– Desculpa Julia. Eu não sei oque aconteceu! Eu...

– Não aconteceu nada. – eu o interrompi e sorri.

Realmente, eu preferia que não tivesse acontecido nada, mas aconteceu. Ele quase me beijou. Eu não sabia ao certo se deveria ficar feliz por quase ter acontecido, com raiva por ele ter me beijado ou triste por não ter acontecido. Acho que o melhor era esquecer.

Ele se sentou em uma bancada logo atrás do balcão. Estava de cabeça baixa, talvez por vergonha. O único barulho que se ouvia era o brigadeiro na panela.

– Enquanto o brigadeiro esfria, podíamos tomar sorvete. O que acha? – tentei quebrar o silêncio.

– Pode ser. – ele respondeu, mas nem ao menos me olhou para dizer.

Eu me sentei em sua frente e peguei sua mão, na esperança de que ele dissesse alguma coisa, mas foi em vão. Ele continuou em silêncio. Percebi que ele estava gelado então me levantei, fui até a sala onde estava sua mochila. Abri, talvez tivesse uma jaqueta lá. Encontrei uma blusa de moletom preta e quando a tirei da bolsa caiu uma foto. Uma foto dele e sua "namorada", juntos, em New York.

Aquilo fez uma lagrima escorrer, mas eu a sequei rápido. Eu tinha que voltar apara a cozinha, mas não sabia se teria forças para olhar nos olhos dele de novo. E então eu parei e percebi oque havia acontecido. Voltei para a cozinha com a jaqueta em uma mão e a foto na outra mão. Eu estava em estado de choque.

– Ela terminou com você, não foi? – quase chorando, continuei – Foi por isso que você veio até aqui. Estava se sentindo sozinho então resolveu vir atrás de mim, sua fã. Claro, você achou que só por que sou sua fã você iria conseguir me ter fácil. – desta vez eu chorava, não sei por que mas aquilo estava mexendo comigo de uma forma exagerada.

– Não foi isso que aconteceu Julia!

– Eu não conheço você. – eu gritei.

Larguei a jaqueta e a foto e sai correndo escada a cima para meu quarto. Fechei a porta, deitei em minha cama e chorei em silêncio. Escutei-o subindo as escadas, lentamente. Ele parou na porta e se abaixou. Pude escutar seu choro. Parecia muito triste.

– Me desculpa. Eu juro que não foi como você disse. Eu terminei com ela. – eu me assustei e levantei, mas as lagrimas ainda escorriam – Não estava dando certo e eu estou cansado disso. Naquela noite em que estive com você, foi a única vez em que eu sorri de verdade. Então vim aqui hoje, pois queria sorrir igual aquela noite, mas parece que eu estou fazendo tudo errado. Estou fazendo você chorar e eu não quero isso. De alguma forma, seu sorriso me faz sorrir.

Ele disse aquelas palavras com tanta sinceridade que me fez abrir a porta para ele. Ele se levantou e eu me virei para ele, ficando cara a cara. Sequei suas lagrimas e sorri. Ele sorriu também. Parecia uma criança quando ganha um doce, mas neste caso, o doce era eu.

– Não tente me beijar novamente. – disse a ele.

– Tudo bem, desculpa – respondeu, sorrindo também. Um sorriso lindo.

Descemos rindo com o modo com que Rafael descia os degraus. Era engraçado. Pegamos o sorvete e a pipoca e fomos para a sala para assistir um filme.

– Qual filme quer assistir? – perguntei a ele que olhava impressionado para minha enorme estante repleta de filmes.

– Tem “Harry Potter”? – perguntou ele se virando para mim.

– Está brincando? – eu disse sorrindo – É claro que tenho, adoro “Harry Potter”! Tenho todos, qual quer assistir? – olhei para ele e nós dois sorrimos.

– Pode ser “Harry Potter e as Relíquias da Morte, parte 1”? – perguntou ele.

– Claro, desde que nós assistamos a segunda parte também. – respondi.

Coloquei o filme e nos sentamos no chão, onde haviam duas cobertas e muitas almofadas que tornavam o lugar aconchegante. Coloquei uma almofada em meu colo e Rafael me olhou.

– Posso? – murmurou, apontando para a almofada.

– Oque? – perguntei confusa.

– Deitar... No seu... Colo. – ele se atrapalhou um pouco e eu ri.

– Pode sim. – respondi. Ele sorriu e deitou.

Ficou me olhando de baixo para cima e eu sabia que eu estava corando, talvez por vergonha.

– O que foi? – perguntei a ele quase sussurrando.

– Você é ainda mais bonita olhando daqui.

Eu corei ainda mais.

– Não precisa ficar vermelhar, foi só um mero elogio. Você deve ouvir muito isso, não é? – perguntou ele enquanto eu ainda estava envergonhada.

– Não. – sorri.

– Como não? E o seu namorado? Ele não diz isso o tempo todo? – perguntou ele confuso, mas querendo descobrir algo.

– Não tenho namorado Rafael. – dizer isso me fez corar ainda mais.