Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 24
#21 - Corredor e Acerto de Contas


Notas iniciais do capítulo

YOOOOOOO MEUS AMOREES x3
Primeiramente, obrigada a:
#Julia Marques
#Sassu
#Kashir
#Vlad Ember
#Beatriz Carvalho
#Guelbs
#Breaker
#RedPegasu
#Baka Kawai
#Monkey D Amanda
#Yui Chan
#Misty Heartfilia (Becca-chan)
#Mari the Wolf

OBRIGADAAA *---* tantos comentários divos, OMFG, morri essa semana S2

E não deu pra postar sábado também... Minhas amigas chegaram aqui em casa e não tive tempo de escrever. Mil desculpas Y-Y

E gente, com licença, maaaas ESSE CAPÍTULO TÁ MUITO DIVO ~pronto falei~
Foi um dos capítulos que eu mais gostei de escrever ^^ Espero que apreciem também xD E só por precaução, preparem seus corações

E a música do capítulo foi realmente um problema... Tinham três que eu não conseguia decidir u,u Enfim, escolhi essa porque foi uma das músicas que mais me inspirou nessa fic:
~Just Give me a Reason - Pink ft Nate Ruess (Desculpa, minha net está terrivelmente lenta hoje Y-Y não consegui pegar o link)
Até lá embaixo!



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Assisti a aula sem realmente prestar atenção. Eu me distraía com os olhares que Tsubaki e Black trocavam (estava estourando de felicidade pela minha amiga) e me distraía com Soul tamborilando na mesa e bufando a cada minuto. Ele estava se irritando com a cara de bobo que o Black fazia toda vez que olhava para a namorada – era tão legal falar isso! – se bem que o Black já fazia essa cara antes mesmo de pedi-la em namoro. E, principalmente, eu me distraía olhando para o Kid.

Fiquei a maior parte da aula olhando-o, e cara, era realmente constrangedor. Eu obserava o modo dele sentar sempre reto, e quando se inclinava sobre a mesa para escrever algo, achava simplesmente lindo o modo como seus ombros se curvavam. Ficava admirando seu cabelo, então lembrava da sensação de embolá-los nos dedos e o puxar para mais perto quando nos beijávamos, e corava e acabava rindo. Aí lembrava de qualquer outro detalhe estúpido e tinha que por a mão na frente da boca para disfarçar os risos. Vez ou outra ele virava para trás, me pegava olhando e sorria, e eu sempre acabava encarando demais aqueles olhos.

Eu estava parecendo uma maldita adolescente apaixonada. E era estranho saber que eu era exatamente aquilo.

Ficamos nessa até o recreio, quando o dr. Stein nos liberou, insistindo para que fizessemos o dever porque ele não queria dissecar nenhum aluno. Arrumei meus materiais rapidamente e esperei os outros, ansiosa para descer logo. Tsubaki notou, e sorriu para mim.

– Maka, ele não vai fugir. – comentou, de bom humor.

– Ele quem? – Black perguntou.

– O pastel de frango da cantina. – respondi rápido, lançando um olhar de advertência pra minha amiga.

Black me encarou, pensativo, então sorriu.

– Ah, sim, o Kid. – diante da minha expressão perplexa, ele completou: - Não faça essa cara, Maka, o grande eu já acabou aqui. Até porque se você não descer nos próximos trinta segundos, ele vem e te arrasta pro corredor.

Então deu uma piscada e foi saindo da mesa, puxando junto Tsubaki, que me lançava um olhar de desculpas. Eu não tinha a mínima dúvida que estava parecendo um pimentão. Fui atrás do novo casal, aqueles fofos constrangedores, e Soul veio para o meu lado enquanto isso, com as mãos enfiadas no bolso.

– Black fala demais. – resmungou.

Dei de ombros, e comentei:

– Não seria ele se não falasse...

– Então não se importa que ele diga esse tipo de coisa por aí? – perguntou, surpreso.

Dei de ombros de novo e sorri de leve para meu parceiro.

– Não é exatamente um segredo, não agora.

Abaixei a cabeça e continuei andando, me sentindo meio estranha por falar aquilo. Eu havia praticamente confessado para o Soul que estava com o Kiddo. Como eu disse, realmente não era mais um segredo – parecia que a Shibusen inteira estava comentando sobre “o caso da filha do Death Scythe com o filho do Shinigami-sama”, já que parecia óbvio para todo mundo como estávamos diferentes um com o outro. Teorias da conspiração até diziam que tinha uma máfia por trás de quem seriam os artesãos que fariam as próximas Death Scythes, e Kid estava comigo porque eu havia sido escolhida para ser a próxima. Ainda assim era estranho falar aquilo com o Soul, e libertador ao mesmo tempo. Era como dizer que o que nós tínhamos antes estava definitivamente acabado.

