Número 12 [Fic de Terror] escrita por KenFantasma


Capítulo 6
6° Capítulo - O Número 12




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Eu não fazia ideia que caminho seguir, apesar de já ter adentrado esta mesma floresta inúmeras vezes, não conhecia nem 5% de sua área, mas isso não me impediu de prosseguir, sempre em frente. Era como se eu não só enfrentasse o medo ou meus traumas, mas como se eu os estivesse chamando, como se eu os desafiasse: “se vocês querem tanto me atrair para o abismo, então eu não mais recuarei, irei a seus encontros!”. A mesma neblina da noite passada ressurgira sob meus pés, o céu limpo desta vez era iluminado pela incrível ardência da lua cheia, a relva gritava em um coral de sonoridades distintas e ameaçadoras. Com a pistola sempre firme nas mãos eu tentava andar em linha reta, ainda que tivesse de ziguezaguear para certos desvios de árvores, tentava não perder o foco da frente. O frio era bem menos intenso que o da noite anterior. Desta vez eu estava mais descansado, menos ferido, mais controlado e muito mais determinado.
Continuei avançado, alerta a qualquer aproximação, até então avistar algo pouco à frente, era o urso de Rachel, caído no pé de uma árvore. Me aproximei sem baixar a guarda.
–Rachel, onde está você? –Eu segurava forte o tronco do bicho de pelúcia.
Enquanto eu o contemplava com tristeza no olhar, senti algo vindo de longe, parecia um som.. parecia uma voz.
–Por aqui. – A voz tornou-se melhor audível e pude entender que vinha de minha cabeça, era Ana! –Continue em frente.
A voz de Ana em minha cabeça ecoava em uma frequência baixíssima, mas era o suficiente para me indicar o caminho
–Ana, é você? –Apesar de perguntar, ela não respondia, então decidi esquecer o questionário e apenas seguir sua voz, afinal ela deve estar contando comigo neste momento para salvar sua filha... Seja como espírito, ou parte de minha paranoia.
Eu corria, corria e corria mais sendo guiado pelo tom fantasmagórico da voz da mulher, não conseguia raciocinar direito, minha mente vacilava. Após um percurso corrido eu parei assim que ouvi algo se movendo na mata, segurei firme a arma, ouvi uma movimentação estranha em um arbusto ao meu lado, como reflexo eu me virei o mirando. Deste tal arbusto então, eu vi sair lentamente um cão selvagem, mas não era só isso, ele estava infectado.
“Quer dizer que a infecção não se restringe somente a humanos”
Este cão infectado emitia um grunhido misturado ao roronar de um gato, seu focinho era desfigurado, o maxilar se esticava até o mato no solo, da bocarra emergiu o que parecia ser sua língua, porém com uma boca própria da qual espumava algo amarelado. Eu me preparei para puxar o gatilho mas fui surpreendido por uma segunda presença, era outro cão transmutado que surgia de uma árvore atrás de mim. Este parecia ter sua cabeça deslocada, com ossos expostos no pescoço e a mesma estando ao contrário, com o topo do crânio virado para baixo.
Fiquei confuso. Por que ainda viviam? Talvez o tempo de vida deles seja superior ao dos humanos, talvez tenham sido transmutados horas depois.
O cão retorcido de olhos avermelhados assim que se expôs, saltou para minhas costas. Apesar de parecer ter seu pescoço quebrado, ele conseguia abrir sua boca mostrando os irregulares e afiados dentes, pronto para usá-los para dilacerar minha carne. Usufruindo do reflexo apurado pela adrenalina eu me abaixei, deixando o animal passar direto por cima de mim e sem me levantar, ergui o braço atirador na direção de onde ele aterrissaria e assim que tocou o chão eu apertei o gatilho fazendo o projétil metálico raspar toda a pele de suas costas e acertar o queixo estilhaçando seus dentes inferiores, que retorcidos, eram os de cima.
