Paradoxo Temporal escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 18
Cartas e reminiscências




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Pai e filho chegaram até o bar de Catherine, no qual adentraram. Ao contrário da última vez, o bar não tinha nenhuma fumaça de cigarro, pois ainda era dia. Claro que a dona do bar fechou a cara ao ver o albino mais velho e questionou:

– O que vocês querem?

– Catherine-san – Ginmaru logo atalhou. – Cadê aquele envelope?

– Ei, ei, que envelope é esse que você tanto fala? – Gintoki perguntou.

– Uma carta da vovó Otose.

– Delírio de velhos, Sakata-san. – Catherine entregou o envelope.

Gintoki, com curiosidade, abriu o envelope no qual estava escrito seu nome. O que aquela velha poderia ter escrito para ele? Era quase certo que seria um monte de xingamentos, além de dizer que ele era um irresponsável por ter desaparecido e ter deixado Ginmaru sozinho. Retirou a folha, na qual reconheceu a caligrafia como sendo realmente de Terada Ayano.

Quando começou a ler, percebeu que não tinha nada do que esperava ter. Não havia nem mesmo uma ameaça de arrancar seu fígado por falta de aluguel. Nada digno de terrorismo da terceira idade.

Muito pelo contrário...


“Gintoki,

Caso você chegue a ler esta carta, certamente não tive condições de esperar até o seu retorno. Com a minha idade já bem avançada – você diria que eu seria um perfeito fóssil vivo – e com a minha saúde precária, não seria surpresa nenhuma a minha vida chegar ao fim. Não fosse por isso, eu te xingaria como sempre e te chamaria de irresponsável. E você sabe muito bem que eu sempre fiz isso.

Pelo o que Ginmaru me falou de como você desapareceu, isso não foi culpa sua. E, assim como ele, eu também esperei a sua volta, para cobrar os seus aluguéis atrasados e te dar bronca como uma mãe faz com um filho rebelde. Mas os dias se passaram, assim como os meses e os anos. Até o momento em que escrevo esta carta, já faz cinco anos que você desapareceu. E nenhum sinal de seu paradeiro.

Nesta carta, não vou ficar xingando você, talvez eu não tenha tempo para fazer isso. Como eu disse, estou já com a minha saúde muito comprometida devido à minha idade. A qualquer momento estarei me encontrando com o Tatsugoro, meu marido... E, quem sabe, até com aquela pirralha da Kagura.

Apesar das nossas brigas, dos nossos xingamentos, e de tudo mais, não sei se você percebeu, mas sempre o considerei como um filho que nunca tive. Você se lembra do nosso primeiro encontro, “ladrão de oferendas”? Duvido que a sua cabeça-oca esqueça. Porque você nunca se esqueceu da sua promessa de me proteger, promessa essa que você levou até as últimas consequências.

Você amadureceu muito, Gintoki. Em todo esse tempo que nós convivemos eu vi o quanto você amadureceu e sei que essa máscara de durão que você tem oculta um homem digno de ser o “Vigilante do Distrito Kabuki” e um dos quatro “Reis Divinos”, no meu lugar.

Tenho muito orgulho de você, Gintoki. Eu sempre o considerei como um filho, e quero que saiba que minha gratidão por você cumprir a promessa ao meu marido de me proteger será eterna. Você me protegeu até o fim, mesmo ausente. Pois Ginmaru estava aqui.

Como uma pequena prova de minha gratidão a você e a Catherine por esses anos todos comigo, deixei aos dois uma herança. À Catherine, deixei meu bar. E a você, deixei toda a parte de cima do prédio onde fica a sua casa, e a Yorozuya.

Gintoki, esta carta e estas minhas palavras ainda não são suficientes para expressar minha gratidão, mas saiba que esta velha é eternamente grata a você.

Obrigada por tudo... Gintoki.

Otose.”


O albino estava incrédulo. Ele era tudo isso para a velha?

Engoliu seco. A garganta ardia, assim como os olhos. A carta que segurava acabava por denunciar suas mãos tremendo, enquanto a segurava com força.

