Impacto

Assim que acabamos de comer, todos começaram a se levantar até que eu falei:

– Hinata, fique mais um pouco. Eu preciso falar com você! - Ela fez cara de espanto, mas acabou concordando, depois de olhar para Sakura e os outros.

– Sobre o que você quer falar comigo? - Ela disse, do se jeito meigo de sempre.

– Sobre o Projeto Tenten! - Ela arregalou os olhos por alguns milésimos de segundo e depois disfarçou, fazendo cara de desentendida. Mas eu havia visto sua expressão.

– Não sei do que está falando Tenten-san. Não sei o que é projeto Tenten. Onde você viu ou ouviu isso? - ela perguntou mantendo a voz calma e firme, nem parecia que estava nervosa, mas seus dedos a denunciavam. Ela estava brincando com eles.

– Não tente disfarçar. Eu li um dos pergaminhos que estavam na sua bolsa.

A menina prendeu a respiração e evitou me encarar. Hinata olhava para todas as direções, menos para mim. Ela respirou fundo e falou:

– Tenten-san. Eu não sei exatamente o que você leu, mas posso garantir que nunca ouvi falar sobre um projeto Tenten, e o que seria isso afinal?

– Não sei explicar direito, mas por algum motivo estamos indo apenas em vilas em que eu já estive antes e nos encontrando com algumas pessoas com quem eu fiz amizade no passado. O que será que tudo isso significa? - Despejei tudo em um tom sarcástico e irritado. - Eu não estou fazendo missão coisa nenhuma! Estou apenas me divertindo com meus antigos amigos. - Gritei ainda mais alto. Minhas palavras tiveram um impacto maior em mim do que na Hyuuga, que a essa hora já estava com um sorriso tímido nos lábios.

– Então você está se divertindo? - aquela pergunta me pegou desprevenida. Para falar a verdade só reparei agora em como estava sendo divertido. Isso me lembrava dos velhos tempos. De quando Neji estava vivo. De quando eu fazia missões com o time Gai. De quando eu ainda era uma Gennin. E por algum motivo essas lembranças só me deixavam mais feliz.

– Vá à merda, Hyuuga! - eu não queria dizer aquilo para ela, mas entendam. Eu estava nervosa por ter sido feita de trouxa. E estava confusa com o que estava sentindo. Eu só queria ficar sozinha. Amaldiçoei-me mentalmente por tê-la tratado assim, por ter me descontrolado assim. Isso não era da minha personalidade.

Levantei de onde eu estava e saí correndo. Corri sem rumo no começo. Mas depois decidi ir até um dos pontos mais altos da vila. Corri o mais rápido que conseguia. Minha visão estava meio embaçada por causa das lágrimas que se formavam.

Cheguei até o telhado do prédio do Kazekage. Era o ponto mais alto e mais perto que eu consegui encontrar. Sentei-me no topo e abracei as pernas. Fiquei olhando para as ruas lá embaixo não queria ter que admitir que eu estivesse gostando daquela viagem. E pior ainda, eu não queria admitir que eu estivesse gostando da companhia da Hinata.

Estava tão distraída que não percebi que alguém se aproximava de mim até que essa pessoa falou:

–Pensei que fosse encontrar você aqui. – Um garoto ruivo usando roupas de Kage sentou-se ao meu lado. Ele não olhava pra mim enquanto falava. – Pelo visto você descobriu a verdade por traz da missão. Ou pelo menos parte dela.

– Como assim “parte dela”? Eu sei exatamente o que estão querendo com essa missão e...

– Tem medo de admitir que eles estejam conseguindo? – Gaara finalmente olhou para mim. Senti meu rosto esquentar. Como ele sabia? – Seus amigos estão te procurando.

– Eu sei, não quero falar com eles. Eles me enganaram.

– Eles só queriam ajudar. Eu sei como você se sente, mas acredite... Você não está sozinha como pensa. – Ele sorriu. O que pelo que eu sei era algo muito raro, mesmo sendo apenas um sorriso fraco.

– Obrigada Gaara. – Disse com certa cautela. Olhei para as ruas lá embaixo e vislumbrei Hinata correndo de um lado para o outro, provavelmente me procurando.

Foi aí que decidi deixar o orgulho de lado e tentar aceitar o que estava acontecendo. Esperaria até chegar à vila para desabafar com a Hokage. Levantei comecei a descer do telhado. Gaara ficou sentado no mesmo lugar, e provavelmente ficaria ali mesmo após o pôr-do-sol.

