Em Minhas Memórias escrita por Mary e Mimym


Capítulo 19
"O Pequeno Príncipe"


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo õ/
Esse já estava feito, confesso u.u
Iremos dar uma breve pausa nos sentimentos do Ronan e da Elesis, até porque ele precisa, além de reconstruir a amizade, quebrar a barreira que a Elesis criou quando o Ronan "viajou".
Eu poderia fazer com que a Elesis perdoasse tudo e o dois fossem felizes para sempre, mas isso não está nos meus planos e_e, até porque estamos falando da Elesis, uma menia orgulhosa e de personalidade forte. Mas o Ronan dará um jeitinho, é isso que esperamos.



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Cheguei à escola e vi Elesis conversando com Lass. Eu conhecia bem aquela ruiva, depois que ela desabafou comigo, seria difícil ela vir falar comigo. Isso já aconteceu quando éramos criança e eu tive que tomar uma atitude, como já havia pensado.

O sinal não demorou muito e tocou, todos os alunos se encaminharam para suas respectivas turmas. Um pensamento que me pegou de surpresa quando vi Lass, foi em uma possível conversa que ele teve com a Elesis na hora da entrada, ontem... Em que ele se atrasou.

Deixei que o mistério e a curiosidade tomassem conta de mim. A professora me chamou para entrar na sala e eu acabei “despertando”. “Desliguei” meu pensamento e foquei na professora. Mas eu não poderia esquecer tal curiosidade.

As aulas haviam começado a todo vapor, os professores passavam novas matérias, revisavam as dos anos anteriores; para quem queria fazer vestibular era de bom agrado prestar atenção em tudo, quem não queria nada com nada, apenas ficava de brincadeira na hora da explicação, atrapalhando a todos.

Parece que isso nunca acaba na escola, em todas as séries, os anos, continua a mesma coisa de alunos que querem estudar e alunos que pensam que tudo não passa de mais um dia de brincadeira em sala de aula.

Chega a ser chato, se eu tivesse voz ativa na sala, gritaria com todos esses idiotas, mas me contento em apenas vê-los atrapalhar a explicação e me sinto um covarde por permitir que eles façam isso.

–Ronan? – Chamou a professora de Literatura, quebrando meus pensamentos e fazendo-me retornar à realidade.

–Sim. – Respondi de imediato, para que ela não pensasse que não estava prestando atenção na aula.

Ela me encarou, assim como os alunos, não sei por que isso acontece. Quando a professora explica, poucos prestam atenção; quando ela chama atenção de alguém, ainda mais quando sou eu, TODOS olham.

Chega a dar raiva... Eu nem sabia do que ela estava falando, me ajeitei na carteira e tomei lição do que ela explicava.

–Bem... Como eu disse na primeira semana de aula, iremos trabalhar as Vanguardas Europeias, Autores do século XX e iremos trabalhar leituras de livros. Eu darei liberdade para vocês escolherem o conteúdo que queiram começar a estudar.

Ao terminar de dizer isso, os alunos começaram a comentar sobre qual iriam escolher. Eu não me importava muito com a ordem, só preferiria não trabalhar muito com leitura de livros, faz tempo que não leio um com o máximo de atenção, seria desvantagem para eu começar o ano com nota baixa em Literatura. Eu perco o interesse rápido, poucos, ou quase nenhum livro, me agrada mais. E isso ruim... Porque eu perco toda a minha imaginação e alegria... A leitura pode mudar tanta coisa, como o meu humor em um dia qualquer.

Enquanto a sala se tornava um caos para chegarmos num consenso, eu apenas abaixaria a cabeça, sim, abaixaria... Porque a Arme me impediu.

–Ronan! – Minha baixinha me chamou, sentando-se na cadeira vaga a minha frente – Qual você escolheu?

–Eu não ligo muito para a ordem, mas...

–Eu já sei qual você escolheria para ser o primeiro. – Antecipou-se – Vanguardas Europeias. Ano passado falamos, superficialmente, sobre essa matéria e você se mostrou muito interessado.

Arme me conhecia mais do que eu mesmo. Sorri para ela, deixei que essa reação respondesse por mim. Como foi um sorriso, a resposta, consequentemente, foi positiva.

–E você? Escolheria qual? – Perguntei, só para não deixar o silêncio entre nós fluir.

–Hum... – Ela pensou um pouco – Estou em dúvida em dois... Leitura e Vanguardas.

–Espero que Vanguardas Europeias ganhe. – Suspirei.

–Alunos! Alunos! – Exclamou a professora, pedindo a quietude e a atenção da turma.

