Uma Grandeza Absoluta escrita por Kalhens


Capítulo 6
Eu não presto


Notas iniciais do capítulo

Ficou um capítulo bobinho, já aviso logo.
É mais para tentar pegar o ritmo da coisa de volta.
Boa leitura o/



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– Isso aqui é um seno?

– Deve ser.

– ISSO é um ‘’s’’ ?

– Sei lá, cara, deve ser.

De longe, deu pra ouvir o susto que o porteiro do prédio levou quando a Mariana bateu a ata com tudo na mesa.

– Será que dá pra ajudar, Flávio!?

– Desculpa, eu tava com sono quando escrevi!- ele gesticulava, muito, enquanto falava- E eu estou com sono agora.

– Decidiram se é um seno ou não?- A gente tirou no dois-ou-um e eu acabei encarregado de escrever o relatório. Seriedade, sempre.

– Bota que é, a gente nem tem tempo para descobrir mesmo...- Mariana reclamava e reclamava, tentando decifrar as anotações de Flávio.

Adoro esses caras, mas se tem algo que física experimental faz, é destruir amizades.

Ninguém consegue se manter o mesmo depois de ter que passar quatro horas – seguidas- vendo uma merda de uma bolinha ir de um lado prum outro, pendurada numa haste de ferro, anotando cada maldito ângulo que a haste faz com a perna da mesa.

Ressaltando que o Flávio, nosso querido Flávio, aquele ali, aquele beeeem ali, ainda nos fez o favor de chutar o pêndulo (haste com bolinha na ponta) quando levantou pra ir comer.

Sabe o que isso significa?

Mais duas horas no maldito laboratório.

– Matheus, falta muito ai ainda?

– Na verdade, não. Falta mais os dados da ata mesmo.

– Hum. Então, vai lá comer alguma coisa. Cê tá com uma cara péssima.

E essa é a Mariana. Uma pessoa engraçada que pode ser incrivelmente grossa e gentil numa mesma existência. Um dia ela joga na sua cara que você não lembra como se calcula o volume de uma esfera, no outro está doando o rim pra você.

– Valeu, mas eu já tomei café...

– Mas, olha, a Mari tem razão- Flávio se debruçou na mesa, ajustando alguns cálculos- você tá horrível. Quer conversar?

– Não. Quero só terminar o relatório...

Ele deu de ombros, e me mostrou o visor da calculadora, para que eu colocasse o valor em algum lugar.

Na verdade, eu queria conversar. Mas como é que eu deveria começar?

‘’ Obrigado pela preocupação. É que eu beijei meu ex-namorado ali no carro agora à pouco e ele saiu correndo logo depois. Eu fiquei meio sem saber o que fazer. Sugestões?”.

Genial.

Eu me sentia num daqueles filmes que a Jéssica adorava. Aqueles romances. Sempre tem o começo, a parte feliz, a parte que tudo dá errado e, depois, o final emocionante. Tirando aquele Orgulho-e-sei-lá-mais-o-que. Nele não tem a parte feliz antes de tudo dar errado.

É, acho que era meu caso.

Ou será que a parte feliz já tava contando quando a gente tava na escola?

Então... Agora é a parte triste?

Se for assim, o próximo passo é o final emocionante.

...

Beleza, Matheus. Beleeeza. Comparando sua vida com comédias românticas.

Apenas volte a formatar tabelas.

– Matheus?

– Fala.- tabelas, tabelas, tabelas.

– Você está fazendo careta pro meu computador.

Sabe quando o dia se arrasta? E, ao mesmo tempo, passa incrivelmente rápido?

Foi assim. Cada minuto parecia que nunca passava mas, quando passava, tinha sido tão inútil e vazio, que eu nem senti ele passar.

O relatório já estava enviado.

Eu já tinha feito um capítulo inteiro de cálculo.

Já tinha caído no sono na biblioteca.

A Jéssica já tinha encontrado meu corpo numa mesa, e me arrastado para o almoço.

E, agora, eu já estou aqui, no escuro da garagem do apartamento da minha vó. Sozinho, pensando na vida.

Só eu, e esse celular vibrando na minha mão.

‘’Larissa’’, diz o visor do celular, com a foto de alguma garota de cabelo colorido desses animes da vida, agarrada ao pescoço de um Lucas de cabelos loiros.

Eu deveria atender logo, né?

Parou de vibrar.

De acordo com o celular, é a décima-quarta vez que a nossa amiga ‘’Larissa’’ liga.

Eu poderia ter atendido.

Eu, possivelmente, deveria avisar ao Lucas que estou com o celular dele.

É. Ambas seriam coisas corretas à se fazer.

Começou a vibrar de novo.

Coloquei no bolso.

Tranquei o carro.

Apertei o botão do elevador.

Dei boa-noite para a moça do andar de cima.

E, em todo o meu dia, esses foram os minutos realmente significativos depois que alguém saiu do meu carro, largando um celular lá.

Sabe por quê?

É tipo a primeira lei de Newton.

Mas tipo, um corpo em repouso não fica necessariamente em repouso. Se aparecer uma força externa, ele se mexe.

Eu tentei. Eu realmente tentei ficar quieto. O que eu fiz de manhã foi um erro, estou ciente do fato. Eu tentei deixar a força se dissipar ao longo dos meus minutos idiotas.

Mas, se as forças superiores querem que eu me mexa, vamos lá.

Eu estou inventando desculpas idiotas só para justificar meus atos, e divagando com palavras bonitas enquanto roubo o celular de alguém.

Senti vibrar de novo.

Como se eu me importasse.


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Notas finais do capítulo

Não sei se deu pra perceber, mas eu não gosto de física experimental '-'
Alias, muitas das coisas dessa história são baseados em fatos verídicos.
E, acredite, poucas coisas me deixaram com tanto ÓDIO, quando vi meu pêndulo ser chutado no meio da coleta de dados.
*Desabafo*.
Enfim!
Críticas, sugestões, brigas, sugestões de livros de física, estamos aqui o/
Se tudo der certo, agora a coisa engata, porque eu quero terminar logo essa história o//
Até.



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