Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 38
#33 - Kid e Soul


Notas iniciais do capítulo

Olá, jovens =3
Mil desculpas pela demora - sei que sou péssima com prazos =(

Quero agradecer a:
#Miyabi Hinata
#Açucena
#Kira Lii
#tikézinha0123
#O corvo
#Guelbs
#Night
#Twilight Midna
#Kagura May

Vocês são uns amores =3

Sem mais delongas, aproveitem ^^



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POV Kid

 Era quinta feira, e a sorveteria estava quase vazia: com exceção de três amigas rindo alto numa mesa perto da entrada, eu era o único cliente ali. Entrei, mãos nos bolsos, me dirigi para a mesa mais discreta que encontrei e me sentei. Quando uma garçonete veio me atender, expliquei que estava esperando alguém, e então ela me deixou sozinho. Tamborilei com os dedos no tampo da mesa e chequei o relógio, eu estava cinco minutos atrasado. Não era grande coisa, principalmente porque não havia sinal da Maka ainda, mas era o suficiente para meu (grande) lado perfeccionista ficar ansioso. Me concentrei em ficar parado, em não vigiar a entrada, em ler aquele maldito documento que meu pai me enviou por email, dizendo que seria "minha responsabilidade" a parte logística do seu novo projeto.

  Hoje estava sendo um dia péssimo, em vários sentidos.

  Por vários minutos, me mantive focado no arquivo na tela do meu celular, que contra a minha vontade, não estava me deixando tão entediado quanto imaginei. Ainda assim, não consegui evitar as olhadas não tão ocasionais para a porta. Estava ansioso, magoado, com raiva, mas com uma saudade imensa dela.

 Numa dessas olhadas, a vi entrar na sorveteria. Estava de calça jeans e uma blusa cinza, segurando a bolsa com força contra o corpo, olhando ao redor rapidamente. Era óbvio por sua postura que estava nervosa, e por um momento imaginei o que ela esperava de hoje. Mas logo nossos olhares se cruzaram, e ela sorriu timidamente, vindo em minha direção. Não precisei forçar o sorriso, e guardei o celular, enquanto ela se acomodava a minha frente. Maka colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha, e naquele momento a achei o ser humano mais encantador do universo.

 Aquilo ia ser difícil.

 - Oi. – Ela disse. – Me desculpe pelo atraso.

 - Tudo bem. Eu também cheguei um pouco atrasado.

 A garçonete veio novamente para perguntar o que iriamos querer, e embos pedimos milkshakes. Depois que ela se afastou, ambos ficamos em silêncio, eu não sabia bem o que dizer. Queria perguntar-lhe mil coisas, no entanto nenhuma parecia apropriada. Antes que eu pudesse pensar em algum comentário neutro, no entando, Maka perguntou:

 - Então... Como você tem estado?

 Me senti ficar rígido na hora. Os dias preocupados e ansiosos, a animação para a volta dela, o ciúmes, Liz me dizendo que eu era idiota e devia esquecer ela – não queria falar sobre nada disso. Ela notou minha reação e corou, mordendo o lábio inferior.

 - Cansado. – Respondi. E então, para que ela não desconfiasse de nada: - O meu pai está com um projeto de interação entre as turmas na Shibusen e estou tendo que ajudá-lo com isso.

 Maka pareceu interessada, então conversamos sobre isso um pouco, e eu fui lhe explicando alguns detalhes de como seria. Quando nossos pedidos chegaram eu finalmente tive algo para fazer com as mãos, o que me deixou mais tranquilo. Pareceu quase normal. Mas o assunto acabou e o silencio voltou. Olhei para o tampo da mesa, sem querer começar aquela conversa, mas sabendo que era inevitável. Aquilo era o que mais me cansava.

 Novamente, foi ela quem quebrou o silêncio.

 - Anh... Você disse que queria conversar comigo.

 - Disse. – Confirmei, sem vontade.

 - Eu recebi sua mensagem. Do fim de semana, quer dizer. Todas elas. – Uma risadinha nervosa, mais cabelo pra trás da orelha, uma olhada rápida para mim.

 - Desculpe se incomodei.

 - Não incomodou... – Ela suspirou, olhando para seu próprio milkshake e escondendo as mãos embaixo da mesa. – Eu gostei. Mostrou que você se importava. Quer dizer, eu não fui a única que fiquei ansiosa esse fim de semana.

 Concordei com a cabeça, quase instintivamente, e me inclinei para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

 - Eu fiquei em ansioso sim. Maka, eu...

