Número 12 [Fic de Terror] escrita por KenFantasma


Capítulo 5
5° Capítulo - O anjo sem asas




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Com minhas roupas molhadas eu passei a noite tremendo de frio, mas já era de manhã e o primeiro raio solar atravessava a janela tomando a cor do desenho e aquecendo meu rosto, lá fora o clima mudara, de uma noite fria e chuvosa para uma manhã calorosa.
Desta vez nenhuma imagem atrapalhara meu sono, por tanto pude ter um descanso sereno.
Com o feixe solar incomodando meus olhos e a perturbação pela ocasião, eu não dormi por muitas horas, era como se meu cérebro soubesse que precisava descansar só o necessário para eu me manter com forças, pois a qualquer segundo eu poderia ser atacado.
Bocejei, expus as pupilas, ergui o tronco, respirei fundo, olhei à minha volta e me mantive pensativo por alguns segundos. Apesar do terror ter passado, meu olhar não estava como antes, estava mais frio, determinado e inabalável.
Apesar de acordado eu me mantinha no chão, descansando e refletindo um jeito de sair dessa situação. A cidade só possuia um lado onde pessoas iam e vinham do exterior, do lado oposto residia a imensa floresta. Para se chegar nesta cidade é preciso passar por uma ponte que corta o desfiladeiro e seguir por muitos quilômetros de estrada beirando a floresta até alcançar a cidade.
A pergunta era: Ninguém la fora havia notado o que estava acontecendo aqui? Onde estariam os reforços, o exército? Então que eu me toquei. Na verdade alguns corpos infectados foram levados para análise secretamente fora da cidade, sendo assim haviam duas hipóteses: Ou eles planejam isolar a cidade, lacrar qualquer tipo de interação com o mundo à fora na tentativa de lacrar a infecção nesta cidade; Ou os corpos enviados, tornaram-se autores de outra epidemia de monstruosidades, desta vez em outras cidades, quem sabe até esta malevolência sanguinária não acabe por alcançar todo o globo terrestre? Se for este o caso, seria nada mais que um pandemônio, basicamente... o fim do mundo!
Eu definitivamente devo estar sozinho, ninguém sobreviveu além de mim, e o que diabos de alucinação foi aquela sobre o OVNI na floresta? Por que eu tenho que passar por isso? Estou sendo testado por Deus?
Meus amigos e Ana todos se foram de forma diabólica, deixando-me para trás neste crepúsculo do que é normal. Não eu não quero passar mais nenhum minuto aqui sozinho. Mesmo que eu saia disso, quem irei abraçar enquanto este agradece por eu estar vivo? Ninguém, ninguém mais...
E foi sob a tortuosas conversas comigo mesmo que eu, já sem vontade de prosseguir me pus em pé, ainda tonto, e recolhi de uma de duas facas que repousavam em "x" na moldura presa à parede, voltei a sentar quase como se tivesse levado um tombo, visualizei o instrumento por um tempo até apoiar seu gume em meu pulso esquerdo. Senti a lâmina gelada colada à minha pele frágil. "Que diferença faz? Eu ja morri para este mundo mesmo.", era a frase que me acrescentava coragem para mover o punho, e o fiz, pressionei a faca e comecei a corre-la, abrindo a carne. Mas antes que eu terminasse a primeira linha de corte em meu pulso, eu ouvi um grito ecoando do salão principal, seu autor parecia ser uma menina, talvez ela devesse estar sendo atacada e eu tinha que agir.
"Então, será que existe mais alguém vivo? Ou é apenas mais uma transmutação tardia?"
De qualquer forma eu desisti do que não terminei, e como se aquele grito me desse energia para continuar eu compreendi, que mais que me matar eu desejo salvar aquela pessoa. Saquei minha pistola enquanto corria para ajudar, a faca era segurada na outra mão, o corte eu envolvi em um pano qualquer que amarrei ao pulso, abri a porta que dava ao corredor e em seu término, o salão.
Ao alcançá-la eu pude entender a situação. Vi uma garotinha que aparentava ter entre 7 a 9 anos de idade, ela era imprensada contra a bancada do orador da igreja, uns 2 metros à frente jazia mais uma das criaturas horrendas as quais eu enfrentei, seu rosto estava em carne viva e afundado entre os ombros, seus olhos pareciam saltar para fora a qualquer momento de tão esbugalhados juntos a um líquido negro que os descia, um de seus braços foi parar nas costas e de seu ombro saltavam 4 nojentos tentáculos, cobertos de uma substância gosmenta que seguravam pernas e braços da menininha a impedindo de fugir.
A garota foi erguida do chão pelos membros desossados, enquanto ela gemia tentando se livrar à força do aperto, o infectado a aproximava de si. De sua barriga surgiu uma linha que a cortou horizontalmente para depois se abrir dando origem a uma bocarra nada convencional. Uma boca de 3 fileiras dentárias se abriu, tamanha era sua abertura que as costas do monstro se envergavam para trás, e muito provavelmente nela cabia o corpo inteiro da garota.
A pequena indefesa estava cada vez mais próxima dos dentes finíssimos que a cobiçavam, entre eles uma língua comprida e ensanguentada se pôs a mostra, saindo da boca em direção à garota como uma cobra d’água que nada em pleno ar. Reguardei a pistola e pus a faca no bolso, saquei a escopeta... mirei... esperei.
Segundo a direção do corredor no qual eu acabara de trespassar, eu estava na lateral do saguão, com ambos virados de lado para mim, aproveitando isso, quando a língua estava para tocar a pele da jovem, eu dei o disparo, fiz um movimento para frente e para trás em um mecanismo na arma que cuspiu a cápsula vazia e recarregou da próxima, então atirei de novo. As duas balas cilíndricas acertaram 3 tentáculos em cheio junto a um pedaço da língua. Apesar dos tentáculos decepados que a seguravam continuaram pressionando-a como um tipo de reflexo nervoso, outros que não foram afetados pelo tiro a soltaram graças ao susto que a criatura levou. Uma camada de sangue com textura espessa sujou o chão da igreja e com ele um grunhido que ecoou pelo salão. Após reagir diante da dor ele pôs sua mão direita, a que não havia se entortado como à esquerda, no chão, e tamanha era a força da bruta mão e suas garras grossas que o piso rachou, a criatura se apoiou nas pernas curtas e grossas e em questão de segundos avançou pra cima da menina em um pulo feroz. Ainda com a arma apontada eu dei um tiro, mas como estava em movimento e sua cabeça era pouco visível, eu acertei seu ombro, fazendo-o desviar alguns centímetros da sua rota e caindo pouco ao lado da menina, que se encolheu de susto.
