Recebi uma resposta de Naomi. Ela parecia ser do tipo despreocupada. Quem aos 29 anos iria querer ser uma "sakêzeira compulsiva", como ela mesma havia se denominado? Ainda que ela me parecesse o tipo de pessoa a qual minha mãe obviamente diria para eu não me aproximar, eu gostava de Naomi, e as cartas dela, falando sobre o sakê e os problemas dela, me divertiam. Eu estava pronta para ajudá-la. Apesar de isso ser estranho.

"Querida Desconhecida, não mais tão desconhecida.

Na verdade, preciso lhe dizer, que vivo numa casa muito humilde. Minha mãe trabalha fora o dia inteiro, minha irmã e eu estudamos e eu que cuido da casa no meu tempo livre. Não temos nem telefone, muito menos internet. A única forma dos parentes distantes falarem conosco é a carta.

Eu gosto de pastilhas de menta, mas admito, nunca bebi. Então não conheço essa "alegria" da qual você fala. Mas, Naomi-san, ainda que você ache que eu sou louca por ajudar uma desconhecida assim, a verdade é que você me faz rir com suas cartas, e acabou me cativando. E esse mistério me chamou a atenção. Eu realmente quero descobrir o que há por trás disso.

Eu me perguntei por um instante se é possível viver como você vive. Você não se preocupa com nada? Você me parece ser do tipo encrenqueira palhaça jogadora de pôker. Devo admitir que nunca me meti em encrenca. Meu pai morreu quando eu ainda era muito pequena.

Mesmo com as dificuldades, minha mãe não aceitou que eu deixasse de estudar para ajudá-la. Sempre quis ser o melhor que eu pudesse para não dar mais preocupações a minha mãe. Dessa vez eu mesma quis me meter em um problema, eu quis ajudar você, porque além de gostar da sensação de estar ajudando alguém, eu adoro mistérios.

O Espancador tem mais alguma característica, além de ser rápido e usar como arma a primeira coisa que encontra? Pense e preste atenção aos detalhes. Qualquer novidade, me escreva urgentemente. Talvez realmente haja uma ligação entre os dois espancamentos. Se bem que esse Espancador é bastante... suave. Ele nem sequer usou facas ou o ferro de passar... Ah!

Eu assisti ao filme. Achei nojento a parte em que ele está tirando a pele dela, mas a parte do ferro de passar realmente é engraçada. Não tenho humor macabro, mas pela primeira vez eu ri em um filme de terror. Eu ri até cair da cadeira. Depois precisei passar pomada nas minhas costas. Cair da cadeira dói.

Mas, voltando ao Espancador, você acha que ele vai voltar a "atacar" ? Fique de olho no jornal e se cuide. Se bem que... talvez se você for espancada, arrumemos mais pistas pro caso. Ah, deixe pra lá. mas acho que era uma boa idéia.

Mudando de assunto, eu gostaria que falasse mais sobre a sua história, e sobre você. Eu já falei (acima) sobre minha história (não é muito, nunca ganhamos nas lotéricas nem nada... É uma história sem grandes feitos) e vou lhe falar sobre minha pessoa. Eu, Momo, tenho 163 centímetros e peso 55kg. Tenho olhos e cabelos castanhos. Gosto de romances e comédias (terror também, mas não é meu forte). Pretendo estudar medicina, apesar de já ter pensado seriamente em ser detetive. Não sou lá a garota mais genial do mundo, mas nunca tirei nenhuma nota baixa e sempre fui elogiada pelos professores. Nunca me meti em encrencas, mas já livrei alguns amigos.

Eu te imagino alta, magra, de olhos escuros e cabelos ruivos. Imagino que seja divertida e tenha sempre sakê por perto. Sobre você gostar de filmes de terror eu já sei. Naomi-san, você mora sozinha? Ah, desculpe, mas tenho que ir agora. Vou buscar minha irmãzinha na escola. Até a próxima carta, Naomi-san!

Abraços.

Momo."