Não sei o que deu em mim. Segui para onde estávamos hospedadas. Antes que eu pudesse dar mais cinco passos algo pousou em meu ombro. Sem nem ao menos olhar para o pássaro empoleirado em meu ao lado da minha cabeça comecei a minha habitual e maluca conversa com aquela ave perseguidora:

–Olá de novo. Onde você esteve? – Nenhuma resposta. – Enfim, você sabia de tudo que a Hinata e a Hokage estavam tramando não sabia? – Ele bicou de leve o meu ombro.– Vou encarar isso como um sim, Nejimaru, Seu pequeno traidor. Mas saiba que eu vou tirar satisfações com a Tsunade-sama. Ainda preciso saber mais uma coisa a respeito dessa missão. - Ele virou a cabeça levemente para o lado como se dissesse " Isso não é novidade. Diga-me algo que eu não saiba."

Acariciei sua cabeça e continuei andando. No meio do caminho cruzei com a Ino e a Sakura. As duas ainda estavam discutindo, como se algum dia elas fossem parar.

–Tenten! – Exclamaram as duas em uníssono.

–Olá. – Forcei um sorriso.

–Onde está a Hinata-san? – Perguntou Sakura com um leve ar de desconfiança.

– Não sei, deixei-a na churrascaria. – Fingi desinteresse. – Provavelmente está dando uma volta com o Naruto. – dei de ombros. Eu realmente duvidava que ela estivesse dando uma volta com quem quer que seja depois da nossa conversa, mas prefiro não alarmar o resto deles. Não tenho certeza se eu aguentaria um sermão de mais de oito pessoas diferentes. Nejimaru deu uma bicada um pouco forte no meu ombro.

– Que foi agora? Quer que eu diga o que? – Para o meu espanto o maldito piou e virou a cabeça como se me desafiasse a falar o que eu realmente estava pensando. – Sem chances! Esqueça isso. Eu não vou ficar falando disso para todo mundo. Entendeu?

– Tenten, você está falando com o pássaro? – Perguntou Ino perplexa.

– É claro que estou, por que a pergunta? – E lá se vai minha tentativa de manter o tom de voz calmo. – Desculpa, é que eu estou um pouco cansada. Vou voltar para o meu quarto.

– Está bem, até outra hora. – Não esperei qualquer outra pergunta e também não respondi à despedida. Apenas saí andado. Qualquer que tenha sido a reação delas, não me importava.

Finalmente cheguei ao meu quarto e, assim que fechei a porta, me joguei na cama. Não percebi como estava exausta até aquele momento. A tensão de descobrir tudo aquilo havia acabado com as minhas energias e também deixaram os meus músculos tensos por tempo suficiente para deixá-los doloridos.

Não sei quanto tempo exatamente eu dormi, mas quando eu acordei o sol da manhã começava a bater no meu rosto. Nejimaru estava voando freneticamente dentro do quarto. E só para avisar: Foi o seu pio que me acordou.

–Nejimaru! Fica quieto. – No mesmo instante o pássaro se acalmou. – Muito obrigada.

Levantei, troquei de roupa e bati na porta do quarto da Hinata. Não houve resposta. Abri a porte e me deparei com a Hyuuga ainda dormindo. Tentei acordá-la sacudindo-a. Nada. Resolvi chamá-la:

–Ei, Hinata! – chamei. – Acorda, preciso falar com você. É importante. – Ela acordou e me encarou com certa desconfiança, mas logo se tranquilizou e exibiu sua personalidade tranquila e meiga.

– O que foi Tenten-san? Algum problema? – Perguntou com calma, como se nada tivesse acontecido no dia anterior. Por algum motivo isso me deixou mais calma e de certa forma um pouco feliz. Acho que não conseguiria falar com uma Hinata triste ou magoada.

– Primeiro, eu queria pedir desculpas pelo que eu falei ontem e segundo, eu quero acabar com essa brincadeira e voltar para a vila da folha. Afinal, não fará sentido continuar com a missão. Eu sei o que vocês pretendem e posso muito bem ficar insensível a qualquer nova tentativa de vocês.

A Hyuuga fechou os olhos e respirou fundo, e pude ver uma sombra de sorriso dançar em seus lábios. Ela abriu lentamente os olhos, encarou a mim e ao pássaro bisbilhoteiro parado no parapeito da janela. Finalmente ela disse:

–Não sei mais o que eu faço com ela. Alguma ideia Nejimaru? – Ela ainda teve a ousadia de rir. Devo confessar que isso não me irritou de verdade.

– Que tal me levar de volta? – Fingi estar irritada, mas o sorriso involuntário no meu rosto me denunciou. Percebi quando Hinata se surpreendeu com a minha reação, mas não disse nada.

Ela se levantou e foi se arrumar. Dei de ombros. Falaria com ela depois. Por hora, vou descer para comer alguma coisa.
A tarde, depois de mais uma volta por pontos aleatórios da vila, decidi tentar falar mais uma vez com Hinata.

– Ei Hinata! - Chamei-a enquanto caminhávamos em direção à sala do Kazekage. - Quando vamos embora daqui?

–Assim que acabarmos nossa missão. - Respondeu dando de ombros. Revirei os olhos e encarei-a com uma sobrancelha erguida. Ela me ignorou. Tentei mais uma vez.

