Comprar refrigerante e escolher uns filmes pode parecer fácil... mas não é. Principalmente se seus amigos tem gostos tão diferentes quanto os meus. Tem toda uma técnica milenar de mediação envolvida, e caso não a siga, o mundo pode entrar em colapso com um apocalipse nuclear.
Tsubaki e eu, por exemplo, não tomamos Coca-Cola, mas este é o único refrigerante que Black*Star aceita tomar, porque é "tão grande como ele". Soul toma Coca-Cola, mas gosta mesmo de refrigerante de laranja, que Tsubaki é alérgica. Ela prefere de uva, mas eu odeio. Amo guaraná, mas os meninos dizem que não tem gosto.
Soul e eu acabamos saindo do supermercado com quatro garrafas de refrigerante, uma de cada sabor.
Escolher os filmes foi um pouco mais fácil. Nada de dramas (Soul e Black não gostam), nem de ação (Tsubaki e eu não gostamos), nem terror (eu tenho medo, me julgue sociedade) nem romance (Black*Star vendo romance?). Sobraram filmes infantis, aventuras e comédias, mas não podia ser MUITO engraçado porque Black não sabe rir que nem gente.
Quando Soul e eu chegamos em casa, faltava só meia hora para as sete.
–Soul, coloca os refrigerantes na geladeira? - pedi, entrando primeiro no apartamento e jogando minha bolsa com os filmes no sofá. - Vou tomar banho primeiro.
Soul, que vinha logo atrás com os capacetes da moto e os refrigerantes, protestou.
–Porque você vai tomar banho primeiro? Isso aqui é uma democracia!
–Democracia o caramba. Eu sou uma dama, tenho prioridade.
Ele me olhou de cima a baixo.
–Se você diz...
O banho foi rápido para os meus padrões, só 10 minutos. Ainda assim Soul ficou batendo na porta igual um louco compulsivo pra eu sair logo. Ele teve sorte de não ser assassinado.
Assim que saí ele entrou. Fui para o quarto me vestir - uma regata folgada verde-água com short branco meio velho. Deixei o cabelo solto e me olhei no espelho de corpo inteiro.
Era só uma noite de filmes com os amigos, mas eu não ia ficar toda mulambenta por causa disso, faça-me o favor. E eu amava essa roupa, era confortável e bonita sem parecer esnobe. Além disso, realçava meus olhos!
O cabelo, eu adorava deixá-lo solto. Sempre tinha que prende-lo nas missões - cabelo no olho, cabelo na boca, cabelo no nariz me fazendo espirrar, argh - e na Shibusen também, já que sempre tinha aulas de educação física ou duelos e não podia ser pega despreparada. Era uma pena, ele cresceu tanto! Agora batia quase no meu cotovelo, e até estava ondulado nas pontas. Não tanto. Só um pouco. Se você reparasse bem.
Argh, ok, continuava lambido. Mas era lambido com estilo.
Torci o tronco, tentando ter uma visão de como estava minha bunda naquele short, quando bateram na porta. Me ajeitei e dei uma última olhada no espelho.
–Entra!
Soul abriu a porta do meu quarto e se apoiou no batente, me encarando com um sorriso surpreso.
–Gostou? - perguntei, dando uma voltinha.
–Esse short está muito curto.
–Chato. - rebati, dando língua. - Baixou o espírito do Death Scythe, foi?
Joguei minha toalha nele, que desviou e pegou-a no ar. Fiz um muxoxo, indignada, mas deixei passar.
Ele riu da minha expressão.
–Da próxima vez te deixo me acertar, sussa? E aliás, acho que não posso mais te chamar de tábua. - completou, me olhando de cima a baixo.
Corei e desviei o olhar. Babão idiota.
–Se isso é um elogio, obrigada. E o que você quer?
–Será que tem como furar o filme de hoje? Tenho que sair.
Surpresa, reparei nas roupas que ele usava. Uma blusa preta com o símbolo do Nirvana, calça jeans e tênis - os novos, que ele comprou terça.
Tentei lembrar se Soul havia comentado que teria que sair hoje, mas não consegui. Ele mesmo disse que ficaria, hoje de manhã. Fosse o que fosse, aquele era um compromisso de última hora. E a prioridade era minha.
Cruzei os braços e o encarei, quase fazendo bico.
–Não faz essa cara, Maka... - pediu, se mexendo, desconfortável.
–Você já havia marcado com a gente.
–Eu sei.
–Black só vai vir porque você prometeu que ficaria.
–Desculpe. - ele pediu.
Foi o fato de Soul não ter dito que levaria Black junto que me alertou que ele iria sair com uma garota. Só podia ser, porque outro motivo ele não levaria o melhor amigo? Ok, confesso, fiquei com ciúmes. Ele estava me trocando - e não só eu, como Black e Tsu também - por uma garota qualquer! Como podia fazer isso?
Respirei fundo, tentando me acalmar. Sim, eu fiquei com raiva. Naquele momento, quis desesperadamente um sorvete.
Já repararam como sorvete melhora tudo? Ele nos deixa mais calmos e felizes. Simplesmente não entendo como tem tantas pessoas viciadas em drogas quando se tem sorvete à disposição.
Tentei visualizar uma casquinha de creme com chocolate e cobertura de chocolate quente - daqueles que endurecem depois - ao responder:
–Se você precisa mesmo ir, vai.
Soul colocou minha toalha sobre os ombros, surpreso.
–Sério?
–Não vou te acorrentar aqui, né. - respondi, seca.
Empurrei-o para sair do quarto (na verdade, empurrei o braço dele, que deu dois passos para trás) e passei para a cozinha, pisando duro. A visualização de sorvetes não adiantou muito.
Eu odiava ser deixada de lado.
Abri a geladeira, procurando por algum doce. Eu não podia me estressar muito, muito menos por uma coisa boba como aquela.
Ouvi os passos de Soul, e o barulho que ele fez ao se sentar na bancada da cozinha.
–Desce daí, se o mármore quebrar você que vai pagar.
Sua voz soou surpresa.
–Como é que você... ah, deixa pra lá. Se eu sair, você vai ficar brava, Maka?
Pensei em dizer que não, que não me importava nem um pouco. Mas Soul é minha arma, e não queria mentir pra ele. E nem conseguiria, com tanta raiva como eu estava, ficaria na cara.
Encontrei uma bala perdida nas coisas da Blair e coloquei na boca, respirando fundo enquanto fechava a porta da geladeira e me virava para ele.
–Vou ficar brava sim. Na verdade, eu já estou. Você marcou com a gente.
–Mas é uma coisa importante! - insistiu.
–E o que é?
Soul se calou, olhando para o lado. Uma garota, óbvio. Estava certa.
Soltei um suspiro de frustração.
–Bom saber que ela é mais importante que nós.
Ele não respondeu, apenas me encarou. Devolvi o olhar, magoada por ele não negar.
–O quer que eu diga? - perguntou.
–Acho que você já falou tudo.
A campainha tocou, Black e Tsubaki chegando. Balancei a cabeça de leve e passei a mão nos cabelos.
–Pelo menos inventa uma desculpa pra eles.
Passei por ele para atender a porta, mas Soul me segurou e desceu da bancada da cozinha.
–Ela não é mais importante que você.
Apenas concordei com a cabeça, sem acreditar nem um pouco e reparando que ele confessou que era, sim, uma garota.
–Ok. Licença.
Tentei me soltar, mas Soul continuou me segurando. Finalmente, olhei para ele.
–O Black*Star vai destruir a porta.
Soul concordou, e disse, hesitante.
–Bom, eu... Acho que não preciso ir.
Nem tive como disfarçar a alegria. Arregalei os olhos, surpresa, e um sorriso enorme surgiu no meu rosto.
–Vai ficar?
Soul concordou, e finalmente me soltou.
–Vou. Atende a porta, vou desmarcar.
Ele estava um pouco chateado, dava pra ver, mas eu estava exultante - puxa, ele ia ficar! Puxei seu rosto e dei um beijo estalado no nariz.
–Valeu, te amo!
E sai correndo, vermelha, para abrir a porta.

