Mais surpresas.

–Gai-sensei! O que está fazendo aqui? - Perguntei após me virar. Ele apenas sorriu e me mostrou o polegar voltado para cima.

– Eu vim aqui em uma missão ultra secreta à pedido de uma certa pessoa da vila da folha. - Ele levou a mão ao queixo e fechou os olhos, fazendo sua pose de reflexão. - É claro que só alguém com uma energia jovial como a minha poderia realizar tal tarefa. Então aqui estou, para salvar o dia mais uma vez. - ele voltou a sorrir. Agradeci por ele ter mudado de assunto e não insistido em falar sobre o pássaro, que ainda estava no ombro da Hinata.

– Então, acho melhor você se concentrar na sua missão. - Respondi, tentando não rir. Eu tinha total consciência do olhar da Hyuuga sobre mim naquele momento, mas nem me importava com isso.

– Vou sim, boa sorte com a sua missão também. - Após isso, ele foi embora.

De repente algo veio à minha mente. Algo que até o momento eu nem havia me tocado.

Alguém deve ter pedido por essa missão. A Hokage não poderia simplesmente criar missões do nada, alguém deve pagar por elas. É claro que sempre há a possibilidade de a ideia realmente ser da Tsunade-sama, mas algo me dizia que não. Aquela missão vinha de alguém. Alguém encomendou isso, e eu iria descobrir quem foi.

Finalmente Nejimaru voou até o meu ombro e bicou a minha roupa de leve. Acariciei sua cabeça e fiquei um tempo olhando para ele e lembrando do meu sonho. "O que significa aquilo?" pensei enquanto encarava o animal.

Eu tinha uma vaga ideia do que poderia ser, mas eu me recusava a acreditar nela. Essa ideia iria morrer onde ela nasceu, pois era ridículo demais imaginar que o Neji, o meu Neji...

Fui tirada de meus pensamentos por um gritinho. Olhei para o lado e vi Ino e Sakura, com os olhinhos brilhando, olhando em nossa direção. Primeiro imaginei que fosse por causa da Hinata e do Naruto que estavam bem próximos, mas assim que Ino começou a falar, percebi que não era bem isso:

–Tenten!! Eu não consigo acreditar no que estou vendo! Que fofos!!

– Fofos? Como assim, Ino?? Do que você está falando?? - Perguntei, sentindo meu rosto esquentar.

– Você e o Neji estavam tão fofos olhando um para o outro... Mesmo ele sendo uma ave agora...

– Ei ei ei, espera! - Interrompi-a - Primeiro: É Nejimaru, e segundo: Como assim "mesmo ele sendo um pássaro agora"?

–Não está na cara? - Perguntou a Haruno.

– O Nejimaru e o Neji são a mesma pessoa, digo ave, digo... Bem, você entendeu. - Completou a Yamanaka

Nejimaru escolheu exatamente esse momento para piar e olhar para mim como se dissesse: "Não estava na cara? Eu bem que tentei avisar, mas você é muito burra." ou algo do tipo.

– O quê? Vocês querem que eu acredite que essa ave perseguidora aqui é a reencarnação do... - me controlei para não falar "do cara que eu amei" - meu ex-companheiro de time?

– É-é basicamente i-isso sim Tenten. - Disse Hinata, também com a face levemente corada. O que era plausível, já que Neji era seu primo e ela também deveria achar isso no mínimo; perturbador.

Levantei-me e fui andando até o meu quarto. Neji, digo, Nejimaru me seguiu, é claro. Assim que entrei, joguei-me na cama e deixei que lágrimas escorressem pelo meu rosto. Não conseguia identificar se eram lágrimas de alívio, de tristeza ou de saudade, ou se era uma mistura de tudo, como uma bola de neve que tivesse se formado com o tempo e que ia ficando cada vez maior e mais difícil de conter e que eu estava finalmente deixando sair.

Ninguém subiu para ver como eu estava e agradeci por isso. Fiquei o resto da tarde trancada no quarto, apenas processando essa ideia de reencarnação.