 - E eu senti saudades! – Ela me interrompeu, com uma expressão de absoluta surpresa. – Eu não entrei em contato com você porque me obriguei a isso, mas eu quase te liguei um milhão de vezes. Eu estava com tanta raiva, Kiddo, mas eu não conseguia simplesmente te ignorar como se você não significasse nada pra mim. Você é muito, muito mesmo. Eu dormi e comi mal e não consegui ter um minuto de paz até segunda. Não parava de pensar em você.

 Ela se calou por um momento e me olhou, cheia de expectativa, parecendo esperar uma resposta. Mas eu não tinha nenhuma. Não esperava por aquilo, por aquela reação. Eu havia me preparado para uma Maka irritada comigo, não para uma Maka com saudades.

 Algo em minha reação deve ter dado a ela a resposta que queria, porque continuou, dessa vez me olhando nos olhos.

 - Eu fui covarde, Kiddo... O principal motivo de eu ter saído naquela missão foi pra tentar de certa forma fugir disso. Eu não sabia como te encarar nem o que falar e estava morrendo de medo da sua reação. E pra ser sincera, eu até consegui não pensar tanto em você... Mas foi só te rever que tudo voltou. – Maka deu uma risada constrangida e mordeu o lábio inferior. – Eu senti muito a sua falta, Kiddo. Eu gosto demais de você.

 Ainda em choque com aquilo, balbuciei:

 - Sim, eu também, Maka.

 - Então... será que podemos continuar de onde paramos?

 Maka sorriu para mim, esperançosa, e estendeu a mão em minha direção, por cima da mesa.

 Por alguns momentos, apenas a encarei, me olhando daquele jeito tão doce, dizendo que me queria, fazendo tudo que eu pensei que não faria. Como eu iria dizer não a ela? Maka era a garota mais incrível do universo. Ela era forte, determinada, doce e única. Eu a conhecia o suficiente para saber que a queria do meu lado, que ela me fazia ser mais feliz. Minha vontade era me jogar por cima daquela mesa, pega-la em meus braços e beijá-la até que toda aquela saudade no meu peito se dissolvesse.

 Mas eu também a conhecia o suficiente para ter percebido que havia algo diferente.

  Eu havia sentido ciúmes quando ela saiu numa missão sozinha com o Soul. Muito ciúmes, e não me orgulhava disso. Disse a mim mesmo que estava apenas sendo paranóico, não precisava me preocupar. No entanto, quando vi a Maka sentada ao lado do Soul na sala, depois de voltar da missão, notei que havia algo diferente entre suas almas. Não estavam totalmente sincronizadas, também não era uma versão menos pungente da relação de suas almas durante o tempo que estavam mais ou menos bem, nem de antes de brigarem. Tentei abafar minha hipótese, mas foi estranho quando Maka saiu com o Soul para reportar a missão e ele sorriu sarcástico para mim. E quando ambos simplesmente não voltaram, não consegui mais me enganar. Havia algo entre eles.

 Eu não a tinha chamado hoje para tentar reatar, embora esse fosse o primeiro plano. Não podia ficar e aceitar aquela situação. E por mais que sua declaração tornasse tudo praticamente insuportável para mim, sabia que tinha que continuar.

 - Não podemos, Maka.

  A observei enquanto seu sorriso congelava e ela tentava assimilar a informação, quando ele lentamente ruiu e ela puxou a mão de volta, incrédula. Aquilo doía nela, mas doía em mim também. Ainda assim, consegui ficar sério, esconder qualquer resquício do que eu estava sentindo. Só tornaria tudo mais difícil.

 - Você não... Como... Porque, Kid? Você não gosta mais de mim?

 - Eu gosto de você muito mais do que deveria. – Assegurei, antes de perceber, tarde demais, que aquilo não tornaria nada mais fácil para ela. – Mas eu não sou o único na sua vida.

 Vi que estava certo quando ela subitamente arregalou os olhos, corou e desviou o olhar. Ao contrário da raiva que pensei que me cegaria, só me senti vazio. O que eu poderia fazer em relação aquilo?

 - Kid, você sabe que...

 - Sim, eu sei. – Interrompi. – Eu sei bem demais, Maka. E isso tudo parece uma grande piada. Se depois de tudo que aconteceu, de tudo que a gente passou junto, eu ainda sou uma segunda opção, pra que tentar continuar?

 - Você não é minha segunda opção! – Ela reclamou, indignada. – Como pode dizer isso?

