Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 25
#22 - Confusão e Preocupação


Notas iniciais do capítulo

YOOO AMORES S2
Cá estou eu de novo o/
Primeiramente, quero agradecer a:
#Baka Kawai
#Sassu
#Beatriz Carvalho
#MartaRyou
#Vlad Ember
#Monkey D Amanda
#RedPegasu
#Breaker
#Yui Chan
#Julia Marques
#Guelbs
#Misty Heartfilia (Becca-chan)
#Anne Frank

OBRIGADA POR COMENTAREM NO ÚLTIMO CAPÍTULOOO!! AMO VOCÊS *O*

Então ~cof cof~ tenho uma histórinha tiste para contar. Eu tinha até o capítulo 24 pronto, e estava escrevendo o 25, mas aí o que aconteceu? Eu fui reler tudo pra ver se me inspirava (bloquei e-e) e decidi que tudo depois do capítulo 21 estava uma bosta. Resultado? Apaguei tudo e estou refazendo.
(Caso interesse a alguém saber, essa é a sétima vez que que mudo a história porque não estou satisfeita com o que eu escrevi.)
Estou falando isso porque antes eu tinha uns dois ou três capítulos reservas para o caso de um bloqueio e tals, mas agora não tenho. Vou tentar fazer os capítulos em uma semana (dessa vez eu consegui, UHU) mas me perdoem se eu atrasar. Y-Y

Ah, a música do capítulo!
~Born to Die - Lana del Rey (http://www.kboing.com.br/lana-del-rey/1-1102800/)
A letra não é exatamente muuuuuuito condizente com o capítulo, a não ser um trecho ou outro, mas achei que a melodia se encaixa bem, e-e Tem qualquer coisa de confusa e melancólica nela.
Ou então:
~$ting - The Neighbourhood (http://www.kboing.com.br/the-neighbourhood/1-1281831/) Essa tem mais a ver. Obrigada pela sugestão, Kashir!
Até lá embaixo!



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Eu devia estar em choque, decidi, assim que fechei a porta do quarto atrás de mim. Era a única explicação para aquela suposta paz que eu sentia agora. Me joguei na cama, de barriga para cima, o sorriso que dei para o Soul ainda na boca.

Ele se declarou para mim e me pediu desculpas. Eu não o aceitei.

Uma lágrima me escapou, e meu sorriso tremeu. Sabia que fiz a escolha certa. Soul havia me magoado demais, havia traído a minha confiança. Ele me fez sentir como se não me encaixasse dentro de mim mesma, me fez sentir mal na minha própria casa, quebrou meu coração sem pensar duas vezes sobre isso. Ele não podia me tratar como uma completa estranha por tanto tempo, ser frio comigo, sair com minha “amiga” e depois achar que um pedido de desculpas, um beijo e um “eu te amo” mudariam isso.

Mas doía tanto...

Fechei os olhos, chorando silenciosamente. Soul conseguiu mexer comigo. Ele conseguiu tocar o meu coração, mesmo eu tendo dito a mim mesma que isso não aconteceria mais. Nós dois não tínhamos mais volta, sabia. Eu estava com o Kid, que era o garoto mais fofo, dedicado, lindo e inteligente que eu conhecia. Estava tão apaixonada por ele quanto ele por mim. Nós estávamos a apenas um passo de oficializar nossa relação. Mesmo que esse não fosse o caso, eu não podia confiar numa pessoa que se envolve com duas amigas ao mesmo tempo e engana ambas na cara dura.

Ainda assim, cada palavra do Soul parecia acertar em cheio naquele cantinho do meu coração que eu jurei não reparar.

Ele conseguiu me fazer sentir culpada por ter ido embora com o Kid na noite do baile. Eu disse tanto à mim mesma que estava certa, que Soul merecia uma lição, mas quando o ouvi falando que saiu do baile por mim, que ficou com medo... Eu me senti um lixo. De todas as formas. Sempre achei que Soul havia continuado no baile, que tinha ficado se agarrando com a Liz na varanda por mais tempo pra aproveitar que eu havia partido, mas ele foi atrás de mim. Como se isso não bastasse, ele ainda me esperou até as quatro da manhã. Tapei o rosto com as mãos. Eu fui tão dura com ele...