–Eu vou falar as três opções de novo e, por favor, levantem a mão para a escolha de vocês, tudo bem?

Todos assentiram e ela começou.

–Vanguardas Europeias?

Havia trinta e quatro pessoas na minha turma, pelo que vi, apenas sete levantaram a mão, eu estava entre essas sete pessoas e... Lass também. Percebi o que era óbvio: Não seria Vanguardas Europeias, mas eu ainda tinha esperança com Autores do século XX.

–Ok... – Analisou a professora. Quem havia levantado a mão, abaixou – Autores do século XX?

Surpreendi-me ao contar a quantidade de mãos erguidas. Apenas... Somente... Nada mais que duas pessoas. Não entendi nada daquilo. Pensei que seria a mais votada, caso não fosse as Vanguardas. Mas então me toquei que ficaria na ordem de votação. Tipo, a mais votada seria a primeira matéria, a segunda mais votada ficaria sendo a segunda matéria e a terceira... Bem, acho que todos perceberam isso.

E eu me ferrei, porque começaremos com Leitura e já percebo que as minhas notas começarão baixas.

–Bem. – A professora riu – Acho que já temos um conteúdo escolhido.

–Mas fala aí a última opção, só para mostrar que ganhamos de lavada dos outros conteúdos. – Pediu um aluno, que... Bem... Era um dos palhaços da turma, como eles gostam de chamar atenção e falar asneiras.

–Tudo bem. Quem quer Leitura?

Os vinte e cinco alunos restantes levantaram as mãos, incluindo Arme e Ryan.

–Então ficará Leitura sendo avaliação do primeiro bimestre, Vanguardas Europeias para o segundo, Autores do século XX, terceiro. E, para finalizarmos, Modernidade para o último bimestre.

–Professora. – Arme levantou a mão.

–Diga.

–Qual será o livro que trabalharemos? – Ela perguntou o que todos queriam saber.

–Eu pensei muito antes de escolher, sei que terá várias contradições, muitos questionamentos e, por fim, reclamações. – A professora deu uma pausa, foi até a mesa e retirou um livro pequeno de sua bolsa.

Pela capa, todos já sabiam do que se tratava, eu fiquei surpreso com o que vi. Sussurros de desaprovação começaram a circular pela sala.

–O Pequeno Príncipe?! – Indagou outro aluno.

–Sim. – Respondeu a professora, sentando-se em cima da mesa e colocando o livro ao seu lado.

–Esse livro é de criança, professora! – Disse Ryan, levantando-se indignado da cadeira.

–Prove que o livro é de criança. – Desafiou a professora.

Eu já não estava querendo ter leitura logo no primeiro bimestre, senti-me na obrigação de falar, não tinha nada a perder mesmo. Eu já havia lido esse livro quando era mais novo. Não me recordo muito da história, apenas de gravuras. Mas sei que havia uma dedicatória.

–Eu posso provar. – Levantei-me da mesa e logo me tornei atenção novamente – Há uma dedicatória nas primeiras folhas do livro, leia para a turma e, com isso, terá a prova de que é um livro de criança.

–Então pessoas grandes, como vocês, não podem ler esse livro porque há uma dedicatória para as crianças? – Questionou a professora. Um arrependimento veio como um meteoro em cima de mim. Um meteoro... Lembrei-me de que havia algo sobre meteoro no livro, espantei logo esse pensamento.

–Não disse isso, a senhora pediu para que provassem... – Olhei para Ryan – Que o livro era de criança, digo novamente que essa prova está na dedicatória.

A professora foleou as primeiras páginas e parou, deixando o livro aberto em suas mãos. Ela leu silenciosamente, atenta a cada palavra da dedicatória, às vezes olhava para mim e depois voltava a ler.

–Realmente, o público-alvo são as crianças. Vocês não são capazes de ler algo grandioso como esse livro. Esqueci-me que o terceiro ano é como gente grande, não há mais imaginação em suas cabeças, apenas responsabilidades e desilusões.

A professora fechou o livro, tive de manter minha postura e não concordar com o que ela disse, por mais que ela tivesse razão.

–Mais uma vez repito que não foi isso o que lhe disse. Pedi apenas que lesse para a turma e mostrasse a dedicatória, não afirmei nada que somos incapazes de lermos um livro de criança.

O silêncio estava assustador na sala, Ryan havia se sentado, só eu estava de pé.

–Não querem ler o livro, é isso? – Ela desceu da mesa e caminhou até minha direção, senti minha mão suada de tanto nervoso, a professora parou a minha frente e continuou – Responda-me. A sua decisão será a da turma.