Mesmo com seu queixo destroçado, o animal-monstro não se abateu, o primeiro cão então decidiu agir, correu com seu maxilar arrastando no chão, e ao alcançar 2 metros à minha frente, parou bruscamente e sua “língua” foi projetada para fora com o dobro da velocidade de sua corrida, tentei me esquivar, mas o ataque era incrivelmente rápido e o membro com sua própria mandíbula que aberta devia ter o tamanho de uma mão adulta alcançou minha perna esquerda, a boca na lingua não possuia dentes convencionais, estes eram arqueados para frente em formato de "x" com o comprimento de um dedo humano adulto, perfeitos para agarrar qualquer coisa que caiba entre os dentes e a boca. Enquanto preso pelo membro eu preparava minha pistola para atirar nesta "lingua", até o click metálico me indicar "cápsula vazia", antes que eu pudesse terminar de buscar o pacote com mais balas em minha calça, o membro esticado me puxou em tamanha violência que me fez tombar.
Sem ter tempo para utilizar a pistola, eu era puxado com tamanha força que mal conseguia competir, minhas unhas deslizavam pelo solo até irem de encontro a uma raiz, eu segurei firme esta, fazendo um “cabo de guerra” com a forte língua, eu me mantinha deitado no chão resistindo com toda a força de meus músculos, da mesma forma o monstro canino fincava suas unhas para não derrapar. Quase alcançando os limites da força de minhas mãos, eu pensei em buscar a escopeta, porém se com dois braços era difícil me manter ali, assim que eu largasse um para pegá-la nas costas certamente eu seria puxado, sendo assim eu devia realizar um movimento rápido e preciso.
Enquanto eu lutava com um, a outra besta iniciara sua segunda agressiva. Correndo por trás do que me puxava, o de cabeça contrária preparou um impulso, enrijeceu os músculos e então saltou por cima do outro para ir de encontro a mim novamente. Segundos antes do salto, eu larguei um braço para que da forma mais rápida que conseguia alcançar a Shotgun, como previsto não aguentei em apenas um braço e fui puxado a uma grande velocidade, tentando superar o pouco tempo que tinha do tronco até a bocarra eu mirei minha arma de duas mãos em um ponto estratégico.
O assalto foi rápido, de forma que toda a cena não passasse de vultos para mim. Eu estava já com a perna sendo engolida, enquanto que o segundo cão acabara de deixar o solo, mesmo que eu acertasse um, o outro me alcançaria, pensando nisso eu mirei nos olhos do que estava para amputar minha perna com a boca esticada e então fiz o disparo. Em uma diferença de segundos eu os atingi antes deles me trucidarem. A bala cilíndrica veio de baixo para cima na diagonal, atravessou o céu da boca do que me engolia e atingiu a barriga mal formada do que estava no ar, de cara reversa, e com um tiro eu matei ambos. Os órgãos da barriga estourada formavam uma trilha conforme o cão era jogado para trás em pleno ar, a língua soltara minha perna uma vez que parte do crânio do cão de boca anormal já não mais existia.
Eu estava sentado ainda estremecendo e tentando recuperar o fôlego, mas decidi agir ao ouvir novamente a tal voz.