...=^-^=...

Black*Star nos ameaçou por ter de esperar, e Tsubaki reclamou do elevador quebrado, mas nenhum dos dois perguntou o porque da demora - ao que parecia, a sociedade achava que eu era lerda. Blair chegou do cabaré uns cinco minutos depois, trazendo um peixe que ela ganhou de um admirador.
Enquanto Tsubaki fazia a pipoca, Soul e Black levavam os colchões pra sala para fazer um super colchão e eu supervisionava pra ninguém destruir a casa. Blair, é claro, havia ido tomar banho - não sem antes convidar os meninos de uma forma bem... ousada.
Quando estava tudo pronto - os colchões na frente da tv, a pipoca pronta junto com os refrigerantes e meu sorvete e Blair vestida - começamos a maratona.
Em homenagem a permanência de Soul em casa, foi ele quem escolheu o primeiro filme: Sucker Punch. Eu amo esse filme, e os meninos também, provavelmente por causa do figurino (ou da pouca quantidade dele).

Sucker Punch

Black: Cara, elas são gostosas.
Soul: São mesmo, cara.
Tsubaki: A questão não é essa.
Blair: São mais gostosas que eu, Soul-kun e Black-kun?
Soul-kun & Black-kun: ...
Blair (tirando a roupa e ficando na frente da televisão): Quero uma resposta, nyah!
Maka: Kamisama, coloca uma roupa!
Soul: Droga, Black, você sujou a pipoca de sangue!
Tsubaki: Black*Star!!!
Black (tentando estancar o sangramento): O sangue do poderoso Black*Star cura a impotência! Hiá-Huá!
Blair (já vestida): Eu também curo, nyah!
Maka: Blair, fica quieta.
Soul: Maka, acho que sujei seu colchão de sangue também.
Maka: Esse colchão é seu.
Soul: Não, fui eu que peguei, é seu.
Maka: De quem é o sangue nele?
Soul: Droga.
Black: Todos os colchões são do grande Black*Star! Hiá-Huá!
Maka: Maka Chop.
Black: Ugh!
Tsubaki: Não sabia que dava pra fazer Maka Chop com o controle.
Maka: Depois te ensino.
Black: Não ensina!
Blair: Eu te ensino uma coisa mais tarde, Black-kun.
Maka: Ei! Se cair sangue no meu sorvete eu te mato!
Black (estancando outro sangramento): Droga.
Blair: Maka-chan, a Babydoll parece com você!
Maka: Oi??
Tsubaki: É mesmo, as duas usam roupa de colegial, são louras e usam maria-chiquinha.
Black: Vocês só podem estar brincando...
Soul: Além disso, a Maka também luta bem!
Maka: Valeu, Soul.
Soul: E também é doida.
Maka: Maka Chop.
Soul: Sacanagem.

