Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 9
#8 - Wishkas e Convite


Notas iniciais do capítulo

Yoo minna!
Minha desculpa é a de sempre - faculdade e trabalho - então não me matem ¥^¥
Ai está mais um capítulo! Espero que gostem! E obrigada a:
#Thamiris Alves
#Vlad Ember
#Sassu
#Reluzine
Amo vocês!



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Girei a chave na fechadura e entrei em casa, chutando as sapatilhas longe e ainda com um sorriso no rosto. Dei uma risadinha, tomar sorvete com Kid foi tão divertido! Como eu estava com vergonha de pegar meu sorvete, já que ele ia pagar, Kid me obrigou a fazer o dele e pegou o meu para fazer. Me rebelei e não quis dizer do que eu queria quando perguntou, e o resultado disso tudo foi um sorvete todo torto e assimétrico e outro perfeitamente alinhado e com mil sabores diferentes.
Depois sentamos perto do ar condicionado, porque o calor estava tenso, e ficamos conversando sobre besteiras - comida, cachorros, o tio que passou cantando We Are The World - até começarmos a falar de filmes e eu descobrir que ele gostava de Sucker Punch.
Enfim, resumindo, ele me deu uma carona e me fez ficar rindo que nem uma boba do seu jeito fofinho de ser.
Ouvi passos e virei a cabeça, assustada, bem a tempo de ver Blair saindo da cozinha.
– Yoo, Maka-chan!
Ela usava um avental por cima de sua "roupa de trabalhar", o mini short e a jaqueta curta, e segurava um colherão de mexer sopa como se fosse um martelo. E pior: parecia super satisfeita com aquilo.
– Yoo, Blair-chan... - respondi, desconfiada. - O que você está fazendo?
– A Blair está cozinhando! - anunciou, feliz. - O Soul-kun mandou uma mensagem avisando que você ia chegar mais cedo, mas não chegou. Então, como estou de folga hoje, achei que seria gentil fazer o almoço, até pra o Soul-kun não querer brigar com você.
Sorri, agradecida. Eu realmente não queria que o Soul ficasse me perguntando depois porque eu não fiz o almoço cedo, porque eu teria de contar que estava com Kid e as coisas não acabariam muito bem. Soul insistia que havia algo estranho no Kid, e os dois nunca se davam muito bem.
Pode parecer engraçadinho, mas era assustador, e como eu não ia deixar de ver um por causa do outro, preferia evitar falar sobre isso.
– Valeu, Blair, mas... o que você está fazendo?
Aquele cheiro no ar era até gostoso, mas era também meio estranho. Tentei passar por ela e conferir, mas fui barrada.
– É uma surpresa, Maka-chan! - explicou.
– Eu sei, mas...
– A Blair dá conta! - me interrompeu, magoada. - Confie mais em mim.
Hesitei um pouco, mas acabei dando de ombros, sorrindo.
– Tá bom, Blair. Não vou me meter.
– Nyah! Vou continuar, então!
Ela voltou para a cozinha, saltitante, e eu catei minhas sapatilhas de volta e fui para o quarto, com medo.
Com certeza, não era uma boa ideia deixá-la a solta pela cozinha. Blair nunca havia estado frente a frente com um fogão, e o máximo que sabia sobre culinária era o que poderia ter aprendido me vendo cozinhar de vez em quando. Nada animador. Mas Blair sempre tentava ajudar ao máximo aqui em casa, e era minha amiga apesar daquela safadisse toda, então não sabia como podia me recusar a deixá-la cozinhar.
Além disso, tínhamos hambúrguer de microondas para emergências.
Guardei tudo em seu devido lugar - ALGUÉM tinha que ser organizada naquela casa - e fui pegar uma roupa qualquer pra passar a tarde. Separei um short azul-marinho, folgado e velho, com uma blusa branca de manga curta que estava descosturando na lateral direita. Cosplay de mendigo mode - ON.
Depois de tomar banho, e brigar com Blair pelo direito de transitar na minha casa, consegui entrar na cozinha e sentei na bancada, mexendo no celular. Havia uma nova mensagem do Kid.