Sorri assim que chegamos perto do Kid, que me ofereceu o braço.

– Me daria a honra de te levar para comer uma empadinha?

Ri e concordei, pousando minha mão no seu antebraço e acompanhando, e dei uma olhada para trás. Patty estava vindo, e Soul tinha parado para acompanhar a Liz. Ele envolveu sua cintura com o braço e ela o abraçou pelo pescoço, de modo que ficaram muito juntos, mais ou menos como Tsubaki e Black. E quando Liz notou que eu olhava, ela sorriu.

Mas não foi um sorriso maldoso, e nem um daqueles “eu eu estou com ele e você não”. Parecia sincero, de modo que acabei retribuindo, hesitante. Ela sorriu mais ainda, e com o canto do olho vi que Soul obseravava nossa interação, sem intender. Bem, eu também não entendi direito.

No fim, não comemos empadinha nenhuma: o cardápio da cantina hoje era sushi. Os olhos de Tsubaki, Black e Soul até brilharam quando descobriram, mas eu não gostava de peixe cru, e Patty também torceu o nariz. Acabamos pedindo para o Hero ir buscar uns lanches pra gente lá fora, e nos sentamos na nossa mesa de sempre, conversando sobre o fim de semana na praia e o namoro de Black e Tsubaki.

Isso, como tudo relacionado ao Black*Star, tomou proporções gigantescas. Principalmente quando ele subiu na mesa, no refeitório, para anunciar para todas as garotas da Shibusen que não chorassem muito por não ter chance com ele, e para todos os garotos da Shibusen se manterem longe da sua namorada se não quisessem perder os dentes. Até ali eu achava que ninguém podia parecer mortificado e radiante ao mesmo tempo, mas foi só olhar para Tsubaki para perceber que estava errada.

Kid sentou do meu lado, e não paravamos de trocar olhares e indiretas. E Liz, para minha surpresa, até mesmo conversou comigo. Nada demais, só um comentário ou outro dirigido a mim, mas sem um traço da sua raiva da semana passada, então não pude evitar ficar surpresa. E foi por isso que, quando o primeiro sinal tocou para o fim do recreio, segurei Kid pelo braço e o fiz ficar para trás enquanto todos voltavam para se preparar para a educação física.

– Algum problema, Maka? – perguntou, surpreso. Eu não era exatamente o tipo de garota que enrolava pra ir pra sala.

– Não, só quero falar com você rapidinho. Vem cá.

Sai puxando-o, curvando em alguns corredores, até chegar a um que eu sabia não haver muita movimentação, então parei e me virei para ele.

– Kiddo, tenho uma pergunta pra te fazer.

Ele me olhou, confuso, então deu um sorrisinho irônico.

– Você me trouxe mesmo pra um corredor pouco movimentado para conversar?

Corei e ri, cruzando os braços.

– Bem, sim. – confessei. – Acho que é algo meio sério.

– Tudo bem. – ele concordou. – Diga.

Respirei fundo, tomando coragem, então comecei:

– Kiddo, você notou algo estranho na Liz?

Ele ergueu as sobrancelhas.

– Como assim? Ela está implicando com você, princesa?

– Não, na verdade é o contrário... A Liz ficou de cara fechada comigo desde o baile e hoje, do nada, começou a sorrir pra mim e puxar assunto. – expliquei. – Só estou tentando entender o porque disso.

– Ah, sim! – murmurou, passando a mão pela nuca, sem graça. – Ela decidiu que tem que voltar a ser legal com você.

Meu queixo caiu.

– Como é?

Kiddo se aproximou, envolvendo minha cintura, mas mantive os braços cruzados sobre o peito. “Decidiu que tem que ser legal comigo”. Há! Que audácia!

– Você não pode resolver isso com ela, depois? – sugeriu, me dando um sorriso de desculpas. – Não me sinto bem falando por ela.

– Tá, mas... – suspirei, e fui interrompida por Kiddo, que me empurrava para trás lentamente.

– Além disso, eu nunca matei aula. – ele comentou, sorrindo.

Encarei-o por um momento, enquanto processava o que ele queria dizer com aquilo (meu cérebro ainda devia estar meio lerdo de sono), então sorri e descruzei os braços, me deixando guiar por ele enquanto pousava minhas mãos nos seus ombros.

– Eu também não. Mas é educação física.

– Eu não estou muito interessado em ver a Neiggus nos mandando fazer flexões.

– Como se você precisasse. – comentei, rindo e corando.