– Dois dias após entregar esse envelope para Catherine-san, ela acabou morrendo. – Ginmaru disse.

– Ela morreu de causas naturais, devido à idade avançada, Sakata-san. – Catherine acrescentou. – E desde então eu assumi o bar.

– Por que... Por que você me sacaneia assim, velha...? – a voz de Gintoki estava claramente embargada e denunciava que ele procurava engolir qualquer indício de choro. – Não devia me pregar uma peça dessas...! Vou sentir falta dos seus xingamentos...!


“Velha,

Não sei se defuntos leem cartas, mas eu li a carta de uma defunta e quis responder. Demorei cinco anos para ler a sua carta porque demorei todo esse tempo a voltar. Com certeza, você me chamaria de irresponsável por chegar tão atrasado.

Ginmaru me avisou da sua carta, que estava nas patas daquela mulher-gato da terceira idade. Espero que você não a tenha escalado para ser minha “babá”, estou um pouco velho pra isso. Já passei dos trinta faz tempo e estou me aproximando dos cinquenta, embora meu envelhecimento tenha parado dez anos atrás e eu pareça ter menos de quarenta anos.

Você sabe que eu detesto que me chame assim, velha, pode parar! Esse meu passado está enterrado e quero que continue lá... Você sabe muito bem o quanto me dói lembrar o que passei antes de viver aqui no Distrito Kabuki.

Eu não fiz mais do que a minha obrigação. Prometi ao seu marido defunto que te protegeria, e a palavra de um samurai não volta atrás. Cumpri até onde eu pude.

Se eu pude ser o que sou agora, devo a você. Vou cuidar do que você me deu e, com o Ginmaru, vou recomeçar a Yorozuya mais uma vez.

Apesar dos xingamentos, dos berros e dos meus porres, eu sempre a considerei como uma mãe para mim desde o momento em que me acolheu naquele dia gelado no cemitério, ali no túmulo do velho. E hoje estou de volta onde tudo começou, para te deixar estas mal escritas linhas com letras vindas de um samurai estúpido.

Velha, eu queria ter discutido e trocado xingamentos com você mais uma vez, porque só nós sabemos o que há por trás de tudo isso.

Obrigado, velha, por ter sempre acreditado em mim desde o começo.

Gintoki.

P.S.: Caso você encontre a Kagura, diz que vou colocar umas tirinhas de sukonbu pra ela.”


Junto com a carta, Gintoki depositou no túmulo dos Terada um prato de dango, como Otose fazia em vida. Após alguns momentos em silêncio, sorriu. Porque finalmente ela se juntara ao marido depois de tantos anos.

Lá mais à frente, ele e Ginmaru viram outro homem diante de outro túmulo. Estava à paisana, mas sua roupa era facilmente reconhecível. Quimono branco, com detalhes em azul, hakama com o mesmo tom de azul e chinelos. Não fosse pelo detalhe de estar portando uma katana, era praticamente igual ao Shinpachi que viera do passado.

– Ah, oi, Gin-san, Ginmaru! – o Comandante do Shinsengumi cumprimentou. – Tava aqui visitando o meu pai.

– Deu pra perceber, Shinpachi-kun. – o Sakata mais velho observou.

– Você tava visitando a Otose-san, não é?

– Aham. Eu tô atrasado há cinco anos.

– Mas não foi porque você quis, e você sabe disso.

– É, mas ainda tô me acostumando a todas essas mudanças.

– Vai se acostumar com o tempo. – o Shimura disse sorrindo, enquanto tirava de uma sacola uma caixinha vermelha. – Que tal a gente fazer uma outra visitinha?

– Isso soa muito nostálgico, Shinpachi. Não sou muito fã disso, mas vamos lá reunir nosso trio.

Ginmaru apenas observava todo o desenrolar do que acontecia ali, e via que bons amigos nunca se separavam, nem mesmo depois de mortos.

A amizade daqueles três ia muito além da vida, a julgar pelas histórias que ouvia a respeito das peripécias de seu pai e de seu sensei, junto com a garota Yato – que só conhecera através de sua versão do passado.


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