Após cair, o mostro tentou se levantar, enquanto isso eu corria em sua direção pronto para lançar a última cápsula da escopeta em um tiro fatal e quando eu me pus atrás do infectado, mirei a arma. Ele levantou com dificuldade, mas assim que se pôs em pé, eu parei e pressionei o gatilho.
–Vá pro inferno!- Eu disse segundos antes de estourar a pequena cabeça monstruosa.
Com o impacto o corpo apesar de pesado, foi empurrado para frente, chocando a boca contida na barriga no solo firme, estilhaçando alguns dentes.
A cabeça fora estourada, a criatura morta. Com o feito, eu andei em direção à garota imobilizada, eu estava espantado que ainda existissem sobreviventes, isso me dera novas esperanças.
Quando eu estava para guardar minha arma de fogo para ajudar na libertação da garota, notei os olhos dela se arregalando.
–Atrás de você! – Ela gritou
Quando olhei para trás, vi o corpo monstruoso estremecer, a pele estava sendo remexida, como se alguma coisa dentro do bicho estivesse se locomovendo por entre seus órgãos. A criatura supostamente “morta” se movia novamente, e agora estava em pé com o corpo se contorcendo de forma anormal. Do buraco ensanguentado que deixara entre seus ombros, um músculo comprido foi se formando até dar origem a um novo e único tentáculo, porém esse era diferente. Além de maior e mais encorpado, nele havia diversos olhos espalhados por sua superfície, todos os seus glóbulos oculares miraram em minha direção, pareciam enxergar perfeitamente. Minha presença fora anunciada e ele ia reagir a isso.
–Ô merda! - Resmunguei com cara de insatisfação e cansaço.
Tentei ser rápido, no menor tempo possível preparei as balas para carregar novamente minha escopeta vazia, mas o tempo de reação da criatura era mais rápido que o calculado por mim. E com o compartimento de balas ainda aberto, o tentáculo que devia medir 1 metro e 35 cortou o ar em uma velocidade que não me deu tempo de esquivar. O tentáculo dotado de visão me agarrou forte e me suspendeu no ar, a arma foi arremessada longe espalhando as cápsulas recém postas pelo chão.
Sem perder tempo, tendo me atado, a criatura sem cabeça girou os quadris e com toda a força que tinha me arremessou longe, tamanha era a violência do movimento que assim que minhas costas se chocaram com uma cruz de madeira com provavelmente o meu tamanho, ela se quebrou partindo-se no meio, meu corpo passou pelo objeto cortando-o e parando alguns centímetros atrás dele. A parte superior, na qual sustentava os “braços” e a “cabeça” da cruz, caiu em cima do meu corpo ferindo-o ainda mais. A estrutura simbólica possuía detalhes pontiagudos em seus extremos e era pintada de branco com detalhes durados, apesar de ser de madeira e quase fina, era pesada.
O choque foi forte e com meu corpo ainda se recuperando dos esforços físicos de dias anteriores, eu não resisti e acabei por desmaiar em meio à poeira sendo exibida pelo feixe luminoso da janela.
A menina gritou e com isso a atenção do monstro se voltou a ela, ele então a pegou pelo pescoço com seu tentáculo fortificado e a elevou, retirando-a novamente do chão enquanto aproximava a refém de sua bocarra ensanguentada. Seu pescoço estava sendo fortemente pressionado e com isso ela se remexia ainda presa pelos membros decepados. A comprida língua também cortada saiu novamente de sua boa e deslizou pela pele macia da menina, como se estivesse provando o sabor antes de triturá-la em seus dentes. O rosto e roupa da garota eram marcados de sangue conforme a língua os alisava.
Diante tamanha adrenalina, minha mente se esforçou para me trazer de volta. A visão era embaçada e a cabeça zonza, mas mesmo assim eu me esforcei para me levantar. Ouvi um som abafado do grito da criança enquanto tentava não cambalear. Aos poucos fui retomando os sentidos, visão e audição voltaram ao normal, mas ainda estava tonto e dolorido. Olhei para o chão e vi minha escopeta pouco à frente da criatura aberta com suas balas em volta, tentei buscar a pistola mas reparei que o cinto havia se soltado e eu não conseguia encontrá-lo mesmo após visualizar todo o chão, se estoura-lhe a cabeça com o tiro não adiantou, não seria a faca sem ponta que nos salvaria dessa. Olhei o monstro esgoelando a garota e pronto para devorá-la, notei que em suas costas havia uma marca peculiar em alto relevo que chegava a pulsar, mais parecia... seu coração!
A garota sentiu os olhos obscurecerem e o bafo da boca a dificultava na respiração, ela sabia que não lhe restava mais tempo de vida. Quando deu uma última olhada na língua que continuava a lhe perturbar, viu que a mesma inesperadamente se contorceu reentrando na boca, logo depois o tentáculo que a sufocava afrouxou deixando-a cair no chão. A menina tossia enquanto tentava se recuperar, após voltar ao normal tentou entender o que acontecera e ao olhar a criatura, se deparou com uma cruz de madeira fincada em suas costas que atravessava a "goela" e saia pela boca mutante.
Apesar de pesada eu consegui enrijecer meus músculos doloridos e juntar forças para levantar a parte superior da cruz que eu havia quebrado, e aproveitando os extremos pontiagudos eu havia corrido na direção do monstro e a fincado onde seu coração parecia estar à mostra, apostei no fato de que aquele seria seu ponto vital, já que a cabeça parecia não mais existir. Eu tinha acertado e a criatura se contorcia. Sob a luz solar colorida, a criatura caiu de joelhos em cima da cruz, e sem que seu tronco encontrasse o chão,sustentada pelo artefato de madeira em pé, assim ela morreu.