– Como se você precisasse. – ele rebateu, corando também, e me olhando de um modo que...

Minhas costas finalmente chegaram á parede de pedra fria que estava atrás de mim, e Kid colocou uma mão de cada lado do meu corpo, me prendendo ali. Suspirei de novo, olhando-o como se estivesse brigando, mas meu sorrisinho me traía.

– Nós vamos nos encontrar de noite, lembra?

– Aham, esse vai ser o ensaio. – ele respondeu, encostando seu nariz no meu.

– Os outros alunos vão ficar falando disso depois...

– Ninguém vai falar mal de você na minha frente. E que ousem tentar falar pelas costas.

Acariciei seu pescoço, passando minhas unhas de leve por sua pele, e murmurei, na minha melhor voz de decepção:

– Era pra conversarmos...

– Vamos usar a boca, de qualquer modo. – ele deu de ombros, corando, e eu simplesmente desisti de provocá-lo.

Fechei os olhos e inclinei meu queixo em sua direção, alcançando sua boca.Ele voltou a me abraçar, uma mão na minha cintura e a outra acariciando meu braço, subindo pelo meu pescoço e finalmente massageando de leve minha nuca. Arrepiei e enfiei mais minha mão nos seus cabelos, descendo a outra para seu peito e agarrando sua camisa na altura da barriga.

Kid grunhiu suavemente quando meus dedos tocaram sua pele através do tecido, e eu sorri enquanto o beijava. Ele não vinha mais de paletó para a Shibusen, só de blusa social, e eu estava grata. Seria difícil fazer isso com ele usando terno.

Kiddo se afastou por um segundo, nossas testas ainda coladas.

– É engraçado?

– É. – admiti. – Melhor fazer de novo.

Ele riu, sua respiração batendo quente no meu rosto, e eu o puxei para mim novamente. Aquilo era bem melhor que educação física.

***

Quando o sinal do fim da aula soou, eu estava sentada no meu carro, com meus materiais jogados no banco de trás. Havia colocado umas músicas eletrônicas para tocar, e toda hora que alguém parava na minha janela para perguntar se eu já estava melhor, sorria e dizia que sim, obrigada.

Foi idéia do Kid. Depois de um tempo, ele me pediu pra ir buscar os nossos materiais enquanto resolvia umas coisas. Eu fui, até porque deixar só as nossas mochilas na sala vazia seria dar muita bandeira, e quando voltei para o nosso corredor ele estava lá, sorrindo orgulhosamente.

Kiddo havia passado na aula da professora Neiggus e avisado que precisaria resolver algumas coisas “de shinigami”, e ela o liberou. E também tinha combinado com a Liz para inventar uma desculpa para a minha ausência.

– Porque a Liz? – perguntei, sem entender.

– Já que vocês não estão muito bem ultimamente, ninguém vai achar que está te acobertando.

Dois minutos depois Kid recebeu uma mensagem dela, dizendo que eu supostamente passei mal por causa da comida e estava com dor de barriga e vomitando. Nojento, nem um pouco sexy, mas na verdade até ajudava mais, assim. Quem iria achar que Kid estava atrás de mim, se eu estava vomitando? E mesmo que desconfiassem, como Kid disse, ninguém iria bater de frente com ele.

De qualquer modo, conseguimos o resto da manhã livre sem causar muita polêmica. E minha culpa por estar sendo uma má aluna só durou até o Kiddo me beijar de novo.

Agora Kid tinha realmente ido procurar o pai, e eu estava me sentindo nas nuvens. Sei lá, não fizemos nada incrivelmente pervertido, só uns amassos mesmo e conversar, mas foi tão bom... Eu ainda não conseguia acreditar que realmente matei aula pra agarrar um garoto no corredor. Meu Deus, eu nunca tinha matado aula na vida! E era mais incrível ainda perceber que não estava arrependida. Na verdade, faria tudo de novo. Uma aluna como eu tem esse direito, não?

Logo Soul chegou, com o cabelo molhado – todo mundo tomava banho depois da educação física – e a mochila pendurada no ombro, a cara fechada. Sorri quando ele entrou no carro, jogando a mochila no banco de trás assim como eu, mas Soul não sorriu de volta, apenas me olhou de um jeito estranho. Isso me fez desistir de puxar conversa com ele, mesmo estando morta de curiosidade sobre o que o pessoal da sala falou sobre eu e Kiddo sumindo na mesma aula. Essa expressão do Soul me assustava, e eu o conhecia o suficiente para saber que era melhor não forçar agora.

