Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 37
#32 - Beijos e Medos


Notas iniciais do capítulo

OIEEEE, MEUS LINDOS!!!

Desculpem pela demora, sério mesmo. Como disse pra alguns, meu pc queimou uma semana depois que postei o último capítulo, e fiquei quase dois meses sem. Mas enfim, aqui está o capítulo!

Está um pouco menor do que o normal, e eu também não acho que está tão bom - ainda estou me reacostumando a escrever. Desculpem a pressa, e espero que gostem!



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Tenho uma confissão: sou compulsiva por resultados. É por isso que estudo e treino e sempre me esforço tanto. Geralmente ir numa missão só piorava isso, eu queria trabalhar ainda mais para não ficar para trás devido ao tempo fora da Shibusen e deixar certas pessoas tomarem meu tão sonhado título de aluna número um da classe.

No entanto, essa manhã, eu não estava tomando notas mais compulsivamente do que de costume pra compensar as faltas. Na verdade, eu mal escrevi duas linhas. E também não estava vigiando cada movimento do Soul e do Kid.

Talvez só um pouquinho.

Mas esse não era o foco. Nem vigiar nem prestar atenção em nada. A questão era: eu estava ferrada. Porque eu estava com saudade do Kid. Muita mesmo, mais do que eu havia percebido. E eu queria muito ir lá falar com ele, tentar resolver a nossa briga, ficar bem de novo e continuar como antes. Mas se isso já seria difícil normalmente, seria praticamente impossível quando ele soubesse que eu fiquei com o Soul na missão, por livre e espontânea vontade.

O pior de tudo? Eu não estava bem certa de que não queria repetir.

Bom, não devia querer, né? Eu ainda estava meio chateada com ele. A gente não estava tão bem assim. Ele ainda parecia afim da Liz. Mas ainda era o Soul.

Então, o que eu diria para o Kid? Que estava com saudade mas estava ainda mais confusa do que antes? E que não tinha certeza se queria ficar só com ele? Não soava muito como algo dado a reconciliações. Soava mais como o início de uma briga ainda pior. E eu não queria mentir para o Kid – e nem perde-lo.

Ou seja, estava ferrada.

As primeiras aulas da manhã se resumiram a pensar nisso incessantemente e tentar conciliar as coisas de um jeito em que pelo menos eu não começasse outra briga. Não deu muito certo, claro. E eu quase arranquei os cabelos até a hora do intervalo, pensando em como iria encarar Kid, só para dez minutos antes do horário o Sid vir avisar que o Shinigami-Sama estava chamando eu e Soul na sala dele.

Eu nunca fiquei tão aliviada em perder o lanche.

Passei pelo Kid meio de cabeça baixa, tentando evitar seu olhar, mas o mesmo parecia queimar sobre mim. Quando espiei, meio de lado, ele abriu um pequeno sorriso, que tentei corresponder – tentei mesmo – antes de virar o rosto rapidamente e sair da sala com Soul e Sid.

Sid não nos acompanhou até a sala do diretor, dizendo que tinha alguma outra coisa para fazer, e eu e meu parceiro fomos deixados no corredor para irmos sozinhos. Eu sabia do que se tratava: um relatório oral e presencial de como foi a missão para o diretor. Era algo rotineiro, mas poderia demorar mais de uma hora. Suspirei, tentando me focar em detalhes da missão que pudessem ser úteis ou importantes para citar, andando quase no automático.

Discuti um pouco sobre isso com Soul, e quando chegamos á sala do Shinigami-sama, foi tranquilo como sempre. Acabamos ouvindo um pouco por termos lutado sem ter pleno controle da ressonância e por termos gasto tanta energia perambulando pela cidade ao invés de simplesmente esperar o cara aparecer, mas no geral fomos bem. Havíamos cumprido a missão, como sempre, e sem ferimentos graves, o que era para poucos. Depois de quase uma hora e meia, estávamos liberados.

Saímos em silêncio, e do lado de fora, eu e Soul nos entreolhamos. A turma devia estar bem no meio de uma aula do Sid, e eu não estava muito animada para interrompê-la.

Meu parceiro devia estar pensanda mesma coisa, porque perguntou:

– Você quer ir pra sala agora?

Sua voz estava hesitante, e quando acenei um não com a cabeça, ele pareceu chocado.