Engoli a seco, esses professores me dão medo...

–Está com medo de parecer um idiota na frente da turma por ler um trecho do livro? – Indagou a professora.

Balancei a cabeça negando o que dissera.

Ela voltou até a mesa e pegou o livro. Abriu na página sete. Havia duas imagens, lembrava-me delas perfeitamente. Não entendi o que a professora queria com aquilo, mas não questionei, esperei para ver o que acontecia.

–Eu sei que você sabe o que isso significa, Ronan. – Começou ela – Mas quero saber se a maioria da turma sabe também. Quem souber, apenas levante a mão.

A professora mostrou o livro aberto para que todos pudessem ver as gravuras.

–Quero que me digam o que é esse desenho. – Então ela apontou para a segunda imagem.

Dez pessoas levantaram a mão indicando que sabiam, Arme e Lass estavam incluídos, eu não levantei, pois a professora já sabia que eu havia lido o livro.

–Hum... Dez alunos... Ok. Agora irei perguntar para quem não levantou o que acha que é esse desenho. – Ela apontou para um dos alunos idiotas e perguntou, novamente, o que era o desenho.

–Um chapéu? – Indagou ele, a professora reprovou o que ele disse, até eu achei um absurdo ele ter dito que era um chapéu, mas ele não leu o livro, então...

–Ronan, diga para a turma o que é.

Fiquei surpreso com aquilo, havia mais dez pessoas que sabiam e ela pergunta logo para mim?! Está certo... Eu que comecei tentando convencê-la de que o livro era infantil e tudo mais, mas estou cansado de ter olhares da turma para mim.

Respirei fundo e respondi.

–Na visão das pessoas sem imaginação - gente grande - esse desenho não passa de um chapéu, como foi dito. Mas, para as crianças, é uma jiboia fechada com um elefante dentro.

O aluno idiota que a professora perguntou começou a rir, eu o encarei.

–Está correto, Ronan. – Disse a professora, fazendo aquele idiota parar de rir e ficar todo sem graça, adorei – Percebeu agora o motivo de eu ter escolhido esse livro?

Eu assenti positivamente.

–A maioria dos alunos dessa turma não leu uma obra tão espetacular e com tanta lição de moral. É um livro infantil? Claro que é, mas isso não impede nenhum adulto, ou adolescente idiota que se acha adulto, de ler.

Senti que essa indireta também foi para mim, além de ter ido para outros alunos, mas fiquei calado, realmente eu mereci ouvir aquilo.

–Professora? – A chamei.

–Diga.

–O que a senhora quer que façamos?

–Pensei que ninguém me faria essa pergunta. – Ela voltou a se sentar a mesa – Bem, vocês terão um mês para ler este livro, depois que lerem, terão que pegar um capítulo, apenas um, e comparar com um acontecimento de sua vida. De preferência com a infância de vocês. Como assim, professora? – Ela mesma perguntou o que muitos se perguntavam – Bem, - Ela abriu o livro novamente – tem um capítulo aqui, que tem uma gravura. E aconteceu comigo uma coisa parecida.

A professora nos mostrou a imagem. Era o pequeno príncipe em cima do muro, tentando descer, mas havia uma serpente o amedrontando. Fiquei atento para ouvir o que a professora iria dizer.

–Eu estava pulando o muro com os meus irmãos, para entrar na casa do vizinho e pegar algumas frutas, coisa de moleques, eu sei. Mas na minha infância era pura adrenalina. – Todos riram, inclusive ela – Então, quando eu fui pular para sair da casa, apareceu um cachorro e ficou latindo para mim. Eu fiquei mandando-o sair, mas ele não saía de jeito nenhum. Como a serpente daqui. – Ela apontou para que todos visualizassem a serpente – O cachorro não saiu, aí meus irmãos fizeram barulho e ele correu. Bem, se vocês lerem esse capítulo irão perceber que é bem parecido com o que eu contei aqui.

Ela deu uma pausa, guardou o livro e depois continuou.

–Um mês é muito tempo para fazer algo tão simples, então não quero nenhuma desculpa no dia da entrega, estamos entendidos? – Ela parecia não estar de brincadeira – Então é isso.

O sinal tocou para ter a troca de professores. Antes de sair da sala, a professora olhou para mim. Eu apenas sorri, mas sem mostrar os dentes, apenas com os lábios. Ela parou na porta para dar mais um aviso.

–Quem não tem o livro, é só ir à Secretaria e pedir o valor para compra-lo, tá bom?

E logo depois saiu. Eu já tinha o livro em casa, então não me preocupei. Os últimos tempos de aula passaram tão lentamente, que cheguei a tirar um cochilo em sala, sonhei até.