Não demoramos mais de quinze minutos para chegar em casa, apesar de ser horário de pico. Não morávamos assim tão longe da Shibusen, e todo mundo estava com pressa de ir almoçar, então o trânsito estava até calmo. De uma maneira caótica. Enfim, estacionei o carro, fomos até a portaria e subimos para o nosso andar em silêncio, Soul mal me olhando, mesmo quando decidi que iria olha-lo fixamente até reparar em mim.

Eu só estava estranhando um pouco. Já havia me acostumado de novo com ele, bem, não me olhando daquele jeito.

Não vi Blair quando entrei, ela devia estar no cabaré, fazendo hora extra ou algo assim. Fui para o meu quarto e troquei de roupa lentamente, só um short de algodão folgado e regata, minha cabeça a mil.

Soul estava me tratando bem hoje, estava sendo o amigo que era antes de tudo aquilo. Ele me acordou do pesadelo, ficou comigo de madrugada, conversamos de boa de manhã. Ele começou a ficar com aquela cara na Shibusen, tanto que antes do recreio já estava meio estranho. Mais especificamente, não foi depois que o Kid apareceu no nosso lugar? E Soul também não estava muito feliz no recreio. Definitivamente, não estava nada feliz quando a aula acabou.

Soul manjava de matar aula muito mais do que eu, com certeza teria reparado que eu e Kid não faltamos por uma coincidência, mesmo com a Liz. Aliás, eu desconfiava até mesmo que a Liz faria questão de informá-lo que eu matei aula junto com o Kid.

Nesse caso... Soul estava com ciúmes de mim?

Perceber isso foi meio assustador, de um jeito nada bom. Ok, talvez só um pouquinho legal, mas muito mais preocupante. Eu não queria que o Soul sentisse ciúmes de mim agora, eu só queria que fizéssemos as pazes e voltássemos a ser amigos. Se Soul estivesse com ciúmes, isso poderia significar... algo mais?

Sacudi a cabeça, afastando esses pensamentos. Me obrigando a afastá-los, me consolando dizendo a mim mesma que estava errada. Várias coisas poderiam ter deixado o Soul de cara fechada, ele não era exatamente o garoto mais bem humorado do universo. Ele podia ter ficado irritado por não dormir, por ter que tomar banho nos vestiário comunitário dos garotos, sei lá, eram tantas opções... Eu não tinha que estar certa.

Ainda assim, eu sabia que havia algo errado. Eu sentia. Só estava sendo covarde, e aquela não era eu. Tinha que resolver aquilo.

Saí do quarto e encontrei Soul na cozinha, mexendo no fogão. Ele parecia bem concentrado em não queimar a casa, e nem a si mesmo, no processo de fritar um bife de hambúrguer. Cheguei perto e fiquei observando, parecendo muito concentrada enquanto ele virava a carne na frigideira. Mas, na verdade, eu estava uma pilha, de repente super consciente dele ali. Era só uma desculpa para tomar coragem, e quando Soul desligou o fogão, eu perguntei:

– Podemos conversar?

Soul ergueu as sobrancelhas para mim, parecendo levemente irritado.

– Agora? Eu vou almoçar.

Vamos deixar para depois então! Aliás, vamos fingir que nunca tocamos nesse assunto. Melhor ainda, vamos voltar no tempo até antes do baile, antes de eu entrar na Shibusen, quando minhas únicas preocupações eram...

Sacudi a cabeça, me livrando desse pensamento, lembrando a mim mesma que eu estava muito melhor aqui.

– Tem que ser agora, Soul. – insisti, encolhendo os ombros, sem graça. – Se a gente deixar para depois, vamos continuar fazendo isso até não poder mais.

Soul expirou com força – aquela mania dele já estava me irritando – e foi até a mesa, se sentando de braços cruzados.

– Tudo bem. Converse, então.

– Não dá para ser um pouquinho mais legal? – pedi.

– Não sou eu quem está interrompendo seu almoço.

Assenti, a contragosto, e abri a boca.

Eu tinha planejado mais ou menos o que falar nesse momento. Na verdade, eu tinha algumas opções bem razoáveis. Tinha mais ou menos uma idéia de um discurso sobre união, ou amizade, ou como deveríamos deixar nossas diferenças de lado em prol do bem maior de sermos parceiros. Mas naquele momento, olhando para Soul, eu não consegui falar nada daquilo. Só podia pensar em como o olhar dele me machucava, um olhar de raiva e mágoa. Eu tinha que ter a confirmação do porque daquilo, senão nunca conseguiria encará-lo normalmente. Provavelmente, foi por isso que eu acabei perguntando:

– Soul, poque você está tão diferente comigo ultimamente?