Após nos recompormos, eu utilizei a faca para libertar a garota, catei as balas da escopeta e a pus no lugar, achei a pistola mas o cinto rasgara, então a prendi na calça. Após ajeitar tudo o que precisava, dei uma última checada no corpo infectado, os olhos do tentáculo haviam enegrecido e o mesmo murchado. Enquanto eu investigava o ser, a menina veio de encontro a mim.
Seu cabelo era curto, não passava do ombro, seus olhos verdes me faziam lembrar Ana... e talvez fora justo essa peculiaridade que me fize ter certa “paz” ao encará-la. A menina trajava um vestido jeans, constituído por uma saia com alças presas ao ombro e uma parte pequena que subia da saia cobria a barriga, sua camisa era de um rosa fraco agora manchado de vermelho-sangue.
Ela corre e abraça minha cintura, seus olhos inchados de tanto choro, após um tempo eu me abaixo e a abraço de volta.
–O-Onde tão suas asas? – Ela dizia fitando minhas costas e enxugando o rosto ao mesmo tempo.
–Como? Asas? –Imaginei milhares de perguntas que ela poderia estar querendo fazer nesta situação, e no final, é isso mesmo que ela pergunta?
–Sim ué, você não é meu anjo da guarda?
–E de onde você tirou isso? –Eu a parei de encarar, levantei e comecei a dar uma boa estudada no salão.
–Ué você não sabe? Eu tava com medo então corri pra igreja e pedi pra Deus me mandar um anjo da guarda que me protegesse dos monstros, aí ele mandou você. –Ela então abriu um sorriso inocente.
–Desculpa garota, mas não sou nenhum anjo. –Eu dizia com um pouco de receio de decepcioná-la.
–Entendi, então você é um anjo mas não se lembra. –Ela parecia realmente acreditar nisso.
Eu precisava me certificar de que não havia mais nada ali, voltei ao corredor e investiguei outros cômodos até achar um quarto, era simples. Possuía duas camas de solteiro, um frigobar e armário, dentre outros móveis básicos e uma única janela circular localizada entre as camas quase encostando no teto de tão alta.
A menina que me seguira o tempo todo viu a cama e então bocejou suavemente.
–Você também deve estar cansada né? Vamos dar um pequeno cochilo antes de fazermos qualquer coisa. –Eu dizia retirando roupas de cama do armário velho.
– A gente não pode dormir, e se os monstros pegarem a gente?
–Vou trancar a porta, estaremos seguros aqui.
Preparei tudo para nosso repouso. Já era de manhã, mas precisávamos desse tempo para descansar, afinal a fadiga poderia muito bem implicar à morte lá fora. Ela se deitou, eu a cobri, seus olhos demonstravam exaustão, talvez tivesse virado a noite fugindo das criaturas. Após pô-la na cama eu me deitei na ao lado.
–Ei senhor anjo, o que vamos fazer agora? –Deitada de lado e com a cabeça apoiada em seu braço dobrado, ela dizia como se quisesse uma resposta que a deixasse dormir mais tranquila.
–Não sei, mas se eu e você não nos tornamos uma daquelas coisas, então devem haver mais pessoas que também não viraram. Precisamos procurar por sobreviventes e então tentar pedir ajuda de fora.
–E de onde vieram os monstros? Eles me dão medo. –Ela pôs sua cabeça junto ao resto do corpo sob a coberta e se encolheu.
Eu então fechei meus olhos, já pronto para dormir, e pensei. Como eles surgiram? Até agora eu calculei que foi uma infecção, mas de onde tal vírus veio? Será ele o mesmo que eu porto?
–Menina, qual o seu nome? – Eu continuava sem abrir os olhos.
–Rachel, e o seu? –O tom de voz agora parecia mais sereno.
–Gabriel.
–Gabriel, o anjo Gabriel. –Pôs de volta o rosto à exposição.
–Onde estão seus pais? – Será que ela havia presenciado os próprios pais se transmutarem?
–A irmã disse que meu pai virou uma estrela no céu e minha mãe está em algum lugar, e logo, logo viria me buscar no orfanato.- Talvez "irmã" seja referente a alguma freira, então Rachel era de um orfanato.
–Rachel, você acredita em ET’s? – Eu devia prepará-la, eu imaginava ser aquilo nada mais que minha imaginação, mas.. e se não fosse?
–Sim ué, o moço da cantina disse que eles são nossos amigos e só vieram aqui para observar a gente.
Eu não sabia o que pensar quanto a isso, talvez eles possam mesmo ser amistosos, mas se forem, por que me perseguiam? Quais eram suas verdadeiras intenções? Estão apenas nos observando, ou planejam fazer algo?
Eu preferia não pensar muito sobre o que estava acontecendo, pois temia que meu cérebro não suportasse tamanha pressão acerca dessas inquietações.
Primeiro veio o meu caso, onde eu acordei na floresta sem quaisquer vestígios de lembranças pessoais, depois encarei pessoas se transformando em abominações horrendas, descobri em meu sangue uma bactéria anormal e ao investigar a floresta, presenciei a podridão na vegetação a qual eu acordei de meu suposto coma e como se não bastasse, descobri lá que talvez existam mesmo seres alienígenas, e algo me diz.. que eles estão atrás de mim. Mas qual seria o motivo de me perseguirem?
Eu tinha escolhas: Ou tentava descobrir sobre tudo, ou ignorava os acontecidos e fugia dali o mais rápido possível. Que escolha eu deveria fazer? Afinal o que diabos tava acontecendo comigo e com as pessoas ao meu redor?
–Você foi muito corajosa tendo conseguido fugir destes monstros. –Pensar nestas perguntas indecifráveis só me trazia mais dor de cabeça, então eu deveria ocupá-la com outro coisa, pelo menos por enquanto.
–Eu nunca tive medo do escuro. Minhas amigas ficavam com medo de ir no banheiro, elas falavam que tinha monstros lá, mas eu sempre fui corajosa e passava sozinha pelo corredor. Mas mesmo assim eles me assustam muito. Ei senhor anjo, o senhor vai me proteger deles num vai? – Sua voz ia se enfraquecendo conforme falava, dando indícios de sonolência.
Eu pensei por um instante. Deveria fazê-la desacreditar deste fato e dizer que a menina precisa se virar sem a minha ajuda para não acabar me atrapalhando? Mas a presença dela me trazia paz, com isso um sentimento quase paterno para/com ela. Eu só queria que ela descansasse sem sofrer como eu.
–Sim, Rachel, eu lhe protegerei...prometo...que te protegerei. –Minha voz foi se dissipando até sumir com meu sono.