– Não? Sério mesmo?

– Não, Soul. – Confirmei, soltando um riso. – É tão difícil assim de acreditar?

Ele riu também, sem graça, passando a mão pelos cabelos.

– Bom... É. O que aconteceu com a minha parceira nerd?

– Estou cansada. – E eu não estava prestando atenção na aula, de qualquer forma.

– Hum...

Um professor acabou aparecendo no corredor, então começamos a andar de volta, devagar e em silêncio. Não tinha nada para me distrair agora, mas eu já estava cansada de pensar tanto, então apenas me concentrei no som de nossos passos pelos corredores.

– Está cansada o suficiente para matar aula? – Soul perguntou, num sussurro.

Encarei-o, e vi que me olhava, com uma expressão meio hesitante, meio desafiadora. Abri um pequeno sorriso.

– Isso é um convite?

– Pode ser. O observatório, que tal? Nunca tem ninguém lá de dia mesmo.

Abri mais o sorriso. Eu realmente estava cansada, ir para a sala me estressaria mais e... Bom, porque não? Lá era tranquilo e nenhum professor nos acharia. Eu podia até dormir, se quisesse, o que me parecia um ótimo plano. Kid provavelmente estranharia eu não voltar depois de ser liberada do relatório, mas na hora eu decidi que era só mais um detalhe do enorme problema que eu já tinha.

– Vamos.

Soul era uma mistura hilária de incredulidade e animação enquanto nos guiava por corredores e escadarias até o observatório. Vimos alguns professores no caminho, mas eles não nos viram. Também demoramos o dobro do tempo que demoraríamos se não estivessemos fazendo algo errado. Mas, por fim, chegamos.

O observatório era onde, quatro ou cinco noites por semestre, as turmas de astrologia vinham ter aulas práticas. Ficava no último andar de uma das torres traseiras da Shibusen, uma sala ampla e redonda, cheia de vários equipamentos que eu não conhecia e computadores potentes sobre mesas lisas de madeira. Havia uma abertura controlada por controle remoto no teto, que abriam somente quando alguma turma estava, e um telescópio enorme apontado para ela. As paredes eram altas, talvez 6 ou 7 metros, pintadas de branco, contrastando com a madeira escura do piso.

A porta estava destrancada, então apenas nos certificamos que estávamos sozinhos antes de entrar e fecha-la atrás de nós. A sala estava escura, mas Soul não precisou tatear muito antes de achar o interruptor e uma luz branca invadir tudo. Olhei ao redor, me rescostumando ao lugar, já que eu nunca tive aulas ali, só o conhecia pelo tour de visitação da escola . E depois me virei para Soul, que havia se jogado no chão próximo a porta e estava com as costas apoiadas na parede, me obsevando com um sorriso que me fez corar.

Foi aí que me dei conta que estava sozinha numa sala que ninguém nunca ia com Soul. E que se o Kid soubesse, ia pirar muito. E que eu mesma já estava ficando desconfortável com aquilo.

Ainda assim, era bem melhor que a idéia de voltar para a sala, ainda mais agora.

Fui até onde Soul estava e me sentei ao seu lado, imitando sua posição, e suspirei, fechando os olhos. O chão não estava com tanta poeira quanto pensei que estaria, alguém havia limpado a pouco tempo. Imaginei se teria alguma aula hoje a noite, mas a proximidade com Soul estava dificultando em me concentrar em outra coisa. Abri os olhos e fitei o teto, suspirando novamente.

– Nunca imaginei que você fosse matar aula comigo. – Soul comentou, para puxar assunto.

Virei a cabeça um pouco em sua direção, e ele estava sorrindo para mim – ou de mim?

– Sou nerd demais para isso? – Provoquei.

– Ainda pergunta?

Revirei os olhos e me concentrei num fio solto da minha saia, sem deixar de sorrir ao responder:

– Acho que estou perdendo minhas habilidades de nerd.

– Isso é bom.

– Talvez.

Ele não respondeu, e ficamos em silêncio por alguns instantes. Apoiei a cabeça na parede e fechei os olhos novamente. Ele estava bem ao meu lado. Quando se mexeu para mudar de posição, de alguma maneira senti o movimento. Me perguntei quanto tempo o Kid demoraria para perceber que não voltaria mais. A essa altura, talvez já devesse ter percebido, o que me deixou meio triste. Eu não queria deixá-lo mais chateado ou magoado. Ele ainda conversaria comigo, não é?