Tudo que ele fez foi me encarar perplexo, por um segundo ou dois, enquanto eu me amaldiçoava por ter perguntado aquilo. Logo isso, Maka? Seu cérebro derreteu?

– Tá falando sério? – perguntou, por fim.

– Porque não estaria? Você tem sido um grosso comigo, ultimamente. – me defendi.

Soul revirou os olhos e bufou, indignado.

– Ah, claro, eu é que tenho sido um grosso.

– Quer dizer então que você estava sendo legal comigo? – provoquei. – Nossa, eu devo realmente ser muito cega para não ter percebido. Foi mal.

Cruzei os braços e me apoiei na bancada, chateada. Era tão a cara de Soul negar uma coisa óbvia assim.

– E você estava sendo um anjinho comigo, né? – rebateu, irritado. – Acha que pode acusar os outros por causa de uma coisa que você mesma fez?

– Eu não estou te acusando!

– Então isso tem outro nome, agora. – ironizou.

Tá, talvez conversar agora realmente não fosse uma boa idéia, pensei, me irritando. Odiava quando ele ficava usando sarcasmo comigo.

– Deixa pra lá, Soul. – resmunguei, me afastando da bancada. – Depois a gente conversa.

Só tive tempo de dar dois passos antes de ouvir um barulho de cadeira arrastando e Soul agarrar minha mão.

– Ah, você não vai, não. – disse. – Foi você que começou isso. Agora vamos acabar.

Me virei para ele, só um pouquinho surpresa. Parecia totalmente ultrajado, como se mal pudesse acreditar naquilo. O que “aquilo” era, eu não entendi direito, mas preferia não entrar numa briga quando Soul estava com aquela cara, e era exatamente isso que nossa conversa estava virando.

– A gente vai acabar brigando, Soul. – insisti, puxando minha mão de leve, mas ele não a soltou.

– Ótimo! Vamos brigar, então! – aceitou. – Acha que se deixarmos para depois a gente vai sentar e conversar na boa, Maka? Não, a gente vai se estranhar de qualquer jeito! Então não vou te deixar sair daqui até dizer tudo que está entalado na minha garganta.

No fundo, eu concordava com aquilo. Não havia um jeito de ter aquela conversa civilizadamente. O problema é que eu também tinha tanto entalado, e não queria despejar aquilo tudo. Tinha que me controlar. Respirei fundo e assenti.

– Tudo bem. Pode falar.

***

POV Soul

Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo. “Pode falar”? Qual é, a Maka não estava nem um pouco nervosa com a nossa conversa? Eu estava ali, lutando para me controlar, e ela mal parecia estar incomodada! De repente, a pouca paciência que eu ainda tinha foi embora, e eu me peguei segurando a Maka por ambos os braços, com força. Ela arregalou os olhos para mim, assustada, e eu quase a larguei, pedi desculpas e sumi, mas não ia fazer isso. Eu não conseguiria parar agora.

– Você quer saber porque eu tô estranho com você, Maka? – perguntei, debochado, minha voz vários tons mais alta. – Você consegue me dar um motivo para não estar com raiva de você?

– Eu não... – ela começou, assustada, mas a interrompi.

– Maka, você tem problema? É cega? – perguntei, sem esperar uma resposta. – Você me deixou sozinho na porra do baile! Eu fiquei igual um doido te procurando, cheguei a perguntar de você para o seu pai, eu vim pra casa mais cedo atrás de você! E adivinha? Você saiu mais cedo pra ir atrás da droga do Kid! Tem idéia do que eu senti? Eu pensei um milhão de besteiras, fiquei com medo de você ter se machucado, ter sido sequestrada, estuprada, sei lá, eu estava com medo de te perder de verdade! Pensei que aquela seria a droga da nossa noite, eu planejei tanto aquele maldito baile, só pra ver você sair com outro, e sem me dar a mínima satisfação! Ainda tentei conversar com você no outro dia, mas o que você fez, Maka?

Parei por um segundo, esperando que ela respondesse, mas tudo que a Maka fazia era sacudir a cabeça de um lado para o outro levemente, os olhos muito arregalados e brilhantes. Inspirei fundo, tomando coragem, e continuei:

– Você me deu uma patada e sumiu pelo resto do dia! Nem se deu ao trabalho de falar algo como um “foi mal” ou sei lá, só dizer que estava tudo bem! – Maka soluçou alto, erguendo as mãos para tapar a boca e o nariz, as lágrimas começando a escorrer, grossas e brilhantes. Aquilo partia meu coração, mas eu não ia parar. Também estava chorando. - E então eu a Liz me conta que você e o desgraçado ficaram, e de novo você não dá uma palavra sobre isso, só aparece em casa de tarde para buscar suas coisas para dormir fora! Você também ficou me ignorando a semana toda, enquanto não saia do pé do Kid, e queria que eu te tratasse bem? Você acha que pode me machucar assim e eu ainda vou ficar balançando o rabo atrás de você?

