Laura E Edgar - Uma Outra História escrita por Cíntia


Capítulo 23
Problemas


Notas iniciais do capítulo

Consegui arrumar um tempinho, e escrever um capítulo. Mas também as leitoras mereciam depois de tantos comentários.



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Por Laura

Edgar e Toninho estavam cada vez mais próximos, era tão maravilhoso vê-los juntos. Meus dois homens, um tão parecido com o outro. Quando os olhava era com se visse Edgar e sua miniatura. Ou Toninho e sua versão adulta. E eles tinham uma bela sintonia.

Edgar era um ótimo pai, carinhoso e dedicado. Eu via o quanto ele se divertia e era feliz ao lado de Toninho. Contava histórias, brincava, se preocupava... O seu encantamento a cada descoberta sobre nosso filho... sua personalidade, seus gostos.

Já Toninho, embora não soubesse, tinha contato com o seu pai. Ele adorava Edgar, e ficava muito feliz nos momentos que passava com ele. Eu conseguia ver o seu excitamento em cada encontro, ou até mesmo nos momentos em que ficava longe dele, ele ansiava em encontrar o pai. Era como se soubesse quem ele era. Ou pelo menos entendera o quanto Edgar o amava.

Um dia ele chegou a me perguntar o motivo de Edgar vê-lo tanto. Eu ainda não queria falar toda a verdade, mas também não podia mentir. Então disse que ele era um menino encantador e que Edgar o amava. Ele pareceu ficar satisfeito com a resposta.

Havia decidido não pensar tanto no passado, mas às vezes não conseguia, em certos momentos quando os via, era tomada por uma culpa. Será que eu fizera o certo? Será que fora melhor para o meu filho crescer longe do pai? A verdade é que nunca teria uma resposta definitiva.

A convivência estava tranquila. Catarina não aparecera mais. E eu já estava achando que Edgar havia tomado uma atitude dado um basta nas suas intromissões. Mas não tinha coragem de perguntar qualquer coisa nesse sentido.

Já que nossa relação, apesar de cordial, tinha um distanciamento cruel. Fingia que não me afetava, mas a verdade é que me feria. Ele disfarçava bem, mas eu percebia a sua mágoa. Sua dúvida em como agir comigo...

Lembrava-me dos nossos bons momentos juntos, momentos acontecidos anos atrás, ou até mesmo depois que voltara ao Rio. E doía tanta ver a mudança em seu olhar, no seu modo de falar.

Às vezes, tínhamos algumas conversas ou situações mais a vontade, onde ele parecia agir como antigamente. Até mesmo me olhar de forma encantada e com desejo. Isso até reavivava a minha esperança de voltar a tempos bons, reforçando a minha vontade de estar em seus braços, sentir o seu toque e seus beijos, ouvir suas palavras doces. Mas depois ele agia de modo frio, e talvez esses olhares fossem apenas uma ilusão minha.

Por outro lado, recebera uma ótima notícia. Meu texto ganhara o concurso. Ou melhor, o texto do Paulo Lima. Fora uma alegria imensa. Era o reconhecimento da minha habilidade de escritora, e um pouco de dinheiro que preferi guardar por enquanto, já que não sabia o que o futuro me reservava.

Após o prêmio, tomei coragem e mandei o meu manuscrito sobre Educação e Cultura a um dos financiadores do concurso. Ele tinha uma editora, e era um conhecido do meu pai, e pelo que me lembrava dele, parecia um homem de visão. Claro que continuei usando o nome de Paulo Lima. Também recebi uma carta de Guerra para publicar o meu artigo em seu jornal. Era mais uma oportunidade se abrindo para mim, e apesar de ter certo receio por aproximar da minha identidade verdadeira, não recusei, e autorizei a publicação. Era mais uma maneira de ser ouvida, e conseguir um pouco de dinheiro.

Mas nem todas as novidades eram tão boas, certo dia, recebi uma visita inesperada. Minha mãe entrou na casa como um furacão, como se não precisa manter a educação:

– Laura, filha. Você enlouqueceu o que está fazendo morando nessa casa. Na casa de uma mulata, uma dançarina de má fama! O que isso fará com a sua reputação?

– Primeiro de tudo. Boa tarde, mãe. – tentava manter a calma – Faz um bom tempo... – destilava minha ironia - Você não gostaria de saber como estou?

– Claro, filha. É que ... você não pode colocar a família em risco assim. Tudo o que lutei. Você está bem? Me parece bem... – ela aparentou se acalmar e até nos abraçamos

– Estou bem.

– Agora quanto a morar com essa mulata. Pense no que está fazendo. – ela tentava me persuadir mostrando calma

– Eu já pensei e é o melhor.

– Laura, você é filha de um senador da Republica. Não pode morar com uma dançarina mulata que conseguiu dinheiro de forma duvidável! – ela falou destilando a sua dose habitual arrogância e preconceito

– A senhora não mudou, D. Baronesa. Mas digo, essa é minha decisão final. Você me renegou, não tem o direito de me julgar ou mandar em mim! – eu estava ficando irritada

Nessa discussão acalorada fomos interrompidos por Toninho. Ele entrou na sala e nos olhou assustado. Eu pude o efeito em minha mãe. Ela estava surpresa, depois começou a abrir um sorriso. Na verdade não havia tantos problemas em ela conhecer o meu filho agora que Edgar já sabia, então resolvia apresenta-los:

– Esse é Antônio, me...