Blair escolheu o próximo filme, já que os garotos estavam trocando o cobertor, Tsubaki estava fazendo outra pipoca e eu fui caçar cobertura para o sorvete. Quando eles viram, quiserem também, e Tsubaki (porque ser tão boazinha?) Me fez dividir.

Big Stan

Soul: Do que esse cara está reclamando? Ele é gay.
Tsubaki: Ele não é gay, Soul.
Soul: Claro que é. Ele anda todo arrumadinho.
Tsubaki: Kid também, e ele não é gay.
Soul: Isso é o que ele quer que vocês pensem.
Maka: Cala a boca, Soul. O Kid não é gay, nem o Stan.
Soul: Vai defender o Kid?
Maka: Óbvio, não é ele que bota tiara na aula de educação física.
Black: É mesmo, Soul.
Tsubaki: Você fica parecendo uma garota.
Soul: Também não força a barra, né...
Maka: Nem você. Porque tá falando mal do Kid do nada?
Black: É mesmo cara, ele não pega as mulheres do nível do Black*Star, mas manja.
Tsubaki: Como é?
Blair (bocejando): Isso está chato. Oyasumi!
Black: Ah, nada, Tsubaki...
Maka: O grande Black*Star está com medo.
Black: Não estou! Nada pode me deter!
Soul: Sua arma pode.
Maka: Até porque, só a alma dela é compatível com a sua.
Black: Não são todos que suportam minha grandeza.
Soul: Claro...
Maka: O cara quer ser estuprado. Não acredito.
Tsubaki: Ele deve se sentir sozinho.
Maka: Não precisa apelar, né...
Soul (cantarolando): Rape me, rape me my friend...
Black: SOUL SE LIBERTANDO! HIÁ-HUÁ!
Soul: Hey, é só uma música!
Maka(rindo): Sei... até a Tsubaki riu!
Tsubaki (disfarçando): Eu... Eu... hahaha!
Soul: É Nirvana, droga!
Black: Ah, é o paraíso? Hahahaha
Soul: Idiota.

No fim do segundo filme, Blair, Tsubaki e Black já tinham dormido - eles por causa da viagem do México pra cá, e Blair porque ela é um gato, e gatos adoram dormir. Como Soul já havia escolhido um filme, esse ficou por minha conta, e acabei colocando Amizade Colorida.

Amizade Colorida

Soul: Não acredito que você colocou esse filme.
Maka: Você me deixou escolher.
Soul: Pensei que ia colocar Kick Ass.
Maka: Quieto, quero assistir.
Soul: ...Maka, quer jogar tênis?
Maka (corando): Como???
Soul: Você entendeu.
Maka: Cala a boca.
Soul: Eu só perguntei.
Maka: ...Para com isso!
Soul: Parar com o que?
Maka: Parar de passar a mão no meu braço!
Soul: Você se arrepiou. Está gostando.
Maka: É frio, seu idiota.
Soul: Claro... Tem certeza que não quer jogar tênis?
Maka: Tenho, cala a boca.
Soul: Será que nossa alma ressonaria melhor? Caso nós...?
Maka: Acho que não, seria confuso demais.
Soul: Você acharia confuso?
Maka: Eu? Claro que não! Porque eu acharia? Aff que idiota. Você poderia se apaixonar por mim.
Soul: Mesmo assim...
Soul: Tem certeza mesmo?
Maka (surpresa): Esta falando sério?
Soul: Relaxa, zuera. Mas você faria? Eu topo.
Maka: Cala a boca, Soul, eu sou virgem.
Soul: Ah, entendi.
Soul: Maka?
Maka: Que é?
Soul: Quer perder a virgindade comigo?
Maka (corada): Maka Chop!!!
Black*Star (resmungando enquanto dorme): Nham nham... minha grandeza...
Soul (massageando a cabeça): Você não era tão violenta antes.
Maka: Você não era tão tarado antes!
Soul: Tá, eu exagerei, foi mal...
Maka: Idiota.
Soul: Você me desculpa?
Maka: Só se você calar a boca.
Soul (rindo): Só eu vou ficar acordado até o final.
Maka (sonolenta): Hmmm... xiu, Soul...
Soul: Você fica uma gracinha com sono.
Maka (sonolenta): Huhum... Boa noite....
Soul (beija a testa da Maka): Boa noite, linda.