–Não cesse, continue por aqui.

Levantei rápido e mesmo com a canela ferida pelo esmagamento da segunda boca, meus passos eram determinados.
Após mais alguns minutos mancando, eu encontrei uma fita presa no tronco de uma árvore, era a mesma usada para trilhar o caminho até o local do meu caso. Mesmo sabendo onde daria ao segui-la, o que vi foi ainda mais espantoso. O que antes não passara de 5 metros de podridão, agora se resumia a toda a paisagem que meus olhos conseguiam enxergar. Deviam ser mais de 20 metros de raio de área podre. Era visível junto ao mato gosmento, restos mortais de animais deformados. Eu adentrei esta área morta enquanto verificava a munição, mas para meu azar só me restavam 3 únicas balas no compartimento da Shotgun, e a pistola preta acabou se perdendo em meio à negritude florestal, dediquei alguns segundos mas não a achei no mato alto e uma vez que não podia mensurar o tempo de vida de Rachel, era idiotice procurar a noite toda pela 9mm. Minha atenção foi desviada da arma quando notei algo estranho no topo de uma das árvores ressecadas, desprovida de folhas, os galhos de certa árvore à minha frente serviam de base para um grupo de corvos, mas logo percebi que não eram amistosos e para piorar, também estavam infectados.
Eu tentei não fazer movimentos bruscos, mas ja era tarde eles sabiam da minha presença, pois agora olhavam pra mim. Ainda sim eu me afastava aos poucos, não havia muitas árvores saudáveis nas quais eu pudesse me esconder então tinha de chegar à parte não infectada da floresta. Mas o alvoroço entre as aves começou de repente e eu acabei me assustando, só consegui perceber que quase todos deixaram o galho morto na árvore para alçar um voo circular.
Alguns pássaros deste grupo conturbado mergulharam no ar de encontro a mim, mas também haviam outros que vinham de trás e no susto do ataque surpresa eu acabei sendo ferido na mesma perna já machucada, além do ombro direito, costas e braços com as unhas afiadas de 7 aves que me atacavam. Corri ainda manco para pegar um melhor ângulo, começando o segundo assalto, eles mantinham preparadas suas garras enquanto seguiam minha corrida, bem mais velozes. Parei de correr e me virei para trás, mirei e atirei no centro do amontoado de aves infectadas, derrubei algumas, um número que não consegui distinguir em exato qual era. Mas a leva de monstros continuava a descer, tive de cair de costas no chão para fazê-los errar nos cálculos e aproveitar a menor distância para em um último tiro derrubar mais algumas aves. Ainda que eu esquivasse ou atirasse nenhuma investida passava sem me causar ferimentos pelo corpo. Mais um tiro neles e então eu pude contar, faltavam 4. Agora sem balas eu tinha de dar meu jeito para derrubá-los. Visando meu corpo, os 4 desciam em horas distintas. Seus corpos não eram tão deformados apesar da infecção, não tinham nada de anormal a não ser o sangue que cobria boa parte de suas penas e algumas áreas até sem elas, estes seres gritavam enquanto enquanto voavam dificultosamente. Eu rolava de um assalto, abaixava de outro e sempre que me punha de pé após as esquivas ja aprontava minha arma que agora eu segurava pelo cano e conseguia desferir golpes violentos com o cabo de madeira dela. Com a asa quebrada, o único sobrevivente se contorcia no chão, seguro de que não havia mais atacantes, eu me aproximei deste e em uma atitude fria, ergui a perna não danificada para então descê-la com força na cabeça deste esmagando-a no chão.

Meu corpo estava precário, escoriações e rasgos por toda parte, minha camisa preta tomava tons avermelhados de sangue graças às múltiplas feridas, o andar era dificultoso e eu sentia minhas forças se esvaindo aos poucos. Mas dessa vez não era um simples cansaço tal qual as outras, era a própria morte que me espreitava de perto.
Uma vez alcançado o centro desta área amaldiçoada, eu já sabia que caminho deveria seguir e onde ele me levaria.
E apesar da dor, minha persistência era admirável. Sem mais ouvir a voz de Ana em minha mente, eu prosseguia, tendo como preocupação as feridas abertas causadas por contaminados, eu nunca tive um contato tão direto com infectados e não sabia que fins isso poderia levar, de qualquer forma eu precisava me apressar.
Cheguei então ao meu destino, não era certo de que Rachel estivesse lá, mas era o único lugar o qual eu conseguia pensar e justo para lá eu marcharia.
O OVNI, ou objeto voador não identificado, jazia bem em minha frente. No fim das contas eu voltei à um lugar de tamanho peso psicológico, minhas pernas tremiam e o coração quase saltava pela boca.

A área ao redor deste gigantesco objeto de um material similar ao metal também era reduzida à putrefação. Com dificuldade eu me arrastava pelo arqueamento diagonal do solo que descia até o chão da cratera, até ser interrompido quase no final do percurso por braços que me agarraram de mal jeito. Eu estava deitado me deslizando pela terra íngreme, o que tornava minha posição completamente desfavorável à minha libertação. Sem olhar para a cara do agressor, eu pude entender que se tratava de um monstro ainda mais esquisito que os outros, pois este possuía a inferior do corpo fundia à vegetação enegrecida e gosmenta do chão deslizante. A criatura berrava próxima a meu ouvido, eu não tinha espaço para usar a Shotgun, e toda a minha luta era em vão, não havia o que ser feito, a criatura me tinha bem diante de seus poucos dentes afiados e quando eu achava que nada mais podia ser feito, lembrei-me da faca. O monstro ainda aturdido pela minha agitação fincou sua boca em meu braço, enquanto ele ainda me mordia eu com o outro tateei o bolso e busquei a faca da igreja, em um movimento de pura fúria eu degolei o infectado de forma impiedosa. Rolei o que faltava de terra até o chão do buraco e ao meu lado veio junto a cabeça decepada.. fiquei alguns segundos me contorcendo de dor e raiva até mirar a cabeça que eu vitmei.. Era Carlos!

