Uma Grandeza Absoluta escrita por Kalhens


Capítulo 5
Dupla personalidade.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura o/



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              Olhou para a sombra que adivinhava ser a de Lucas, ali, na cama debaixo.

              Sua tia estava por ali, em algum lugar. Dava para ouvir as risadas, enquanto ela trocava de voz.

              Contava sobre a ultima peça que encenara.

              Rolou na cama. Era desconfortável.

              Será que ele também estaria desconfortável?

              Rolou-se de volta, apoiando-se na beira da cama, os olhos mais e mais acostumados ao escuro, divisando o cobertor que marcava o corpo de Lucas.

              Estava frio. Estava chovendo lá fora.

              Cutucou a forma indistinta, que só fez resmungar.

              Ele estava dormindo?

              Chamou. Algumas vezes. Cutucando.

              Estava fingindo!

              Rolou-se, em ataque, para a cama debaixo, silenciando os protestos de Lucas com a mão.

              Brigaram, discutiram, apertados, um tentando empurrar o outro pro chão, tão próximos.

              Dava pra sentir. Tão quente. Tão juntos. Apertava o menino de cabelos negros em seus braços, rindo, enquanto ele tentava sair, tímido, reclamando mil vezes que alguém podia abrir a porta.

              Num sussurro, ouviu seu nome ser chamado...E de novo. Mais uma vez, perdido entre beijos...

              - Matheus...Matheus...Matheus, MATHEUS, DROGA!

              Senti dedos esse enfiando pelo meu rosto, me empurrando.

              - Sai. De. Cima! Você está me esmagando!- sussurrava alto.

              Ah! Me sentei na cama, enquanto via um Lucas irritado e de olhos avermelhados se encolhendo, como se estivesse tentando manter uma distância de segurança.

              - A gente dormiu junto?

              - Não, animal, VOCÊ despencou em cima de mim! Ficou rolando tanto na droga da cama que caiu!

              É, pelo visto ele sempre acorda de mau-humor...

              Não, pera. Acho que não é bem essa a questão.

              Alcancei o celular, enfiado debaixo do travesseiro na cama de cima. Cinco e meia da manhã.

              Ainda estava escuro lá fora, e ainda estava chovendo.

              Ou chovendo de novo, sei lá.

              Não é como se fizesse diferença.

              Levantei, me esticando, enquanto Lucas tombava de volta no travesseiro.

              - Deita não, que a gente já vai sair.

              - O quê!? O sol nem nasceu ainda!

              - Grandes coisas. Eu tenho que ir e você vem comigo. Anda, levanta- agarrei o cobertor.

              Talvez, com um pouco de força demais.

              ...Tá, eu joguei ele no chão, mas foi sem querer.

              Ele se levantou, o humor cada vez mais estragado. Esfregou os cabelos loiros, se esticando.

              Hum. Eu me lembrava dele bem um palmo mais baixo do que eu... Mas agora nós tínhamos basicamente a mesma altura... Se eu tenho uns 1,75, ele deve ter também seus um e setenta e tanto...

              - Suas roupas estão lá fora. Quer que eu pegue pra você?

              Ele acabou dormindo com um pijama do meu avô. No caso, uma blusa listrada e um short que mal chegava na metade das suas coxas magras.

              Foi o que minha avó achou.

              Por que, de todos as roupas, minha avó só guardara aqueles pijamas do meu avô, era coisa que só o oportunismo da minha tia podia explicar.

              - Por favor...- bocejava, cheio de má vontade.

              Não é como se eu mesmo quisesse sair de casa àquela hora. Mas agora, fala isso pra Mariana!

              Joguei as roupas em cima dele que, por sinal, já estava desmaiado de volta na cama, antes de ir pro banheiro.

              Caraca. Terceira semana de aula e eu já estou com uma cara péssima.

              E preciso cortar o cabelo. Urgente.

              Minha mãe tinha o cabelo liso e o do meu pai era todo cacheado. Acho que não é assim que a genética funciona, mas o meu ficou no meio. Nem faz cacho nem fica liso, só crescendo nessa coisa indefinida e difícil de pentear.

              Alguém bateu na porta.

              - Matheus, seu celular tá tocando!