– Eu... Você.. Porque não me falou? – perguntou, com dificuldade, a voz trêmula.

Afrouxei o aperto nos seus braços, me acalmando um pouco agora que já tinha falado o que eu queria. Eu havia me declarado, acho. Depois de tudo que disse, ela não podia ser ingênua o suficiente para não saber como me sentia. Pisquei para afastar as lágrimas, e respondi:

– E para que eu ia falar? Você não parecia interessada. Não mudaria nada.

– Mudaria tudo! – ela gritou, fechando as mãos em punhos, o queixo tremendo. – Todo esse tempo, eu pensei que você não se importasse!

– Eu pareço não me importar com você, Maka? – perguntei, apontando para mim mesmo. – Você acha mesmo que eu conseguiria... não me importar!

– Acho! – ela gritou novamente, sacudindo a cabeça, as mão no cabelo. – Meu Deus, isso não pode estar acontecendo. – Soluçou. – Não é verdade!

Senti vontade de abraçá-la, de puxá-la para mim e mantê-la ali até que parasse de chorar. Eu não entendia aquilo. Eu é que devia estar com raiva aqui, ela quem errou comigo, e porque eu me sentia desse jeito?

– Maka, porque...

– Cala a boca! – ela soluçou, se afastando de mim. – Você não vai me fazer sentir culpada! A culpa não é minha!

Ofeguei, irritado. Ela ainda tinha coragem de negar? Depois de tudo que eu disse?

– E de quem é? Da madre Teresa? – debochei. Eu odiava ver aquele olhar nela, mas não podia parar. Toda a mágoa estava saindo.

– É sua, seu tonto, idiota, sonso! Eu só saí de lá sem você porque te vi beijando a Liz na varanda!

Arregalei os olhos, surpreso, a raiva sumindo de repente. Era como levar um tiro, do nada. Ela viu...?

– Como? Eu...

– Vai negar? – perguntou, respirando fundo, mas sem poder controlar aquela expressão de dor. – Ninguém me contou. Eu VI, Soul. Eu vi quando ela se pendurou no seu pescoço e te beijou, vi quando você ficou surpreso. Eu esperei que você se afastasse, mas você a abraçou e retribuiu. No meu baile! Eu só saí com o Kiddo porque ele me encontrou chorando numa sala vazia, e ficou comigo até eu parar. E a culpa é minha? Se não fosse você, nós nunca teríamos ficado juntos! – acusou.

Apenas a encarei, tentando processar aquilo. A Maka me viu com a Liz. Como ela podia ter visto, a varanda era do outro lado do salão! Mas ela havia descrito direitinho... Um sentimento de culpa tão grande me invadiu que eu mal podia aguentar. Era por minha causa.

– Mas Maka, eu não...

– Eu cheguei em casa, pensei que pelo menos você teria me esperado, teria mostrado que eu significava alguma coisa, mas já tinha ido dormir! – ela me interrompeu. – Você também não falou nada no outro dia Soul, eu esperava, sei lá, que você percebesse como eu estava! Que perguntasse porque eu estava com uma cara tão ruim, se eu supostamente “saí para ficar com outro garoto”, mas você só me cobrou como se fosse meu pai! O que você queria que eu fizesse? – perguntou, me olhando de um jeito tão ferido que me fez sentir o mais miserável dos homens. – Queria que eu simplesmente falasse que estava com ciúmes de você e da Liz, Soul? Como eu diria uma coisa dessas, quando era tão óbvio que vocês estavam juntos? Eu estava apaixonada por você, seu idiota, como eu faria algo assim depois de você partir meu coração?

Sem saber direito como responder aquilo, disse, debilmente:

– Mas você não me deixou te beijar no baile...

– Se diz meu parceiro e nem mesmo sabe que eu sou tímida. – ela riu, irônica, cruzando os braços na frente do corpo e olhando para o lado. Estava muito vermelha, e não era só de chorar. – E você disse que continuaríamos depois.

Fiquei encarando-a por alguns segundos, sem saber como agir. O jogo havia virado, agora eu era o errado ali, e não sabia o que fazer. Simplesmente me sentia um idiota, um cafageste por ter deixado as coisas chegarem aquele ponto. Finalmente entendi o que aconteceu durante aquele tempo todo: nós dois cometemos o mesmo erro. Ambos magoamos um ao outro e fomos magoados, ambos esperamos que o outro notasse em vez de simplesmente falar sobre o problema, nos afastamos por causa daquilo e buscamos refúgio em outra pessoa. E agora, eu me sentia um idiota.

