Já eram 5 horas da tarde do sábado e eu não tinha ideia de como se deveria ir a uma festa. Por fim, peguei uma roupa qualquer, vesti e desci. Eu havia gastado 5 minutos.

- Vai dar uma volta? – Perguntou Fred.

- Vou para a festa da Lolla. – Falei fazendo uma careta.

- Assim? – Fred riu.

- O que tem de errado comigo? – Olhei atentamente as minhas roupas. Eu estava com uma calça jeans preta, uma camiseta que Colin havia me dado com um casaco leve por cima e com um AllStar branco.

- Só um segundo. Tenho uma ideia. – Fred falou e foi para a cozinha. Ele conversava ao telefone, mas não consegui identificar sobre o que ele conversava. Dei de ombros. 15 minutos depois a campainha tocou.

- Nossa, ele chegou cedo. – Eu disse indo atender a porta.

Assim que abri a porta levei um susto.

- Oi, Jess. – Disse Fernanda, a namorada de Fred. Ela estava com uma mala. O que foi bem estranho.

- Ei, oi. Entre. – Falei e depois gritei para Fred: - A Fê está aqui, Fred.

- Ela não veio aqui me ver. – Ele gritou da cozinha. – Ela veio aqui te arrumar.

Meu queixo caiu. O quê? Como assim me arrumar? Está certo que eu não sou uma deusa da moda, mas eu estava assim tão feia?

- Mas... – Comecei a falar.

- Sem mais. – Fernanda me puxava pelo braço e me arrastava para o meu quarto. – Ouvi boatos de que a festa dessa garota é um show de moda. Portanto, você não vai ficar atrás.

Ela pôs a mala na cama, abriu e de lá tirou um monte de roupas, equipamentos de torturas e variáveis.

- Vamos começar escolhendo sua roupa. Depois passamos para a maquiagem, depois o cabelo. – Ela falou sorridente.

- Não posso ir simplesmente assim? – Perguntei secamente.

- Não mesmo.

Ela foi pegando algumas roupas e pediu para que eu experimentasse. Primeiro foi um vestido, que mais parecia uma blusa. Ele solto em cima, mas quando chegava ao umbigo ele ia ficando mais apertado. Descartei na hora. Apesar de ser bonito, não era para mim. Parei de prestar atenção depois da quarta vez que ela pediu para que eu experimentasse certa roupa. Eu apenas vestia. Mal olhava as peças. “Ah, essa não. Talvez aquela. Se fizéssemos uma mistura dessa saia com essa blusa. Acho que essa ficaria legal. Não, que tal essa outra? Porque você está com essa cara?”

Até que ela disse:

- Isso. – Ela deu um passo para trás e olhou melhor. – Com certeza isso. Sem contar que isso é totalmente o seu estilo.

Virei-me para olhar o que “isso” significava. Isso estava bom.

Eu estava com um short curto preto de couro sintético com uma meia calça fina com rasgos por toda a parte por baixo. A camiseta era branca e sem estampa. Ela se ajustou muito bem ao meu corpo. Ela tinha alguns detalhes skipe em dourado. Fernanda me entregou uma bota Lita preta de camurça. Olhei para o salto e gemi.

- Eu não vou conseguir andar nessa coisa. – Falei.

- Vai sim, ela é confortável.

Calcei a bota e fiquei 10 centímetros maior. Andei pelo quarto um pouco. Não era difícil. O segredo era não correr, creio eu.

- Agora, maquiagem.

Ela me sentou na cadeira e começou a me pintar. Ouvi a campainha tocar lá embaixo. Tinha certeza que era o Evan. Espero que Fernanda não demore.

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade ela terminou. Resolvi olhar no espelho. Minha pele estava mais bonita do que nunca. Meus olhos estavam sombreados de preto e meus cílios pareciam maiores. Minha boca estava com um leve tom de rosa.

Levantei-me e fui em direção à porta. Fernanda me puxou de volta.

- Onde você vai? – Perguntou confusa.