A culpa não era só minha. Ele também havia errado. Mas eu nunca havia admitido meu erro até hoje, e percebê-lo foi como uma facada.

Agora não conseguia parar de imaginar o que eu devia ter feito naquela noite... Se em vez de sair chorando como uma garota de cinco anos, eu houvesse entrado naquela varanda e colocado Soul contra a parede, ele teria deixado Liz, como sugeriu a pouco? Ou teria simplesmente me dado um fora e partido mais ainda o meu coração?

Isso importava agora, afinal? Já era tão tarde...

Se eu não tivesse saído aquela noite, não teria ficado com o Kid. Nós talvez nunca teríamos começado aquele romance lindo da gente. O Kid era o cara certo, ele me tratou desde o início como uma princesa, ficou ao meu lado e me esperou mesmo quando eu ainda estava com meu coração partido por outro, me defendeu na frente dos amigos, me deu uma razão pela qual valia a pena esquecer o meu primeiro amor. O Kid era inteligente, lindo, compreensivo e sexy. Nós tínhamos algo especial.

Mas o Kiddo nunca disse que me amava.

Virei de lado, limpando as lágrimas – como se isso fosse adiantar de algo – e brigando comigo mesma. Esse detalhe não era importante. A cada gesto do Kid, eu podia ver o quanto ele gostava de mim, enquanto o Soul só havia me feito sentir mal. Isso era o que eu dizia a mim mesma, mas na prática, não era bem assim. Soul havia sido maravilhoso comigo até o baile, e agora me vinham tantas cenas de nós dois, ambos, que eu mal conseguia respirar.

Eu e Soul no nosso sofá, ele massageando meu pé e me dizendo que valia a pena morrer por mim. Kid me abraçando naquela sala de aula, me pegando no colo e me dizendo que tudo ia ficar bem, sem nem ligar para o fato de o estar sujando. Soul me acariciando no escuro no dia dos filmes, me dizendo que me queria enquanto assistíamos Amizade Colorida. Kid me abraçando na praia, me fazendo ficar colada a ele na espreguiçadeira, e parecendo tão sexy e ingênuo ao mesmo tempo. Eu ia ficar louca.

E como se isso tudo não fosse suficiente, eu beijei o Soul.

Tentei dar várias desculpas para mim mesma. Eu não quis, eu o empurrei, mas Soul não me deixou ir. Eu o odiei naquele momento, eu ergui todas as barreiras que eu tinha, realmente lutei. Mas uma garota tem alguma chance quando o seu primeiro amor se declara, diz que te ama e te beija como o Soul me beijou? Talvez fosse orgulho por ter conquistado o cara que partiu meu coração, talvez fosse uma pontinha do que eu sentia antes por ele, talvez fosse simplesmente algo mais físico.

Mas quando Soul me beijou, lento e intenso, sua língua acariciando a minha, seus lábios fazendo cócegas pela minha pele, seu hálito quente em mim... Minhas barreiras acabaram caindo, uma a uma. Minha mente simplesmente deu branco e eu não conseguia lembrar de sequer um motivo para não querer aquilo. Até Soul acariciar meu pescoço, de um modo tão parecido com o modo que Kid fez essa manhã, no corredor.

Foi como um balde de água fria. Lembrei dos olhos do Kid, de sua boca, de seu cabelo em minhas mãos, da sensação de ser colocada contra a parede por ele. Me afastei de Soul sem nem mesmo me dar um segundo a mais para pensar, não havia necessidade. Não podia ter deixado as coisas chegarem aquele ponto. Eu fui longe demais.