O sinal da saída tocou, me despedi de Arme que esperava por Lire e fui embora. Resolvi não contar nada do que aconteceu entre eu e Elesis. Era melhor assim. E eu estaria fazendo um favor a ela, dando-lhe um tempo para digirir tudo depois do que me contou.

Cheguei em casa, joguei a mochila no sofá e subi. Minha mãe sempre reclama que eu não levo a mochila diretamente para o meu quarto, também não faço a menor ideia do por que, acho que já virou costume eu chegar em casa e joga-la no sofá.

Entrei no quarto e procurei pelo livro no meu armário. Não achei.

–Mãe! – Gritei para que ela ouvisse, minha mãe estava em casa, porque eu cheguei e a porta da sala estava aberta.

–Que foi? – Ela gritou de volta para que eu ouvisse.

–Onde está o meu livro “O Pequeno Príncipe”?!

–O que?

Percebi que ficar gritando do quarto não ajudaria muito, fui para a escada e parei no meio dela.

–Onde está o livro de “O Pequeno Príncipe”? – Repeti.

Minha mãe apareceu na sala com toalha na cabeça, acho que ela estava tomando banho para sair.

–Ué, tá na gaveta. – Disse, tirando a toalha e terminando de secar as madeixas.

–Eu já procurei e não achei.

–Mas está lá. Procura de novo. Eu não irei procurar para você. Preciso me arrumar para me encontrar com o seu pai.

–Aonde vocês vão? – Perguntei, curioso.

–Vai ter uma festa no trabalho dele, um almoço com o patrão. Hoje eu nem fui trabalhar por causa disso.

–Tá... Mas e se eu não achar e a senhora não estiver mais aqui?

–Procure mais uma vez.

Ai! Essa doeu, minha mãe foi curta e grossa, e olha que sou filho único. Se ela me ama desse jeito, imagine se tivesse mais alguém para dividir esse amor... Ri dos meus pensamentos, é claro que ela me ama, e mais do que muita coisa nesse mundo.

–Vai ficar rindo feito louco, ou vai procurar o livro? Tenho mais o que fazer, Ronan.

–Tá bom, já vou. – Subi as escadas novamente e voltei para o meu quarto.

Procurei na gaveta do armário. Revirei tudo. Mas não achei. Decidi recorrer novamente a minha mãe, aproveitar que ela ainda estava em casa.

–Mãe! Não achei!

–Se eu for aí e achar, você vai ver, hein! – Ela gritou num tom ameaçador.

–Mas eu não acho em gaveta nenhuma!

Só ouvi os passos pesados dela subindo as escadas. Minha mãe entrou no quarto e foi até a gaveta da cômoda.

–“Estou ferrado.” – Pensei, assim que a vi abrindo a gaveta e pegando o livro. Eu estava procurando no armário, esqueci completamente da cômoda.

–Aqui! – Ela bateu com o livro na minha cabeça – Você só me atrasa, Ronan.

–Desculpa.

–Tá, tá. Deixei o almoço pronto, é só esquentar no microondas. Não sei que horas retornarei, então qualquer coisa é só fazer um lanche, tá?

–Mãe, eu sei me cuidar. – Disse, me jogando na cama.

–Então cuide do seu quarto também, que está uma bagunça.

Era melhor eu ter ficado quieto. Ela me deu um beijo e se despediu. Desci e fui almoçar, levei o livro junto. O coloquei na mesa, mas deixei bem na pontinha, nem havia percebido. Fui por meu almoço e só escutei o barulho do livro quando ele foi de encontro com o chão.

Deixei o que estava fazendo de lado e fui pega-lo. Para a minha surpresa, estava aberto no capítulo VIII, na página vinte e oito. Olhei superficialmente para o livro e vi que se tratava do capítulo da flor, onde o pequeno príncipe a conhece, mas que precisa abandoná-la.

–Lerei esse capítulo e analisarei mais detalhadamente se tem a ver com a minha infância. – Disse, me espantando com as minhas próprias palavras.

Eu iria ler um livro de criança, não precisava de tanta formalidade. Ri comigo mesmo.

–Será interessante... E será uma boa forma de quebrar totalmente essa barreira que a Elesis mesmo criou.


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Notas finais do capítulo

Será que ele irá amansar a fera com um simples conto infantil? XD
Ah! Eu esqueci de avisar no cap. anterior, então irei avisar nesse: Está tendo mais um evento em nosso perfil (meu e da Iasmym), se quiserem dar uma olhadinha ^^
Erros...?
É isso, beijos!!



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