Despertei para aquela tarde morta, o silêncio fantasmagórico da cidade era cortado por baixíssimos sons de rugidos e grunhidos que ecoavam de poucas direções ao longe.
A menina jazia deitada na mesma cama que eu, abraçada ao meu braço, eu olhei seu rosto angelical e me perguntei como esta pequena menina estaria conseguindo suportar esta situação. Depois de ter provavelmente visto seus amigos morrerem ou se transformarem, depois de fugir sozinha para a igreja durante este pandemônio e ainda quase ser devorada viva por um deles, como ela não está desesperada? Chorando sem cessar de medo? Como sua mente frágil ainda não havia cedido à demência? Ou talvez este sorriso seguro que ela é capaz de demonstrar ante este cenário seja exatamente... a sua insanidade?
–Rachel, acorda, vamos comer algo e voltaremos às ruas. –Eu balançava seu ombro.
–Ãh? E se eles nos pegarem lá? –Ela coçava os olhos com as costas da mão.
–Não vou deixar que nos peguem, afinal eu sou um anjo não sou? -Eu sorri, e com isso a empolguei fazendo-a sorrir também.
Nós buscamos alimentos na geladeira que fossem de rápido preparo, apesar de estar faminto por não comer a muitas horas, eu não podia exagerar.
Minha jaqueta estava suja de sangue infectado e com alguns rasgos, então a descartei antes de me deitar, ficando somente com uma blusa preta para me proteger do frio que por sorte, não estava tão intenso este dia. Após a refeição nós fomos ao depósito onde eu dormira na noite anterior para então rumar às ruas da cidade. Eu parei em frente à Rachel e então lhe mostrei a pistola.
–Use isso para se proteger, aperte este botão para baixo, mire no monstro que estiver te atacando e então pressione este outro aqui para atirar nele, ok?
Ela sinalizou positivamente com a cabeça e eu então pus a arma presa à roupa da garota.