Como se não bastasse a confusão, agora a culpa também me consumia. Eu era igualzinha ao meu pai. Eu dizia odiá-lo e ter nojo dele por trair tanto a minha mãe, e fiz exatamente a mesma coisa com o Kid. Eu era tão fraca quanto ele.

Por fim, comecei a ficar sonolenta. Eu estava cansada, havia virado a madrugada e essa manhã foi muito desgastante. Me ajeitei na cama, me cobrindo inteira e ficando quase em posição fetal embaixo da coberta, mas não consegui parar de chorar. Era demais para mim. Doía quase tanto como quando tive de deixar Chrona.

Apenas fiquei lá, deixando as lágrimas escorrerem, tentando não fazer barulho para Soul não ouvir. E em algum momento, depois de longos minutos soluçando com dificuldade e tentando afastar minha mente de qualquer coisa que não fosse contar carneirinhos, cai no sono.

***

Acordei com dor de cabeça e o sol começando a abaixar lá fora. Meus olhos estavam ardendo um pouco e minha garganta estava seca, e quando tentei passar a mão no cabelo, ela prendeu num amontoado de nós e quase não soltou. Suspirei, me espreguiçando, e então lembrei de mais cedo – e de todo aquele drama.

Enfiei a cabeça no travesseiro, mas não me permiti chorar dessa vez. Já havia chorado o suficiente por hoje. Ao invés disso, tentei me concentrar no que eu precisava fazer agora: levantar, pentear o cabelo, trocar de roupa, tomar um remédio para minha cabeça. Comer alguma coisa, caso eu conseguisse. Tudo que comi hoje foi o café da manhã e o sanduíche que o Hero trouxe para mim no recreio.

Engraçado. Aquilo parecia ter sido a tanto tempo...

Peguei o remédio na minha mesinha de cabeçeira e tomei a seco, sem vontade de sair do quarto só para pegar água. Depois fiquei sentada na beira da cama, olhando para o chão, meu pensamento longe.

Eu fiz a coisa certa, disse a mim mesma. Eu me afastei do Soul, por mais que doesse. Eu escolhi o Kid. Mas não era o suficiente.

Kamisama, como eu ia encará-lo com a lembrança do Soul na cabeça?

Kid me conhecia. Ele perceberia quando ficasse estranha perto dele. E, ah, eu ia ficar, não haviam dúvidas. Eu mal conseguia pensar na nossa manhã no corredor sem me sentir culpada, imagina ver o Kid sorrir para mim, me abraçar, se ele viesse me beijar...

– Cala a boca, Maka! – exclamei para mim mesma, levantando de repente e fazendo minha cabeça rodar um pouco com o movimento brusco.

Não queria pensar nisso agora. Mas amanhã de manhã eu o veria e....

Não. Hoje á noite. Nós íamos sair.

Meu queixo caiu quando lembrei disso. Como eu podia ter esquecido?! Bom, claro que não era muito difícil saber o motivo, mas...

Não havia necessidade de pensar sobre o que fazer. Eu simplesmente não podia ir. Já estava no limite, mais um pouco e iria me estilhaçar. Queria ver o Kid, era controverso mas eu precisava ver o sorriso dele, eu precisava abraçá-lo para ter a certeza de que as coisas estavam no lugar certo. Que eu fiz a coisa certa. Mas não conseguiria encará-lo...

Kid nunca disse que me amava.

Mordi a unha do polegar, tentando novamente tirar isso da cabeça, mas esse pensamento não parava de voltar. Ele nunca disse. Na verdade, eu não conseguia lembrar de Kid me dizendo nem mesmo que gostava de mim, ou que eu era importante para ele. E se ele não gostasse mesmo de mim?

Sacudi a cabeça, indo em direção ao guarda roupas. Eu precisava de um banho, e de uma distração, para parar de pensar besteira. Kid não disse nada, ele demonstrou. Não dava no mesmo? Então porque eu pensava naquilo agora?

Porque ele não disse?

