Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 40
#35 - Erros e Acertos


Notas iniciais do capítulo

OLAAAAAA GENTEEEEEEEEE
Olha quem voltou, e bem rapidinho até dessa vez?
Mais um capítulo para vocês, amores, desculpem qualquer errinho e até lá embaixo!



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Era meu segundo fim de semana sem o Kid, e não estava sendo mais fácil do que o anterior. Soul estava ajudando muito, totalmente o contrário do que eu imaginava. Ele ainda era o único a saber do rompimento, mas não tocava no assunto, e evitava qualquer coisa que pudesse levar a isso. Não sei o quanto era por mim e o quanto era por ele mesmo, mas ele me mantinha entretida e ocupada, e eu estava grata, de qualquer maneira.

 Blair havia percebido que algo estava errado, me perguntou o que era e insistiu até eu falar que tive um problema com o Kid - ela simplesmente aceitou, dizendo que machos eram complicados, e  me deixou razoavelmente em paz. Tsu, ao contrário da Blair, percebeu mas se manteve sem falar nada, apesar de claramente estar preocupada. Me chamou para sair mais vezes e com mais insistência do que o habitual, e em todas as vezes, eu disse que preferia ficar em casa.

 Fiquei o resto da sexta, sábado inteiro e metade do domingo me dividindo entre sempre estar ocupada com algo - fosse alguma tarefa de casa ou da Shibusen, um livro, filme, série ou jogo - e nos momentos em que eu me desligava por um minuto, me preocupar quase obsessivamente sobre porque Kid ainda não havia me ligado, nem mandado mensagens. Toda noite, antes de dormir, eu ficava no escuro olhando para as poucas fotos juntos que a gente tinha e revendo cada momento nosso. Eu lembrava de cada ato de carinho enquanto estávamos juntos, desde o olhar até a forma que ele me tocava e falava comigo, e sentia terrivelmente sua falta.

 No domingo, eu já estava ficando louca de angústia por causa daquela situação. O apartamento parecia pequeno demais, nada estava prendendo minha atenção por muito tempo e até o Soul estava me irritando só por existir. Decidi ceder e aceitei sair com Tsubaki, só nós duas, já que a Blair estava fazendo um turno extra no cabaré. Íamos no cinema ver qualquer filme de animação que estivesse passando, comer besteiras e olhar roupas que não iríamos comprar porque nunca tínhamos dinheiro para as coisas que realmente gostávamos.

 Bem, o importante era sair um pouco daquela caverna que eu havia me enfiado.

 A sessão era as sete, e a noite estava ficando bem fria ultimamente, então coloquei jeans, tênis confortáveis e uma camisetinha rosa. Escolhi um moletom qualquer dentro do guarda roupas e peguei as chaves do meu carro: eu iria buscar a Tsubaki e de lá íamos juntas até o shopping.

 - Bom filme. – Disse Soul do sofá, com um aceno encorajador, quando passei na sala.

 - É só um filme da Disney. – Resmunguei.

 - O suficiente para te fazer tirar o pijama. – Ele sorriu para mim.

 Revirei os olhos, mas dei um leve sorriso, antes de pedir para ele se comportar e sair de casa.

 O caminho até a casa da Tsubaki, apesar de rápido, foi tenso. Me peguei fantasiando em ver o Kid passando na rua, e comecei a brigar comigo mesma por aquilo. Todo cabelo preto me chamava a atenção, e eu me sentia estúpida.

 “Ele só precisa de tempo, relaxa”, disse a mim mesma pelo que devia ser a milésima vez. Mas depois de três dias sem nenhum sinal de vida dele, aquilo não estava funcionando tão bem.

 Tsubaki estava me esperando na calçada quando cheguei, também de jeans, camiseta e moletom, e de certa forma fiquei aliviada por ela não ter se arrumado demais. Minha amiga entrou e sentou no banco do carona, deu uma olhada distraidamente no espelho retrovisor e comentou:

 - Acredita que o Black reclamou? Ele disse que eu não devia sair sem ele.

 Dei um meio sorriso, saindo da vaga e pegando a rua em direção ao shopping.

 - Acredito. Nem é uma coisa tão anormal assim para ele.

 - Eu não gostei. – Ela torceu o nariz. – Eu não reclamo quando ele sai pra jogar basquete. Só quando volta todo suado e quer deitar no sofá.