Já nas ruas podíamos sentir um cheiro desagradável, alguns corpos cortados ao meio, outros desmembrados estavam espalhados pela rua e calçada, alguns foram parar até mesmo em cima do telhado de algumas casas. Postes caídos, carros batidos em estabelecimentos, sangue na parte interior das janelas das casas. O cenário era horrível e ainda sim, a menina presenciara tudo.
–Evite chegar perto das portas, eles podem sair de uma delas a qualquer momento. –Eu já a alertava. Minha escopeta jazia preparada entre meus dedos.
Rachel andava agarrada à minha sempre atrás.
–Aquela casa parece estar intacta, vamos entrar. –Achei que por isso ela havia menos chance de abrigar algum deles.
Olhei à minha volta, nada parecia nos seguir, então da janela analisei o interior da casa, estava limpa.
–Segure firme sua arma, Rachel, podemos ser atacados em questão de segundos. –Ela obedeceu.
Passamos pela porta destrancada em passos cautelosos, a fechei e pedi que Rachel permanecesse ali enquanto eu investigava o resto dos cômodos. Na cozinha encontrei o telefone fixo deitado sobre uma mesinha, o retirei do gancho e o pus em meu ouvido, mas para minha decepção, estava sem sinal. A televisão não mostrava nada além de chuvisco, da mesma forma o rádio emitia um som distorcido, como se o sinal estivesse sendo desviado por outro receptor. Voltei para Rachel.
–Parece que esta cidade está completamente desconectada do mundo a fora, sendo assim não podemos pedir aju... -Antes que terminasse, Rachel me interrompeu.
–Gabriel olha! –Ela com uma feição de espanto encostou sua coluna à porta fechada e apontou para uma segunda porta que jazia aberta dando para o quintal nos fundos.
Ao me virar vi que em pé pouco antes de atravessar a porta, um infectado gemia baixo. Seus dois braços se alongaram tanto que agora eram arrastados no chão, seu pé direito estava torto para trás, fazendo-o mancar, seu rosto não era tão monstruoso quanto os anteriores, mas ainda era preenchido por sangramentos e escoriações que corroíam sua pele, os dentes amarelados vibravam junto ao som que o infectado emitia. No entanto este não parecia como os outros, ele parecia menos...vigoroso. O homem de membro esticado mancou devagar adentrando a casa, mas ele não parecia ter notado nossa presença, seus olhos sequer se mexiam, após dar dois sofridos passos já no interior da cozinha, ele então caiu como se já não tivesse mais forças. Com a escopeta mirada em sua cabeça, eu mantive posição esperando por uma reação, mas o monstro que ali caíra, ali ficara. Cheguei mais perto e o dei leves chutes até entender. Morreu sozinho, não parecia ter sido ferido por alguém apesar dos machucados em sua pele.
– Não acha estranho? –Me virei para Rachel. –Não estou ouvindo mais tantos monstros quanto antes, na verdade não ouço mais anda além de silêncio na cidade.
–Talvez eles tenham ido embora. –Ela alegava inocentemente.
Então eu lembrei ter visto alguns corpos que pensei serem de pessoas que foram mortas enquanto passavam pela fase de transmutação, mas talvez não fossem bem isso. E se forem de criaturas como esta? Que vagou durante a noite e o dia nestas ruas, mas ao cair da tarde, seu tempo de vida se esgotou? Então significa que estes monstros possuem um tempo antes que o mesmo vírus que os deformara, os matassem de vez? Não era uma certeza, então eu precisava investigar mais a fundo.

