POV ROSELIE*

É tão estranho, quando você [re]pensa sobre o que você era, o que você é e o que você vai ser...

É estranho quando você para e relembra o seu passado, seja ele obscuro ou não, todos nos temos um passado, e uma parte dele que não queremos relembrar, mas mesmo assim existem aqueles vagos momentos em que paramos e relembramos de tudo, cada frase dita, cada sorriso exposto, cada lagrima rolada, cada abraço apertado, cada coração partido, e então, pensamos... "Será que eu mudei pra melhor ou pra pior?”.

As vezes eu penso, porque será que minha vida é uma droga ? Meu passado é uma droga, meu presente é uma droga, e com certeza meu futuro será droga dupla, e isso me tira completamente a vontade de viver, um sentimento que eu conheço muito bem me invadiu, aquela vontade enorme de me trancar no banheiro pegar minha velha inimiga (A pequena Lâmina) e me esvaziar, ate a ultima gota de vida, assim pelo menos eu acabaria de vez com toda essa droga de vida que eu tenho.

Braian não poderia estar falando sério... Minha mãe não pode morrer, eu preciso dela, se ela se for eu não sei se vou agüentar, todos dizem que eu sou forte e durona e vou passar por tudo isso, mas ninguém entende.... Ninguém consegue ser forte o tempo todo, e eu tenho uma má noticia, minhas forças já se esgotaram, eu não consigo mais ser forte, eu não agüento mais...

—Rose, fala alguma coisa... —Braian disse aflito pelo o meu olhar vago que estava fixo na porta trancada do meu quarto.

Levei meu olhar lentamente em direção ao Braian, eu podia sentir a vontade de chorar chegando, mas eu não choraria na frente dele,  uma aflição, desespero...É desespero define bem, era isso que eu estava sentindo nesse exato momento, desespero, total desespero.

—Eu to cansada... —Foi apenas isso que eu disse desviando meu olhar do dele.

Braian me encarou analisando minhas palavras, me pegou pelo o braço e me levantou, puxou meu edredom e arrumou minha cama para que eu deitasse, ele me ajudou a deitar e me cobriu, beijou minha testa, e esse ato me deixou mais aflita, porque era isso que minha mãe fazia quando eu tinha nove anos, ela me cobria e me dava um beijo doce e quente na testa.

Braian se virou indo em direção á porta,mas eu não quero que ele vá, porque se ele for, a lâmina vai me atrair e eu não vou conseguir lutar contra ela, não sozinha.

—Braian não me deixa aqui... —Falei sussurrando, o encarando.

Ele parou de andar e se virou para me encarar, ele estava com a expressão aflita, mas um sorriso pequeno e tranqüilizador apareceu em sua face, e ele venho em minha direção, se deitou ao meu lado na cama e me abraçou.

—Braian....Eu acho que...To com medo. —Falei pela a primeira vez expondo meus sentimentos para um menino.

—Calma...Eu estou aqui com você. —Ele disse sussurrando no meu ouvido com um tom calmo.

—Promete que quando eu acordar você vai estar aqui ? —Perguntei virando minha cabeça para encará-lo.

—Prometo...Agora durma. —Ele disse sorrindo e me dando um selinho.

E então dormimos de conchinha.

[...]

Acordei sentindo meus olhos arderem, resultado de ontem, quando esperei Braian dormir e então deixei que as lagrimas caíssem, ate me esvaziar em lagrimas, mas acho que ainda tem alguns litros porque sinto ainda vontade de chorar, e isso me irrita.

Sinto algo ao meu redor, e vejo que são braços, olho para o lado e vejo Braian, dormindo calmamente, isso me fez sorrir.

—Bom dia...—Ele disse de olhos fechados.

—Bom dia, pensei que estava dormindo. — Falei sorrindo e me sentando na cama

— Não, eu acordei faz um tempo, mas queria aproveitar esse momento então fiquei na cama. —Ele disse sorrindo ainda deitado.

—Vou tomar banho. —Falei lhe dando um leve tapa no braço.

—Posso ir ? —Braian perguntou sorrindo maliciosamente para mim.

—Não, seu maníaco ! —Falei lhe atirando uma almofada na cara, e antes de entrar no banheiro ouvi uma gargalhada saindo de seus lábios e não pude evitar sorrir também.

Despi-me e entrei na chuveirada gelada, que me ajudaria a relaxar, me lavei e assim que acabei sai do Box, mas me arrependi quando olhei para o pequeno buraco que tinha ali no banheiro, e escondido nesse buraco estava a lâmina, eu podia ver seu sorriso enganador, tentei pensar em coisas boas na minha vida para afastar aquela vontade de me esvaziar...Mas esse era o problema,não tinha nada de bom na minha vida, só coisas ruins, ruins e mais ruins.

