Eu paralisei. Fiquei em estado de choque, sentada imóvel naquele banco de couro preto. Ele percebeu que eu estava com medo de ser apresentada como sua namorada então pegou em minha mão e acariciou-a.

– Fica tranquila. Tenho certeza que eles vão aprovar você como minha namorada. – sorriu pra mim.

Eu apenas sorri e fiquei em silencio. Rafael resolveu ligar o rádio e por acaso, na radio, estava tocando uma música dele. Rafael já ia mudar de rádio quando eu segurei a mão dele. Eu simplesmente amava aquela música.

– Deixa, por favor.

Ele deixou tocar, eu escutei e cantei aquela música perfeita. Enquanto eu lutava para conhecer-lo, aquela música me confortava. Ela me dizia que não é preciso estar colado pra estar junto. Meu coração sempre seria dele. Mesmo que ele não me conhecesse. Enquanto eu cantava ele me olhava e sorria. Quando a música acabou eu respirei fundo tendo que conter as lagrimas.

– Esta é uma das músicas mais lindas que eu conheço. – disse a ele.

– Realmente, é muito linda. – disse-me

– Por que você não gosta de escutar suas músicas? – perguntei a ele.

– Não sei direito. Só não gosto de escutar minha voz – disse ele rindo.

Ficamos em silêncio e em cinco minutos estávamos na portaria do condomínio. Eu já estava ficando nervosa a cada metro. Quando chegamos, Rafael desceu e abriu a porta pra eu descer do carro, muito cavalheiro. Minhas pernas bambearam por um segundo. Entramos. Estava tudo em um silêncio absoluto.

– Mãe? – chamou ele – Pai? Bruna? – ninguém respondeu.

Andamos a casa toda e não havia ninguém. Pude ver o resto da casa e era realmente incrível. Rafael então resolveu ligar para sua mãe. Eles estavam em Campo Grande na casa de uma tia de Rafael. Marizete disse para nós irmos na manhã seguinte pra lá então concordamos. Liguei para minha mãe para avisar e aproveitei para contar a ela algumas das coisas que haviam acontecido. Uma delas: agora sou a namorada do Rafael!

– É, parece que estamos sozinhos. – disse ele se aproximando de mim.

Levou uma mão até minha cintura e a outra em minha nuca e me beijou. Um beijo intenso que me fez arrepiar. Nossos lábios se encontraram em um beijo perfeito.

Subimos as escadas e fomos para seu quarto. Era incrivelmente lindo. Espaçoso, arejado... Na parede havia um adesivo do “S” de “Família S.”, em nota musical. A porta do guarda-roupa era toda de espelho e fazia com que o quarto fosse maior ainda. Sua cama parecia muito aconchegante. Era de casal.

– Bem-vinda ao meu quarto – disse-me sorrindo.

– Obrigada – respondi.

Rafael sentou-se em sua enorme cama e fez um sinal para eu sentar-me também. Sentei-me e ficamos em silêncio. Pela primeira vez eu não tinha assunto para falar com ele então resolvi ficar quieta para não falar nenhuma bobagem. Rafael se levantou e pegou um papel que estava sobre sua escrivaninha e pareceu confuso.

– O que é isso? – pensou alto – “Me encontre na sala assim que chegar, estarei te esperando” – leu oque estava escrito e fez careta – Foi você que escreveu isso? – perguntou a mim.

Eu fingi que não estava prestando atenção no que ele estava fazendo.

– Ahm... Claro que não. – respondi sincera e na mesma hora fiquei curiosa.

– Eu já volto. Não saia daqui! – disse ele, mas eu não iria ficar lá esperando ele voltar.

Rafael desceu as escadas, fiquei em silêncio e depois sai do quarto e fiquei no topo da escada esperando para ver se havia alguém. Ele procurou por todo lado e então ela saiu de uma porta ao lado da copa. Jade.

– Olá – disse ela com a expressão irritada.

– O que você esta fazendo aqui? Como conseguiu entrar? – perguntou ele furioso e confesso que nunca o vi com tanta raiva.

– Calma Rafa – ela riu – Não sei se você se lembra, mas eu era sua namorada até alguns dias atrás e o porteiro me conhece – ela riu.

– Tenho que avisar ele que você não pode mais entrar aqui sem minha permissão. – Rafael gritava de nervosismo.

– Fiquei sabendo que você esta com namoradinha nova. Legal em, mal termina com uma e já parte pra outra. Rápido você. – disse ela rindo ainda e eu me impressionei com a falsidade dela – Conheço seu joguinho, primeiro chama pra um jantar, depois pega o número de celular, depois vai a casa, a chama pra sair com você, beija ela e diz que ama, mas depois – ela riu – joga fora como se fosse lixo.

Eu fiquei paralisada. Ela narrou com ironia tudo oque aconteceu comigo e com Rafael

– Vai embora daqui garota. – disse ele puxando-a para a porta.

– Eu tenho muita pena dessa garota. Ela deve estar mais iludida do que eu estava. – disse ela com raiva sendo arrastada por Rafael

Eu tinha que tomar atitude de alguma forma, mas eu era covarde demais pra isso. Respirei fundo, fui no quarto, peguei minha bolsa e desci as escadas correndo.

– Eu tenho que ir embora – disse atravessando a sala em direção à porta.

– Nossa, você realmente se superou agora. Ela é muito bonita, mas é tão iludida. – disse ela rindo de mim.

Eu já estava na porta quando ele segurou meu braço. Lagrimas escorriam em meu rosto, mas eu não sabia se era da raiva ou de tristeza. Acho que eram os dois juntos.

– Julia, você não pode acreditar nela! – disse ele ainda me segurando – Eu te amo e você sabe disso!

Jade bateu palmas e soltou uma gargalhada.

– Palmas pra você Rafael. Você esta se superando! – disse ela e eu nunca me vi com tanta raiva de alguém como eu estava com raiva dele.

– Rafael, me solta, por favor. – ele já estava me machucando.

Ele me olhou nos olhos e pude ver as lágrimas escorrerem. Ele me soltou e caiu no chão com as mãos no rosto. Sai correndo sem rumo. Não sabia ao certo aonde ir. Fui para a portaria e sai do condomínio. Por sorte havia um dinheiro em minha bolsa, peguei um ônibus e fui pra São Paulo. Cheguei em casa em torno de meia noite. Quando passei pela porta me dei conta de que eu havia cometido uma loucura. Minhas malas haviam ficado todas na casa dele. Minhas roupas, tudo! Sentei-me no sofá na sala, levei as mãos ao rosto e chorei. Por raiva talvez...

Ouvi passos na escada. Minha mãe veio correndo até mim desesperada.

– Julia, oque aconteceu? – perguntou ela.

Contei tudo oque aconteceu. Detalhe por detalhe e ela sempre dizia algumas palavras pra me confortar, mas nada que ela dissesse poderia amenizar minha dor.