–Isso é verdade, Nejimaru? - Perguntei com a voz embargada pelo choro. - Você realmente é o Neji? O meu Neji? - O pássaro respondeu com um pio suave, quase tranquilizador, que eu aceitei como sendo um "sim". - Você prometeu, e agora eu posso ver que está cumprindo a sua promessa. Obrigada! -

Virei de lado no fuuton. Nejimaru foi até a janela, que estava aberta, e ficou empoleirado ali. Depois de alguns minutos de um silêncio confortável, falei:

– Eu te amo. Mesmo agora... Não consigo te esquecer.

Não sei quando foi que eu caí no sono, só me lembro que quando eu acordei, já era noite e uma brisa fresca entrava pela janela. Sentei-me no parapeito baixo da janela, onde Nejimaru estivera quando eu dormi, e fiquei olhando para o céu noturno. Poucas aves voavam ali e não se via nenhuma nuvem no céu.

– A noite está linda não está? - Não houve resposta. Estranhei e voltei o meu olhar para o quarto. Não havia nem sinal da ave perseguidora ali. - Estranho. Onde será que você foi desta vez?

Levantei e troquei de roupa. Coloquei uma blusa branca comprida, um short cinza e saí do quarto.

Não saiba bem para onde eu estava indo, e quando percebi, meus pés tinham me levado até a parte de trás da estalagem. Para um jardim climatizado. Havia um lago cercado por uma grama baixa e algumas flores. Em um canto, havia um pássaro pousado no galho de uma árvore.

– Nejima... Neji? - Chamei hesitante. A ave se virou e soltou um pio agudo. - Como...? - Não completei a pergunta pois minha voz sumiu. Ao lado do pássaro, no galho, havia uma foto. Eu e Neji, em uma missão que fizemos juntos. Só nós dois. Estávamos em uma festa que o cliente nos obrigara a ir. Eu sorria largamente e Neji apenas olhava para mim com um lindo sorriso de canto. Usávamos quimonos cerimoniais, o meu era vermelho e o dele era de um branco meio lilas, assim como seus olhos.

– Como você conseguiu essa foto? Só existem duas cópias dela... Uma está na minha mochila e a outra... - Meus olhos se arregalaram e por um segundo eu jurei ter visto Neji ali, em pé diante de mim. Não a ave, mas o verdadeiro Neji, aquele com quem treinei, com quem fiz diversas missões, aquele que morreu pra proteger alguém que lhe era importante. Pisquei. Ele desaparecera.

Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Minha vida estava de cabeça para baixo. Era informação demais para assimilar. Mais lágrimas rolaram pelo meu rosto e, novamente, não tentei contê-las. Caí de joelhos no chão e fiquei ali. Parada. Observando a foto que escorregara do galho e agora jazia no chão, bem na minha frente.

–Como? Como isso é possível? - Fiquei repetindo essas palavras durante um tempo tão longo que nem notei as horas passarem e só percebi que já havia amanhecido quando Hinata tocou delicadamente o meu ombro:

– Tenten-san. O café já está sendo servido, você não vai comer?

–V-vou... S-só um minuto. - Minha voz saiu aguda e embargada. A mão da Hyuuga permaneceu no meu ombro. Ela se curvou para a frente e pegou a foto, que continuava no chão.

– É uma bela foto. - comentou casualmente, mas sua voz estava estranha. Olhei para ela e notei que seus olhos estavam se enchendo de lágrimas. - O Neji realmente só tinha esse sorriso quando estava com a Tenten ou com o Lee. - Ela se virou pra mim e sorriu, nesse momento, uma lágrima escorreu pelo seu rosto e caiu sobre a mão que segurava a foto.

– Hinata, eu... - Não sabia o que falar, ver a Hinata chorando assim era doloroso e me fazia lembrar minha própria dor. - Ele realmente sempre foi um ótimo amigo. - Desviei o olhar para o galho onde a ave estava, mas não havia nada ali. Abaixei o rosto. - Ele sempre se preocupou muito com você, Hinata. E no fim, morreu protegendo-a...

