Em Minhas Memórias escrita por Mary e Mimym


Capítulo 14
Hospital


Notas iniciais do capítulo

Oie!!!! Mais um capítulo quentinho para vocês. Agora que o drama realmente deu seu ponto inicial, o que será que aconteceu com o Ronan depois do súbito desmaio?
Não irei mais prolongar a nota, boa leitura!! *-*
OBS.: Elesis também narrará um pouco, depois voltará para o Ronan.



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Elesis ON

Minha mãe pediu para que eu fosse à casa do Ronan, por que eu? Ela pode muito bem ir sozinha! Eu reclamei um pouco, é claro.

–Tá bom, Elesis, eu vou também, satisfeita? Você não pode fazer nada quando eu peço, eu hein!

–Eu só quero entender o porquê de eu ir também. – Disse, tentando manter minha razão.

–Porque é um pedido seu, não meu. A mãe do Ronan esteve com a gente nos momentos em que mais precisamos. Então, agora, iremos falar com ela e convida-la para o seu aniversário.

–Mas não podemos fazer isso depois? Sério, o meu aniversário falta um pouco para chegar. – Tentei encerrar o assunto, achei que minha mãe não tinha mais argumentos para me convencer a ir.

Não que eu não goste da tia, mas e se o Ronan estiver lá? Eu... Eu não sei se conseguiria olha-lo. Tantos anos eu me escondi dele e agora que eu me revelei, não sei o que fazer.

Não me “escondi” porque quis, eu realmente estava mal, perder meu pai foi horrível, ele saiu de casa e nem disse “Tchau”. Não existia mais vida para mim fora do meu quarto. Ouvir a voz do Ronan tentando me tirar de lá era o que me confortava. Porém, eu sabia que um dia aquilo iria acabar. E acabou.

Minha mãe parecia pensar em algo para me contradizer e conseguiu.

–Não importa o tempo que falta, ela esteve ao nosso lado em momentos em que nos vimos sozinhas sem seu pai. E, além do mais, eu pedirei ajuda a ela para confeccionar tudo. Ou você acha que eu conseguirei fazer tudo sozinha em um mês e meio?

–Mãe, não irei fazer quinze anos. Não precisa disso tudo.

–Você perdeu seus quinze anos, por causa dos acontecimentos das nossas vidas. – Ela deu uma pausa e depois continuou. Durante a pausa, eu vi que ela estava com os olhos marejados, tentei não olha-la, não suportaria vê-la daquele jeito – Irei resgatar o tempo perdido.

Eu apenas assenti, não tinha como negar o que minha mãe disse, ela estava certa, devemos resgatar o tempo perdido.

Desliguei meu computador, Lass já não estava mais online. Minha mãe me esperou na porta e saímos.

Avistei de longe Ronan e mais um moço, não reconheci, este conversava com a mãe dele. Meu coração acelerou. Depois ele entrou no carro e foi embora. Nem pude ver quem estava dentro, só espero que não seja a Arme.

Espantei logo esse pensamento quando minha mãe me cutucou para irmos de encontro com a tia. Ao chegarmos lá, a cumprimentei e nem olhei para trás, mesmo meu coração pedindo muito para ver Ronan se afastando aos poucos da minha visão.

Minha mãe que conversou com a mãe do Ronan, eu apenas ouvia e concordava. Senti um vazio quando o azulado foi embora. Senti o mesmo vazio de quando ele “me deixou” e foi para outra escola.

Eu sei que estou sendo egoísta, mas odiei isso... E me culpo por culpa-lo de tudo.

Depois que a conversa acabou, voltei para casa. A mãe do Ronan aceitou ajudar a minha mãe na festa que ela quer tanto fazer. Eu já disse milhões de vezes que não queria, era uma perda de tempo, mas... Sabe quando mãe põe uma coisa na cabeça? É impossível de reverter a situação. Então aceitei logo.

Fiquei vendo alguns episódios de séries no computador mesmo. Minha concentração na tela foi dispersa quando eu ouvi o carro arrancando de forma brusca perto da minha casa.

Corri para a janela e vi que era o carro do pai do Ronan. Minha mãe também apareceu na sala para ver o que havia ocorrido.

–O que aconteceu? – Ela me perguntou.

–Não sei. – Respondi, com certa aflição no peito.