Separei um vestido folgado e a roupa de baixo, mas parei na porta, hesitante. Com medo, na verdade. Eu não saberia o que dizer se encontrasse o Soul, muito menos como agir. Não tinha certeza de que conseguiria sequer encará-lo, mas ainda assim uma parte de mim queria vê-lo. Eu estava me sentindo mal na minha própria casa, de novo.

Por fim, me irritei com minha infantilidade e abri a porta com tudo, me arrependendo quase na mesma hora. Mas não tinha motivo: a casa estava vazia e silenciosa, todas as luzes apagadas, e as janelas, fechadas. Acendi a luz do corredor no caminho até o banheiro, sentindo um arrepio de medo.

O banho foi longo, e tentei me distrair cantando as músicas mais emboladas e rápidas que consegui, mas ainda assim meu cérebro conseguiu achar um espacinho para pensar sobre tudo isso. As cenas de hoje não me saíam da cabeça. Ficava repassando a minha conversa com Soul repetidamente, me martirizando a cada erro cometido. Eu não devia ter insistido em conversar quando vi que ele não queria. Não devia ter perguntado diretamente porque estava estranho, devia ter insistido para deixarmos para depois. Porque eu disse que vi ele e Liz na varanda, que ele quebrou meu coração, que estava apaixonada?

E eu também lhe lembrei que me prometeu terminar depois o que começamos na pista de dança. Meu rosto queimou ao lembrar. Será que foi por isso que Soul se sentiu no direito de me beijar? Estava tão envergonhada...

Vesti a roupa no banheiro mesmo, e também penteei os cabelos, que havia lavado, e escovei os dentes. Mas evitei olhar no espelho: eu me vi quando entrei, e minha cara estava péssima. Não queria me encarar de novo.

Quando acabei e sai, a casa ainda estava vazia: nem sinal de Blair ou Soul. E eu tinha algo importante a fazer.

Voltei para o quarto e peguei o celular. Respirei fundo uma vez. Duas. Três. Então disquei o número e esperei, ansiosa.

Kid atendeu no terceiro toque.

– Oi, princesa. – Disse, e eu quase podia ouvir o sorriso em sua voz.

Meu peito apertou.

– Oi, Kiddo... Eu estou ligando para avisar. Tenho uma má notícia. – Disse, sem graça.

– Ah, é? O que houve? – Perguntou, preucupado.

Respirei fundo, me acalmando. Não era uma mentira, tentei me convencer. Era só uma meia verdade.

– Podemos deixar para sair outro dia? – Pedi, a voz tremendo só um pouquinho no final. – Não estou me sentindo muito bem.

Ele ficou alerta na hora.

– Está passando mal? Aconteceu alguma coisa? Você se machuchou?

Acabei dando uma risada da preucupação dele, talvez mais de nervoso. E ao mesmo tempo, me senti culpada.

– Nada demais, Kiddo. Só estou com um pouco de dor de cabeça e meio enjoada.

– Pode ser algo que você comeu, talvez? – Sugeriu.

– Ou que não comi. Não como nada desde o sanduíche do Hero. – Expliquei.

– Não almoçou? – Sua voz soou surpresa. – Porque?

Porque Soul me beijou.

– E-eu fui dormir quando cheguei da Shibusen. Sabe, eu não dormi direito ontem e tals. Acordei não faz nem meia hora. – Disse, completando tudo com uma risada nervosa. Não podia ter soado mais suspeita.

Eu estava mentindo para o Kid. E me sentia mal por isso, mas como eu iria contar o que houve?

Kid hesitou por um instante, então riu de leve, do outro lado da linha.

– Tudo bem, Bela Adormecida. Tem algo que eu possa fazer por você?

– Não, estou bem, sério. – Garanti.

Ele não respondeu imediatamente, apenas ficou em silêncio por um segundo ou dois.

– Maka?

– Sim? – Respondi.

– O que aconteceu?

Meu coração bateu rápido dentro do peito.

– Nada. – Repeti, nervosa.