KID: Maka, seu sorvete assimétrico sujou minha camiseta =(
MAKA: Ñ foi culpa do meu sorvete, vc q comeu ele. Vc come igual criança, Kiddo. =p
KID: Mentirosa u.u
MAKA: Pergunte a sua camiseta kkkkk

– Maka. - Blair me chamou. - Como foi na escola hoje?
– Legal. - sorri, guardando o celular. - Tiveram umas lutas, e eu ganhei a minha. E saí mais cedo! - comemorei.
Blair concordou com a cabeça e mexeu o conteúdo de uma panela misteriosa antes de vir sentar comigo.
– Sei, mas... Porque demorou tanto pra chegar em casa?
– Ah, isso. - ri. - Fui tomar sorvete com o Kid.
– É? Porque? - perguntou.
– Porque ele quis pagar. - dei de ombros. - E eu nunca nego sorvete.
E também, pensei, porque o Kid estava uma gracinha me oferecendo carona, e eu não conseguiria recusar.
– Está explicado, então. - Blair anunciou.
– O que?
– Porque você está feliz, né. Sorvete. Só não entendo como você não enjoa disso.
– Do mesmo jeito que você não enjoa de peixe.
Ela ergueu as sobrancelhas de repente, e me perguntei se algo que eu tinha dito poderia ter incomodado ela, mas então Blair se levantou e foi cantarolando e rebolando até o fogão.
– Nyah, o Soul-kun está chegando!
Cinco segundos depois, a porta da frente foi escancarada, batida, trancada, e Soul veio para a cozinha, se arrastando - vale notar que a Blair deixou ele entrar sem uma palavra contra. Soul jogou a mochila no chão e se sentou à minha frente.
– Cara, tô com uma fome do capiroto. - disse, arfando. - Isso não é nada cool.
Revirei os olhos.
– Você PRECISA parar de falar cool por qualquer coisa, Soul. Vou acabar pegando essa mania também.
– O almoço está pronto! - Blair disse.
Me levantei para pôr a mesa e Soul olhou para Blair, temeroso.
– Blair, não me diga que você...
– Sim! Eu que fiz o almoço hoje! - respondeu, feliz.
– Maka, como você pode deixar isso acontecer? - Soul perguntou, parecendo perturbado. - Nós vamos morrer envenenados e essa gata vai fugir com a herança!
Segurei o riso e voltei para a mesa, com os talheres. Blair parecia magoada, então tratei de defende-la, mesmo concordando com o Soul.
– Nunca provamos a comida dela. Talvez seja gostosa.
Soul me olhou em dúvida, mas não disse mais nada. Acabei de arrumar a mesa e me sentei de novo, enquanto Blair servia o almoço.
Acho.
Olhei para o prato, meio em dúvida se aquilo era comestível ou não. No mínimo, era suspeito. Parecia sopa de feijão, mas bem grossa. Tipo, muito mesmo, igual macarrão com feijão batidos no liquidificador. Apesar disso tinha um caldinho ralo, e algumas coisas brancas e pequenas misturadas no meio.
Cutuquei aquilo com o garfo e olhei para Soul, que devolveu meu olhar.
– Isso é feito de que, Blair? - ele perguntou.
– Prove e tente descobrir, Soul-kun!
Trocados mais um olhar - uma briga silenciosa, que eu perdi. Olhei para o prato, com medo, mas pelo menos aquilo cheirava bem. Eu dificilmente não gostaria de algo que cheirasse bem.
Levei uma garfada a boca rapidamente, para não desistir, e arregalei os olhos: aquela bagaça era boa!
Não tinha muita coisa pra mastigar, mas a consistência era boa, e o gosto também. Aqueles pedaços brancos eram peixe cozido, e estava temperado na medida certa.
Ao notar minha expressão, Soul murmurou:
– Não é possível... - e experimentou também.
– Nyah, vocês gostaram da comida da Blair?
– Blair, você... Cara... Tá muito cool! - Soul disse, surpreso.
Blair, satisfeita, juntou-se a nós no "ataque" e logo a comida malvada foi derrotada, graças às Meninas Superpoderosas (ou quase isso).
