando! – Gintoki respondeu.

Nisso, à frente deles, caiu uma grande viga com vários fios desencapados soltando faíscas, obrigando-os a saltarem o obstáculo. Logo após isso, deram de cara com mais vigas e pedaços da parte superior do Terminal caindo ali como se chovessem pedaços de concreto, metal retorcido e fios rompidos. O quarteto se protegia como podia, Gintoki e Shinpachi estavam conscientes de que os riscos para eles eram bem maiores.

Procuravam se esquivar de tudo ali, quando foram surpreendidos por grandes pedaços de concreto. Kagura, com sua grande força, conseguiu quebrar vários graças a seus golpes, porém...

– CUIDADO, SHINPACHI!!

Em uma fração de segundo, Shinpachi sentiu um forte empurrão e foi jogado à direita, onde caiu. Viu que quem o empurrara fora Gintoki, que também fora parar no chão, mas...

– Gintoki! – Katsura exclamou. – Levanta logo, não temos tempo!

– É fácil pra você falar, né...? – Gintoki se esforçava pra se levantar. – NÃO É VOCÊ QUE TÁ COM O PÉ PRESO DEBAIXO DE UM BRUTA DE UM BLOCO DE CONCRETO, IMBECIL!

O pé direito estava preso embaixo de um grande bloco de concreto, mas por sorte não fora esmagado graças a um vão feito pela armação de metal quebrada. No entanto, não significava que seu pé não doía, porque era uma dor terrível. Rezava para que fosse no máximo uma simples fratura.

Shinpachi e Katsura tentaram puxá-lo dali, mas não tiveram muito sucesso, enquanto Kagura procurava evitar que eles fossem atingidos. Puxar o Yorozuya dali só o fazia ficar ainda mais dolorido e ferido.

– Vai devagar aí, vocês estão quase arrancando meu pé! – ele protestou.

– Kagura-chan! – Shinpachi chamou a garota. – Você consegue quebrar esse bloco que tá prendendo o pé do Gin-san?

– Quebra o bloco, mas não o meu pé, hein?

A garota ruiva se concentrou como uma karateca prestes a partir uma tábua. Respirou fundo e acertou o golpe, partindo em dois o tal bloco, liberando assim o pé do albino, que foi amparado por Katsura e Shinpachi, já que não conseguia nem colocar o pé ferido no chão.

Mais pedaços imensos de concreto caíam ali. Tudo estava ruindo de vez. Isso era ruim. Muito ruim.

– Não vai dar tempo de a gente sair...! – Katsura disse desolado. – Aqui pelo jeito vai ser a nossa sepultura.


*


Quase todos os sobreviventes da batalha no Terminal conseguiram sair dali e ficar a uma boa distância do local que ruía rapidamente. O Comandante Shimura fora o último a deixar o local, obviamente relutante. Logo que se juntou aos demais, surgiu a pergunta:

– Shimura-san – Okita perguntou. – O Chefe Yorozuya e os outros não saíram de lá?

Olhou para trás e viu o Terminal desabar de vez. Tudo, finalmente, veio abaixo. Os escombros se transformaram em uma grande sepultura para Kasler, seus comandados e os demais que foram abatidos naquele combate. Não podia esconder o temor de que o mesmo destino viera ao Trio Yorozuya do passado e a Katsura.

– Não seja idiota. – Hijikata disse enquanto acendia um cigarro. – Esqueceu do que acontece por conta do tal paradoxo temporal?

– Hã? – Shinpachi olhou para o vice-comandante.

– Se aqueles três estivessem mortos, com certeza você também deixaria de existir. Igual ao Yorozuya e ao filho dele.

Mas é claro! Como esquecera esse detalhe? Ele era vítima do paradoxo temporal também! Se ele não morrera, então certamente sua contraparte do passado estava bem viva.

Nesse momento, apareceram quatro figuras se aproximando a passos lentos. O quarteto estava meio estropiado, mas estava vivo. Kagura carregava Gintoki nas costas por conta do pé ferido, enquanto Shinpachi amparava um Katsura desacordado. Eles haviam conseguido escapar, para alívio do outro Shimura.


*


Passos lentos ecoavam pelo asfalto de uma rua deserta da região central de Edo. Eram passos, de certa forma, pesados, que denotavam cansaço.

Ginmaru carregava em suas costas um peso considerável – literalmente falando. Apesar disso, parecia não se importar. O pior já havia passado, Kasler finalmente tivera um fim, junto com os anos de sua tirania.

Esse alívio de ter já passado o pior amenizava aquele peso em suas costas.

– Ginmaru...

– Diga. – o jovem continuava a caminhar.

– Se você quiser, eu desço daqui e tento andar.

– Não é bom se esforçar.

– É muito peso pra você. Desse jeito vai arranjar uma hérnia.

– Relaxa. É só desta vez.

– Não seja teimoso, Ginmaru.

– Já tenho dezoito anos, não precisa se preocupar tanto comigo.

– Droga... Eu sempre me esqueço disso...

– Logo você se acostuma, pai. – Ginmaru sorriu de forma cansada.

– Dez anos atrás eu é que te carregava nas minhas costas.

– Bom, dizem que com o tempo os filhos é que acabam carregando os pais nas costas quando eles envelhecem.

– Eu ainda não sou um velho. – Gintoki protestou. – Nem tenho rugas.

– E eu não sou mais uma criança. Eu sei o que estou fazendo.

– Carregar o pai nas costas não é lá muito comum. – o mais velho observou.

Nisso, o telefone celular de Ginmaru emitiu um breve toque de mensagem. O jovem acabou abrindo uma foto enviada por seu sensei, mostrando que o Trio Yorozuya do passado saíra do Terminal a salvo, antes de vir abaixo.

– Tão comum quanto uma menina carregar um homem feito, não é? – Ginmaru debochou enquanto mostrava a foto.

Os dois prosseguiram a lenta caminhada, iluminados pelos raios dourados do sol que se punha aos poucos. Não faltava muito para chegarem ao destino pretendido. O Sakata mais jovem também tomado pelo cansaço, sentia que o peso em suas costas parecia aumentar ainda mais.

– Ginmaru... – a voz de Gintoki era agora um sussurro cansado.

– Hã?

– Obrigado...

– “Obrigado”, pelo o quê? – Ginmaru questionou sem entender.

– Por ter me libertado.

– Não fui eu quem arrancou aquele microchip de você.

– Eu sei... Mas você trouxe meu outro eu do passado.

A respiração do mais velho ficava mais pesada, como reflexo da exaustão e dos ferimentos, sobretudo da perfuração no lado esquerdo do seu peito. Seu rosto se contraiu devido à forte dor que tentava suportar. Ao tossir, levou a mão à boca e depois viu que estava manchada de sangue.

Ginmaru, com ar preocupado, perguntou:

– Você está bem?

– Estou sim. – Gintoki mentiu, mas não conseguiu fazer o filho engolir a mentira.

– Aham... Sei... – Ginmaru definitivamente não engolira a mentira do pai.

– Eu já imaginava que você não engoliria essa... – um novo acesso de tosse do mais velho se fez ouvir.

– Pai, melhor não falar mais. Aguenta firme, que já estamos chegando.

Após alguns instantes de silêncio e vários passos, Gintoki sussurrou:

– Obrigado... Ginmaru.


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