– Maka, por favor. – Ele pediu, com uma voz diferente, mais calma e firme ao mesmo tempo. – O que aconteceu? Você está mesmo bem?

Meus olhos lacrimejaram, e cerrei a boca, piscando com força para não deixar as lágrimas caírem. Eu não conseguia mentir mais para o Kid. Eu não queria. Mas falar a verdade agora só iria preucupá-lo.

– Estou, Kiddo, é só aquele mal estar mesmo. Ou deve ser fome. – Brinquei, fazendo a voz mais contente que consegui.

– Tem certeza?

– Claro. – Respondi. – Mas se você quiser vir cozinhar para mim...

Torci secretamente para que ele levasse na brincadeira, e foi o que fez. Kid riu, parecendo se convencer com a minha resposta, e rebateu:

– Até doente você deve cozinhar melhor do que eu. Aliás, tem alguém aí com você? A Blair... Ou até mesmo o Soul. – Continuou, dizendo o nome dele a contragosto. – Não é muito bom você ficar sozinha em casa, passando mal.

– Sim. Não vejo o Soul desde meio dia, mas a Blair está na cozinha. – Menti, novamente. Mas não era por mal... Só não queria preucupá-lo mais.

Será que ele continuraria se importando se soubesse?

– Tudo bem, qualquer coisa me liga. E Maka... – Ele se interrompeu.

– Sim?

Ele hesitou, mas por fim disse:

– Só... Fique bem, tá? Eu estou aqui, se precisar.

– Obrigada. Tchau, Kiddo.

– Tchau, Maka. Beijo.

– Outro.

Desliguei com um peso enorme na consciência, e olhei em volta, meio sem saber o que fazer. Eu odiava mentir para o Kid. Ele não merecia isso, e eu me sentia horrível. O Kid pareceu tão preucupado... Mas Soul também se preucupava comigo. Mesmo que eu e Soul não estivéssemos muito bem, ele me ajudou quando tive meu pesadelo. Me distraí por um segundo lembrando da sensação de acordar desesperada e gritando, mas logo minha mente voltou ao mesmo assunto de antes.

Não era a mesma coisa, disse a mim mesma. Qualquer um ajudaria alguém que acordasse fazendo um escândalo de noite. Ajudar seria algo meio automático, Soul fez o que qualquer um faria. Já Kid havia percebido como eu estava só pela minha voz. Sem contar todas as vezes que ele me ajudou de verdade quando eu estava triste, que me fez sentir especial. Kiddo me fez sentir importante quando Soul só havia me dado as costas, e eu tinha que lembrar a mim mesma que por mais que ele houvesse melhorado um pouco comigo durante essa semana, Kiddo nunca precisou melhorar. Ele nunca precisou de uma segunda chance.

Mas talvez eu acabasse o perdendo por causa do Soul...

Suspirei, irritada comigo mesma. Ficar ali pensando e me martirizando não iria ajudar em nada. Eu precisava era me distrair, antes que perdesse o controle e ficasse louca. Pensei em caminhar um pouco, mas abandonei a idéia quase imediatamente: se eu ficasse andando por aí sem rumo, ia acabar pensando mais ainda. Caminhadas solitárias são boas para refletir, não para distrair. Ao invés disso, decidi alugar um filme. Seria perfeito, eu iria me distrair, teria a história de outra pessoa para me preucupar e ainda teria uma desculpa perfeita para não olhar para a cara do meu parceiro pelo resto da noite. Estaria muito ocupada olhando para a tela.

Peguei minha bolsinha, checando se havia dinheiro suficiente lá dentro, e calcei o primeiro sapato que encontrei. Passei um pouco de maquiagem, também, por mais relutante que estivesse. As pessoas não precisavam perceber o caco que eu estava por dentro.

Parei na cozinha antes de sair, para deixar um bilhete na geladeira avisando que eu estava fora, para o caso de Blair ou até mesmo Soul chegarem e estranharem a casa vazia. E foi aí que eu notei o prato na mesa, com um pouco de macarrão de ontem e um bife de hambúrguer, e algumas moscas fazendo a festa em cima.