Levei minha mão ate o buraco e tirei a lamina de lá, ela tinha pequenas gotas secas de sangue, e alguns risco, que eu fiz para deixá-la mas, afiada, passei meu dedo pela lâmina, e pude ver meu reflexo refletir nela.

Levei a lâmina ate meu pulso, suspirei, fechei meus olhos e sussurrei para mim mesma: “É e única forma de aliviar”, e então pressionei a lâmina ali, ate que senti uma pontada de dor, abri meus olhos e vi o sangue escorrendo dentro da pia, fiz mas um corte um pouco afastado do sangue, e mas uma pontada de dor e novamente o sangue escorrendo.

—Ainda não é o suficiente. —Falei pegando a lâmina com a outra mão e cortando meu outro pulso.

Fiz uns três cortes no pulso esquerdo, e dois no pulso direito, eu podia sentir minha cabeça doendo, minhas pernas tremiam, e meu pulso estava dolorido, respirei com dificuldade e liguei a torneira da pia, e observei o sangue escorrendo pelo o ralo, é como se 20% dos meus problemas estivesses caindo pelo o ralo, e um pequeno alivio me invadiu.

Lavei a lâmina e a encarei novamente, agora é a parte que eu mas odeio, “A culpa”.

Guardei a lâmina no buraco e me sentei no chão, eu estava nua sentada no chão gelado, com os pulsos latejando de dor.

Encostei minha cabeça na parede, e mais lagrimas vieram á tona, coloquei minha cabeça em meio ás mãos e me entreguei ao sentimento de culpa.

Eu sou tão desprezível, porque eu não morro logo, porque eu ainda estou aqui, porque, porque, porque, por que !!?

Comecei a me arranhar, com raiva e nojo de mim mesma, eu podia sentir os arranhões ardendo, mas isso não me impediu de continuar, eu podia sentir sangue escorrendo de algumas partes arranhadas.

Quando meu corpo todo estava arranhado e doendo eu parei, entrei no chuveiro para tirar o sangue e um baixo gemido de dor escapou de meus lábios, pois a água quente encostou-se aos arranhões fazendo eles arderem absurdamente, coloquei minha mão na boca, para abafar os gemidos.

Sai do banheiro enrolada em uma toalha, Braian não estava no quarto, fui ate a porta e a tranquei, tirei minha tolha e encarei meu corpo no espelho, eu podia ver vários e vários arranhões, avermelhados, peguei uma calça de moletom preta, uma blusa de manga cumprida branca e uma meia, eu cobriria tudo, para que ninguém visse o que eu fiz, não estou afim de ouvir todos falando que isso era um trauma que precisa ser curado.

—Roselie ? —Ouvi a voz do Braian do outro lado da porta.

—Já vou, perai. —Falei pegando o pó, lápis, e blush e passei para disfarçar a cara de choro, penteei meu cabelo e fiz um rabo de cavalo alto e meio frouxo, me encarei no espelho e deu pra disfarçar um pouco.

Abri a porta e me deparei com uma enorme bandeja de café da manhã nas mãos do Braian.

—Bom dia ! —Ele disse sorrindo e entrando no quarto, colocando a cesta em cima da cama.

—Isso é pra mim ? —Perguntei forçando um sorriso.

—Não, é pra sua avó, mas eu trouxe aqui só pra te fazer inveja, claro que é pra você Rose. —Braian disse rindo da careta que eu fiz para ele.

Sentei-me na cama ao lado dele e peguei uma torrada com geléia, comi e bebi a limonada, comi também alguns bombons, uns biscoitos de manteiga, e alguns bolinhos de chuva.

—Estava ótimo, obrigado. —Falei sorrindo para o Braian que me encarava com a expressão tranqüila.

—De nada...Ta se sentindo melhor ? —Ele perguntou me fixando agora com a expressão séria.

—To...—Falei olhando para a janela e os raios de sol que adentrava o quarto.

—Rose...Agente tem que conversar. —Braian disse tirando a bandeja dali e colocando na escrivaninha.

—Conversa? Sobre o que ?—Perguntei franzindo o cenho.

—Sobre tudo. —Ele disse se sentando ao meu lado e me encarando com a expressão tensa.

—Braian...—Falei encarando o chão.­­­­

—Roselie, eu... Não sei o que aconteceu, mas de repente, o ódio que eu sentia por você se tornou uma coisa diferente, uma coisa que me atrai para ficar perto de você, uma coisa que não deixa você sair dos meus pensamentos.­­­ — Braian disse franzindo a testa, confuso consigo mesmo.

—O que ta querendo dizer? —Eu disse sentindo algo se embaralhar em meu estomago.

—Eu acho que eu to gostando de você Wengs. —Braian disse agora encarando o chão.