 - Sua primeira é que não sou. – Apesar do meu esforço, a mágoa transpareceu em minha voz. – Você fica bem comigo quando o Soul não está por perto, mas basta algo entre vocês começar a dar certo que fica confusa quanto a nós.

 Maka revirou os olhos, nervosa.

 - Com certeza, não. Quantas vezes eu tenho que te falar que gosto de você, Kiddo? Você simplesmente não acredita em mim!

 - Você não sabe o que quer! – Disparei, um pouco duro demais, e quando ela se encolheu na cadeira eu mal me importei. Haviam coisas demais para falar. – Você disse que gostava do Soul mas quando algo deu errado não teve nenhum problema em ficar comigo. Não estou reclamando, eu sei que aquele idiota fez merda e eu queria aquela chance, mas ao mesmo tempo que estava comigo ficava preocupada com ele e Liz. Quando achei que estávamos começando a ficar bem, que você parecia estar focando em nós e não nele, você deixa ele se aproximar demais e te beijar. Não adianta falar que foi forçado, Maka, ele não teria feito se não tivesse visto que tinha essa abertura. E quando nós brigamos por causa disso, em vez de querer acertar as coisas entre nós, foi lá e deixou Soul se aproximar mais ainda. Maka, sinceramente, ás vezes parece que você só está brincando comigo.

 Suspirei, aliviado por finalmente falar tudo que estava guardando para mim. Maka estava respirando fundo a minha frente, corajosamente segurando as lágrimas, e eu estava dividido entre me sentir um lixo por deixá-la assim e achar que talvez ela aceitasse mais fácil por isso.

 Eu só queria sair dali logo, antes que ela começasse a realmente chorar e minha determinação sumisse.

 - Maka, não consigo mais.

 - Foi muita coisa. – Ela sussurrou. – Aconteceu muito rápido. Eu não sabia o que pensar de tudo.

 - Não te culpo, de verdade. – Respondi, abaixando a cabeça, esfregando os olhos com força. Essa provavelmente seria mais uma noite mal dormida. – Mas eu não posso continuar assim.

 - E a nossa história? Nossa amizade? Nossos beijos? Como vamos esquecer um do outro?

 - Eu não sei.

 Maka ficou em silêncio, olhando nos meus olhos, por alguns segundos. Vi quando ela finalmente percebeu que eu estava falando sério, e a primeira lágrima rolou. Mordi o lábio inferior, as minhas estavam quase fugindo também.

 - Eu preciso de você.

 - Eu também preciso de você. Só que inteira, e não uma metade.

 Ela fechou os olhos, com força, e naquele momento aceitei que era covarde o suficiente para não aguentar mais aquela conversa, olhar para ela chorando, ser quem por fim desistiu. Tirei uma nota do bolso e deixei sobre a mesa, com meu milkshake quase intocado, sussurrei um “tchau, Maka” e saí dali.

 Eu ouvi quando, no meu terceiro passo, Maka soluçou, e senti os olhares acusatórios das garotas sentadas lá fora sobra mim, mas simplesmente ignorei tudo e me forcei a andar. Esquerda, direita, esquerda, direita. Era o melhor para mim. Era o melhor para ela. Mas eu não sabia como ficar sem nós.

***

POV Soul

 Estava deitado na minha cama, olhando para o teto e ouvindo música nos meus fones de ouvido. Maka havia saído – ela não me disse, mas eu sabia que ia encontrar o Kid, Blair estava no cabaré, Black foi no cinema com Tsubaki e Liz não atendia mais minhas ligações e nem respondia as minhas mensagens. Era mais que estar só, era estar solitário.

 Ao que parecia, meu lance com a Liz estava oficialmente terminado. Não ficávamos a um tempo, quando conversávamos sempre acabava em briga e ela parecia estar cada vez mais insatisfeita comigo. Nós havíamos brigado na noite antes da Maka decidir pegar a missão, e a última coisa que ela me disse foi que estar comigo era cansativo e ela preferia alguém que fizesse ser divertido e não difícil. Não perguntei o que ela queria dizer com aquilo. Liz andava falando muitas coisas assim, e eu só precisava dar um tempo a ela para seu humor melhorar. Mas com a missão eu não tive muito tempo para conversarmos, e ela mal respondeu minhas mensagens. Quando voltei e tentei ligar para ela, depois de cinco tentativas, Liz finalmente atendeu. Só para dizer que esperava que eu a deixasse em paz.

 E isso foi tudo.