 Tsu passou o resto da viagem me contando coisas esquisitas e porcas que o Black*Star fazia, de um jeito que mais lembrava a mãe do que a namorada dele, mas me senti confortável, e ri algumas vezes. Não demoramos muito até chegar no cinema, o lugar não estava tão lotado quanto eu esperava, e conseguimos comprar os ingressos e entrar sem perder muito tempo.

 Não pensei muito no Kid enquanto via o filme. E eu chorei, mas só um pouquinho.

  Quando saímos, o shopping estava um pouco mais cheio do que antes, quase parecia um sábado a noite. A praça de alimentação estava lotada, era o horário de intervalo entre as sessões do cinema, então as pessoas aproveitavam para lanchar. Me peguei novamente olhando ao redor e esperando encontrar Kid, embora tivesse a plena certeza de que não estaria aqui. Ele tinha o costume de passar os domingos a noite em casa com Patty e Liz, o “momento família” dele, já que o pai raramente estava presente.

 Meu peito apertou, e me perguntei se ele também estaria pensando no que eu estava fazendo agora. Se estaria preocupado comigo. Eu sabia que ele disse que não queria mais ficar comigo, e por mais que eu esperasse que ele voltasse atrás, estava demorando mais do que imaginei. Kid não iria me esquecer tão rápido, iria? Foram só três dias.

 - Algo errado, Maka? – Tsubaki perguntou, tocando meu ombro de leve, o que me assustou um pouco.

 - Não, tudo bem, eu só... Estava pensando. – Respondi, dando de ombros levemente.

 Sua expressão era desconfiada, então acrescentei:

 - E então, o que vamos comer?

 - Tanto faz. Pra mim, fast food é sempre a mesma coisa.

 Acabamos com um hambúrguer, uma porção de batatas fritas e uma coca cada. Realmente não tinha muito o que fazer nesse sentido, já que não iriamos aguentar comer uma pizza inteira e eu não vim até o shopping para comer comida de panela. Procuramos um pouco, até encontrarmos uma mesa em que os arredores não estivessem tão lotados, e finalmente nos sentamos. Comemos em silêncio por alguns momentos – eu realmente estava com fome, para minha surpresa, e o mini hambúrguer do shopping sumiu em minutos. Quando comecei a atacar as batatas fritas, Tsubaki deu um risinho e disse:

— Não acredito que tive que insistir tanto pra você sair de casa. Não está sendo tão ruim, está?

— Claro que está! Minha comida esta desaparecendo bem na minha frente! - Brinquei. – Mas falando sério, eu só não estava muito animada ultimamente. Muitos problemas.

 Ela revirou os olhos, uma coisa que realmente parecia errada no rosto dela, e apontou uma batatinha para mim.

 - Você, Maka Albarn, está sendo um ímã de problemas ultimamente.

 - Não posso negar. – Dei de ombros. – A Shibusen virou minha vida de pernas pro ar.

 - A Shibusen, sei... – Tsubaki riu.

 Dei de ombros, e continuei comendo minhas batatinhas, mas depois de três minutos de silêncio acabei soltando:

 - Eu briguei com o Kid. De novo.

 Tsubaki me encarou com uma expressão surpresa, não sei se pelo que eu disse ou por eu soltar tão de repente.

 - Como?

 - Eu saí para encontrar ele na quinta, e ele me disse um monte de coisas. Que não queria mais ficar comigo, que eu não sabia o que queria, que se fosse pra ficar comigo me queria inteira, e não pela metade. – Expliquei, rápido, antes que perdesse a coragem de tocar no assunto. – Kid basicamente disse que não podíamos mais ficar juntos, e me deixou lá sozinha. E depois disso ele não foi pra escola sexta, e nem me mandou nenhuma mensagem ou ligou. Estou esperando que ele volte atrás e a gente fique bem, mas também estou preocupada. Acho que está demorando mais do que eu pensei que demoraria, e estou ficando maluca com essa situação.

  Continuei encarando Tsubaki, ansiosa pelo que ela ia dizer. Minha melhor amiga sempre, sempre sabia o que falar para me fazer sentir melhor. No entanto, ela apenas continuou me encarando, com uma expressão chocada. Ao perceber que eu estava esperando uma resposta, ela encolheu os ombros.

 - Bem... Eu não sei o que te dizer.

 Bufei, soltando uma risadinha.

 - Que tal dizer que tudo vai ficar bem e o Kid vai voltar? – Pedi, só um pouquinho esperançosa.

 Ela se remexeu na cadeira, nervosa.

