Levantei e a olhei. Lass estava passando e segurou a mão de Elesis, puxando-a para ir embora com ele.

Foi como se eu estivesse na praia, achado a concha mais perfeita e a onda a tivesse levado de mim... Foi mais ou menos isso.

Voltei para a realidade e fui para a sala de aula. Mais um professor se apresentou e pediu para que os novos alunos se apresentassem. Levantei contra a minha vontade.

Apresentamo-nos, eu avisei que havia mais uma aluna do terceiro ano, mas por conta da dependência, ela estava em outra turma. Depois disso, voltei para a minha cadeira e abaixei a cabeça.

Não ouvi nada do que o professor disse, pouco me importei. Era bom eu começar a me importar mais com os estudos, mas naquele momento nada me animaria.

O tempo foi passando, passando, passando... passando... passando... passando... E com isso o sinal da saída tocou. Arrumei meu material e saí. Despedi-me da Arme, a mesma esperava pela Lire.

–Ronan! – Ouvi alguém me chamar e me virei.

–Fala, Ryan. O que foi?

–Eu sei que não é da minha conta, mas... – Ele deu uma breve pausa – Não quero ver você e o Lass implicando um com o outro. Achei você legal, quando te conheci. Queria que ficasse no nosso grupo, você é bem inteligente e não tem muitos amigos na turma.

–Eu sei. Na verdade eu tenho: Você e Arme. – Sorri, mas estava sem graça, realmente é chato não ter muitos amigos no último ano, mas eu não ligava imensamente para isso.

–Eu sei que ter poucos amigos é melhor do que ter um monte e se sentir sozinho entre eles.

Uau! Ryan se superou na sua filosofia, me interessei mais pelo assunto.

–O que eu quero dizer, é para você e o Lass conversarem sobre a Elesis e chegarem a um consenso. Virá trabalhos em grupos e eu conheço bem a minha turma. Se você começar a ficar sozinho, ninguém será simpático com você. Vai por mim. A nossa turma é muito chata com essas coisas. E você já tem um grupo: o meu. Mas precisa se resolver com o Lass.

–Ryan, você fala como se a culpa fosse minha.

–E não é? Ele te pediu para ficar longe da Elesis, mas você ainda fica perto dela.

–Ela precisa dizer isso na minha cara, não vou aceitar nada vindo do namoradinho da Elesis.

–Tá vendo? Os dois ficam de implicância. Eu hein. Assim não dá para conversar.

–Ryan, eu sei que suas intenções são as melhores, mas eu não tomarei nenhuma atitude. Só levei ordem até agora. Deixa eu me virar, sozinho.

–Tá bom, eu só estou te avisando do que está por vir.

–Obrigado. Sei que estará ao meu lado quando eu precisar e, consequentemente, me dirá “Eu te avisei”.

–Pode ter certeza que sim. – Ryan riu e deu uma pausa – Só isso que eu queria dizer, até mais.

–Até... – Me despedi e fui embora.

Fiquei pensando um pouco no que Ryan disse, realmente preciso me firmar em um grupo. Não que eu ache certo haver divisões de grupos na turma, mas a sociedade de hoje é assim, para falar a verdade, sempre foi assim.

Cheguei em casa e minha mãe já havia saído para trabalhar. Joguei a mochila no sofá e fui para o quarto. Liguei meu notebook e fui tomar banho. Senti uma baita fome assim que saí do banheiro.

Antes de descer para almoçar, entrei na internet para ver se a Lire já havia deixado alguma mensagem. Menina rápida! Fui ler o aviso dela:

“A peça começará às 18h, meu pai flou q poderá nos levar até lá, então estejam prontos 17:30, ok? Bjos e até amanhã!!”

Fechei a mensagem, mas deixei o note ligado. Depois iria mexer, não tinha mais nada de importante para fazer mesmo.

Almocei, mexi em algumas coisas no notebook, vi televisão (não tinha muita coisa legal passando) e lanchei. Minha tarde foi entediante, mas tudo bem. Minha mãe chegou e eu avisei sobre sábado. Ela me deixou ir, mas pediu para eu avisar ao meu pai e pegar dinheiro com ele.

Como já estava tudo certo, fui dormir. Quando fui deitar, senti uma tontura forte. Pus a mão na cabeça, parecia que tinha algo na minha garganta, me senti muito estranho. Pensei em chamar a minha mãe, mas ela se preocuparia muito e não permitiria mais que eu saísse com as meninas. Resolvi deixar aquilo de lado.