Enquanto percorríamos as ruas ensanguentadas, ouvíamos ao longe algumas vezes, berros agonizantes que baixavam até se calarem. 2 criaturas apareceram em nossa frente, em nenhuma delas eu precisei disparar contra, todas faleceram antes disso.
–Vê isso Rachel? Parece que finalmente está acabando, os monstros estão morrendo. Não correremos mais perigo!
– Eu sabia que Papai do céu ia ajudar. Eu sempre rezei pra ele antes de dormir, aí agora ele tá atendendo, né? –Ela quase lacrimejava emocionada em sua fé.
Agora que o número de monstros à solta diminuiu drasticamente, eu tomei a liberdade de gritar para atrair a atenção de possíveis sobreviventes.
Enquanto caminhávamos e eu tomava fôlego antes de lançar mais gritos, a menina, agora minha protegida puxava conversa.
– Senhor anjo, você tem pais?
–Se eu tenho não me lembro, minha memória foi apagada há algumas semanas.
–Hm... A freira falou que minha mãe só me colocou lá por que não podia me criar, daí ela arrumou um emprego e viria esse ano pra cidade me buscar.
–E qual o nome da sua mãe?
–É Ana. –Ela sorriu ao pronunciar tal palavra.
Assim que ouvi novamente este nome, eu cessei meus passos. Meu rosto tomou uma forma espantada. Será a mesma Ana que eu conheci? Antes de morrer, era em buscar a filha que Ana se preocupara? Eu até poderia arranjar teorias que provassem o contrário, mas de fato o olhar dessa menina me lembra imensamente o de Ana. A garota na qual eu prometi proteger, era no fim das contas, filha da mulher que eu matei com minhas próprias mãos. Agora mais do que nunca eu sentia certo laço com esta menina, era come se um pedaço vivo de Ana estivesse aqui comigo. Ela achava que a mãe ainda estava em São Paulo, ao menos até que tudo tenha acabado eu nada direi sobre o paradeiro da mãe, pois ao menos assim ela encontra motivo para continuar sendo forte.
–Não, apenas estava pensando sobre u... –Antes que eu terminasse a desculpa, caí no chão de joelhos e apertei forte os olhos. Era uma nova onde de imagens que me assediavam. Elas pareciam estar se tornando mais frequentes e sem o capricho de aparecerem somente em meus sonhos, agora me atacavam em plena luz do dia.
As imagens não eram tão indescritíveis como o usual, então eu pude ver claramente esta mesma rua em que agora estávamos, porém de noite. As imagens seguiam como se fossem minha própria visão, porém fragmentada em cortes curtos. Nesta rua durante a noite, identifiquei um poste piscando, o único aceso em meio ao breu da cidade sem iluminação, conforme o poste se aproximava, pude ver um bilhete preso a ele, e do nada as imagens focam neste mesmo bilhete, nele havia algo escrito e apesar de um pouco embaçada pude ler: “Não há sobreviventes”.
As imagens pararam junto a dor de cabeça que jazia mais forte que nunca. Após chacoalhar o rosto, eu levantei e sem olhar para Rachel, comentei.
–Eu tive uma visão, e algo me diz que somos os únicos vivos nesta cidade.
Apesar de não acreditar 100% na minha “visão”, eu decidi confiar nela. Mas essa "revelação" definitivamente acabou sendo um peso, para ambos.
–Foi Deus que disse isso pra você na sua visão? –Depois de saber que tenho “visões”, perdi a memória e combato estas criaturas, não me admiraria ela acreditar ainda mais em mim como sendo um ser sobrenatural.
–Eu não sei quem foi, mas não tenho certeza absoluta de que está certa, então ao invés de irmos rua por rua, nosso destino será o mercado, onde pegaremos o que pudermos e arranjaremos um veículo no estacionamento, após isso sairemos desta cidade. Até lá, continuaremos procurando por mais resistentes.
Ela aceitou e então segurou minha mão, mantendo a arma que lhe dei na oposta.
Mas antes de retomarmos a caminhada, eu sacolejei mais um pouco a cabeça que ainda estava zonza, e assim que segui meus olhos pelas nuvens que já enegreciam com o dia dando lugar à noite, vi uma silhueta sobre um prédio comercial, exatamente na direção em que o sol se deitava, e eu tinha certeza, era um deles! O recorte escuro no fundo laranja era de um humanoide magérrimo e alto, com um formato craniano que superava a medida humana.
Fiquei um tempo observando a figura até que Rachel deu puxões em meus braços, o que desviou minha vista, mas assim que tornei a fitar o alto do edifício, nada lá havia.
–Viu algum fantasma? – Ela brincava.
–Tão assustador quanto – Sem querer mentir nem assustá-la, eu a dava respostas vazias.