Mesmo eu não sabendo o que dizer.

– Parece que o Kid te mudou.

Abri os olhos rapidamente, surpresa pelo Soul ter tocado logo naquele assunto.

– O Kid? Porque?

Agora Soul estava com uma das pernas dobradas, o braço apoiado no joelho, olhando para cima como eu estivera a poucos instantes.

– Você não toparia matar aula a um mês atrás.

– Realmente, não.

– Mas matou comigo hoje. E com ele também, aquele dia, certo?

– Certo. – Confirmei, sem graça. Era a segunda vez que eu fugia de uma aula, não era difícil saber do que Soul estava falando.

Soul continuou na mesma posição, parecendo concentrado, e me peguei observando-o, tentando descobrir no que, exatamente, ele estava pensando. Não precisei tentar muito.

– Você curte ele.

Não era uma pergunta, era uma afirmação, e meu parceiro fez questão de olhar diretamente para mim ao faze-la. Confirmei com a cabeça, olhando para qualquer lugar, menos para ele, e me arrpendendo de não ter ido para a aula.

– E.. E eu? Você me curte?

Dessa vez não olhei para ele, não me mexi, não respondi. Eu não queria responder essa pergunta. Eu nem sequer sabia a resposta para ela. Mordi o lábio, em dúvida, e me senti corar sob o olhar de Soul. Isso lá era pergunta que se fisesse a alguém?

– E-eu não sei... Tipo... Talvez? – Acabei soltando, incerta.

Então tudo aconteceu muito rápido. Senti Soul se mexer ao meu lado, e quando ergui a cabeça um pouco, sua mão passou pelo meu pescoço, indo se emaranhar nos meus cabelos na nuca, fazendo meu rosto se erguer mais. Mal tive tempo de pensar antes de sua boca se colar a minha.

Seus lábios desenharam uma trilha de beijos sobre os meus, enquanto sua outra mão ia até minha cintura, me puxando em sua direção. Lembrei do Kid, mas logo o esqueci, quando mordeu de leve meu lábio, o sugando. Fechei os olhos, e mesmo sem entender o porque daquilo me vi abraça-lo também, indo sentar em seu colo. Era o Soul – seus gestos, seu cheiro, sua alma era familiar. Eu não queria dizer não aquilo, e não disse.

Quando percebeu que eu não estava tentando fazê-lo parar, Soul me abraçou mais forte, soltando um suspiro alto o suficiente para me fazer sorrir. Ele falou meu nome, baixinho, entre um beijo e outro, e senti meu coração acelerar, junto com o dele. Era perfeito.

Ficamos ali, apenas nos beijando, até aquela coisa impusiva se tornar em algo mais lento, mas igualmente intenso. Quando finalmente nos separamos, Soul me olhava como se eu estivesse brilhando, e me deu outro selinho antes de sussurrar, como se fosse um segredo só nosso.

– Você me curte.

Uma parte minha acusou-o por um momento de usar aquilo para me testar, mas eu sabia, no fundo, que ele estava certo. Talvez por isso que concordei, suavemente, e que as lágrimas começaram a cair. Quando ele me abraçou novamente, me apertando contra si e dizendo que tudo estava bem, eu sabia que estava mentindo.

Estava tudo desmoronando.

***

Quando o sinal do fim das aulas bateu, eu e Soul estávamos no topo da escadaria da Shibusen, e já havia passado tempo o suficiente para que não houvessem sinais de que eu havia chorado. O clima estranho entre eu e meu parceiro estava lá, como sempre, mas Soul parecia mais satisfeito agora, e eu me sentia mais culpada. Não adiantava nem tentar pensar em desculpas ou meias verdades com o Kid. Eu só esperava que, talvez, pudéssemos conversar sobre aquilo.

Não demorou muito para Black*Star e Tsubaki chegarem, trazendo os nossos materiais, e graças a Kamisama nenhum dos dois nos perguntou o que estávamos fazendo. Mas eu não era ingênua o suficiente para achar que aquilo continuaria assim, e estava certa. Logo Black Puxou Soul para descer, engatando uma conversa sobre algum jogo de basquete que teria hoje na TV, e assim que estavam longe o suficiente, Tsubaki segurou meu braço.