Ficamos sentados à mesa mais um pouco, suspirando em plena paz, até Soul perguntar:
– Mas aí, Blair, aquilo era feito de quê?
Blair sorriu e se inclinou para frente, como se fosse contar um segredo, o que nos fez inclinar um pouco também.
– Eu queria fazer uma sopa, então primeiro tratei o peixe e separei as espinhas, já que Soul-kun e Maka-chan são filhotes.
Nós entreolhamos, mas deixamos essa passar.
– Depois coloquei peixe para cozinhar com água, sal, aquele negócio vermelho e aquele outro negócio salgado que derrete. Aí, como a Blair não sabe fazer macarrão, ela colocou Wishkas.
Blair terminou meio que dando uma rebolada comemorativa. Houve um minuto de silêncio, enquanto assimilávamos o que ela disse, então Soul se virou pra mim e, calmamente, declarou:
– Comemos comida de gato.
– Anh... - murmurei, chocada, sem saber direito o que fazer.
– Maka. - ele insistiu, já não tão calmo assim. - Comemos comida de gato.
Apenas concordei com a cabeça, pensando em como era estranho que tenhamos gostado tanto.
– Bom, mas acho que não faz mal... Espero... A Blair tá viva até hoje. - respondi, indicando-a com um gesto de cabeça.
Soul se levantou repente, derrubando a cadeira.
– NÓS COMEMOS WISHKAS! WISHKAS, CARALHO! E AINDA GOSTAMOS DESSA DESGRAÇA! TOMAR NO...
– MAKA CHOP!
Acabei batendo forte demais e Soul desmaiou. Blair se inclinou sobre ele, preocupada.
– Soul-kun morreu, Maka-chan?
– Não, só desmaiou. - respondi, meio culpada.
– Você está com raiva de mim? - perguntou, magoada.
Sorri, da maneira mais simpática que consegui. Blair realmente havia se esforçado para nos agradar, e Soul havia sido meio maldoso, explodindo daquele jeito.
– Não estou com raiva, Blair. Você fez o seu melhor. E, se quiser, - acrescentei, numa súbita inspiração. - eu posso te ensinar a cozinhar.
– Ah, eu adoraria, Maka-chan! - concordou, animada. - E... o que vamos fazer com Soul?
Olhei-o no chão, meio confusa. Parecia calmo e tranquilo, como uma criança dormindo. Ficava tão lindo...
Suspirei, e decidi que estava devendo essa a ele.
– Vem, Blair. Vamos levá-lo pro quarto.
***
Depois de lavar a louça e guardar as sobras do almoço na geladeira - Blair com certeza ia querer - coloquei alguns cubos de gelo numa flanela e fui até o quarto do Soul. Bati na porta umas três vezes, até ele resmungar um entra meio xoxo.
Abri a porta e espiei lá dentro. Soul estava de frente pro guarda-roupa, sem a bandana, apalpando o topo da cabeça.
– Aqui. - ele disse, tocando com o indicador um ponto entre seus cabelos. - Esse galo tá enorme.
– Trouxe isso. - murmurei, meio sem graça, me aproximando e estendendo o gelo.
Ele me olhou, ainda meio chateado.
– Também estou com dor de cabeça.
– Me desculpe?
Soul expirou com força e pegou o gelo, pressionando contra a cabeça.
– Só não precisava ter batido com tanta força. Ok, eu me estressei, mas você me desmaiou! Não precisava disso tudo!
Suspirei e mexi na barra da minha blusa. Soul merecia uma explicação, mas era tão idiota...
– Desculpe, sério, mas eu... Não sei, quando alguém grita comigo, ou perto de mim, eu sinto raiva e medo ao mesmo tempo. Não sei te explicar, mas minha primeira reação é tentar fazer parar. Sei que não é desculpa, mas é o único jeito de te explicar.
Soul me encarou, descrente.
– Isso foi um reflexo, então?
– Sim.
Ele me encarou um pouco mais, mas sua expressão acabou se suavizando, e ele sorriu.
– Ok, Maka. Não tem como ficar com raiva de você fazendo essa carinha de cachorro. Só não faz isso de novo.