Eu me mantinha erguido a qualquer custo, tinha frequentes calafrios, a cada tempo que se passava eu perdia mais sangue. Contemplei de perto a imensa estrutura alienígena a rodeando até reparar em um detalhe: Havia uma pequena área mais limpa de resíduos orgânicos que o resto do corpo circular, me aproximei dela e então identifiquei em baixo relevo uma estranha escritura e na altura de meu ombro um círculo com seu diâmetro similar ao da palma de minha mão. Receoso e em movimentos lentos eu ergui a mão e toquei tal círculo com o palmo, assim que o fiz, uma linha luminosa contornou meus dedos e pude ouvir estalos metálicos vindos de dentro da estrutura.
Me afastei temendo o que poderia vir a seguir e o que se sucedeu foi um evento espetacular. A parte menos suja a qual eu descobri se dividiu em 7 outras finas por mais uma sequencia de linhas luminosas, essas partes então se moveram para fora criando degraus que culminavam em uma passagem para o interior da suposta nave.
Subi os degraus feitos da parede externa desta nave e atravessei uma estreita porem alta porta oval, assim que o fiz os degraus automáticos se encaixaram de volta formando novamente a parede, por 4 segundos eu não enxergava nada que estivesse fora da mira de minha lanterna, mas então as luzes se acenderam revelando seu interior.

A visão era fantástica, o local era extremamente luminoso de forma que meus olhos demoraram a se acostumar, sons, objetos e materiais completamente estranhos me rodeavam nessa sala de formato irregular. O que pareciam ser projeções de símbolos alienígenas, flutuavam sobre mesas com painéis eletrônicos, duas imagens permaneciam fixas em um lugar específica da parede, nelas eu pude identificar o desenho de um esqueleto humano e logo ao lado o que eu apostava ser o de um ET. Ali dentro eu não conseguia suprimir a euforia, afinal de contas eu estava presenciando um dos grandes mistérios da humanidade, a existência de seres extraterráqueos.
A sala era iluminada em uma baixa frequência predominantemente pela simples cor branca, mas também contava com o verde ou azul de muitos equipamentos complexos, seu diâmetro devia chegar a uns 7,5 metros de raio, e distante de mim eu avistei algo, era uma cápsula, a mesma de minhas visões.
Temeroso eu caminhei em sua direção até alcançá-la, seu comprimento era de um pouco mais de 2 metros por alguns centímetros de largura, a base era feita do mesmo material que os outros equipamentos da sala, quando que a metade de cima era constituída do que parecia ser vidro, e mesmo como na visão, não se era capaz de ver o que ele guardava pela fumaça, mas mesmo assim eu já fazia uma ideia do que poderia ser. Investigando o corpo de tal cápsula eu notei algo extremamente familiar, algo que vêm me acompanhando em meus pesadelos e visões desde que acordei do coma pós perda de memória. Na cápsula jazia estampado o número 12.
Cambaleei para trás, assustado, compreendi que o mistério a cerca das visões, da minha memória, de tudo, poderia estar dentro deste compartimento. Mas eu estaria preparado para o que poderia vir a seguir? Por que em um território Alienígena, jaz gravado um número terrestre? Acho que depois de tudo o que passei, não podia mais recuar pensando em meu estado psicológico, se ele já foi afetado então é mais do que justo chegar ao fim disto.
O mesmo desenho que vi na entrada, onde toquei para entrar, pude identificar agora mais uma vez à minha frente, eu toquei levemente o “vidro”, uma fraca luz azul emergiu sob meu palmo e algumas escrituras luminosas surgiram pouco mais acima, ainda no vidro, parecia ser um tipo de identificação, e pelo jeito... eu passei.
Assim que as luzes no vidro se apagaram, um barulho mecânico foi emitido da cápsula, eu me afastei um pouco e vi o vidro se levantar, preso em sua extremidade superior o vidro oval se ergueu até formar um ângulo de 90° com o tronco da cápsula. A fumaça escapava pelos lados e aos poucos o interior ia tornando-se mais visível. Dei alguns passos à frente curioso mais ao mesmo tempo com frequentes calafrios, meu suor saia gelado, tamanha era minha tensão. E quando finalmente a fumaça se tornou menos densa, eu pude confirmar o que já imaginava. Em fim o conteúdo era mesmo um deles, um corpo Alien.
O Alienígena deitado devia medir cerca de 1,80 de altura, com braços e pernas magérrimos, sua cabeça maior devia comportar um cérebro bem mais complexo que o nosso, 4 dedos finos saiam das mãos compridas, suas pernas pareciam as traseiras de um animal quadrúpede, mas ao invés de patas, seus “pés” pareciam com os de um humano porém desprovidos de dedos. Por um instante eu me mantive gélido, encarando algo tão misterioso e assustador, mas com as mãos bastante trêmulas, como que num movimento involuntário, eu lhe apontei minha mão e aos poucos a aproximei dele, era como se eu por algum motivo precisasse fazer aquilo. Me aproximei aos poucos até então tocar sua testa, a sensação era de um arrepio corporal, depois dormência, até chegar à perda de consciência.