Eu havia pensado tanto em falar com a Maka... Em dizer como eu me sentia e esperar que ela entendesse e pedisse desculpas. Que nós voltássemos a ser os parceiros de antes. Naquele tempo “de mal” dela, eu havia percebido como era importante para mim. Liz era uma garota incrível, e sempre seria, mas ela não tinha o mesmo brilho que a Maka. Ela não completava a minha harmonia.

E olhando para a Maka naquele momento, parecendo tão machucada, só consegui pensar em uma coisa para falar:

– O carro do Kid estacionou na rua às quatro e dezessete. – começei, e Maka me olhou, surpresa. Falar aquilo doía, mas sorri levemente e continuei: - Vocês ficaram lá dentro uns cinco minutos, e quando você saiu, tropeçou no degrau alto e quase caiu. Voltou para falar algo com ele e em seguida correu para a portaria. O Kid businou um pouco depois, e foi embora, acho que foi quando você entrou no prédio. Quando você entrou em casa, foi para a cozinha e abriu a geladeira, depois foi para o quarto. A Blair brigou com você, mas parou e perguntou se estava tudo bem. Você prometeu contar tudo quando acordasse, e uns cinco minutos depois apagou a luz do quarto. Eu estava acordado, eu te esperei vendo televisão a noite toda. Só não sai do quarto porque tinha medo de me descontrolar e brigar com você. Eu te amo, Maka. – completei.

Ela apenas me encarava, negando com a cabeça, os olhos assustados.

– Não.

– Eu te amo. – repeti, me aproximando.

– Não, não, é mentira! É tarde! – falou, mais para si mesma do que para mim, juntando as mãos na frente do peito.

Ela tinha razão. Talvez fosse tarde. Mas eu não ia cometer aquele erro de novo.

– Isso não muda nada. Ainda assim, eu te amo. – sussurrei, chegando perto o suficiente para ajeitar uma mecha da sua franja.

Maka fechou os olhos, suas pálpebras tremendo, e aquilo não impediu as lágrimas de caírem. Será que ela se afastaria se eu tentasse abraçá-la?

– Eu estou com o Kid. Eu e você não temos mais chance nenhuma!

– Você está mentindo. – disse, suavemente. – Porque não tentamos?

– Porque você é como meu pai! – ela gritou, me olhando com raiva. – Você me traiu e traiu a Liz! Eu nunca conseguiria acreditar em você de novo! Eu não posso mais confiar em você como confiava antes!

Tentei ignorar a pontada de dor no meu peito, e simplesmente continuar. Ela estava assustada, não era? Eu só precisava acalmá-la.

– Você pode confiar em mim de um jeito melhor.

– Soul, não é assim. – ela insistiu. – E Kiddo? E Liz? Como eles ficam?

– Eu deixo a Liz. – disse, na hora, sem nem pensar. – Me diga que você vai ficar comigo. Me diz que vai me dar uma chance, e eu ligo para ela agora, na sua frente, e termino tudo.

– Não, Soul. Não vou deixar o Kiddo.

– Por favor. – pedi, me aproximando mais. Me senti culpado ao ver marcas vermelhas nos seus braços, onde eu a segurara antes, e acariciei-os levemente. Ela estremeceu, mas não se afastou, então a puxei suavemente para mim, pousando minha boca em seus cabelos, enquanto Maka permanecia rígida em meus braços.

– Por favor. Por favor, Maka. – pedi de novo, puxando seu queixo para que olhasse para mim. Ela manteve os olhos fechados, mas a boca tremia levemente. – Nós ainda temos uma chance.

– Não te...

Não a deixei acabar. Juntei nossas bocas, mordendo seu lábio inferior delicadamente. A senti ficar rígida em meus braços, e seu ofego de surpresa, mas não parei, deslizando nossos lábios e fazendo pressão gentilmente. Ela tentou se afastar, mas não deixei, plantando beijos suaves no canto da sua boca, no seu queixo, no seu pescoço, até ela amolecer um pouco em meus braços. Quando ela puxou o ar um pouco, invadi sua boca com minha língua, e aquilo foi o suficiente para suas barreiras caírem.

Ela não me abracou, continuou com as mão em meu peito, mas em vez de empurrar, agora ela me agarrava, hesitante. Aproveitei para intensificar o beijo, indo mais rápido, acariciando sua cintura até sentí-la suspirar. Para mim!