Elesis OFF


Ronan ON


Abri os olhos lentamente. Arme e Lire não estavam ao meu lado. Levantei subitamente para procura-las, ainda não havia percebido onde estava.

–Calminha aí, meu jovem. Pra que tanta pressa? – Perguntou uma moça, com roupa branca e me fazendo deitar na cama novamente. Cama?

–Onde eu estou? – Perguntei assustado.

–No hospital.

–O que aconteceu?

–Você desmaiou enquanto assistia a uma peça. Dramático, não? – Ela tentou fazer piada? Porque eu não achei graça nenhuma.

Pus a mão no rosto, não conseguia me lembrar do que aconteceu, só recordava de uma coisa.

–Tinha duas meninas comigo, onde elas estão? – Fiquei preocupado.

–Estão lá fora. Sua mãe também está aí. O médico disse que elas poderiam ir embora, mas elas preferiram ficar. São suas amigas mesmo e ficaram bem preocupadas com você.

Olhei a minha volta, estava no soro.

–Minha cabeça está doendo muito. – Avisei.

–Agora o senhor avisa que a cabeça está doendo, né? – Acho que levei uma bronca da enfermeira – Você havia sentido essa dor em casa?

–Sim. – Respondi acuado.

–Você sabe da gravidade do seu problema? – Ela não me deixou responder – Não pode esconder o que sente, deve contar tudo para a sua mãe. A sua doença não é brincadeira, Ronan.

–Como sabe o meu nome? – Fiz uma pergunta meio óbvia, mas como nada estava tão nítido para mim, nem liguei.

–Bem, eu te conheço. Fui eu quem tratou de você depois do acidente, você ficou um mês neste hospital e eu fui sua enfermeira.

Tentei me lembrar, mas nada veio na minha cabeça.

–Desculpa. Não irei mais ocultar as dores que sinto.

–Depois o médico virá e fará uma série de perguntas, responda a todas, tá bom? Deixarei você descansar agora.

Quando ela ia sair do quarto, a chamei.

–Pode pedir para as meninas virem aqui? – Perguntei.

–Eu não deveria deixar. – Fiz uma expressão de tristeza com o que ela disse e a enfermeira riu – Mas hoje passa.

–Obrigado. – Agradeci.

Não demorou muito e Arme e Lire entraram no quarto. Pensei que minha mãe viria também.

–A sua mãe ficou lá fora conversando com o médico. – Avisou Arme e eu arregalei os olhos.

–Você lê mentes, estranha?

–Por quê? – Ela não entendeu e eu comecei a rir.

–Agora você está rindo, né Ronan?! – Lire foi agressiva nas palavras, ela se aproximou de mim e eu pensei que apanharia.

–O que foi? – Perguntei já esperando para receber um belo tapa.

–Ficamos desesperadas quando você ficou inconsciente. Na próxima vez não faça mais isso!

–Desculpa, não foi minha intenção, eu não queria estragar o passeio. – Tentei me desculpar.

–Você está todo errado, então cala a boca. – Lire cruzou os braços e virou o rosto.

Olhei para Arme e até ela estava surpresa com a reação da loira. A puxei para perto de mim e a abracei.

–Desculpa, tá? – Pedi e ela assentiu, acho que Lire nunca passou por um momento tão desesperador como este e por isso reagiu assim.

–Depois eu irei querer saber de tudo, para não passar por isso novamente, ou pelo menos saber o que fazer. Agora que sou amiga de vocês, acho que não tem motivos para esconder sobre isso de mim.

Lire parecia tão determinada, que Arme me olhou como se perguntasse se eu concordava com o que a loira disse.

–Tudo bem, eu irei contar.

–Tem certeza, Ronan? – Indagou Arme.

–Sim, Lire tem razão, não posso esconder isso para sempre, até porque eu não tenho esse “Para sempre”.

–Não diga isso, você tem muito que viver. – Minha baixinha estava começando a chorar, só ela sabe o que eu passei e eu sei, parcialmente, o quanto ela sofreu. Ser meu amigo dá nisso.

Lire viu uma cadeira no quarto e a puxou para perto de minha cama. Arme fez o mesmo.

–O seu pai sabe que está aqui? – Quis saber antes de começar a contar, agora eu fiquei preocupado com Lire.

–Sim, eu liguei para ele quando você desmaiou e meu pai o trouxe aqui.

