Vila oculta da areia.

O próprio Kazekage vinha em nossa direção. Não percebi de imediato o que aquilo significava. Mas quando ele parou na nossa frente com aquela calma típica dele e com um certo pássaro em seu ombro, não pude deixar de me sentir, mais uma vez, uma idiota.

– Então era isso. - murmurou Gaara, mais para si mesmo do que para nós. - Hinata, eu pensava que você fosse do tipo de pessoa que ouviria o conselho dos moradores locais. Nunca pensei que se arriscariam a fazer essa viagem no meio de uma tempestade.

– G-Gaara-kun. O que está fazendo aqui? - Perguntou a garota sentada do meu lado.

O vento tinha parado e eu não precisava mais proteger o rosto da areia. Provavelmente isso era obra do Gaara.

– Eu vim até aqui seguindo esse pássaro, não sei o que me deu, eu só achei que poderia ser importante.

– Nejimaru? Como? - Perguntei bestificada. Como aquele passarinho tão pequeno conseguiu trazer o Kazekage para nos ajudar?

– O que disse? Nejimaru?

– É o... Nome... Do pássaro. - Disse meio envergonhada.

Ele pareceu refletir um pouco antes de se virar para falar com a gente novamente:

– Vamos para a vila, ela não está muito longe. - Depois disso ele virou e começou a andar, com a maior tranquilidade, como se a tempestade não existisse.

Rapidamente, me levantei e comecei a segui-lo. Fomos o caminho inteiro em silêncio. Eu não estava com muita vontade de conversar mesmo. Nejimaru saiu do ombro do Gaara e pulou para o meu, pouco depois de começarmos a andar.

Quando chegamos, não me impressionei com a vila, mesmo ela sendo totalmente construída com areia e barro. As casas tinham um estranho formato redondo. Eu perdi as contas de quantas vezes eu já tinha ido naquela vila, principalmente depois da Guerra. As vilas que fizeram parte da aliança costumavam mandar seus ninjas em missões nas outras vilas aliadas, para manter a união sólida.

– Vão para o alojamento e descansem um pouco. Mais tarde eu mando alguém chamar vocês.

Não discuti. Realmente estava exausta. Sempre que ia para a vila da areia, ficava no mesmo lugar. Uma estalagem grande, porém barata. Gostava de ficar no andar mais alto pois a vista era linda. Dava para ver quase a vila inteira, incluindo o prédio onde ficava o Kazekage.

– Eu vou tomar um banho antes de ir para o quarto, você vem? - Perguntei para Hinata.

– Ah! Não, eu vou daqui a pouco, tenho que ver umas coisas lá no quarto, pode ir.

Achei aquela reação meio estranha, mas como já disse, eu prefiro não discutir com ela.

Segui para o banheiro, que era coletivo. Claro que homens e mulheres tomavam banho separados. Entrei no banheiro feminino e me espantei um pouco ao encontrá-lo vazio. Só depois fui me lembrar de que nesse horário quase todos estavam realizando alguma missão ou tarefa. Entrei na água quente da fonte e tentei relaxar. Esse é um dos únicos lugares da vila com esse tipo de banho e é claro que é artificial.

Depois de uns três minutos tentando relaxar, os acontecimentos dos últimos dias voltaram à minha cabeça, me peguei pensando mais uma vez em qual seria o real motivo dessa missão. Se fosse só o que a Hokage tinha dito que era, pra que todo esse sigilo sobre os pergaminhos? E porque teria que ser eu a realizar essa missão? A única coisa que eu faço é ficar relembrando o passado e fazendo companhia para a Hinata.

Mergulhei o rosto até o nariz e soltei ar pela boca, fazendo bolhas.

Outra coisa que me perturbava era Nejimaru. Ele apareceu em um momento muito ruim para mim, e mesmo assim Hinata o tratava como se fosse a melhor coisa que poderia ter acontecido no momento. Eu realmente não sei qual é a deles.
Depois de suspirar um milhão de vezes, e de desistir de buscar uma resposta, ouço a porta do banheiro sendo aberta.

–Tenten? - A voz da Hyuuga ecoou pela sala.

– Tem certeza que ela ainda está aqui, Hinata? Pelo tempo que você disse que ela entrou, provavelmente já deve ter saído. - disse uma segunda voz, que não reconheci de imediato.