– Mas se a missão era uma desculpa para que eu fizesse essa viagem então por que manter a farsa depois que eu já descobri tudo? - Ela suspirou e , sem ohar para mim, respondeu:

– A minha missão aqui não é apenas você, sabia? - Ela finalmente olhou para mim e estava com uma expressão que não consegui identificar. - A missão realmente foi uma desculpa para trazer você junto, mas para isso precisávamos realmente ter uma missão.

Fiquei boquiaberta com essa resposta. A Hinata que eu conheço raramente é rude com alguém então imaginei que isso era o mais próximo que eu chegaria de uma resposta grosseira. Ficamos em silêncio até o fim do dia.

Na sala do Kazekage, Gaara olhou para mim com uma expressão bem sugestiva. Lembrei-me de nossa conversa no dia anterior e tive que desviar o olhar.
– Tenten. Boas notícias. - Disse a Hyuuga algumas horas depois, quando já estávamos indo em direção aos nossos quartos. - Depois de amanhã nós voltamos para a Konoha. Enviei uma mensagem para a Hokage-sama e ela permitiu que eu a levasse de volta, mas com uma condição.

–E que condição é essa? - Perguntei, meus olhos brilhavam com a expectativa de finalmente voltar para a vila.

– Você vai ter que passar em mais uma vila antes de voltar. - Encarei-a sem saber o que dizer. Meu olhar deveria explicitar a pergunta que rondava a minha cabeça, pois a Hyuuga respondeu sem eu nem externar a pergunta. - Vamos para a Vila oculta da Estrela. O Naruto-kun está com saudade do Sumaru então...

–Espera... O Naruto vai voltar com a gente? - Ela assentiu.

– Ele, a Sakura-san e o Lee-kun.

–Ótimo. - Disse e em seguida entrei no meu quarto. Batendo a porta atrás de mim. Deixei meu corpo cair na cama e apaguei.

Tive o sonho mais estranho até agora.

Eu estava de pé em frente a um penhasco. Estava sozinha. Era fim de tarde e o sol se pondo lançava uma luz alaranjada no céu e lançava sombras compridas na paisagem abaixo. Quando olhei para baixo vi que eu usava uma roupa preta de velório e ao meu lado estava uma lápide improvisada.

Olhei o que estava escrito e quase dei um grito quando reconheci o nome "Neji". Logo ouço um barulho vindo do outro lado e me viro para olhar. Ali, parado como se estivesse apenas me esperando para continuarmos andando estava o Hyuuga. Seus olhos tinham um leve brilho travesso e o sorriso de canto, tão característico dele, havia sido substituído por um sorriso largo.

"Neji! Por que você sumiu? Por que você me deixou aqui sozinha?"

"Eu estou aqui Tenten! Sempre estive... Eu nunca deixaria você sozinha,." Ele estendeu a mão em minha direção e eu comecei a me aproximar dele.

"Eu estou com medo, Neji." Não sabia por que eu havia dito isso mas eu percebi que era verdade assim que as palavras saíram da minha boca.

"Eu sempre vou te proteger. Confie em mim! Lembra-se daquele dia? Eu te prometi não foi?!" Assim que eu o alcancei tentei tocá-lo e sua forma tremeluziu. Senti uma lágrima riscar meu rosto. Ele sorriu para mim e eu sorri de volta.

Neji segurou minha mãe e sua forma voltou a tremeluzir até que ele desapareceu e em seu lugar ficou uma pena marrom-claro. "Neji..." sussurrei para o nada.

Acordei com um barulho do lado de fora do meu quarto. Levantei e corri para o banheiro. Meu olho estava vermelho, o que indicava que eu havia chorado durante o sono mais uma vez. Lembrei do sonho que tive e voltei correndo para o quarto. Não havia nem sinal da pequena ave.

– Justo quando eu preciso falar com você... - Resmunguei. - Alguma hora você vai aparecer. - Concluí e terminei de me arrumar. Coloquei uma blusa sem manga e uma calça mais fresca devido ao calor que fazia.

Desci para comer alguma coisa e me espantei ao ver o meu pequeno perseguidor empoleirado no ombro da Hyuuga enquanto ela tomava café com o Naruto.

– Traidorzinho, você me paga. - Disse baixinho para apenas eu poder ouvir.

– Bom dia, Tenten - Disse Hinata assim que me viu.

–Bom dia Hinata. Bom dia Naruto. - Encarei o pássaro que não se movera. - Bom dia para você também Nejimaru, seu pequeno traidor.

– Parece que alguém está com ciúme. - Uma voz atras de mim disse. Virei-me ao reconhecer a voz. O que será que ele estaria fazendo ali e porque não estranhou o fato de eu chamar um pássaro de Nejimaru?

– Gai-sensei! O que está fazendo aqui?