Em Minhas Memórias escrita por Mary e Mimym


Capítulo 18
Desabafo


Notas iniciais do capítulo

Desculpa, eu sei que disse que postaria quinta ou sexta, e já é domingo... Bem, a culpa é totalmente minha, a minha melhor amiga (Iasmym) disse que eu deveria estar mais intensa para escrever o cap., mas eu não estava e isso dificultou muito para sair um capítulo decente e nem sei se consegui...



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Olhei para Elesis e ela me encarava um tanto impaciente.

–Vai me convidar, ou terei que te empurrar para me dar passagem?

–Mal voltamos a nos falar e você já está toda autoritária assim? – Ri da minha pergunta.

A ruiva ignorou totalmente o que disse.

–Hoje iremos por tudo na mesa, tudo o que aconteceu, então não quero mais... – Elesis abaixou o rosto e sua franja impediu minha visão de sua face – Ficar longe... – A ruiva deu mais uma pausa e meu coração acelerou, talvez ele já soubesse a continuação da fala – De você.

Senti meu rosto esquentar um pouco e com certeza ele estava rubro. Um sorriso tomou meus lábios.

–Nem quando éramos amigos você disse algo assim.

–Quando éramos amigos, eu só sentia a sua falta quando você ia para a sua casa e eu para a minha.

Eu não estava acreditando que era a Elesis quem dizia cada palavra. Ela estava tão diferente, como se fosse outra pessoa. Realmente ela deixou seu orgulho de lado para dizer tudo isso ainda mais para mim.

–Licença. – Elesis me empurrou para o lado e entrou, é... Mesmo dizendo tudo aquilo, ela continua com a mesma personalidade de sempre. Isso é bom...

A ruiva sentou no sofá e ficou me olhando. Eu fechei a porta e fui ao sei encontro. Sentei-me no sofá, ao lado de Elesis. Minha mão começou a suar. E eu sentia algo estranho em meu peito, sem contar com o embrulho no estômago.

–Bem... – Elesis começou, parecia que também estava nervosa, pois mexia muito as mãos – Eu sei que... Ficamos um tempo--

–Três anos. – Antecipei-me, se era para falar tudo, não poderia esquecer o tempo exato de separação.

–Que seja. – A ruiva me encarou – Se quiser falar os anos certos, saiba que você não foi o único a sofrer com o tempo, porque eu estive sozinha, tá bom? Você conheceu a Arme, viajou e eu... Eu fiquei aqui, esperando que alguém tivesse força o suficiente para não desistir de mim.

Meu coração se acalmou, mas ele não ficou totalmente ameno, ele parecia pesar em meu corpo. As palavras de Elesis, agora, vieram como facas em minha direção, sem chances de defesa.

–Quando... – Elesis continuou, mas estava com uma voz de choro, nós dois estávamos sofrendo, mas isso iria acontecer de qualquer jeito, ainda mais se tratando da verdade – Quando você viajou, foi horrível, porque foi no momento em que eu estava me recuperando e eu estava louca para falar com você, mas... Você não estava mais em casa. E, para não dizer que eu não contei, você viajou por um pouco mais de um mês. Então eu desisti de reconstruir nossa amizade... Como você havia desistido, mas eu não te culpo, você me deu todas as oportunidades possíveis e eu não aproveitei.

–Elesis--

–Espera, eu ainda não terminei. – Ela virou o rosto, parecia não aguentar mais segurar as lágrimas, mas Elesis era forte o bastante para contê-las – Então eu conheci o Lass... Seu silêncio e sua frieza mexiam comigo, porque era como eu estava naquela época, lembrando que eu acabei saindo da escola também, indo para essa que estou atualmente. Eu nem me importei, já não suportava mais a outra escola, ainda mais sem... – Eu fiquei atento para ouvir o que ela diria, mas decepcionei-me com a continuação – Sem alguém que me entendesse.