– Mas as roupas dela ainda estão aqui, Temari. - Depois que ela falou foi que reparei que a voz era da irmã mais velha do Gaara, Temari. Mas o que ela estava fazendo aqui?

Levantei e fui em direção a elas. Quando me viram, as duas abriram um leve sorriso e falaram para eu me arrumar que já estava na hora de nos encontrarmos com o Kazekage. Não tive tanta pressa para colocar minha roupa, pra mim a missão tinha virado um passeio, ou no máximo, uma boa piada.

Quando fiquei pronta. segui Tamari e Hinata até a sala do Gaara. No caminho, esbarramos, literalmente, em outra pessoa. Um ninja vestindo o uniforme típico de Konoha, com cabelos pretos e espetados presos em um rabo de cavalo.

–Tenten! Hinata! que surpresa encontrar vocês aqui. - Disse Shikamaru espantado. - Achei que só chegariam semana que vem. Como...

–Passamos pela tempestade de areia? Longa história! - Interrompi-o - e você? O que faz aqui? Achei que estivesse na vila da folha.

–Exame Chuunin! Como sempre, eu sou encarregado. E esse ano a competição acontecerá aqui, na vila da areia. - Ele parecia entediado ou cansado, ou talvez os dois ao mesmo tempo. - Ei Temari, tem como me ajudar com o resto daqueles papéis? É meio problemático ficar vendo tudo aquilo sozinho.

– Você não muda mesmo não é, Shikamaru? Ainda é um preguiçoso.

– Não enche. Vai me ajudar? - Perguntou, desviando o rosto com um sorriso estranho no rosto.

– Certo. Assim que eu terminar aqui eu te ajudo, mas será a última vez, você é um homem ou não?

Nos despedimos do Nara e seguimos nosso caminho. Não encontramos mais ninguém até entrarmos no prédio do Kazekage onde encontramos o outro irmão do Gaara, Kankuro.

Ele apenas nos cumprimentou e então saiu apressado.

– Gaara? Estamos entrando. - Anunciou Temari. Ela abriu as portas e foi para o lado, para que entrássemos. Gaara estava sentado em sua cadeira, atrás de uma mesa cheia de papéis.

–Então, o que exatamente vieram fazer aqui? Tsunade me avisou que vocês me entregariam algo.

–É com você, Hinata. - Disse me sentando em uma das cadeiras em frente ao garoto ruivo.

–Tenten! - Repreendeu a Hyuuga. - Aqui, ela queria que você lesse isso. - Disse, entregando o pergaminho para ele.

Após pegá-lo, Gaara começou a estudá-lo minuciosamente e, vez ou outra, fazia uma careta ou olhava para mim enquanto lia. Aquilo me deixou desconfortável. Não via a hora de sair dali, mas sabia disfarçar muito bem e também sabia que aquilo poderia demorar.

Parecia que o Gaara estava levando uma eternidade para ler aquele maldito pergaminho, mas quando finalmente terminou, passou-o para Temari e olhou para nós, eu e Hinata, com o mesmo semblante calmo de sempre. As vezes parecia que ele vivia entediado por causa da sua expressão.

– Bom, entendi o que a Hokage quer, e eu a apoio. Vou passar uma lista de lugares que vocês deverão visitar, aguardem só um instante.

Ele saiu da sala junto com a irmã. Ficamos só eu e Hinata, e o pássaro que voltara para o meu ombro, na sala. O silêncio estava me incomodando de tal maneira que eu tive que puxar assunto:

– Agora você pode me dizer o que tem escrito no pergaminho? - Perguntei.

– Não, a Hokage me proibiu de mostrar o que tinha no pergaminho para qualquer um que não fosse o Kazekage, desculpe. - Ela parecia levemente envergonhada ou nervosa, não consegui definir o que era.

Suspirei e tentei mudar de assunto:

– Como vai o Kiba e o Shino? Algum deles tem um time de Gennins pra supervisionar?

– N-não, mas o Shino-kun está pensando em dar aula na academia... Por que a pergunta tão de repente? - Rebateu desconfiada.

– Nada, só curiosidade! Só curiosidade. - Disse agitando os braços para tentar mostrar que era apenas isso mesmo. Depois dessas duas tentativas falhas de iniciar uma conversa, decidi que ficar em silêncio era melhor. E assim foi até o Gaara voltar, sozinho, para a sala.

– Onde está a Temari? - Esperei que ela entrasse, mas nada.