–Ah... – Fiquei muito envergonhado agora – Depois eu quero agradecê-lo por tudo.

–Sua mãe já fez isso várias vezes. Até seu pai. – Comentou Arme.

–Meu pai está aqui? – Perguntei surpreso.

–Sim, ele veio assim que soube do seu desmaio.

–Não querendo adiantar as coisas, mas temos pouco tempo de visita. – Alertou Lire, querendo saber logo, talvez para entender o que de fato aconteceu comigo.

–Bom, eu não recordo muito do meu acidente, só tenho flashes, é horrível. Eu só vejo sangue em minhas mãos, minha cabeça doendo de forma insuportável. Eu querendo gritar por ajuda e nada saia da minha boca. Só me lembro da agonia que passei. Não sei do antes e nem do depois. Nem da minha recuperação eu lembro direito. Sei que Arme me ajudou, mas não recordo dos dias que passei no hospital.

–Ronan sofreu um acidente de carro. – Olhei para a porta e era a minha mãe – Eu te pedi tanto, filho... – Ela disse, como se brigasse comigo por ter me dito o que fazer e eu não fiz, mas brigasse como mãe ao ver o filho doente. Então não foi agressiva e sim decepcionada.

Minha mãe começou a chorar, eu me senti um ser horrível. Eu deveria ter contado que estava com tonturas e fortes dores de cabeça. Mas eu fui idiota o bastante para esconder.

Ela se aproximou de mim e sentou na cama.

–De agora em diante, não irá mais me esconder nada, está entendendo? – Minha mãe me olhou com raiva, raiva de mãe, raiva não de mim, mas sim de não ter impedido que acontecesse o que aconteceu.

E isso me matou por dentro, porque ela se culpava por eu estar desse jeito.

–Mãe... – Minha voz saiu trêmula, talvez eu quisesse chorar em seus braços e pedir mil vezes desculpas, até que uma revertesse toda a situação em que me encontrava.

–Quer que eu conte o que aconteceu? – Ela fez carinho em meu rosto – O médico disse que seria bom você saber o que houve naquele dia e os posteriores.

Assenti positivamente, as meninas não disseram nada. Quando eu olhei para Arme e Lire, senti falta de mais alguém. Queria muito que Elesis estivesse ao meu lado. Mas não queria também, para não vê-la sofrer. Minha mente estava confusa e indecisa.

Minha mãe começou a falar e imagens tomaram minha cabeça.

Flashback ON

“Eu estava andando com meus pais, voltávamos da lanchonete que fomos para passar o final de tarde de sábado. Conversávamos sobre alguma coisa. Ríamos. O sinal estava fechado, eu na frente dos dois. Atravessei primeiro. Minha mãe gritou.

–RONAN!

Olhei imediatamente para frente, um carro veio em minha direção, numa velocidade estrondosa, não concluí meus pensamentos. Arregalei os olhos, o farol estava forte! Não deu... Não dava para correr. A buzina gritou em meus ouvidos. Alertando-me. Tarde demais.

O choque foi tremendo, fui jogado para trás e, ao colidir com o chão, bati no asfalto brutalmente. Ouvi um estalo, algo surreal. Um membro quebrado, talvez. Um traumatismo craniano, mais provável e mais convicto.

Consegui levar minha mão até minha cabeça, quando fui ver, minha mão estava cheia de sangue.

Uma dor arrebatadora, um nó na garganta, um zumbido irreconhecível. Meus pais se aproximaram. Perdi a consciência.

O cara que dirigia o carro estava bêbado? Ele era um maluco? Maníaco? Ele acabou com a minha vida. Pensei que morreria, foi por muito pouco.”

Flashback OFF

–Chega! – Gritei, sufocado com minhas próprias lembranças. A dor que eu sentira no acidente estava voltando – Eu não quero mais ouvir.

Tampei os ouvidos, minha mãe me olhava sem saber o que fazer. Arme e Lire estavam do mesmo jeito. Não aguentei, não tinha como aguentar. Chorei, mas não de dor, ou raiva, talvez por não aceitar que eu havia perdido a minha vida, ela deixou de ser normal e virou um completo caos.

Aos poucos eu recordava das minhas fisioterapias, dos dias de visita. Tudo ainda superficialmente, mas me lembrava.

–Eu não contarei mais, tudo bem? – Minha mãe se levantou.