Meu coração se encheu de felicidade, e levei uma mão até sua nuca, a acariciando. No momento em que fiz isso, Maka pareceu levar um choque, se afastando de mim tão rápido que nem tive tempo de reagir. Abri os olhos surpreso, e a vi me olhando, negando com a cabeça novamente, um olhar de culpa enquanto tapava a boca com as mãos.

– Maka...

– A gente não tem nenhuma chance, Soul. – ela disse, a voz baixa, mas firme. – Fomos longe demais para voltar atrás.

– Você não tem que estar certa sempre. – sorri de leve. – Vai me dizer que isso não foi nada?

– Não deveria ter acontecido. – ela soluçou. – Me desculpa. Eu estou com o Kiddo. E nada vai mudar isso agora, então pare de tentar.

– Não vou parar. – disse, ignorando a dor no meu peito. – Eu te amo, Maka. Você me ama também.

– Soul, coloca uma coisa na sua cabeça: eu estou com o Kid! – ela insistiu, quase chorando de novo. – Eu quero ficar com ele, eu quero que as coisas deem certo pra gente! Então porque você quer tanto atrapalhar? Porque vem falar essas coisas logo agora, e fica insistindo tanto? Você sabe que está errado, nós dois não temos absolutamente mais nada!

Abri a boca para negar, mas ela me interrompeu antes que eu começasse.

– Se você me amasse mesmo, não teria passado esse tempo todo com a Liz. E se eu te amasse mesmo, não teria ficado esse tempo todo com o Kiddo. Soul, você sabe que depois daquele baile tudo mudou. – completou, por fim, me olhando arrasada, mas firme. – Porque não aceita?

Balancei a cabeça de um lado para o outro, sem saber o que fazer. Não era pra ser assim. A Maka devia ter me aceitado, e não ter dito aquelas coisas. E eu nunca admitiria que me sentia um pouco como ela, também. Nada podia ter mudado tanto que não pudesse ser concertado.

– Se tudo mudou, porque estamos aqui, Maka? Porque isso ainda mexe tanto com nós dois?

– Eu não sei. – ela sussurrou. – Mas é assim que as coisas são. Eu vou ser sua amiga, e sua parceira. Não posso te oferecer mais que isso.

Observei-a por um instante. Maka estava de queixo erguido, as mãos fechadas em punhos, parecendo tão séria e determindada que nem seu rosto vermelho e meio inchado tiravam aquilo dela. Era algo que eu admirava tanto... E por isso mesmo, sabia que não ia adiantar falar nada, pelo menos não agora.

– Tudo bem. – assenti, a contragosto.

Ela sorriu, aliviada, e limpou as últimas lágrimas da bochecha.

– Então, eu vou dormir. Estou morrendo de sono. Boa noite.

– Boa noite. – sorri.

Maka se virou e praticamente correu até o seu quarto, trancando a porta. Ouvi o barulho que sua cama fez quando se jogou, e em seguida o apartamento ficou em silêncio. Fiquei encarando a porta de seu quarto por um tempo, respirando fundo, me controlando, mas não deu certo. No fim, acabei sentado na mesa, o rosto enfiado nas mão. Chorando como um bebê. Nada cool.

Doía, tudo aquilo doía. Saber que a Maka preferia o Kid, que não estava disposta a me dar uma segunda chance, que nada do que eu tinha dito adiantou... Eu pensei que ela simplesmente me aceitaria. Que conversaríamos, ela perceberia que tudo que sentia por mim ainda estava vivo e, bem, nós ficaríamos juntos. Achei que podíamos voltar ao que éramos antes.

Solucei, lembrando do beijo, Será que eu podia mesmo chamar aquilo de beijo? Ela quis sair, ela me empurrou, e eu não a deixei ir. Quando finalmente amoleceu, me beijou pelo que, dois segundos? E então se afastou, como se eu estivesse contaminado ou algo assim e eu podia ver no seu olhar que havia se lembrado do outro.

Mas... A Maka era tão doce, tão delicada, e tão firme ao mesmo tempo. Sua boca era tão macia, e mesmo não tendo as curvas da Liz, ela se encaixava perfeitamente nos meus braços. Como eu podia ter perdido aquela garota? Como pude não perceber logo o que sentia?

Olhei de cara feia para meu bife de hambúguer, na mesa. Eu definitivamente não conseguiria comer agora. Então enfiei meu celular, minhas chaves e dinheiro no bolso e saí, decidido a dar um pouco de privacidade para a Maka. Ela precisava pensar. E eu também.


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Notas finais do capítulo

Hahaha ^^
Maka chorou, Soul chorou, eu chorei... xD Foi um capítulo bem molhado (em diversos sentidos)
Enfiim... Até o próximo!

(matei vocês?)