Soul passou de leve o indicador no meu queixo, e eu corei e fiz bico. Ele riu, e voltou sua atenção para o galo.
– Posso ver, Soul?
– Aham. Vem cá. - chamou, abaixando a cabeça e afastando o cabelo.
Fui até ele e parei na sua frente, ficando nas pontas dos pés para olhar o lugar que ele estava mostrando.
O galo estava alto o suficiente para dar para notar, apesar do cabelo, e quando o toquei, me senti mais culpada ainda.
Ele levantou a cabeça e deu um meio sorriso.
– Você fez um trabalho e tanto. - Soul comentou.
– Sim, mas sério, eu não queria...
– Sabia que vai ter um baile no início do mês que vem?
Demorei um segundo pra me adaptar a mudança brusca de assunto, então repeti, estupidamente:
– Um baile?
– É, avisaram hoje. Boas vindas aos alunos ou algo assim.
– Três meses depois do início das aulas é meio tarde... - divaguei.
Soul deu de ombros.
– Também acho.
Ainda assim, meu cérebro começou a correr em um milhão de direções diferentes. Um baile! Eu nunca fora em um baile! Ia precisar de um vestido e sapatos novos, e escolher roupa e maquiagem, e um par! Eu poderia ver como é uma pista de dança, e a coroação do rei e da rainha, e tudo aquilo que aparece nos filmes!
– Parece animada.
– Bem, eu estou! - respondi a Soul, ainda imaginando como seria, com um sorriso idiota no rosto.
– Não sei como consegue gostar de bailes. São um saco.
– Bom, mas eu nunca fui a um.
– Sério? - perguntou, surpreso.
Confirmei com a cabeça, viajando legal, até Soul segurar minha mão. Então todos os meus pensamentos frearam, e só consegui me concentrar nele.
– Nesse caso, você me daria a honra?
Arregalei os olhos, e balbuciei:
– A honra?...
– Sim. - Soul respondeu, corando um pouco, e passando a mão livre pelo cabelo, mas sem desviar os olhos de mim. - Quer ir ao baile comigo, Maka?
Meu coração falhou uma batida, então acelerou loucamente. Soul estava me convidando para um baile?
Meu cérebro começou a invocar cenas de vários filmes - beijos, danças, declarações de amor, em salões pouco iluminados e decorados com papel celofane. Mas não eram os atores que protagonizavam as cenas, éramos eu e Soul.
Eu não deveria estar pensando nisso, claro - não com Soul me olhando nos olhos daquele jeito que me fazia querer desviar o olhar sem conseguir, e desenhando pequenos círculos na palma da minha mão que me enviavam arrepios, e não com ele esperando a minha resposta - mas lembrei da minha última chance de ir a um baile, logo depois de virarmos amigos pela primeira vez. Eu queria ir, e ele não, porque "bailes eram coisas de menina". E do ciúme que não reconheci quando Soul convidou uma garota de outra classe. Ele não estava me convidando a toa. Ele devia ter outras intenções, e dane-se se somos parceiros e tudo pode dar errado, mas eu também tinha.
Engoli em seco e consegui dar um pequeno sorriso, apertando de leve sua mão.
– Vai me mostrar como um baile pode ser chato? - perguntei, brincando, para testar sua reação.
Soul sorriu e envolveu seus dedos entre os meus.
– Não, você vai me mostrar que qualquer lugar é bom com você.
Arfei, corei, e ele riu e me abraçou. Eu não sabia lidar com ele tão próximo. Mas não me importava, e nem queria que acabasse. Algo adormecido dentro de mim havia acordado, e dessa vez, eu não queria fugir.
– Nese caso, Soul. - disse, contra o ombro dele. - Eu aceito.


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Notas finais do capítulo

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