Arme também e veio em minha direção, me abraçou forte. Eu retribuí. Agora eu faço ideia do que minha baixinha passou quando soube de tudo.

–Vejo que nosso paciente está muito bem acompanhado por três lindas mulheres. – Disse um rapaz que entrou no quarto, deduzi que era meu médico e ele deduziu outra coisa também – Não está me reconhecendo, Ronan?

–Desculpa, não o conheço. – Disse, desfazendo o abraço com a minha baixinha.

–Ele é o médico que tratou de você. – Disse Arme.

–É, isso aí. A sua amiga se lembra de mim. Ela vivia aqui ao seu lado, eu lembro. Você que não se lembra de muita coisa, né? – Ele se aproximou – Nem de mim.

O médico fez uma expressão de tristeza e eu ri, enxuguei rapidamente as finas lágrimas que escorriam.

–Bem, pedirei para as ladies saírem, terei que conversar com o jovenzinho agora.

Lire se levantou e veio falar comigo.

–Agora eu entendo tudo. – Ela segurou a minha mão, mas cuidadosamente, pois era a que estava com o soro – Eu e Arme estaremos sempre ao seu lado.

Nunca imaginei que Lire fosse tão amiga, como ela estava sendo. Depois disso, as duas meninas saíram do quarto. Minha mãe ainda permaneceu.

–Ele só conseguiu ouvir e lembrar o que aconteceu no dia do acidente. – Comentou.

–Entendo... Mas isso é comum, é difícil se lembrar nitidamente do dia do acidente, o paciente chega a sentir as dores, como se tivesse acontecendo novamente. O Traumatismo Craniano tem essa característica, em alguns casos, mas tem. O do Ronan ainda não atingiu o estágio grave, mas se ele continuar se comportando assim, escondendo as dores que sente, pode mudar drasticamente e não terá como reverter a situação.

Acho que o médico foi bem direto em querer me assustar. Minha mãe me olhou e eu assenti, mostrando que havia entendido a parte de não esconder minhas dores quando eu sentir.

–Eu estarei lá fora, se precisar me chama, tá meu amor? – Minha mãe me deu um beijo na testa e acariciou minha bochecha.

Logo em seguida saiu do quarto. Agora era eu e o médico.

–Sabe que o meu trabalho, minha profissão, é salvar vidas, curar pessoas de enfermidades, não sabe?

–Sim...

–Pois bem, eu não posso ajudar se a pessoa não se esforçar também. Será bem mais difícil conseguir algum resultado assim. Eu não estou brigando com você. Entenda bem. Eu sei que tentou não preocupar seus pais, escondendo o que sentia. Mas você não se lembra de tudo o que aconteceu. Sua mãe sofreu muito. Tinha dias que você não acordava. Era como se entrasse em coma. E você ficou assim durante um tempo. Assustava muito os seus pais, mas eles nunca perderam a esperança. Não quero que perca também. Você não terá uma vida normal, não irei mentir. Mas sua vida acabou por causa disso? Não! A sua vida irá seguir como de qualquer outra, como estava seguindo. Você só precisa se precaver melhor. Cuidar da sua saúde. Prestar atenção no que você pode ou não fazer. Sair com os amigos, você pode fazer isso naturalmente, comer besteira, de vez em quando, mesmo assim pode. Não irei te pressionar. Deixarei você em observação por hoje e depois começarei uma série de perguntas.

Depois desse discurso todo, eu nem sabia o que dizer, mas se eu não abrisse a boca logo, ele continuaria a falar mais e mais.

–Eu tenho cura? – Matei logo a minha curiosidade. Eu sei que, mesmo se não tivesse, no estágio em que me encontrava, eu ainda sim faria de tudo para não ter mais essas recaídas. Mas se o médico me afirmasse que eu poderia viver sem esse traumatismo, ou pelo menos que eu poderia diminuir gradativamente esse problema; uma nova esperança irá nascer em meu coração e eu farei de tudo para melhorar e viver bem melhor.


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Notas finais do capítulo

OMG!!! O que acharam? Foi bem emocionante? Sejam sinceros, por favor u.u
Erros... É só avisar ^^
O próximo capítulo pode demorar, ou não. Tenho apresentação sobre Semana da Arte Moderna na segunda e preciso saber o que falarei, então não devo escrever essa final de semana, mas tentarei não demorar tanto assim. Até!!



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