 Eu não sabia se nosso afastamento era bom ou ruim. Agora eu tinha uma chance com a Maka, e não queria vacilar, mas ainda assim sentia falta de Liz. Sentia falta do nosso lance fácil e descomplicado de antes, e queria que ainda estivéssemos bem. Talvez fosse bom, mas só se a Maka e o Kid se afastassem. Eu tinha mais tempo com ela, e já tinhamos algo, então minhas chances eram boas, mas não o suficiente para ter certeza. Esse desafio me deixava preocupado e ansioso ao mesmo tempo, e quando a Maka voltasse do encontro falando que tinha se acertado com o filhote de Shinigami, só tornaria as coisas mais difíceis.

 Apesar dos fones, ouvi quando a porta da frente bateu. Me virei e olhei no relógio, ela havia saído a menos de uma hora. Algo havia dado errado? Minha confirmação chegou quando Maka escancarou minha porta. Me sentei, assustado, e ela me encarou, os olhos inchados, o rosto vermelho e molhado. Não tive tempo de processar a informação antes que ela corresse e se jogasse na cama ao meu lado, meio sentada, meio deitada no meu colo, soluçando na minha calça jeans.

 Algo definitivamente deu errado.

 Por um tempo ela apenas ficou lá, chorando, e eu acariciei sua cabeça e suas costas, lhe dizendo que estava tudo bem e que tudo ia ficar bem, minha cabeça a mil. Eu estava em pânico tanto quanto estava curioso. Quando Maka finalmente se acalmou e olhou para mim, tanto seu rosto quanto minha calça estavam manchados de algo preto. Acho que era rímel.

 - Quer chocolate? – Ofereci. Não sabia muito bem o que fazer, mas se tratando de mulheres, chocolate parecia ser a solução definitiva.

 Maka fez que não com a cabeça, dando uma risadinha, enquanto limpava as bochechas. Respirou fundo, fungou e disse:

 - Acho que não quero nada. – E antes que eu pudesse perguntar: - O Kid terminou comigo.

Olhei para ela, atônito. O Kid não terminaria com a Maka. Nem ele seria tão idota assim. Mas ela estava tão séria, e seus olhos começaram a lacrimejar quando disse isso, então não tive outra escolha senão acreditar. Uau. O cara era um total idiota. Estava com raiva dele por tê-la deixado nesse estado, mas ao mesmo tempo, estava feliz. Era isso, então. Eu estava livre para ficar com ela!

 Tentando me manter o mais séro possível, perguntei:

 - O que aconteceu?

 Maka suspirou e olhou para o teto.

 - Não quero falar sobre isso.

 Então a puxei para mim, até que ela estivesse com a cabeça no meu ombro, e a mantive ali. Senti quando uma lágrima molhou minha camiseta, e por um momento estranho, me perguntei se foi assim que o Kid se sentiu quando teve que consolá-la por minha culpa. Era um sentimento estranho. Eu entendia a raiva que ele tinha de mim – era a mesma raiva que eu sentia dele agora.

 - Ele me disse um monte de coisas. – Ela suspirou.

 - Posso quebrar o nariz dele, se você quiser. – Ofereci. – Ele ia odiar se aquele nariz perfeitinho ficasse torto.

 - Deixa o nariz dele em paz. E ele também. – Completou, após uma pausa. – Desculpe por vir aqui.

 - Eu sou seu parceiro. – Respondi, dando um beijo no topo da sua cabeça. – E seu amigo.

 “E eu quero você”, pensei. Mas não era horapara esse tipo de coisa.

 - Obrigada.

 - Quer passar a noite aqui?

Me arrependi logo após perguntar. Aquilo devia ter parecido bem ruim. Fechei os olhos com força, me odiando, e completei, depressa:

 - Não quero que fique sozinha. E a Blair só volta de madrugada.

 - Não, tudo bem. – Maka respondeu, se afastando, mas sorrindo para mim. – Acho que preciso ficar um pouco sozinha. E ligar para a Tsubaki.

 - Tudo bem. – Concordei, só um pouco chateado por não ser suficiente para ela agora. Mas, hey, pelo menos ela não estava com raiva de mim.

 Maka se levantou, me deu um boa noite baixinho, seguido de um sorriso, e saiu do quarto tão rápido quanto entrou. Fiquei lá, sozinho, com minha calça manchada. Olhei para a mancha e me dei ao luxo de sorrir. Ela ia precisar de um amigo agora, e eu ia ser esse amigo, mas quando estivesse pronta, eu ia fazer com que tudo, finalmente, dsse certo para nós.


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Notas finais do capítulo

Quem precisa de protagonista narrando não é mesmo? xD