Como assim... “Gostando de mim?”...Isso que ele esta falando é verdade? Ou ele só esta falando isso porque eu estou em uma puta depressão e ele esta fazendo isso para me consolar e me fazer feliz....Epaaa desde quando pra mim ser feliz eu tenho que ter o Braian...

—Você o ama admita. —Minha consciência disse lixando as unhas com uma lixa

Ignorei-a completamente, e tentei focar ali, naquele momento, o silencio que se instalou no quarto era perturbador e intimidante, as palavras parecem ter fugido do meu vocabulário, eu ainda estava processando aquelas palavras...Quer dizer, tem o Peter... Eu acho que gosto dele...Mas quando eu estou com o Braian parece que tudo ao redor não importa...Será que é possível uma pessoa gostar de duas pessoas ao mesmo tempo?

—Roselie por favor fala alguma coisa...—Braian disse me fixando, e nossos olhares se encontraram, o que me deixou mais sem palavras, se é que era possível eu ficar sem palavras mais do que eu já estava.

—Eu...Hãn...Quer dizer...Droga. —Falei limpando a garganta tentando me controlar e me acalmar. —Braian, isso que você esta dizer é...Loucura. —Falei sorrindo levemente e olhando para o chão.

— Rose, eu só capaz de ser o cara mais louco do mundo só para ter você pra mim. —Braian disse me fixando e sentando mas próximo de mim. —Merda isso foi muito gay né ?—Ele disse rindo, e eu comecei a rir junto.

—Sim... Muito gay... Mas também foi lindo. —Falei parando de rir.

Ele sorriu e segurou meu queixo, acariciou meus lábios com o polegar, e fixou meus olhos, ele se aproximou lentamente, mantendo o olhar fixo no meu, eu podia sentir seu hálito em minha face, tinha um gosto de hortelã, ele se aproximou mais e mais, ate que nossos lábios estavam colados, e vidrados em um beijo calmo, e tranqüilizador, eu podia sentir suas mãos indo ate minha cintura, e apertarem fortemente, levei minhas mãos ate seus cabelos e os baguncei, aquele era meu ponto, aonde eu gostava de bagunçar: Seus cabelos.

E então,ele levemente me deitou na cama, ficando em cima de mim, sem em nenhum momento cortar o beijo, eu já podia sentir cada parte do meu corpo respondendo a cada toque dele, meus pelos se eriçaram, e então senti uma pulsação entre as pernas, e eu já sabia o que iria acontecer ali.

E então, flashes de Peter vieram a minha mente, ele me ama, esteve do meu lado, eu estou com ele, não posso fazer isso !

Juntei todas as forças do meu corpo, e empurrei o Braian, saindo da cama e me arrumando.

—Não posso fazer isso... Isso é errado ta, muito errado. —Falei Andando de um lado para o outro.

—O que é errado Roselie ? Eu gostar de você é errado ?—Braian disse refazendo a mesma pergunta que ele me fez no hospital.

—Não Braian, Você é errado, eu sou errada, um dos dois precisa ser certo para equilibrar ! —Falei parando em frente á janela e observando á paisagem cinza lá fora.

— Você percebe que isso que você falou não tem nexo não é ? —Ouvi ele perguntar atrás de mim e sentir seus braços me abraçando por trás.

—Peter é seu melhor amigo e meu namorado. —Falei respirando profundamente inalando seu perfume.

—Agente pode conversar com ele. —Braian disse me virando, me obrigando á encará-lo.

—A Layla vai infernizar nossas vidas. —falei colocando minhas mãos em seu tórax.

—Não importa, estaremos juntos, só isso que importa. —Braian disse beijando minha testa.

—Eu vou virar motivo de piada na escola por ser mais uma na sua lista ! —Eu disse fazendo uma careta imaginando as fofocas.

—Você não é mais “uma da minha lista”, porque desde o momento que comecei a gostar de você,eu joguei a lista fora, porque eu sabia que só seria você e mais ninguém.—Ele disse sorrindo e me dando um selinho.

—E minha mãe ?! —Eu disse o afastando de meus lábios.

—Ela vai entender. —Ele disse revirando os olhos.

—E a Amber, e a Isa ? — Eu disse já imaginando a cara de pânico delas.

— São suas amigas, claro que elas vão te apoiar. —Braian disse sorrindo de leve.

Eu abri minha boca mas eu não tinha mais o que falar, meus argumentos se acabaram...

—Suas desculpas acabaram ? — Braian perguntou sorrindo ironicamente.

—Sim... —Sussurrei sorrindo para ele.

—Finalmente... —Ele disse sorrindo e atacando meus lábios em mais um beijo, só que dessa fez foi um beijo mais profundo e explorador, um beijo que concertesa fez algo mudar em mim...

“Um beijo único”

    NOTAS FINAIS !