Número 12 [Fic de Terror] escrita por KenFantasma


Capítulo 4
4° Capítulo – Sozinho na escuridão




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Fora de casa a neblina alcançava metade de minha canela, os animais agitavam-se sem motivo aparente, à minha frente a primeira árvore da floresta se mostrava e pouco a trás, completa negritude misturada a gritos incessantes dos animais noturnos junto à uma paisagem digna de terror psicológico. Será que por tudo o que passei, poderia então testar minha insanidade diante o terror?
Respirei fundo, olhei para a terra fofa ao lado do celeiro, acendi a lanterna, ajeitei minha jaqueta e andei até ser encoberto por trevas.

As árvores eram finas e uniformes, diferentes das típicas brasileiras, o chão era levemente coberto por uma variedade intensa de plantas, o que dificultava apenas um pouco a locomoção. Após muito caminhar, já mal podia ver as luzes do celeiro, que brilhavam baixo no horizonte. O barulho da relva obscura era assustador quando naquelas condições. Eu o tempo todo mantinha a lanterna iluminando o chão por onde eu pisaria e parte do que vinha à minha frente.
Continuei calmamente por 4 minutos até alcançar meu destino, foi feita uma trilha de adesivos amarelos colados ao tronco das árvores para que não fosse perdido o caminho até o local onde tudo começou para mim. A cada passo que eu dava, algum inseto ou animal me assustavam com seus berros , tinha total cuidado para não acabar pisando em nenhuma cobra no chão, fora o barulho ensurdecedor dos predadores noturnos. Estavam anormais nesta noite, isso se deveria à ameaça que seria minha presença, ou ao fato deles nada mais a verem como o seu jantar de hoje a noite. No entanto isso se tornou minha menor preocupação assim que alcancei meu destino.
Quando cheguei no final da trilha, tive uma surpresa. O chão onde eu acordara, junto à toda vegetação em um raio de 4 metros, estavam o que parecia ser, apodrecidos.
Era noite, e apesar da visão precária, era notório a vegetação ressecada junto a um muco acinzentado. Árvores, flores, mato, animais.. Tudo estava morto por ali e no meio da putrefação, o chão no qual todo esse pesadelo começou.
“E se isso tiver algo a ver com o vírus no meu sangue, ou a infestação na cidade?”, pensei enquanto cobria o rosto devido ao mal cheiro. Apesar do medo, era muito tarde para retroceder, eu iria definitivamente buscar por respostas. Desviei da área morta e segui desta vez por caminhos desconhecidos, não antes percorrido pelos policiais.
Eu tremulava de suspense, misturado ao frio que gelava minha pele, continuei caminhando de maneira silenciosa, como uma presa que tenta não despertar a atenção de possíveis carnívoros, mas aparentemente eles me acharam.
Ouvi passos que quebravam galhos e folhas secas ao chão, estava vindo de trás de mim. Assim que ouvi este algo suspeito, me virei apontando a luz da lanterna que não conseguia centralizar um único ponto de tão trêmulo que eu estava. Eu sabia que logo apareceriam animais selvagens visando minha carne. Ouvi outro barulho, estava mais próximo a mim, talvez uns 3 metros, no susto apaguei a lanterna, calculei que talvez ele tivesse sido atraído pela luz.
Me mantive firme, em completa negritude, lanterna apagada, pistola em mãos, pupila dilatada, atento a qualquer mínimo barulho suspeito. Comecei a caminhar mais lentamente, a menos que tivesse ótima visão noturna, ele não me acharia em tamanho breu, no entanto a cada passo que eu dava, o perseguidor imitava, andando sincronizado a mim e parando quando eu parava. Cessei novamente os movimentos e assim me mantive até que decidi reacender minha fonte luminosa, já que não estava adiantando muita coisa tentar despistá-lo assim.
Assim que deu-se o “click” no botão, pude ver o que jazia à minha frente. Não era bem um animal selvagem que me perseguia.
Tive a visão de uma árvore mais grossa há poucos metros de distância, mas atrás dela, havia algo humanoide. Vi uma mão que segurava o tronco da árvore, os dedos eram finíssimos e longos, a mão pouco carnuda, também pude identificar o que parecia ser o pé da criatura, era similar à pata traseira de um felino, no entanto desprovida de pelos, sua pele era cinzenta com fracas pigmentações verdes. Diferente dos monstros os quais enfrentei, ela não parecia reter ferimentos ou deformações e assim que acendi a luz em sua direção, este se protegeu atrás da árvore, com a pistola já sacada, eu dei múltiplos tiros no tronco, não conseguia pensar em muita coisa, apenas em sobreviver.
Enquanto os projéteis metálicos zumbiam na floresta, pude ouvir mais duas movimentações na vegetação atrás e pouco ao meu lado.
O cartucho esvaziou, os tiros cessaram. Eu teria me mantido imóvel, mas algo me rendeu um grande tensão, detrás da árvore, onde o indivíduo se escondera, ouvi um som e para meu espanto, era o mesmo som emitido pelo ser do celeiro em meu primeiro pesadelo, o que escrevera na janela. Logo após mais dois seres próximos a mim também começaram a “falar”, eu estava cercado por eles, aqueles sons vocais medonhos. Pareciam estar se comunicando entre si.
Meus olhos então lacrimejavam de tensão, a vista embaçou e em um movimento brusco eu corri em uma direção aleatória, pus a lanterna em minha boca enquanto com as duas mãos recarregava a pistola, tropecei em uma raiz e a lanterna caiu, deslizando por uma pedra diagonal para alguns centímetros longe do meu alcance. Não queria voltar para buscá-la, com minhas mãos ocupadas eu teria de parar de correr e me ajeitar para recolhe-la, tendo o risco de acabar encontrando com 'eles', então apenas prossegui.