 - Eu... Bem, Maka, não sei como te dizer isso de uma maneira muito gentil, mas... Você não acha que o Kid estava falando a sério?

Encarei ela, sem expressão.

 - Ele que pediu para me encontrar, para resolvermos as coisas. Ele me chamou de amor. Porque ele faria isso pra depois simplesmente terminar, Tsubaki?

 - Isso foi antes dele perceber que você ficou com o Soul. Bom, Maka, estava meio na cara que algo tinha acontecido entre vocês na missão, e o Kid ainda pode ver a alma de vocês. Sem falar que vocês mataram aula juntos na quinta... Ele não é nenhum idiota, por mais que eu não tenha dúvidas que ele gosta de você, isso deve ter sido demais para ele. – Continuei encarando ela, surpresa por Tsubaki dizer aquelas coisas, mas o pior ainda estava por vir. – Quando você descobriu que apesar de o Soul dar em cima de você, ele também ficava com a Liz, você se afastou, não foi? Porque o Kid faria diferente ao saber que apesar de vocês estarem juntos, você ficou com o Soul?

 Foi nesse momento que eu senti o quão cega eu estava sendo aquele tempo todo.

 Porque, é claro, eu sabia que não era muito certo eu ter aqueles momentos com o Soul se eu queria ficar com o Kid. Mas eu sempre havia pensado naquela situação como o Kid sendo meu porto seguro, e o Soul como a pessoa da qual eu não conseguia me afastar. Como se os dois, de certa forma, pudessem coexistir na minha vida, ocupando espaços tão semelhantes – meu velho e meu novo amor.

 Para ser sincera, eu nunca havia parado para pensar em como o Kid ficaria magoado quando soubesse que eu havia ficado com Soul. Eu me considerei livre da culpa quando Soul me beijou sem eu permitir, e apenas dando o troco quando fiquei com Soul na missão, depois de todas as coisas que o Kid havia me dito.

 Mas agora, depois de Tsubaki ter colocado as coisas daquela forma, eu não conseguia parar de pensar... Não conseguia deixar de ver o que eu havia realmente feito. Se eu havia ficado devastada quando soube do Soul, como o Kid deveria ter ficado? Depois de termos brigado sobre aquele mesmo assunto, eu ainda havia...

 Kamisama, quem eu havia me tornado?

 - Maka, você está bem? – Tsubaki me chamou. Olhei para ela, estava me encarando preocupada. – Desculpe, eu te magoei? Eu só queria...

 - Não, tudo bem, Tsubaki. – Respondi, engolindo em seco. – Acho que era isso que eu precisava ouvir. Eu... Eu realmente sou uma pessoa horrível, não sou? Fazendo o Kid passar pela mesma tristeza que eu?

 Senti minha voz começar a falhar, e meus olhos se umedecerem, mas pisquei furiosamente. Eu não ia chorar ali, no meio do shopping. Respirei fundo algumas vezes, sob o olhar atento da minha melhor amiga.

 - Maka, você quer ir pra casa?

 - Não, está cedo. – Respondi. – Não quero ir embora agora. Porque nós não vamos dar uma volta primeiro?

 Tsubaki concordou, ainda que visivelmente desconfortável com a ideia, e pelas próximas duas horas nós entramos e saímos de lojas sem parar. Minha melhor amiga fez o melhor para me distrair, e eu fiz meu melhor para lhe mostrar coisas que achei interessante e manter a conversa leve, mas ainda assim eu sabia que o clima estava estranho.

 Eu não conseguia parar de pensar no que a Tsubaki havia me dito, e no quanto eu havia demorado pra perceber algo tão óbvio, e no quanto eu estava fazendo coisas parecidas com as que Soul fizera – com as que meu próprio pai fez. Não sabia se me sentia mais culpada por mim mesma ou pelo Kid, então provavelmente não estava sendo uma companhia muito boa.

 Saímos do shopping por volta de dez horas, o caminho todo em silêncio, e quando parei na frente da casa da Tsubaki, ela se virou para mim.

 - Sinto muito, Maka, Eu não queria te julgar nem comparar com ninguém. Eu só...

 - Me mostrou algo que eu fui idiota demais para perceber. – Disse, com um sorriso. – De verdade, Tsubaki. Obrigada. Você não seria minha melhor amiga se não fosse honesta comigo, não é mesmo?

 Ela sorriu, tristemente, e me abraçou.