Uma vez tocado o ser alienígena, senti como se minha alma estivesse sendo sugada, mas mesmo assim não conseguia afastar o braço, as luzes se apagaram, um novo lance de imagens me perturbou a vista, eram algumas das que eu havia sonhado ou visto desde que tudo começou, depois disso...silêncio.

Eu abri lentamente meus olhos, a visão embaçada e dolorosa mostrava o teto recortado com traços de luz, meu corpo estava dormente e com frio, uma forte dor de cabeça me incomodava. Estava estranhamente fraco e a visão melhorava gradualmente, ainda bastante tonto eu me sentei e dei uma olhada à minha volta, só quando me estabilizei pude perceber a magnitude do que havia acontecido. Percebi que estava dentro da tal cápsula, sentia seu estofado sob minhas costas, me pus sentado com dificuldades e explorando visualmente a sala eu identifiquei meu corpo caído no chão. Eu então, deveras espantado com a situação, redirecionei o rosto para minha frente, ergui às mãos à minha vista, infelizmente não eram mais mãos humanas.
Após alguns minutos tentando entender, ou até aceitar a situação, eu me forcei a manter a calma.
“E-eu...troquei de corpo”
Sim, de alguma forma agora eu não era mais eu, mas sim...um deles. O corpo que jazia deitado na cápsula número 12, agora era o meu corpo.
Entrei em desespero, com dificuldade eu saí da cápsula fria, mas estava desacostumado a mover tal corpo, então caía com frequência em minhas tentativas de me manter em pé. Visando reverter a situação eu tentava tocar a testa de meu corpo humano caído à minha frente, ensanguentado, mas era em vão. Passados 2 minutos treinando, eu aprendi a controlar o frágil corpo e assim que consegui me estabilizar em pé, uma porta se abriu poucos metros à frente, um gás ocultou seu interior por alguns estantes, mas logo pude ver saindo dele, Rachel, ela corria em direção ao meu corpo original.
–Vocês disseram que não iam machucar ele. –Ela me abraçava forte quase que chorando.
A princípio não entendia com quem ela falava, mas então vi o gás da porta cessar, e 3 seres surgirem dele tal como Rachel. Eram ET’s, provavelmente os donos da nave e os que me perseguiam aquela noite.
Voltei minha atenção para Rachel que parecia sofrer ao me ver naquele estado
–Espere Rachel, eu estou aqui. –Essas palavras saíram mais por pensamento, uma vez que com esse corpo não era possível emitir palavras humanas. Mas mesmo assim, ela pareceu ter reagido ao que eu disse, e então com os olhos lacrimejando virou-se para meu corpo atual.
–Senhor anjo? É você?
–Rachel, você consegue entender?!
–Estou te ouvindo dentro da minha cabeça -E era verdade, estávamos nos comunicando por pensamento.
–Que alívio em te ver bem, Rachel. –Eu me ajoelhava com dificuldades para abraçá-la.
–E como vou saber se é você mesmo? –Ela olhou mais uma vez para meu corpo humano caído no chão enquanto recebia meu abraço duvidosa.
–Sou Gabriel Antunes. Você é Rachel, filha de Ana e órfã. Eu sou seu Anjo da guarda e estou aqui para te proteger...-Desenvolvi-a com meu braços e me levantei, encarei sério as 3 figuras da porta que retribuíam o olhar sem reagir. -Mas antes, quero descobri o que aconteceu comigo.