Serrei os punhos. Eu não queria mais chorar, mas as lágrimas teimavam em embaçar minha visão. Ouvi Hinata soluçar entre o choro.

– Ele também se preocupava com você, Tenten-san. Realmente, se preocupava muito... - Arregalei os olhos e olhei para a garota. Abri a boca pra falar alguma coisa, mas ela continuou falando. - Ele estava sempre preocupado com você. Isso era óbvio, mas ele tem um jeito estranho de mostrar isso. Mas eu sei que ele gostava muito de você. Desculpa...

Hinata estava ajoelhada ao meu lado, ela abraçava a foto do Neji contra o corpo. Por que ela estava se desculpando? Antes que eu pudesse começar a falar, ela continuou:

– Eu queria que o Neji-nii-san fosse feliz com você, Tenten... Todo dia, eu me pergunto o que teria acontecido, se ele não tivesse morrido. As vezes eu... - Ela sacudiu a cabeça violentamente. - Não, não posso mais pensar nisso.

– Nisso o quê? - Perguntei colocando uma mão no ombro dela, era o mínimo que eu poderia fazer para ampará-la, mas não sei se conseguiria fazer algo além disso. Ela olhou pra mm e sorriu timidamente, seus olhos estavam começando a ficar vermelhos devido ao choro.

– As vezes eu penso que a culpa é minha por ele ter morrido.

Isso foi como um tapa na minha cara. Tirei a mão do ombro dela e um segundo depois, a abracei.

– Isso não é verdade. O Neji... Ele não... Você não tem que se sentir assim, ele fez o que achava que era o certo, morreu protegendo aquilo que era importante pra ele, e ninguém pode se culpar por isso.

Em algum ponto, eu percebi que estava dizendo aquilo mais para mim mesma do que para a Hyuuga. Senti ela me abracando de volta e então me afastando.

–O café já está sendo servido, melhor irmos logo, ou perderemos toda comida. - Ela estava sorrindo. Sorri de volta e permiti que ela me ajudasse a levantar e me guiasse até o refeitório, onde nossos companheiros esperavam, inclusive o Sasuke estava lá, o que era estranho, já que ele deveria estar em uma viagem ou algo do tipo.

–Finalmente, onde você se meteu, Tenten? - resmungou Naruto. - Que bom que você achou ela, Hinata.

–Ei Hinata, o que as duas estavam fazendo? Vocês demoraram demais - Perguntou o Kiba, com um prato pela metade na frente dele.

–Elas deviam estar conversando, Kiba, não seja insensível. - Sakura falou, dando um tapa no garoto.

–Se ela demorasse mais, iria perder toda a comida. - Chouji comentou casualmente antes de colocar alguma coisa na boca.

–Talvez porque você iria acabar com toda a comida sozinho, Chouji!! - Ino brigou com ele.

Shikamaru, que acabara de entrar pela porta, soltou um suspiro e sentou ao lado dos companheiros de time.

–Fala sério, isso é tão problemático. Ino, deixe-o comer em paz.

–Tenten, depois do café, o que acha de treinarmos? Faz tempo que você não treina não é? Temos que aproveitar qualquer momento livre para treinarmos um pouco! É o que o Gai sempre diz - Disse Lee animadamente.

–Como você pode pensar em treinamento com esse calor? - resmungou Shikamaru

Sasuke soltou uma risada. Todos olharam pra ele, pois suas risadas sempre eram seguidas por alguma fala irônica ou coisa do tipo.

–Está rindo do que, Sasuke, teme?

– De nada, Naruto, dobe. - Os dois se encararam e quase pude ver um raio entre eles.

No canto, Shino resmungava alguma coisa que não dava pra escutar.

Sorri.

E não foi um sorriso forçado, ou um sorriso de canto, um meio sorriso ou algo que eu pudesse conter. Eu realmente sorri. Foi algo tão confortável e animador. Uma sensação que eu já tinha esquecido a muito tempo. Ouvi um bater de asas e senti um peso familiar no ombro. Olhei para o lado e meu sorriso se alargou.

– Veja Neji, os 12 de konoha... Estão reunidos de novo!