–Elesis... Eu--

–Eu ainda não acabei de falar, me escuta primeiro! – Elesis se levantou e me encarou – Você acha que eu não sofri? Você acha que só você passou por um terremoto em sua vida? Eu vi meu pai sair pela porta de casa sem dizer “Adeus” e eu implorei chorando para ele não ir, eu só tinha você, mas... Você também saiu da escola, não tenho raiva por você ter saído, entendo que seus pais não tinham mais condições, mas quando me contou eu não deixei a razão falar, e sim a emoção.

A minha vontade era de levantar também e segura-la, olha-la em seus orbes avermelhados pulsando de raiva e também contar a minha situação. Mas eu precisava ouvir a Elesis. Precisava sentir o seu sofrimento colidindo com o meu e explodindo em mim.

–O Lass foi meu alicerce, esteve ao meu lado sempre que precisei. Quando nos encontramos...


Flashback ON


Estava sentada no banco de entrada, meu dia estava como meus sentimentos: frio. Olhava cada pessoa que entrava na escola, lembrava-me de quando eu e Ronan estudávamos juntos e eu não precisava espera-lo, pois íamos juntos para a escola.

Meus devaneios cessaram assim que vi um garoto de cabelo laranja arrepiado, ele estava brincando com um de cabelos acinzentado, eu acabei rindo da brincadeira e o de cabelo grisalho olhou para mim no momento exato do meu sorriso e acabou sorrindo também. Mas logo em seguida abaixou a cabeça e deu um soco no amigo.

O sinal tocou e eu fui em direção a minha sala, sem querer, acabei me esbarrando em alguém.

–Desculpa. – Disse.

O menino apenas se virou e me encarou, era ele...

–Lass! – Chamou o de cabelo arrepiado o então denominado Lass.

–Já vou, Ryan. – O tal Lass continuou me encarando até se virar e seguir seu caminho.

–Espera. – Chamei, fiquei com raiva por ele não ter dito nada depois que pedi desculpas, sendo que a culpa foi totalmente dele de ter ficado parado no corredor – Não vai dizer nada!?

Lass parou de andar e, ainda de costas, virou apenas o rosto.

–Sou obrigado? – Indagou Lass, me tirando do sério.

–Você é bem idiota, sabia?!

–E você uma simples novata que não sabe com quem está falando. – Ele nem sequer esperou pela minha resposta e saiu andando.

Flashback OFF


–Depois desse encontro, eu não queria falar com o Lass, mas eu acabei indo para a coordenação por insultar uma menina da minha turma e ele estava lá, nos encaramos no começo e depois começamos a conversar, foi tão estranho. Pela segunda vez eu o vi sorrir, e comentei disso, o sorriso dele me lembrava do seu... Aquilo me irritava, porque muita coisa me lembrava de você. O sorriso que raramente Lass dava era como o seu discreto quando eu fazia uma piada sem graça. – Elesis olhou para outro ponto da sala – Bem... Conhecê-lo foi muito bom para mim. Assim como conhecer a Arme deve ter sido bom para você.


A ruiva acabou de falar e o silêncio se instalou na sala. Eu tinha muito que dizer, mas estava esperando que Elesis comentasse algo, para poder começar. Mas ela nada disse.

Respirei fundo e, quando iria falar algo, Elesis quebrou o silêncio.

–Eu não posso deixar de ressaltar, que quando me tranquei em meu quarto, estava ferida, sem forças para encarar o mundo fora dele. Foi difícil para mim, suportar tudo aquilo tendo apenas a minha mãe e você, quando ia falar comigo, eu me sentia bem, queria muito sair do quarto, mas o meu orgulho não deixou, porque era como se eu tivesse mostrando o limite da minha força em aguentar tudo aquilo sozinha. E então... O deixei partir. – Elesis deu uma pausa e passou a mão no rosto – Quando você viajou, meu chão se desfez por completo, sua mãe disse que você decidiu de última hora que não queria mais ficar aqui na rua e precisava espairecer um pouco. Foi então que eu deixei de te procurar e realmente criar uma barreira entre nós, porque parecia que não se importava mais comigo.

–Não! – Intervi e Elesis me encarou, fazendo-me calar.