Deitei e fechei os olhos, uma dor de cabeça teimava em atrapalhar meu sono. Estava frio, decidi pegar um edredom, mas a tontura era tanta, que não consegui me levantar. Tudo rodava, parecia que eu estava de ressaca.

–Droga! – Reclamei, tentando me recompor.

O cansaço era tanto que eu acabei deixando a dor me domar. Senti-me um fraco por não aguentar levantar da cama. Eu precisava tomar meu remédio, para cessar essa tontura, mas não conseguia mover meu corpo.

Depois de um tempo, acabei dormindo e nem sei como. Acordei com minha cabeça latejando ainda, mas nada que me impedisse de levantar da cama.

Finalmente sábado.

Levantei e fui para a cozinha, saber se minha mãe estava em casa.

–Bom dia, filho. – Nem precisei sair do quarto para tirar a minha dúvida.

–Oi, mãe. O que faz aqui? – Perguntei, sentando na cama.

–Vim avisar que a Arme ligou para saber se está tudo combinado para hoje e para saber se você leu a mensagem da Lire.

–Ah é. Eu me esqueci de responder a mensagem dela. O que você disse?

–Que estava tudo certo.

–Valeu. – Sorri para ela e minha mãe retribuiu.

–O café já está pronto.

–Já vou.

Ela saiu do meu quarto e eu fui trocar de roupa. Desci as escadas e fui para a cozinha.

–Meu pai já foi? – Perguntei.

–Sim, mas ele deixou o dinheiro na mesinha.

–Tá.

Fiz um pão, preparei meu Nescau e fui para a sala ver algo de bom na TV. Passei alguns canais e parei no desenho.

O dia não tardou muito para passar, almocei, vi um filme legal que passava, mexi no notebook, minha mãe me mandou arrumar o meu armário, mas estava com preguiça e não fiz. Quando deram quatro horas da tarde, fui ver a minha roupa. Escolhi o básico: calça jeans, uma blusa preta, uma jaqueta escura e tênis.

Esperei mais um pouco e fui tomar banho. Cinco horas da tarde, Arme ligou lá pra casa, mas minha mãe quem atendeu.

–Ronan! Telefone! – Avisou e eu desci correndo para atender.

–Fala Arme.

–Como sabia que era eu?

–Quem mais me ligaria?

–De fato... Bem, a Lire daqui a pouco estará aqui, como ela não sabe onde você mora, indicarei ao pai dela onde é a sua casa.

–Ok.

–Já está pronto?

–Já tomei banho, serve?

–É bom não demorar a se arrumar, tá?

–Eu não sou como você, senhorita Arme. – Brinquei e ela riu.

–Nos falamos daqui a pouco, tenho que me arrumar agora, beijos.

–Até. Beijos.

Coloquei o telefone no gancho e desliguei, fui para o banheiro de baixo mesmo e arrumei meu cabelo. Antes de sair, olhei para o armário da pia e pensei em pegar o remédio.

–Não, melhor não. Eu estou bem, foi só uma tontura passageira. – Deduzi e saí do banheiro.

Fui até a sala e peguei o dinheiro. Fiquei esperando o pai da Lire. Minha mãe estava vendo televisão, a acompanhei durante a espera. Quando deu o horário marcado, ouvi a buzina do carro.

Fui até a porta e minha mãe foi comigo, ela queria conhecer o pai da Lire, para saber com quem eu iria. Coisa de mãe.

O pai da loira desceu do carro e nos cumprimentou. Eu acenei para as meninas, fiquei com vergonha naquele instante. Eles conversaram brevemente e eu me despedi da minha mãe.

–Juízo, hein Ronan! – Ela riu, fiquei mais envergonhado ainda – Divirtam-se.

Acenei para minha mãe e entrei no carro.

–Oi meninas.

–Oi! – As duas me responderam bem animadas.

Minha mãe esperou o carro sair para entrar em casa, fiquei observando e me surpreendi com uma cena. Não sei o que aconteceu depois, até porque não estava mais ali.

Elesis e a mãe dela foram falar com a minha mãe. Meu coração apertou um pouco, minha expressão até mudou enquanto eu via a imagem da Elesis se afastando.

–O que foi? – Perguntou Arme, estávamos no banco de trás e Lire do da frente.

–Nada. – Minha baixinha não acreditou no que eu disse, então mudei logo de assunto – Eu li sobre o que será a peça e achei bem interessante.

–É bem raro ouvir isso dos adolescentes de hoje. – Comentou o pai da Lire – Quando a minha filha disse que sairia com os amigos, pensei que fosse para uma festa e já ia dizendo que não. Fiquei surpreso, vejo que ela escolheu bem as amizades.