              Olha, pelo menos ele já trocou de roupa.

              Atendi, nem precisava olhar no visor.

              - Cê já tá vindo?

              - Bom dia pra você também, Mariana. Vou sair de casa agora, por quê?- falava enquanto saia do banheiro, sinalizando pro caso do Lucas querer usar.

              - Não, só pra você levar seu computador. Tô indo agora, vou só pegar o Flávio.

              Que seja. Peguei o notebook largado na mesa e comecei a árdua batalha de enfiá-lo na mochila sem tirar, nem destruir, o que já estava lá dentro.

              Depois de café tomado, descemos para a garagem. Minha vó e minha tia sequer derem sinal de vida. Lucas tinha dito que ia comigo pra faculdade. Ai, pegava as chaves de casa com a tal da amiga.

              A parte boa de sair de casa às seis da manhã, é a falta de trânsito.

              Se acordar cedo não fosse tão chato, saia nesse horário toooodo dia.

              Sério.

              - ...Matheus.

              - Fala- abaixei o volume do carro.

              -....O...Obrigado. Por me deixar ir pra sua casa e tudo o mais...

              - De boas. Só que você devia ter umas chaves reservas, hein.

              Pausa. O rádio ainda baixo. Já estava para aumenta-lo de volta, quando Lucas não deixou.

              - É.. O que vocês vão fazer?

              - Relatório de física experimental.

              - Tem que ser agora?

              - A gente tem que entregar meio-dia. Mas todo mundo tem aula a manhã inteira.

              - E por que não fizeram antes?

              - A gente descobriu que era pra hoje ontem. Me mandaram mensagem era uma hora da manhã...

              - E por que não fizeram ontem?

              - Porque os dados estavam com o Flávio, e ele simplesmente não viu a mensagem.

              - E como vocês sabem que ele vem agora se ele não viu a mensagem?

              - A Mariana vai trazer ele. E, acredite. Ela VAI trazer ele.

              - Hum... E....

              - Por que você está fazendo isso?

              Pausa.

              - Isso o quê?

              - Se esforçando para manter uma conversa. Não precisa fazer isso, sabe.

              Silêncio.

              Silêncio. E mais silêncio.

              Aquele, meio desagradável.

              Ok, eu sei que isso foi desnecessário.

              - Desculpa. É só que não parece muito você. Parece que você está se forçando a ser legal. Sei lá. Parece o Lucas de cabelo preto, mas não o Lucas loiro.

              - Pelo amor dos deuses, eu tenho que mudar de personalidade quando eu mudo a cor do meu cabelo agora?

              - Ai, tá vendo. Isso ai parece mais o Lucas loiro.

              - Quer parar com isso de ‘’Lucas loiro’’?

              - Nah. Tá tudo bem. Eu gosto dos dois. Tá, o Lucas moreno era mais fofo, mas eu gostei dessa sua versão também.

              Silêncio.

              - Ai, agora parece o Lucas moreno de novo. Viu? Era assim quando a gente tava na escola. Volta e meia eu falava alguma coisa, e você ficava quieto do nada. O Lucas loiro é mais respondão.

              Sem resposta.

              Mau-sinal.

              Acho. Só acho. Que eu fiz alguma coisa errada.

              Olhei pro lado.

              Percebi. Ele estava mordendo a boca, olhando pra baixo.

              Merda.

              Merda, merda, merda.

              Fiz a curva fechada que dava no prédio das engenharias, o volume do carro ainda baixo, Lucas ainda quieto.

              Ele podia falar o que quisesse mas, parecia, sim, que tinha dois Lucas ali.

              E, aquele ali do meu lado agora era, com certeza, o de cabelo preto...

              O Lucas... Aquele mesmo Lucas...

              Eu juro que eu não queria. Mas antes de virar a chave do carro e desligar o motor, eu não resisti.

              A culpa foi dele. Acho que se não tivesse chego ao ponto de morder a boca, eu não teria feito nada.

              Mas aquilo...Era nostálgico demais.

              A Jéssica depois, disse que aquilo foi ‘’clichê’’.

              Na hora, foi só um beijo. 


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Notas finais do capítulo

Agradeço à todos que leram!

Até,

Kalhens.



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