–Foi a primeira vez que conheci Arme, a primeira e última, até porque não fui mais à sua casa depois daquele dia. Isso, mais ou menos, um ano.

–Pera... Sei que você quer falar tudo logo, mas eu preciso saber que viagem foi essa que eu fiz para espairecer.

–Eu que vou saber? – Elesis usou muita ironia na voz.

–Não me recordo de ter viajado... – Tentei analisar isso, não sei por que, mas me chamou atenção. Se for a mais ou menos um ano, então foi quando eu sofri o... Acidente. Será que depois eu viajei e não me lembro?

–Ronan? – Elesis me chamou e me tirou de meus pensamentos.

–Desculpa... Pode continuar, você está me contando a sua parte da nossa história.

A ruiva me encarou e enrubesceu um pouco, não entendi o motivo. Mas depois caiu a ficha que a frase: “a sua parte da nossa história” dita por mim, deve ter a deixado envergonhada. Dei um breve sorriso e aguardei que ela continuasse.

Mas, ao invés disso, Elesis apenas sentou-se ao meu lado.

–Eu sinto falta da nossa infância... Onde tudo era mais fácil. Onde meus socos encerrava qualquer discussão, e nossas brincadeiras eram as mais divertidas de todas. As lágrimas só eram derramadas quando nos machucávamos seriamente ao cair da bicicleta, ou quando tínhamos que ir para casa e parar de brincar. Eu quero que a menina que eu fui sinta orgulho de quem eu sou, mas não conseguirei sem você.

Elesis foi até seu limite para não chorar. Seus olhos estavam úmidos e deixou escapar uma única lágrima, que foi enxugada logo após ter escorrido.

–Elesis...

–Ronan... Eu só preciso resgatar o bem mais precioso para mim: A Amizade.

Achei a hora perfeita de falar.

–Elesis, eu estava muito confuso com tudo o que me aconteceu. Uma nova escola, último ano, decisões, acontecimentos que me fizeram perceber o quão importante é a minha saúde. Já que... – Alguma coisa me fez parar de falar, antes de revelar a minha doença – Bem, eu também senti a sua falta e encontrar a Arme amenizou o sentimento de solidão. Acho que... Bombas explodiram ao mesmo tempo e nos deixou vulneráveis a tudo. Quando seu pai foi embora e eu tive que sair da escola, foi tudo ao mesmo tempo e sua estrutura física e mental não aguentou, eu entendo e não te culpo também, mas... Foram três anos que não trocamos uma só palavra. Conhecemos novas pessoas e mesmo assim faltava alguém. No meu caso... Faltava uma ruiva estressada. E eu tive sorte, depois do que me aconteceu, você continuar viva em minhas memórias.

Desabafei, assim como Elesis havia feito na escola e aqui, na minha frente. Eu também precisava expor tudo o que sentia.

Entreolhamo-nos e mais nada foi dito. Meu coração começou a pulsar fortemente. Como eu queria abraça-la... Voltar a ver seu sorriso...

Quando fui falar mais uma coisa, a porta de casa abriu. Era a minha mãe. Assim que ela viu quem estava na sala comigo, foi direto abraça-la.

–Oi Elesis! Que bom vê-la aqui em casa, meu amor. – A ruiva abriu um sorriso lindo ao ver a minha mãe.

–A última vez que nos vimos foi semana passada. – Elesis desfez o abraço.

–Eu sei... Mas a senhorita nem quis entrar para conversarmos.

–É... Mas enfim, eu fiquei preocupada com a senhora e o pai do Ronan.

Minha atenção redobrou depois desse comentário. Por que ela estaria preocupada com os meus pais? Pelo que sei, o doente sou eu!

–Ah sim. É que tivemos que resolver um problema, mas não se preocupe, está tudo bem agora.

Minha mãe falava de mim e eu não entendia onde Elesis queria chegar. Parando um pouco para refletir sobre esse assunto... Eu ainda não pensei na hipótese de Elesis não saber do meu acidente, será que ela não sabe? E se não, por quê?