– Não precisa falar, Laura. Eu reconheço o meu sangue- ela sorria e abriu os braços para Toninho – Antônio ... eu sou sua avó. Me dá um abraço- ele ficou indeciso e olhou para mim

– Vá, Toninho. Essa á a minha mãe. Dê um abraço na sua avó.

Ele estava assustado, mas acabou indo até a baronesa e a abraçou. Depois os dois começaram a conversar, ele parecia emocionada e ele foi ficando a vontade. Tenho que admitir, ela tinha jeito com crianças.Mas após Toninho nos deixar, a velha baronesa voltou:

– Laura, que despropósito é esse? O Edgar já sabe?

– Sim, ele sabe. Ele e o filho estão se conhecendo.

– O que você está fazendo aqui ainda? Por que não voltou para seu marido? – parecia que eu havia cometido um crime

– Mãe... isso é assunto meu e do Edgar. Eu não retornei ao Rio para voltar com ele, e não voltarei só por causa do nosso filho. Se quisesse isso teria feito anos atrás quando descobri que estava grávida. Agora se você não quer falar mais nada. Tenho alguns coisas para fazer. – falei firme

– Mas filha... Uma criança precisa de uma família – ela olhou para mim, e viu que não falaríamos mais disso - Eu vou. Mas gostaria de ver meu neto ... as vezes.

– A gente pode olhar isso depois ... se você não tentar interferir nessa historia com o Edgar, e o Antônio.

Minha mãe foi embora, e prometeu voltar, eu só esperava que ela não atrapalhasse a aproximação de Edgar e Toninho.

Mas a volta da Baronesa era o menor dos meus problemas. Certo dia, eu cheguei à biblioteca e notei olhares estranhos para mim. Era como se tivesse feito algo extremamente errado. Até Dona Rosa me tratou mal.

Comecei a pensar que o mundo havia enlouquecido. O que poderia ter acontecido? Alguns homens me olhavam de forma desrespeitosa, enquanto as mulheres e outros homens pareciam me ver com desaprovação. Com esforço consegui distinguir entre bochichos a palavra divorciada.

Aquilo me apavorou. Como todos souberam? Procurei nos periódicos do dia e vi uma foto minha num pasquim de quinta, onde a legenda dizia que eu era divorciada. Alguém colocara essa notícia para revelar a minha separação, tudo disfarçado como uma nota de moda.

Trabalhei sentindo uma pressão enorme no resto do dia. Os olhares, os buchichos, algumas conversas mais desrespeitosas dos leitores, a falta de cooperação de alguns funcionários. E ainda eu me preocupava com meu filho. Será que alguém faria algo contra ele?

Quando meu turno chegou ao fim, corri para fora. E dei de cara com Edgar. Ele parecia preocupado:

– Laura, você já viu ...Não viu?

– Se é sobre o nosso divórcio? Sim... Não tinha como não ver. Me trataram como se fosse uma vadia, uma criminosa, Edgar –falei fragilizada e ele me olhou compreensivo e protetor

– Eu sinto muito ... não queria que fosse assim. – eu não resisti, estava abalada, me aproximei dele e o abracei, era primeiro olhar de apoio que recebia no dia, e ele me acolheu em seus braços – Vai dar tudo certo, Laura. Você vai ver – ele me consolava, e eu desfiz o nosso abraço.

– E para você como foi? Algum problema? -tentava me recompor

– Pouca coisa ... nada comparado ao que você deve ter passado. – ele ainda estava com pesar no olhar

– Você está de carro? – perguntei, e ele confirmou com a cabeça – Então me leva para casa, Edgar. Preciso ver nosso filho!

Nós fomos para casa. E tive um pouco de alívio ao perceber que Toninho não tinha sido afetado e não parecia saber de nada.

Edgar cuidou do nosso o filho. Enquanto eu conversava com Isabel e Celinha, elas tentavam me consolar, mas eu sabia que o pior estava por vir. Entretanto, não ia abaixar a cabeça. Eu era divorciada, não havia feito nada de errado. Tinha todo o direito de trabalhar de cabeça erguida.

No dia seguinte, voltei à biblioteca disposta a enfrentar tudo e trabalhar melhor do que nunca. Os olhares, buchichos e o mau tratamento continuaram. Inclusive gente que não tinha autoridade me passara tarefas que não eram da minha responsabilidade. Mas eu estava decidida a mostrar que era melhor. Os tratava de forma cordial e fazia tudo de cara boa.

O problema foi que com essas tarefas a mais acabei tendo ficar na da biblioteca após o meu turno. O lugar estava fechado, e vazio quando eu terminava de guardar alguns livros e esbarrei em Cândido:

– Oi, Cândido – falei me recuperando do susto

–Ainda aqui?

– Sim. Muito trabalho – mostrei os livros que carregava

– Se você quiser, posso te ajudar – ele não estava sendo puramente gentil, notei um olhar e um sorriso atrevido que não existia antes.

– Não, obrigada. Já estou terminando – saí apressada, tentando me livrar dele.

Eu corri, e quando cheguei a estante que deveria guardar os livros, respirei fundo, estava aliviada, parecia que eu tinha conseguido me livrar. Mas meu coração voltou a mil quando o vi e ele falou:

– Não precisa fugir de mim, Laura. Nós não faremos nada que você já não tenha feito antes... – seu olhar e sorriso eram de cobiça, e eu sabia o que me aguardava.


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Notas finais do capítulo

Então, adrenalina a mil, né? O que acham que vai acontecer?
Comentem, recomendem, quando mais disso, mais eu tenho vontade de escrever.