- Evan está me esperando. – Falei erguendo as sobrancelhas.

- Não acabamos. Temos que dar um jeito nesse seu cabelo.

Suspirei e me deixei cair na cadeira.

Ela puxava meu cabelo e aplicava spray às vezes. Demorou tanto que eu quase me deixei dormir.

Eram 20:34 quando ela terminou. Assim que ela se afastou de mim sai o mais rápido possível do quarto, tentando não cair com aqueles enormes saltos. Ela começou a rir, mas não me impediu de fugir.

Quando cheguei à sala Fred, Jim e Evan me encararam surpresos.

- Quem é você e o que fez com a Jess? – Perguntou Fred.

- Não deve estar tão pior assim. – Falei com raiva. – Vamos Evan, antes que a Fernanda resolva brincar de Barbie comigo outra vez.

Ele não falou nada, só ficou me encarando.

- Ok. – Fui até ele e o puxei para fora.

Chegando lá fora o encarei e disse:

- Evan, desculpe. Não foi minha culpa essa demora. Eu juro. – Falei apressadamente.

- Você está deslumbrante. – Disse ele, para a minha completa surpresa.

- O quê? – Perguntei para ter certeza de que eu havia escutado certo.

- Você está deslumbrante, Jess. – Ele sorriu. 

As palavras engasgaram em minha garganta. Senti meu sangue ferver dentro de mim. Nunca ninguém havia dito que eu era linda, muito menos deslumbrante. Depois de alguns segundos encarando o chão, consegui dizer:

- Obrigada. – Olhei diretamente em seus olhos azuis.

- Vamos? – Perguntou pegando minha mão.

- Vamos, antes que eu me arrependa e volte para dentro de casa.

Ele me levou até um carro preto.

- A casa da Lolla não é tão longe. – Falei.

- A festa não é na casa dela. É em uma boate, Jess. – Falou rindo.

Suspirei. Ele abriu a porta do carro, para que eu entrasse. Logo em seguida ele entrou.

Demoramos 5 minutos para chegar à festa que já estava bombando. A primeira pessoa que vi depois que desci do carro foi a Lolla, lógico. Ela estava recebendo os convidados. Ela estava com um vestido Lilás que deixava o útero de fora. Mas como sempre, o cabelo estava perfeito, assim como a maquiagem.

- Evan. – Ela sorriu e beijou-o no rosto, bem próximo a boca. – Lolla, nada mal. Aposto que alugou essa roupa.

- Claro. – Sorri.

- Parabéns, Lolla. Espero que você tenha gostado do meu presente. – Evan falou sorrindo. O que será que ele havia dado para ela?

- Claro que gostei. Você tem um bom gosto magnífico. – Ela pegou uma mecha de cabelo e torceu em seus dedos. – Talvez mais tarde você deveria ir comigo em casa ver como ele ficou em mim.

- Sim. Não perderia essa oportunidade. – Ele falou depois me arrastou para dentro da boate.

Um som baixo preenchia o ambiente e o lugar estava bem iluminado, o que era estranho em uma boate. Ele me puxava para a área do bar. Eu procurava por Colin, mas seria difícil achá-lo no meio de tanta gente. Sentamos nas cadeiras próximas ao balcão.

- Você quer alguma coisa? – Perguntou Evan.

- Não, obrigada.

Olhei bem ao redor. Vi que havia uma área com vídeo-game e me parecia que estava desocupada. Era a minha oportunidade de me divertir nesta festa. Puxei Evan comigo, ele não protestou. Aposto que estava curioso.

- Não. Eu não vou jogar Just Dance. – Disse quando chegamos próximos a uma das telas de 40 polegadas.

- Por favor. Não tem ninguém agora. Você acha que vai ficar vazio a noite toda? – Perguntei.

- Sem chance. – Ele disse cruzando os braços.

- Faço o que você quiser, depois. - Falei sem pensar. Mas acrescentei rapidamente: - Se você ganhar.