–Acho melhor eu ir, conversamos depois, Ronan. – Avisou Elesis, tirando-me de meus devaneios novamente.

–Não precisa sair só porque eu cheguei, prometo não atrapalhar a conversa de vocês. – Disse a minha mãe, indo para o seu quarto.

–Que isso, tia, eu preciso ir mesmo, e a senhora não atrapalharia em nada. – Elesis ficou um tanto sem graça.

Como eu fui totalmente deixado de lado assim que minha mãe chegou, Elesis saiu e nem disse “Tchau”, o que será que é preciso para unir novamente a nossa amizade? Parece ser algo tão simples da teoria, era só pedir desculpas, mas é tão complicado na prática, onde nós dois temos medo de nos machucar novamente com a separação.

Assim que Elesis saiu, fui falar com a minha mãe. Subi e fui em direção ao seu quarto e bati na porta.

–Fala, Ronan.

–Posso falar com a senhora? – Perguntei.

–Pode filho, entra.

Assim eu fiz, abri a porta e adentrei, ele estava arrumando a gaveta do meu pai. Sentei na cama e fui direto ao ponto.

–A Elesis sabe da minha doença?

Minha mãe parou tudo o que estava fazendo e me olhou.

–Você não lembra? – Ela me respondeu com outra pergunta.

–“Se eu soubesse, não estaria perguntando.” – Apenas pensei em falar isso, mas eu seria um Ronan a menos no mundo, então, por fim, respondi o mais óbvio – Lembrar o quê?

Ela guardou a peça que estava em sua mão e sentou-me ao meu lado.

–Quando você acordou depois de ficar um mês quando sofreu acidente, não queria nem que Arme te visitasse mais, você estava transtornado por ter acontecido aquilo contigo. E, quando a sua tia, mãe da Elesis, foi te visitar, pediu para não contar nada para Elesis. Que inventasse qualquer mentira.

Enquanto minha mãe me explicava o motivo, eu pude entender o porquê de não ter dito nada sobre o acidente quando conversava com Elesis, o meu subconsciente lembrou-se disso, mas eu não. Mas, segundo o médico, é normal perder algumas lembranças. Infelizmente eu perdi a que Elesis se encontrava. Bela antítese...

–Então eu pedi para dizer que eu estava viajando? – Questionei.

–Como sabe?

–Elesis me contou que foi isso que disseram a ela.

–Sim, você pediu para contarmos isso, mas quem contou foi Arme. Foi a primeira vez que as duas se encontraram. Eu não estava presente, então não sei o que mais foi dito.

–Hum... – Analisei a situação, era disso que Elesis falava. O momento em que sofri o acidente, foi o momento em que a ruiva saiu de seu sofrimento.

Abaixei a cabeça e fiquei um tanto pensativo.

–Está tudo bem, filho? – Perguntou minha mãe, preocupada – Está sentindo alguma coisa?

–Não. – Levantei-me da cama e fui para a porta – Eu só queria poder me lembrar de tudo e não ter mais dúvidas... – Disse e me retirei.

Fui direto para o meu quarto. Pensei no que Arme disse, ao falar de Elesis.

“(...). É que eu ainda não me conformo por você gostar tanto de alguém que nem deu a mínima importância para você.”

Por que Arme falou isso? Eu fiquei confuso agora, mais do que já estou. Tive a oportunidade de ouvir Elesis assim como ela também me ouviu, mas, ao invés de ter respostas, eu só aumentei as minhas perguntas.

Como eu vou fazer para aproximar-me de Elesis novamente? Essa ruiva é imprevisível, talvez ela nem queira mais falar comigo e espere uma atitude minha, mas eu não sei o que fazer. Droga!


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Notas finais do capítulo

Se tiver ruim, pode falar que eu refaço o capítulo, sem problemas. Se tiver erros, também pode avisar. Não sei quando o próximo sairá, mas não demorarei. É isso... O sono está me fazendo ser mais direta no que eu tenho para dizer e nem usar emotes, eu usei '-'.



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