Já estava anoitecendo quando tomei banho e fui ajudar Diana na cozinha, seu irmão ainda não havia chegado, sua preocupação era visível.

- Calma, está tudo bem com ele.

- Como você sabe?

- Não sei. Mas se eu me concentrar eu posso dizer como e onde ele está exatamente. Só que eu não sei como é o seu irmão.

- Tem uma foto aqui. – disse o pequeno Levi, caçula de 6 anos de idade

- Muito obrigada lindo.

Soltei um beijinho pra ele. Olhei a foto, minha nossa! Levi era uma miniatura de Raul, e Raul, nossa que gato!

- Agora eu posso entrar na mente dele.

 Eu me concentrei e por alguns minutos fiquei parada no ar.

- Ele está andando rápido, nervoso. Está indo para o porto, tem uns garotos lá, eles estão gritando com o seu irmão, alguns o empurram, querem roubar, seu irmão está com raiva e ele ergueu as mãos e... Fez uma tempestade e derrubou os garotos no mar. Está correndo de volta pra cá, eu acho.

Cai no chão.

- Tempo demais. Preciso praticar mais um pouco. Ajudei?

- Ajudou muito, vou esperar ele chegar, pode terminar o jantar?

- Claro, mas se eu explodir a...

- Nem pense nisso.

Não era uma boa hora para brincadeiras.

Levi ficou comigo e Diana foi esperar o outro irmão do lado de fora.

- Você pode voar?- ele perguntou de repente

- Eu?

- É.

- Mais ou menos. Eu consigo fazer as coisas voarem. Preciso praticar mais.

- Sabe, eu estou trabalhando em uma coisa. – disse com uma maturidade incomum

- No quê? – perguntei curiosa

- Eu consigo aprender a desenvolver os poderes.

- Ham?

Eu estranhei, conhecia todos os tipos de poderes nunca havia ouvido falar disso.

- Eu consigo aprender se você me ensinar...

- Eu bem que queria mais eu vou embora amanhã...

- Você não manda em mim! – gritou uma voz estranha

Era Raul, pessoalmente mais gato ainda!

- Raul volte aqui! Eu só quero o seu bem!

- E eu quero o meu irmão de volta!

- Você sabe que não podemos nos arriscar tanto assim!

- Eu não tenho nada a perder.

- Você tem uma família.

- A nossa família acabou quando nossos pais morrerem, para de fingir que está tudo bem. Tá tudo errado, tá tudo ruim Diana. Vou pro meu quarto.

Fiquei com pena dela, ele estava sendo injusto, tudo bem que compartilhávamos do mesmo desejo, mas eu realmente não tenho o que perder, sem família, amigos ou qualquer que coisa que pudesse me fazer desistir, mas ele tinha uma família, mesmo sendo apenas os dois irmãos, ele tinha, não devia jogar tudo pro ar e se lançar em missão suicida como essa. Será que valeria a pena mesmo? Não, perder mais um irmão seria inaceitável para Diana.

Levi ficou olhando para a briga dos mais velhos.

- Eles sempre discutem porque Raul quer ir salvar o Bruno. Mas nunca entram em um acordo.

- Faz quanto tempo que o seu irmão foi levado?

- Seis meses, e seis meses que moramos aqui. Há quanto tempo você está sem sua irmã?

- Seis anos. Faz seis anos que minha irmã está longe de mim.

- E você ainda não desisitiu?

- Eu nunca vou desistir. Ela é udo pra mim, sabe o desejo que a Diana tem de proteger vocês dois? É o que eu sinto por ela. Eu penso em tudo que ela está passando nas mãos do doutor K, eu tenho necessidade de salvá-la não vou conseguir dormir direito enquanto não fizer isso...

- Bem que eu queria fazer isso. - disse Diana disparando em um choro que dava dó de ver.

Fui consola-lá.

- Diana, você não tem culpa do que aconteceu, você está fazendo o certo agora, Levi deve ser protegido a todo custo, um dia Raul vai se conformar. Não chore. - eu disse sem acreditar nas palavras que saiam de minha boca, sabia por experiência própria que era difícil se conformar com uma coisa dessas. 

Abracei minha nova amiga. Recebi o abraço de volta. Esqueci completamente do que eu havia deixado no fogo. Alguns minutos depois, Raul desceu as escadas correndo.

- O que é que tá queimado aqui hein?

- Droga esqueci o arroz!

Saltei do sofá e fui a cozinha, o cheiro estava horrível. Raul foi tirar do fogo, se queimou soltou a panela e por pouco ela não cairia nos seus pés se eu não tivesse segurado no ar, a pouco centímetros de seus pés.

- Consegui!

- Muito obrigada... É...

- Alice. Alice Melodee

Ele ficou me olhando.

- Prazer Alice, eu sou o Raul. - disse estendendo a mão pra mim.

Peguei em sua mão, e ele gritou.

- Aí.

Soltei a panela sem querer.

- Ai droga, me desculpa.

- Tá queimando.

Fiz a panela voar novamente e a coloquei em cima da mesa.

- Me perdoe.

- De boa, agora eu preciso de gelo, eu não aguento nem andar.

- Quer ajuda?

- Se você puder...

O ajudei a andar, poderia tentar fazê-lo flutuar mas eu não tinha treinamento suficiente pra isso, então poderia acabar causando outro acidente. Diana estava adormecida no sofá. Raul passou alguns segundos olhando pra ela.

- Ela ama você.

- Eu também a amo. Do meu jeito mas a amo.

Em seu quarto, deitado na cama, Raul falava sobre sua vontade de salvar o irmão, Rafael.

- Sabe, eu lembro de quando estávamos todos juntos, era tudo muito melhor, já não bastava perder nossos pais, tínhamos que perder o Rafa também? Eu não consigo me conformar com isso!

- Eu entendo você. Quando minha irmã sumiu eu ainda era pequena, mas eu ainda sinto falta dela, e eu sei que eu vou conseguir. Não me importo de perder meu poder, eu só quero a minha irmã de volta, ela é a única família de verdade que eu tenho.

As lágrimas vieram aos meus olhos. Raul ficou olhando pra mim.

- Desculpe, eu aqui reclamando e você não tem ninguém além dela... Eu te entendo muito bem.

Senti algo estranho na minha cabeça, era um aviso de perigo.

- Essa não!

- O que está acontecendo?

- Eles estão vindo.

- Eles quem?

- Não sei. Só sei que são do mal. Um é ruivo e tem olhos verdes, outro é loiro, tem dois morenos e enormes que fazem esfera de energias com as mãos, são gêmeos e eles não estão com a cara boa.

- São a guarda do Doutor K. Jeff, Match, André e Andréias. Temos que sair daqui.

- Não dá tempo. Eles estão só a cinco minutos daqui.

- Vamos avisar a Diana.

Na sala ela se remexia desconfortável no sofá.

- Diana, acorda, temos um problema.- chamei

- O que foi?

- A guarda de doutro K está vindo pra cá! - disse Raul, por mim.

- O quê?! Vamos fugir!

- É tarde demais. Eles já estão aqui.

- Há não!

- Levem Levi daqui! Agora mesmo.- ela ordenou

E então ouvi a freada do carro.