 - Você é uma pessoa incrível, Maka, mas todo mundo comete erros. De qualquer forma, seja lá o que você for fazer, eu estou aqui por você, certo?

 - Certo. – Sorri, apertando-a contra mim. - Obrigada.

 Tsubaki saiu do carro e entrou no prédio, parando para acenar antes de fechar o portão atrás de si. Quando ela sumiu de vista, decidi que ainda não queria ir pra casa. Soul estaria lá, Blair provavelmente ainda estava trabalhando e eu definitivamente não estaria confortável em passar um tempo sozinha com ele agora. Ao invés disso, continuei dirigindo, apenas dando voltas em Death City. A noite estava gelada e haviam poucas pessoas na rua. Apenas continuei, entrando em rua atrás de rua, com o volume da rádio perigosamente alto, até perceber onde eu estava.

 Uma praça grande, quadrada e bem cuidada, com grama baixa, árvores e caminhos de pedra que levavam até um lago. O lugar onde eu havia dado meu primeiro beijo no Kid.

 Estacionei e desliguei o som, saindo do carro. O vento estava terrível, então fechei bem meu moletom e continuei andando, até chegar na mureta perto do lago. Não era o lugar exato, mas só estar naquela praça bastava. Lembrei daquela noite, de como eu me senti traída e triste, e de como Kid conseguiu me animar. De como ele parecia feliz, de como corremos na rua sem nenhum motivo e nos beijamos e rimos um para o outro depois. Ele havia me ajudado a passar por um dos piores momentos da minha vida, e feito eu me apaixonar por ele no processo. E como eu tinha retribuído?

 Eu simplesmente era egoísta demais para ver o que estava fazendo. Nunca foi só sobre mim, e sobre o quanto eu estava magoada. Havia a culpa e o perdão do Soul também, haviam a amizade e o coração do Kid. Eu havia magoado a nós três, com escolhas estúpidas. Kid estava certo, percebi. Eu realmente não sabia o que queria. E ele não iria voltar mais. Mas eu ainda precisava fazer algo.

 A primeira vez que disquei seu número, ele chamou até cair. Disquei de novo, e dessa vez, ele atendeu no terceiro toque.

 - Maka.

 Ouvir sua voz me deu vontade de chorar. Apenas aquele som. Suspirei, juntando coragem, e respondi:

 - Sim, sou eu. Kid, desculpa te ligar, ainda mais a essa hora, mas eu precisava falar com você.

 Sua voz soou hesitante.

 - Olha, Maka, eu não...

 - Me desculpa. – Interrompi-o, fechando os olhos com força, e simplesmente falando. Eu sabia que não conseguiria de outro jeito. – Você estava certo, sobre tudo. Eu realmente não sei o que quero, e eu te magoei de um jeito horrível, fui idiota demais e egoísta demais para perceber. Eu feri meu melhor amigo, a pessoa por quem me apaixonei, por causa disso. Então eu só... queria te pedir desculpas. Eu realmente entendo se você me odiar, Kid, e se não quiser nunca mais me ver, mas eu precisava falar isso para você.

 Quando acabei, só escutei o som da estática e da respiração de Kid. Senti meus olhos lacrimejarem, mas pisquei com força. Eu devia aquilo a ele. Tinha que ser forte.

 - Eu... Eu não te odeio, Maka. – Ele respondeu, finalmente.

 - Não tenho mais nenhuma chance com você, não é? – Murmurei, insegura. Nem sei para que. Para me torturar, talvez?

 - Sinto muito.

 Respirei fundo, tentando me acalmar.

 - Tudo bem, eu sabia, só não queria acreditar. Mas... Eu vou tentar. Vou sentir sua falta. Tchau, Kid.

 - Tchau, Maka. – Sua voz soou hesitante.

 E antes que qualquer um de nós pudesse falar algo mais, eu desliguei. Apertei o celular com força, e então o guardei no bolso. De que adiantava jogar minha frustração nele?

 Ainda assim, de certa forma, e apesar do buraco que eu sentia crescer no peito, eu me senti bem. Depois de tanto tempo, eu havia feito pelo menos uma coisa certa.


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Notas finais do capítulo

Orgulhinho da Maka nesse capítulo. Eu já estava ficando com raivinha dela por causa dessa situação toda rsrsrs
ENTÃO GENTE, não sei se já falei, mas Start está acabando =3
Provavelmente só vão ter mais uns 4 ou 5 capítulos. Estamos quase lá! *-*
Obrigada por lerem e até mais!



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