Yuzo e Jun

Sentei em uma almofada para esperar alguém aparecer. foi então que eu escutei um barulho, era bem baixo mas eu conseguia saber exatamente de onde vinha... Vinha de cima de mim, em uma cobertura de madeira antes do telhado, Suspirei e fiquei em silêncio para poder escutar melhor.

Concentrando-me bastante consigo escutar uma conversa:

– Fica quieto, assim ela vai ouvir você! - disse a primeira voz em tom brando e gentil.

– Ah, Cale a boca! É você que esta fazendo barulho. - Disse uma segunda voz, esta um pouco mais irritada. Mais alguns barulhos puderam ser ouvidos, como se eles estivessem brigando ou se batendo. E então o piso aonde eles estavam cedeu e os dois caíram no chão a minha frente.

– Belo jeito de se apresentarem! -Disse seca, mas por dentro eu queria dar risada.

– A culpa é dele que sempre me atrapalha! - Esbravejou o maior, apontando o dedo para o irmão que estava limpando a sujeira da blusa, este levantou o olhar intrigado.

– Então quer dizer que a culpa é minha? Quer dizer, a ideia de subir no falso piso não foi minha pelo que eu saiba... - Eles começaram a discutir, deixei que continuassem porque não estava com vontade de separá-los, mas quando vi que aquilo não teria fim pigarreei para chamar a atenção dos dois. Eles olharam pra mim então fiz um gesto para que viessem pra mais perto e sentassem na minha frente.

O mais velho, e também o mais alto, sentou e cruzou os braços claramente aborrecido. Seu nome era Yuzo e, como diz o nome, ele era o mais corajoso e destemido dos dois, mas também era o mais encrenqueiro e cabeça dura. Ele tinha cabelos negros e olhos laranja vibrante, que lembrava vagamente uma fogueira.

Jun, que era o mais novo e também o menor, sentou do outro lado da sala, ele era mais comportado e pacífico, mas é claro que isso não o impedia de se envolver em confusões assim como o irmão. Durante minha missão com eles anos antes ele tinha arrumado briga com um estudante da academia ninja e eu e Lee tivemos que segurar o menino para que eles não se batessem. Jun tinha cabelos negros como o irmão, mas seus olhos eram de um azul bem claro, da cor do gelo quase.

– Então, vocês vão treinar de verdade ou vão ficar só discutindo quem tem culpa ou não? - Perguntei depois de minutos de silêncio.

– Mas a cul...

– Já disse que não quero saber de quem é a culpa ou não Yuzo! - Disse, desta vez com mais autoridade, fazendo os dois encolherem os ombros. Suspirei. - Certo, vamos até lá atras, quero ver o quanto vocês melhoraram desde a última vez que eu os vi.

Andamos até os fundos da casa, era um espaço reservado quase que exclusivamente para treinos, mas havia também um pequeno pomar e um pequeno lago.

– eu primeiro! - Disse Yuzo, tirando oito shurikens do bolso e se posicionando na frente do tronco-alvo. Ele arremessou todas as armas ao mesmo tempo formando uma linha quase reta de shurikens no centro do alvo. -Viu como eu melhorei?

Fiz que sim com a cabeça e olhei para o menor. Ele se aproximou do alvo e fez os mesmos movimentos que o irmão, só que Jun conseguiu uma perfeita linha reta bem no centro do segundo tronco.

– Parabéns Jun, você melhorou bastante! Lembro que antes você mal conseguia acertar uma. - Disse sorrindo, ele corou de leve com o elogio. Percebi que Yuzo não gostou muito. - Você também Yuzo, embora ainda não seja tão bom quanto seu irmão...

– Você ainda não viu nada TenTen-sensei! - Esbravejou ele. Fiquei surpresa em ser chamada de sensei, mas não deixei transparecer. - Mas agora, faça você uma demonstração, quero ver qual o nível de uma Jounnin.

Seus olhinhos brilhavam em expectativa. Suspirei e tirei oito das armas em forma de estrela da bolsa em que eu as guardava. Sem nem levantar as atirei em um terceiro alvo, elas acertaram bem no centro formando um "T".

– Uau! - Disseram os dois em uníssono.

– T de TenTen né sensei? - Jun perguntou com o mesmo brilho no olhar que o irmão.

–Claro Jun. - Sorri, e esse sorriso não foi nem um pouco forçado. - Certo, chega de shurikens, quero ver que tipo de ninjutsus vocês sabem fazer.

– primeiro eu! - Gritou Yuzo ansioso e agitado. Ele pegou quatro kunais, eu já ia falar que eu queria ver ninjutsus e não lançamento de armas quando ele as joga para cima e começa a fazer uma série de selos.