Um deles deu um passo a frente, ao lado de seus grandes olhos negros era possível ver o que pareciam ser veias que emitiam fibras luminosas embaixo da pele descolorida dos seres, e assim que ele começou a se comunicar comigo, tais veias reluziram.
–Bem vindo de volta Número 12. Capitão –Sem necessitar mover a boca, ele dizia telepaticamente.
–Parece que agora posso entendê-los – Eu estava espantado por inúmeros motivos, dentre eles o fato deu descobrir que estes seres não são nocivos, eu agora podia me comunicar com eles e por algum motivo, me chamaram de “capitão”. Eu tinha de fato muitas perguntas a fazer. –Foram vocês que fizeram aquilo com os cidadãos?
–Indiretamente –Agora era um dos dois atrás que falava- Achávamos ter neutralizado tal reação causada pela exposição do corpo terrestre à nossas bactérias, mas parece que o efeito de nossa química é momentâneo. No entanto há humanos como Gabriel e Rachel que por sua composição genética rara, são capazes de anular essa reação viral devastadora.
–“como Gabriel e Rachel”? Espere um pouco, quem diabos sou eu?
–Não tarda as respostas virão, assim que recuperarmos sua memória. –O primeiro retomou a palavra -Precisamos que confie em nosso procedimento.
–Então podem mesmo recuperar minhas memórias?
–As chances são de 87%
– E porque não vieram até mim antes?
–Tentamos nos comunicar com você, mas o corpo de Gabriel apesar de raro, não era 100% capaz de traduzir nossas mensagens, tornando-as confusas, inquietantes e dolorosas em sua mente, tal como pudemos perceber.
–Então... os pesadelos e as visões –As peças começavam a se encaixar.
–Foi então que tentamos contatar Rachel, mas por algum motivo você também recebeu a mensagem telepática e como resultado acabou acidentando-se com o veículo, quanto a garota, sua consciência recebeu a carga da mensagem e a fez entrar em um estado similar ao de sonambulismo, seguindo então nossas coordenadas até aqui, onde através de um experimento conseguimos ampliar suas habilidades sensitivas, fazendo-a assim nos compreender perfeitamente.
–Então a voz de Ana, eram vocês?
–Nós não, Rachel. Com nossas habilidades, nós recorremos às aptidões sensitivas de Rachel para que a humana lhe mandasse às coordenadas até aqui.
–E-Eu..entendo... - Então algumas visões até que faziam sentido, tendo em mente que era uma forma forçada deles se comunicarem comigo, como o pesadelo da janela ou o bilhete no poste falho.
–Gabriel, o que vocês estão falando? –Rachel puxava meu braço, parece que ela já acreditava em mim.
–Vamos tentar reaver minhas lembranças- Eu dizia esperançoso. Parece que enfim este mistério insolúvel se resolveria.
–Acompanhe-nos até a maca –Manifestou-se o terceiro.

Eu me deitei, aparelhos complexos eram conectados à minha cabeça, raios de luz violeta eram atirados em minha direção de cima para baixo, senti-me dormente, a visão embaçou e enquanto eu desfalecia senti algo segurando minha mão, era Rachel.
–Eu vou te proteger senhor anjo. –Ela sorria.

A visão vacilou, novamente as luzes obscureceram e imagens me assediaram, mas desta vez elas vinham acompanhadas de minhas reais memórias... Eu finalmente lembrei quem sou.

[Interior do UFO (Mais iluminado e menos verde)


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