Era o prato do Soul. Ele não havia almoçado?

A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi raiva, na verdade. Ele nem mesmo havia se dado ao trabalho de limpar o lixo, só deixou ali em cima da mesa. Mas enquanto eu jogava a comida fora e lavava o prato, fiquei pensando naquilo. Ele devia ter saído logo depois que eu fui para o quarto. E comecei a me preucupar com outra coisa também: ele havia aceitado o meu “não” muito facilmente.

Sempre que lutávamos, ele me fazia ir até o limite. Sempre tentava tirar o máximo de mim, me incentivava e me fazia continuar quando eu achava que talvez a luta fosse difícil demais para mim. Soul sempre foi muito determinado. Fazia sentido desistir assim?

Talvez ele apenas houvesse feito uma aposta em mim, no meu “sim”. Talvez apenas acreditasse que se me dissesse que ia largar a Liz eu aceitaria, e ele me teria de novo. Mas como eu disse não, ele foi atrás da outra. Apesar de me deixar com raiva, aquilo fazia sentido.

Se bem que eu não me sentia mais no direito de julgar as ações do Soul. Não sentia como se o conhecesse tão bem assim. Pelo menos, não mais. Nós nem mesmo fazíamos missões juntos desde o baile... Não adiantaria. Eu não precisava nem mesmo tentar para saber que não conseguiríamos lutar juntos, no estado que estávamos.

Mas não queria pensar naquilo agora.

***

A locadora ficava a uns seis quarteirões da minha casa, mas a caminhada passou rapidamente e sem muitos pensamentos. Abençoados sejam os fones de ouvido. Cumprimentei a moça do caixa quando cheguei – eu ia lá o suficiente para que ela já soubesse o nome da minha ficha – e fui direto para a seção de ação. Eu queria ver efeitos especiais irreais, coisas explodindo e pessoas praticamente imortais. Qualquer coisa qua não me lembrasse em nada a minha vida.

Quando estava decidindo entre os filmes da série Duro de Matar ou Velozes e Furiosos – tudo bem, não era bem ação, mas era emocionante – ouvi uma voz gritando que queria pegar um filme tão grande quanto ele.

Me estiquei para olhar por cima da estante da seção, surpresa, e dei de cara com Black*Star, indo todo animado em direção as comédias, e Tsubaki, parada no caixa, conversando com a atendente. Ela notou meu olhar antes que eu tivesse tempo de chamá-la, e se despediu da moça, vindo para perto de mim.

– Olá, Maka! – Disse, contente, me dando um abraço.

Abracei-a de volta, dando o melhor sorriso que consegui.

– Oi, Tsu! O que está fazendo aqui? – Perguntei, me afastando um pouco.

– Eu e o Black queríamos fazer uma noite de filmes lá em casa. – Explicou, passando um dedo distraidamente pela lateral de uma fileira de filmes. – Na verdade, eu estava pensando em você agora. Iamos te convidar, e Blair também.

– Ah! – Falei simplesmente, estranhando toda aquela coincidência.

Tsubaki me olhou mais atentamente, franzindo a testa, e eu sorri, mas não consegui segurar seu olhar. Virei o rosto, fingindo prestar atenção nas minhas opções, mas Tsubaki chamou minha atenção de volta.

– Maka? – Questionou, preucupada. – Você está bem?

Abri a boca para falar que sim, estava bem, mas me interrompi. Mentir pra Tsubaki? Para que? Suspirei e olhei para ela, deixando tudo que eu estava sentindo transparecer.

– Não, Tsu. Eu não estou nada bem. – Confessei, cruzando os braços. – Eu e o Soul brigamos de novo. E eu estou tão confusa... Não consigo chegar a conclusão nenhuma.

Tsubaki arregalou os olhos, surpresa, e pegou nas minhas mãos, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa o Black*Star apareceu, se agarrando a cintura da namorada enquanto sorria para mim.