Ele sorriu para a loira e ela ficou com vergonha, eu ri e a Arme também.

–Obrigado. – Disse, agradecendo pelo elogio.

Não demoramos muito para chegar. O pai da Lire estacionou e descemos.

–Que horar eu venho buscar vocês? – Ele perguntou.

–Hum... – Pensou Lire – Umas dez horas está bom.

Ela nos olhou, eu e Arme concordamos.

–Estão com o dinheiro certinho aí para lancharem? – Perguntou o pai dela novamente.

–Sim. – Nós três dizemos juntos.

–Acho que chega de perguntas, né? – Ele riu – Até mais e toma conta delas duas, tá Ronan?

Eu assenti positivamente, o pai da Lire se despediu e foi embora. Fomos para o Teatro, era estranho e maravilhoso estar num lugar como aquele. Era a minha primeira vez.

–Estão ansiosos? – Perguntou a Lire.

–Sim. – Eu respondi, com um sorriso bobo no rosto ao ver como era a parte de dentro, tudo bem decorado, luzes deixando o lugar majestoso – É a primeira vez que venho a um Teatro.

–A minha também. – Disse Arme, segurando a minha mão.

–Eu só fui uma vez com os meus pais, essa é a minha segunda. – Lire jogou na nossa cara que tinha mais cultura.

Nós três rimos. Como a peça teatral era de classificação Livre, não houve problema entrarmos sem acompanhantes. Eu era o responsável pelas duas, não por ser o mais velho, porque Arme tinha a mesma idade que eu, mas eu era o único menino.

Os ingressos foram comprados pela Lire, então fomos para os lugares reservados. Ficamos não muito próximos ao palco e nem muito distante. Um ótimo lugar por sinal.

Não demorou muito e o Teatro estava cheio e a apresentação deu seu início. Senti uma tontura, talvez fosse o som alto que começou a tocar. Percebi que estava suando frio.

Eu estava no meio das duas. Lire estava bem atenta no que acontecia, assim como Arme, eu queria estar, mas minha cabeça estava querendo explodir e eu não tinha foco no palco.

Minha baixinha segurou a minha mão, acho que aconteceu algo que a surpreendeu. Ela acabou reparando que eu estava gelado.

–Está tudo bem, Ronan? – Arme me olhou.

–Sim. – Disse, tentando me focar na peça, para que ela não percebesse algo.

Mas foi em vão. Arme passou sua mão em minha testa e a mesma estava molhada de suor.

–Você não está bem. – Concluiu.

–Eu estou sim, vamos ver a peça? – Encerrei o assunto.

Lire nos olhou, fizemos um jogo de olhares e ela entendeu que nada estava acontecendo. Pelo menos foi isso o que eu quis passar. Arme havia voltado a prestar atenção na apresentação, me senti aliviado. Não queria estragar aquele passeio.

Consegui me focar na peça, estava tendo uma cena de comédia, todos riram. Achei que estava começando a melhorar. Senti calor e tirei a jaqueta, mas depois senti frio. Comecei a suar novamente e a dor de cabeça voltou, senti algo úmido escorrendo no meu nariz.

–Não acredito... – Sussurrei e Lire ouviu.

–O que disse? – Perguntou ela, me olhando.

Tentei disfarçar e limpei rapidamente a pequena linha de sangue antes que ela visse, mas Lire percebeu que eu não estava bem.

–Ronan, você está pálido. – Comentou Lire, chamando a atenção da minha baixinha.

Arme encostou-se ao meu braço e percebeu que eu estava gelado.

–Eu disse que você não estava bem. – Ela me encarou e bufou.

–Parem de se preocupar comigo, eu estou bem, vamos ver a peça, por favor? –Eu disse como se estivesse com toda razão.

–É claro que estamos preocupadas com você. Olha o seu estado. Está suando frio e está pálido. – Arme falou num tom de raiva, mas não se exaltou para não chamar atenção dos espectadores.

–Ronan, quer ir lá fora tomar um ar? Iremos com você, sem problema. – Aconselhou Lire, mas eu neguei com a cabeça.

–Eu estou bem. – Encarei as duas.

–Você é teimoso, Ronan! – Arme se estressou e cruzou os braços, voltando a olhar para a apresentação.

Lire ficou me olhando algum tempo, mas desistiu e também voltou para a peça.

Olhei para o palco e minha visão estava embaçada, inclinei a cabeça para trás na tentativa de me recompor, mas não adiantou em nada. Voltei a olhar para o palco e a última coisa que vi foram as luzes da apresentação.