– O que aconteceu?

– Cadê o Kid? – Perguntei, ao invés disso.

Ela suspirou antes de responder:

– Foi chamado na sala do Shinigami a pouco tempo. Ele parecia bem chateado. O que te deu para matar aula assim bem embaixo do nariz dele? Pensei que queria que se acertassem!

Eu não sabia bem como explicar aquilo.

Ainda assim, contei tudo o que aconteceu. Disse que realmente não esperava ficar com o Soul quando concordei em matar aula, e que depois de eu finalmente ter parado de chorar, apenas ficamos sentados lado a lado, conversando sobre qualquer coisa que não fossemos nós. Tsubaki não me deu nenhum sermão sobre a cagada na qual eu estava me afundando, apenas disse:

– Cuidado com o que você está fazendo.

O que na verdade me assustou mais do que qualquer outra coisa.

O caminho de volta para casa foi tão tranquilo quanto poderia ser com Soul costurando entre os carros, e bem rápido. O trânsito estava pior que o normal hoje, mas para quem já havia dirigido até na Índia como o Soul, Death City devia ser moleza. Em menos de dez minutos já havíamos chegado.Discutimos o que fazer para o almoço enquanto subíamos até o nosso andar e Soul se ofereceu para cozinhar, que era provavelmente a melhor coisa que ele podia fazer por mim no momento.

Blair não estava em casa, tinha um turno extra no cabaré, então estávamos por conta própria. Soul largou a mochila num canto da sala e foi direto para a cozinha. Nem pensei em reclamar, ao invés disso fui para o quarto pegar uma muda de roupa e depois direto para o banho.

A água me relaxou um pouco, e quando fui para a cozinha garantir que meu parceiro não colocaria fogo em nada, estava um pouco melhor.

Soul estava parado ao lado da pia, lavando alfaces e vigiando uma panela no fogão, cantarolando alguma música que eu não conhecia. Os cabelos claros caíam o tempo todo sobre seus olhos, o que parecia irritá-lo profundamente, então não sabia bem se seu bico era de irritação ou concetração. Ele franziu a testa antes de jogar uma folha de alface no lixo e arregaçou as mangas da jaqueta, mostrando os antebraços. Com surpresa, percebi que estava escarando-o, e ficquei vermelha na mesma hora. Se ele percebeu meu olhar, no entanto, não falou nada.

Fui de fininho até a mesa e me sentei, pegando um pêssego artificial da fruteira para brincar, e só então Soul pareceu me notar.

– Veio aprender minhas técnicas secretas?

Dava para ouvir o sorriso em sua voz, então respondi:

– Vim proteger você de você mesmo.

Soul me deu uma olhada por cima do ombro, sorrindo, e então voltou ao trabalho.

– Acho que dou conta de fazer um almoço sem destruir tudo. Só não garanto uma ceia de Natal. Hoje temos arroz, purê de batata, frango frito e salada. O que acha?

– Está ótimo pra mim. Mas você vai mesmo cozinhar de jaqueta?

– Já quer tirar minha roupa, Maka?

Dava pra ouvir na sua voz que estava brincando, mas ainda assim corei e revirei os olhos, irritada. Soul apenas riu e tirou a jaqueta, jogando em cima da cadeira ao meu lado.

Abri a boca pra falar que se ele estava tão disposto a se despir podia fazer melhor do que aquilo, mas meu celular vibrou no meu bolso. Uma nova mensagem do Kid.

Kid: Posso te esperar hoje ás 8hrs no Ice Scream?

Maka: Okay, vou estar lá.

E assim toda a minha vontade de fazer brincadeirinhas com meu parceiro sumiu.


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Notas finais do capítulo

Apenas dois avisos:
1- Estou tentando adiantar a história para acabar logo (não sei se alguém já percebeu, mas eu postei Start? em 2013 D= ) e estou tentando não deixá-la corrida, mas talvez algo de outros capítulos possa perder utilidade aqui. Sinto muito =(

2- Vou tentar postar no mínimo um capítulo por mês, espero que entendam. Minha vida está bem corrida ultimamente.

Até o próximo, amores S2