– Yoo, Maka! E aí? Tudo sussa?

Abri a boca, meio sem saber o que responder, e assustada pela interrupção, mas Tsubaki foi mais rápida.

– A Maka está um pouquinho mal. Você pode nos dar licença um minuto, amor?

Ele me olhou, pensativo.

– Isso é por causa da briga com o Soul?

Arregalei os olhos, surpresa, e não fui a única. Tsubaki parecia tão surpresa quanto eu, talvez até mais. Ainda assim, fui a primeira a me pronunciar:

– Como você...?

Me interrompi, e estava a ponto de brigar com ele por ficar ouvindo a nossa conversa escondido quando Black respondeu:

– O Soul me ligou mais cedo e contou que vocês brigaram. Ele disse que você deu um fora nele. Eu disse que ele devia ter dito que gostava de você logo, mas o cara não quis me ouvir. – completou, dando de ombros como se aquilo não fosse nada demais.

Eu estava atônita demais para falar – Kamisama, como que o Black*Star ficava sabendo das coisas da minha vida assim? Mas Tsubaki não estava, e ela virou para mim imediatamente, chocada.

– O Soul se declarou para você? Como assim, Maka?

Apenas lancei um olhar para Tsubaki, e ela entendeu que eu não iria falar sobre aquilo no meio da locadora. Era constrangedor demais. Então ela suspirou, e sugeriu:

– Bom, que tal você me contar hoje á noite? Lá em casa?

– Não quero ir, Tsu. – Disse, a contragosto. Quando notei seu olhar magoado, expliquei: - Da última vez que briguei com o Soul, eu já “fugi” para a sua casa. Não quero fazer isso de novo.

Lembrei do Soul dizendo que eu havia sumido no dia que fui para a casa da Tsubaki. Eu estaria cometendo o mesmo erro. E também demonstrando como ele me afeta. Uma vez já foi o suficiente.

– Nada a ver, Maka. – Black revirou os olhos. – Você não está fugindo, a gente ia te convidar de qualquer jeito.

– Ainda assim, acho melhor não. – Insisti, sem graça por estar fazendo aquela desfeita aos meus amigos.

Tsubaki apenas concordou com a cabeça, meio desanimada, mas então sorriu do nada, e anunciou, orgulhosa:

– Então eu vou dormir na sua casa!

– Como? – Black perguntou, surpreso.

– Desculpa, Black, mas eu preciso conversar com a Maka. – Se desculpou, dando um beijo no canto da boca do namorado. – A gente pode ver filmes outro dia. Você é um cara grande, sei que não se importa.

Black concordou, meio sem querer.

– Por mim também não tem problemas.

– Ótimo! – Tsubaki bateu palmas, de uma maneira bem fofinha. – Então vamos escolher logo esses filmes, e depois você vai até em casa comigo para eu pegar minhas coisas, ok?

– Ok. – concordei.

Minha amiga me abraçou e saiu me arrastando pela locadora, parecendo bem animada para escolher os filmes e dizendo que a gente tinha que levar uma comédia que ela viu o treiler. E Black*Star veio atrás, resmungando sobre eu estar roubando a namorada dos outros, mas que não tinha problema, porque um cara grande como ele era compreensivo. Sorri, pensando em como minha amiga o dobrava direitinho. Não foi muito grande, mas acho que foi o primeiro sorriso que dei essa tarde.


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Notas finais do capítulo

Caso tenham achado o capítulo meio confuso... Desculpem e-e
É que a Maka estava confusa, e eu não consegui demonstrar a confusão sem acabar me confundindo também. e-e
(Na verdade, eu reli tanto esse capítulo pra tentar melhorar e cortar o que fosse irrelevante/forçado demais que eu cheguei a chorar de nervoso. y-y)
Então, É SÉRIO, por favor (kkkk) comentem o que vocês acharam que não ficou muito legal, pra eu não fazer a mesma coisa depois e-e
Enfim... Até o próximo o/