– Ela foi ajudar o Shikamaru com os papéis. Bem, foi o que ela disse que faria,agora... O que realmente foi fazer...

Posso estar ficando maluca mas eu juro que vi o Garra dando um sorriso de canto, quase que um sorriso malicioso. Forcei-me a voltar para a realidade. Aquilo era impossível.

Se bem que um mês atrás eu achava impossível ficar ao lado da Hyuuga e veja só, estou sentada ao lado dela normalmente. Balancei a cabeça com força para espantar esses pensamentos.

– Aqui está a lista de onde vocês deverão inspecionar. - Ele nos entregou algumas folhas, ou melhor, entregou-as para a Hyuuga. Eu já não existia mais no quesito missão. - Hinata, traga-me o relatório até o final dessa semana tudo bem?

–Certo. Vamos Tenten, temos bastante coisa para fazer. –E com isso, saímos da sala. Nejimaru, que até o momento estava no meu ombro, levantou voo e saiu de vista. Não questionei e nem mandei que ele ficasse, afinal ele não era meu de fato, apenas me seguia.

O primeiro lugar que visitaríamos era um restaurante. Agradeci por isso, afinal, eu estava morrendo de fome. Ao chegarmos, me arrependi momentaneamente por ter agradecido. O restaurante era o mesmo no qual eu comi da última vez que estive na vila antes da guerra. Na época eu estava em uma missão apenas com Neji.

Depois que ele morreu eu evitava comer ali, pois me trazia... Algumas lembranças. -corei ao lembrar delas.- E agora eu seria quase obrigada a comer ali por causa da missão. Afinal de contas, o que a gente tinha que fazer ali? Recolher informações sobre o cardápio?

Hinata escolheu uma mesa que ficava quase no meio o lugar, bem ao lado da janela.

Depois de pedir o mesmo prato de sempre, um prato típico do país do vento, fiquei brincando com uma shuriken de três pontas, girando-a na ponta dos dedos. Minha mente viajava de volta para o passado, em um tempo em que Neji ainda estava vivo. Devo ter ficado pensando por bastante tempo, pois quando Hinata me chamou as nossas comidas já estavam na mesa.

Comemos em silêncio. Hinata vez ou outra anotava alguma coisa em uma folha, mas toda vez que eu tentava ver o que era, ela disfarçava e escondia a folha. Terminei de comer rápido para poder sair daquele lugar, o que não adiantou de muita coisa, o próximo lugar em que iríamos era uma loja de armas, a mesma loja que eu comprei armas na primeira vez em que eu estivera na vila com o time Gai.

Eu tinha ficado apaixonada por um chicote que tinha na loja na ocasião. E acabei gastando todas as minhas economias com ele, e durante o restante da missão fiquei pedindo dinheiro emprestado para o Lee e o Neji, que ficou reclamando e dizendo que eu era idiota por ter gasto meu dinheiro inteiro nisso, mas acabou me dando dinheiro depois.

Desta vez, penas comprei uma espada pequena que achei interessante e nem gastei um quinto do dinheiro que tinha. Fiquei sorrindo sem motivo para outro chicote que tinha na loja. Novamente Hinata anotou algo em uma folha.

Aquela foi a primeira vez que eu fui útil naquela missão; Ajudei Hinata a catalogar algumas armas e recolhemos algumas para levar para a folha.

Após horas visitando diversos lugares, finalmente voltamos para o nosso alojamento. Estava exausta. Então tomei um banho rápido e fui para o meu quarto. Desta vez, fiquei em um quarto só meu, Hinata ficou em um bem na minha frente. E aparentemente ela estava lá. Escutei-a conversando com alguém. Fiquei curiosa e cheguei perto da porta para tentar ouvir o que ela dizia.

– Obrigada pela sua ajuda Gaara-kun, Tsunade-sama espera que isso dê certo. Ela me parecia preocupada quando me chamou para essa missão. – Fiquei tensa, o que ela queria dizer com aquilo?

– Sim, e você já notou alguma melhora? – Perguntou Gaara.

– Um pouco. – Respondeu Hinata. – O pássaro está ajudando também. - Ouvi o pio típico do Nejimaru.

Melhora? Nejimaru estava ajudando a fazer o quê? Do que eles estavam falando afinal? Me afastei da porta e entrei no meu próprio quarto. Eu precisava de tempo para assimilar aquilo... E não sabia se queria saber mais.