Corri desesperadamente, desviando do vulto das árvores que eu custava a enxergar. Dei dois disparos para trás sem se quer mover o rosto na direção. E quando já me aproximava de exaustão, acabei tropeçando em algo maciço da vegetação, que me fez cair. No entanto o chão não era exatamente um plano irregular tal qual o do resto da floresta, eu caí em um terreno íngreme e nele rolei até seu final, me sujando de terra, folhas úmidas e restos de frutas e desci uns 4 metros e meio.
Minha cabeça doía, a visão não desembaçara, tentei me recompor, mas parece que tinha torcido o pé. A adrenalina não me permitiu sentir a dor, sem largar a pistola por nenhum momento eu levantei desajeitado, até entender onde eu estava.
A vegetação neste local era muito baixa, como se tivesse crescida a pouco tempo, e o local era muito similar a uma cratera deixada por um meteorito. Pela negritude, não era possível saber ao certo seu diâmetro, mas o que eu podia saber é que o que havia no centro desta cratera, não era apenas um pedaço de rocha vinda do espaço, mas provavelmente algo que originou do mesmo ponto.
À minha frente, no meio desta floresta misteriosa, centralizado na cratera de 3 metros de profundidade, havia uma estrutura metálica circular, achatado em cima e em baixo, com uma argola que se afinava até a ponta em volta deste gigante objeto metálico, coberto de musgo. Eu tinha quase certeza do que era, pois pelo que eu podia me lembrar, aquilo era um OVNI! Assim que notei essa misteriosa máquina, minha cabeça doeu mais forte, gemi até cair de joelhos no chão. Imagens tomaram conta da minha mente, eram tais quais as que eu sonhava, mas agora aconteciam enquanto eu permanecia acordado. As imagens estavam muito mais rápidas, dentre elas pude ver a parte da floresta da qual agora não passava de uma paisagem putrefata, onde tudo começou e por diversas vezes eu vi o misterioso número 12, quase como numa imagem distorcida de tv por antena em falha. Além disso uma última aparecia, era a silhueta de três seres humanoides recortando em um fundo intensamente iluminado, o número na janela também apareceu junto ao emaranhado de flashes.
As imagens cessaram e eu caí apoiado com as palmas das mãos no chão, era pressão de mais para me cérebro, por algumas vezes até questionei a realidade disso tudo. Eu teria tentado investigar mais a fundo o tal objeto, mas temia ser encontrado pelas criaturas que me observavam, então assim que avistei uma trilha de plantas que seguia até fora do buraco, eu as escalei e sai da enorme cratera que ocultava o OVNI. Não era hora para refletir sobre isso, nem para mais pesquisas, eu estava em meu limite psicológico e não queria brincar com ele por mais um tempo, sem saber o caminho de volta à minha casa eu apenas andei em qualquer direção, com a perna machucada e sem fôlego não era possível uma corrida.
A lua brilhava forte no céu, sua luz passava por brechas na copa das árvores e chegavam ao chão em feixes. Mas sua iluminação logo se distorceu em pingos que despencavam daquele céu fechado.
A chuva caia, eu ofegava, o corpo tremia, mas eu estava destinado a sobreviver. Sons esquisitos pareciam sair somente da minha cabeça, acho que finalmente a loucura deu as caras. Eu caia frequentemente na lama obscurecida, tropeçando em raízes e atrapalhado pela chuva, o barulho alto dos pingos se chocando com as folhagens no topo das árvores dava ainda mais ameaça à cena.
Com os olhos quase desfalecendo, ja pouco me aguentando permanecer de pé, consegui identificar certa iluminação no final desta trilha de horror. Torcendo para que não fosse mais uma surpresa desagradável eu a segui, até que então eu pude finalmente suspirar, pois havia voltado à cidade, que mesmo que fantasma, era melhor do que o cenário que percorri hoje.
Andei mancando por uma parte apenas constituída de gramado que separava a floresta dos paralelepípedos da cidade.
A igreja era o primeiro abrigo que encontrei, por ser um pouco distanciado das ruas da cidade, lá eu estaria seguro, pelo menos apostava nisso. A porta dos fundos jazia trancada, então dei dois tiros em sua fechadura e adentrei, mal tive tempo de visualizar seu interior e já caí de joelhos no piso escorregadio, eu estava quase desmaiando, tamanho era meu cansaço. Aquele lugar devia ser uma antessala que mais parecia um depósito, com caixas e equipamentos de limpeza. Uma vez que a luz parecia ter sido cortada, a igreja se mantinha iluminada à base de suas velas e algumas gigantescas janelas coloridas com desenhos cristãos que permitiam trespassar a luz lunar, apesar de pequena era iluminada esta sala, o suficiente para eu saber que não havia nada ameaçador lá, então involuntariamente meus olhos se fecharam e eu caí deitado no chão frio, acabei dormindo quase que instantaneamente. Mas o que realmente me preocupava era: Que dimensões teriam os danos causados à minha sanidade esta noite? Eu estava retido em um sentimento de angústia, terror e tristezas em um dia só. Como será que eu acordaria amanhã? Ou melhor, como quem será que eu acordaria amanhã?
O som da chuva la fora se calou.

[Floresta]


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Notas finais do capítulo

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