Chegamos a um supermercado no cair da noite. Para nossa decepção ele estava fechado, com camadas gradeadas lacrando o acesso às portas exteriores, no entanto isso não era mais que um contratempo. Logo achei um carro cujo dono estava a alguns metros no chão envolto em suas tripas, peguei suas chaves e usei o carro para forçar a entrada no mercado.

Um barulho de motor ecoou pela rua, o grito da borracha arrastando no asfalto se unia à fumaça e cheiro de pneu queimado, o carro voou e o que se sucedeu foi um estrondo metálico...retomado o silêncio.
O mais estranho era que mesmo sabendo que todos provavelmente já haviam falecido, ainda havia aquele frio na barriga de medo pelo barulho na calada noite, o que poderia acarretar no despertar da atenção de alguns deles, caso ainda houvesse criaturas vivas.
Com o carro como abertura, amassando a grade, pudemos sair dos bancos dianteiros já dentro do supermercado. Bem como já era perceptível por fora, algumas luzes do local ainda jaziam acesas mesmo estando evidente que estava fechado. Ou as luzes não puderam ser todas apagadas pelo incidente da infestação ou elas foram acesas logo após ela.

Uma vez no estabelecimento gigantesco, vasculhamos o perímetro à procura de inimigos, assegurado que nada lá podia ameaçar nossa segurança, decidimos descansar um pouco antes de partir. Nos servimos com os estoques de alimentos e vestimos roupas novas (Pra mim uma blusa vermelho escuro de algodão com mangas cumpridas, uma calça jeans preta presa a um cinto de couro e botas negras nos pés; para Rachel um vestido verde-musgo que se estendia até a coxa, os pés cobertos com meias até o joelho listradas de cor rosa e azul e sapatilhas confortáveis na cor preta). Passamos um tempo conversando e nos conhecendo melhor, mas a cada palavra que saia da boca da menina, eu sentia como se estivesse voltando ao passado, onde eu jazia sentado à mesa junto à charmosa jornalista.

–Senhor anjo, promete que quando sairmos daqui você vai procurar a minha mãe comigo? –Ela estava sentada no mesmo sofá que eu, terminávamos os últimos pacotes de um biscoito salgado.
–Sim, acharemos sua mãe, ela sem dúvidas esta esperando por você e ansiosa para te ver. – Tudo o que ela precisava agora era de motivação - Por tanto vamos apertar o passo e sair logo daqui.
Cessamos o último lanche para catar os recursos para nossa viagem de carro até uma cidade vizinha, teríamos que levar alguns alimentos, armas, roupas e equipamentos para caso aconteça algo durante a noite e precisemos adentrar a mata.
Com uma mala de viagem eu guardei todo o necessário, deviam ser já umas 8:00 da noite. Era hora de partir.
–Ok, Ta na hora. –Eu fechava o zíper da mala
–Ah, esqueci uma coisa! Espera, não fecha a mala ainda. –Ela saiu correndo sem dar mais explicações, e acabou desaparecendo ao virar um estande.
Eu andei em sua direção me preparei para gritar para que ela não se afastasse muito, mas acabei tendo minha atenção roubada por uma folha de revista, era uma revista de Ufologia, onde na capa falava sobre as aparições que ocorriam nesta floresta a qual eu tive o desprazer de visitar noite passada. Pensei por mim mesmo: Será que devo mesmo sair daqui agora? Não devo tentar descobrir o que está acontecendo com esta cidade maluca? Não! Não quero me submeter a mais torturas psicológicas, se for para escapar deste hospício eu abandono todas as inquietações, desde o crepúsculo da minha memória até a descoberta de alienígenas nesse lugar medonho.
Rachel voltou com um urso de pelúcia abraçado , com sua feição de tristeza e pena me encarando eu não pude negá-lo a ela.

A lua estava cheia e pulsava brilhante no céu limpo, pegamos o mesmo carro da entrada forçada e saímos do buraco arrombado. A cidade tornara-se terrivelmente mais aterrorizante quando se tem ciência das coisas horríveis que acercam ela.
Com apenas o barulho do motor do carro, sem nenhuma manifestação de vida nos corpos que tivemos que desviar pela estrada, nós conseguimos enfim sair da cidade.