-Jura? – Falou erguendo as sobrancelhas.

- Juro. – Falei sorrindo.

 - Eu escolho a música. – Ele disse. Ele escolheu “Good Feeling – Flo Rida” e colocou no médio. Sorri, porque eu sabia de cor a coreografia.

- Pronto? – Perguntei.

- Mais do que pronto. – Falou com a voz fraca. Estava na cara que ele estava nervoso.

A música começou. E eu tentei ao máximo não errar. Eu estava tão concentrada que nem os sapatos estavam me atrapalhando. Também não prestei muita atenção na pontuação dele. Só prestava atenção nos movimentos que eu deveria fazer. Até que a música acabou e olhei para o resultado. Eu havia ganhado.

- Foi por pouco. – Ele disse. – Vamos novamente. Vou ganhar de você na próxima.

 Olhei ao redor e havia se formado uma meia lua ao nosso redor. Fiquei constrangida e fiz sinal de irmos para Evan. Mas ele balançou a cabeça e falou:

- Você escolhe agora.

Escolhi” Beauty and A Beat”. Ganhei.

Ele escolheu “What makes you beautiful”. Ganhei.

Escolhi “On The Floor”. Ganhei.

A quantidade de gente ao nosso redor havia aumentado.

- Desisto. – Evan falou.

Sorri para ele e acenei para que saíssemos do centro das atenções.

- Ei, Jess. Porque você não fica e joga uma partida comigo? Aposto que todo esse tempo Evan estava te deixando ganhar. – Lolla falou.

Ouvi uns falando baixinho:

“Mas os dois são bons”

“Não tem como ele ter deixado ela ganhar”

“Você viu como ela dança bem?”

“Ele também dança muito bem.”

- Aposto que tem mais gente querendo jogar. – Falei tentando escapar. Mas ninguém se manifestou e os que estavam ao nosso redor começaram a gritar:

- JESS. JESS. JESS.

- Ok. Eu jogo. – Falei com raiva.

- Eu escolho. – Ela falou.

Ela escolheu “You make me feel”. Ganhei.

- Eu escolho novamente. Só estava me aquecendo. – Falou nervosa.

Agora podia sentir que todos os olhares estavam em nós. A música na pista de dança até havia parado.

Ela escolheu” We R Who We R”. Eu quase perdi.

Ela não falou nada dessa vez. Só escolheu “Domino” e perdeu novamente.

Eu estava cansada, mas o sorriso no meu rosto mostrava o contrário a todos. “E como sempre, eu sou melhor que você” ela havia dito. Agora eu provava o contrário.

Ela escolheu “Disturbia”. Perdeu.

Meu sorriso não poderia ser maior.

- Minha vez de escolher. – Falei. – Talvez mude sua sorte.

Ela olhou para mim como se fosse me matar.

Escolhi “Jailhouse”. E ah, ganhei.

Ela saiu furiosa enquanto as pessoas aplaudiam meu desempenho. Parei de jogar e fui me juntar a Evan que estava à frente do grupo que havia se formado ao nosso redor.

Saímos dali e voltamos para o bar.

- Uma água, por favor. – Falei ao barmen.

- Você nunca me disse que dançava tão bem. – Evan falou depois de um tempo.

- É porque eu não danço bem. – Falei com sinceridade.

- Cara, você já se viu dançando?

- Não.

- Pois deveria. – Ele falou sorrindo.

De onde estávamos podíamos ver o palco, por isso vimos quando uma banda de adolescentes subiu ao palco. Eles desejaram parabéns a Lolla e começaram a tocar uma música lenta.

- Você ainda consegue ficar em pé? – Evan falou devagar.

- Claro. – Falei rindo.

Ele se levantou e se pôs à minha frente.

- Então será que você gostaria de dançar comigo? – Disse estendendo a mão para mim.

- Seria um prazer.

E fomos juntos para a pista de dança, de mãos dadas e ao som de uma música lenta. Só um pensamento veio em minha cabeça: “Isso não vai dar certo”.