Ao redor das armas lançadas começa a sair algo que lembrava raios e eles formaram a imagem de dragões, e onde era a cabeça do dragão encontrava-se as kunais. O garoto apontou para uma árvore com dois dedos, como se sua mão fosse uma arma. Os dragões de relâmpago ou fogo, não dá para saber, foram na direção apontada e atingiram se alvo com tanta força que este se quebrou e caiu com um som bem alto.

Fiquei boquiaberta com o que acabara de ver. Mas logo fui tirada do meu estado de transe parcial pelo outro menino que agora gritava com Yuzo.

– Nii-san, quantas vezes eu já disse para não destruir as minhas árvores? - Ele parecia aborrecido, mas não tão irritado quanto eu ficaria se alguém tivesse destruído algo meu.

Então ele tirou uma estranha kunai de três lâminas, parecidas com as do quarto hokage. Ele fez três selos manuais e lançou a faca contra a árvore destruída, a mesma começou a emitir uma luz azulada e fria, como neve. No minuto seguinte a árvore tinha voltado a ser como era antes. Meu queixo devia ter batido no chão, tamanho era o meu espanto. Olhei de um para o outro, eles ainda discutiam e nem olhavam pra mim.

Depois que eles pararam de discutir, voltaram a treinar. Fiquei vendo o treino deles por algumas horas e quando eles pararam para almoçar eu decidi que já era hora de ir embora.

Quando estava saindo reparei em algo que me chamou a atenção. Um pequeno altar dedicado a mãe deles, me senti mal por dentro, mas também vi que eles conseguiram seguir em frente e serem felizes, isso fez eu me sentir ridícula. Mas uma coisa me intrigou, no pergaminho estava escrito que a missão tinha sido encomendada pela mãe deles, mas ela estava morta.

Andei em silêncio até a minha casa. Entrei e fui direto pro meu quarto, outra coisa ridícula era que eu ainda morava com meus pais. Cheguei no meu quarto e fui tomar um banho, estava cansada então deitei na cama e apaguei, quando acordei já era de manhã, eu tinha dormido a tarde toda, reparei em um barulho estranho e quando olhei para a janela. Vi que tinha uma pomba correio bicando ela.

A ave trazia um bilhete preso na perna, eu o peguei, depois de abrir a janela. O bilhete dizia que eu tinha mais dois dias para me despedir de todos e que na manhã de sexta eu deveria encontrar a Hinata nos portões da vila. Levantei e decidi visitar o Neji pra me despedir. Eu fazia muito isso sabe, visitá-lo.

Tomei banho me troquei e desci para tomar café. Depois peguei um pouco de dinheiro e saí de casa, nem avisei nada para meus pais, mas eu nunca fazia isso mesmo.

Andei sem pressa pelas ruas da vila até que passei em frente a floricultura Yamanaka. Decidi comprar algumas flores e aproveitar para dar um oi para a Ino, ela também perdeu alguém importante pra ela na guerra, seu pai.

–Olá Tenten! como vai? - Ino falou assim que me viu entrando, sempre sorrindo. - Aposto que já sei o que veio fazer.

– Olá Ino, eu estou bem. E eu acho que você acertou. - A verdade é que pelo menos uma vez a cada quinze dias eu vinha aqui comprar flores para deixar no túmulo do Neji. - As de sempre por favor. - Disse com um meio sorriso que ela notou e sorriu de volta.

– Parece que alguém está bem feliz hoje, qual a novidade? - Ela se debruçava no balcão enquanto falava, já com um buquê de flores brancas que eu nunca guardava o nome.

– Vou sair em um missão que pode demorar meses então vou me despedir dele, só isso. - Falei voltando a ficar séria. A loira levantou uma sobrancelha.

– E o que mais? Não te vejo sorrindo a tempos. Aconteceu alguma coisa ontem?

– Apenas uma missão onde eu reencontrei dois meninos de um missão em meu primeiro ano como Gennin. Nada de anormal e não é nenhum motivo pra deixar uma pessoa alegre. - Rebati ligeiramente irritada, nem sei com o que exatamente eu estava irritada, mas não importa.

– Certo, certo. Se você diz. - Ela levantou os braços em sinal de rendição. Peguei as flores, paguei e saí dali depressa.

– Até outro dia Tenten! - Ela gritou quando eu já ia saindo. Nem me dei ao trabalho de respondê-la, apenas suspirei e continuei andando. Me afastando cada vez mais do centro da vila, até que as casas começaram a ficar mais espalhadas e então eu pude ver a entrada do Cemitério, me aproximei sem pressa, afinal eu tinha o tempo que quisesse, ou precisasse...