Eu parei o carro já na estrada que rumava à cerra e então olhei para trás, vi a cidade fantasma, uma sensação inexplicável de medo, misturado a alívio e mais inquietação veio a tona, eu então olhei para Rachel, que estava sentada no banco ao lado, com o cinto envolto em seu tronco e seu bichinho de pelúcia sendo fortemente apertado pelos braços trêmulos.
–Finalmente acabou...
Ela apenas sacudiu positivamente a cabeça, e acabou deixando escapar algumas lágrimas.
Religuei o carro e seguimos em frente.

A estrada era de um absoluto breu, tendo somente os faróis do carro como guia. De ambos os lados nada havia além de árvores, era a floresta sendo cortada ao meio melo caminho pavimentado. Rachel já parecia mais calma. Liguei o rádio, tentei sintonizar em alguma rádio, mas só conseguíamos ouvir chuviscos, até que de uma estação parecia estar saindo algum som a mais, tive esperança de conseguir melhorar o sinal à medida que eu me aproximava da cidade grande. E de fato os chuviscos diminuíam gradualmente, mas eles revelavam um som distorcido, não era música, era em sí uma fala, talvez uma conversa, aumentei o volume para tentar entender melhor, mas isso não favoreceu em nada para meu relaxamento.
Ainda com chuviscos e por mais que eu mudasse de estação, o som era exatamente o mesmo como se algo estivesse interrompendo o sinal. E de fato era, eu cheguei a sentir ânsia de vômito ao entender a origem do ruído. A voz do outro lado, eu tinha certeza... eram eles.
A ultima coisa que ouvi foi Rachel perguntando se eu estava bem, isso antes de ser atormentado por mais imagens sem sentido e confusas. Meu corpo entrou em dormência e meus olhos se fecharam. Em meio à escuridão vi mais imagens surgindo, mas desta vez não acompanhavam a dor em minha cabeça, eram mais serenas e menos rápidas, menos embaçadas ou distorcidas. Vi nessas imagens um homem em uma moto, era eu, eu parecia estar conversando com alguém, este sujeito permanecia oculto por uma arvore, estávamos em frente à minha casa e eu descansava no banco da moto encostada à parede. Depois disso vi outra cena, as imagens mostravam um lugar incrivelmente luminoso, tornando a vista bastante embaçada, uma pequena sala com paredes prateadas guardava uma espécie de cápsula no formato de um caixão, seguinte vinham imagens deste mesmo recipiente visto de mais perto, sua superfície era de um vidro cristalino, porém era impossível definir o conteúdo da cápsula já que todo seu interior estava preenchido com uma fumaça misteriosa. Com interseções em flashes a cena parou por um instante nesta cápsula de ferro e vidro, até uma mão surgir por entre a fumaça e tocar a palma na parte interna do vidro. Com o susto eu acordei enfim de mais um sonho até me tocar de o que havia acontecido.
Eu estava zonzo, minha testa sangrava e eu tentava entender o que tinha ocorrido. Observei que o carro tinha se chocado com uma árvore, devido ao meu desmaio enquanto dirigia o veículo perdeu o controle e adentrou a floresta.
–Você está bem Rachel? –Eu retirava o cinto de segurança com a visão atrapalhada pelo fumaça do motor, mas assim que me virei para Rachel percebi que ela não estava lá. Seu cinto jazia destravado e a porta do seu lado aberta.
Entrei em desespero, sai do carro observei a completa negritude da floresta e então gritei com toda força de meus pulmões por Rachel, mas ninguém respondia.
Não era possível, aquilo não podia estar acontecendo, logo quando estávamos a um passo de escapar, eles provavelmente pegaram ela! Eu tremia por inteiro estava receoso. Não seria melhor eu apenas voltar para o carro e continuar fugindo dali? Sim talvez fosse melhor apenas esquecer da existência de Rachel...
“Você vai me proteger senhor anjo?”
–Não!- Meu sangue ferveu, um calafrio seguiu minha espinha, a expressão mudou de pânico para séria.- Eu não vou te deixar sozinha Rachel, afinal eu prometi te proteger, eu sou seu anjo da guarda! – Eu dizia sozinho.
De um homem completamente amedrontado eu tomei a figura de um ser insano, alguém maníaco não só disposto a ir resgatar Rachel mas que quer passar por isso. Com um leve sorriso no rosto, era quase como se eu estivesse me divertindo.
Que isso não era nem um pouco do meu agrado era óbvio, mas acho que meu cérebro reagiu a situação, me fazendo acreditar que já alcançara minha insanidade, deixando-me louco o suficiente para encarar o destino sem temê-lo. Era nada mais que uma forma de adaptação.
Ajeitei minha escopeta, busquei um capacete com uma lanterna encaixada que peguei no mercado, recolhi a pistola que Rachel deixara em seu banco e me preparei para persegui-la. Essa situação se repetira, mas desta vez era diferente eu nunca estive tão fora de controle.

–Rachel me espere.. Seu anjo da guarda está indo te buscar!


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Notas finais do capítulo

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