Não demorou muito para que Peeta fosse para casa. Gale, por outro lado, ficou um pouco mais conversando comigo e com Annie e acabou me convencendo, ou melhor, me intimando a fazer o trabalho de filosofia com ele. E como eu não tinha escolha, aceitei.

Na manhã seguinte, Annie disse que estava indisposta então eu a convenci a ficar em casa, o que foi difícil, considerando a pessoa insistente que ela conseguia ser quando queria. Mas no fim, eu consegui.

Acabei pegando uma carona com Effie para o colégio, e ainda no carro, avistei Gale me esperando na porta.

– E aí, Catnip – Ele disse ao mesmo tempo em que me dava um apertado abraço de urso.

– Oi – Foi o que consegui dizer enquanto me desvencilhava de seu afago.

– Annie não veio com você? – Disse franzindo a testa enquanto me soltava – Aconteceu alguma coisa? Nem mesmo o fim do mundo faz aquela garota faltar o colégio.

– Ela não estava se sentindo muito bem, então eu a convenci a ficar em casa.

– Puxa! – Ele exclamou surpreso – Mas que poder de persuasão é este que conseguiu fazer Annie faltar o colégio! – E começou a rir, contagiando-me junto.

Eu e Gale nos despedíamos no corredor, já que na minha primeira aula do dia eu não teria sua companhia.

– É sério, Catnip – Dizia Gale segurando-se para não cair na gargalhada – Não precisa chorar. Você só ficará sem mim durante uma aula.

– Cale a boca, Gale – Disse empurrando-o – Vá para a sua aula – E me virei encaminhando-me para a entrada da sala. Por ter perdido certo tempo escutando as babaquices que Gale dizia, ao entrar na sala ela já estava quase cheia e não havia nenhuma mesa vazia. Ou seja, teria que me sentar com alguém que eu não conhecia.

Fui para o fundo da sala e sentei-me ao lado de uma garota loira que me parecia um tanto quanto familiar.

– Posso me sentar aqui? – Perguntei um tanto receosa para a garota que conversava com alguém atrás dela.

– Claro – Disse ela virando-se em minha direção com um sorriso estampado no rosto, mas logo sendo substituído por um olhar curioso – Ei! Eu te conheço de algum lugar – Ela disse enquanto me analisava.

– Você também não me é estranha – Concordei. Ficamos assim por algum tempo até que...

–Já sei! – Disse subitamente a garota loira ao meu lado – Você é aquela garota do avião. Não se lembra de mim? – Perguntou ela, esperançosa – Sou eu, Madge.

– Ah sim – Disse recordando-me daquele dia. Meu humor não estava dos melhores o que me surpreendeu o fato de ter feito algo parecido com uma amizade aquele dia – Puxa, que coincidência.

– É verdade – Disse ela voltando a sorrir – Qual é o seu nome mesmo?

– Katniss – Respondi rapidamente.

– Muito prazer novamente, Katniss – Disse ela brincalhona.

– O prazer é todo meu, Madge – Completei sorrindo.

A aula transcorreu normalmente até aquele momento

– Bem, agora eu vou querer dois voluntários para fazer a demonstração – Disse o professor energicamente – Alguém se voluntaria? – Ele esperou alguns segundos, então completou – Ninguém? Então eu terei que escolher – Ele analisou a turma por alguns instantes então disse – Sr. Mellark, poderia vir aqui na frente um instante? – Até aquele momento eu não havia notado que o Mellark era daminha sala – E Srta. Everdeen, por favor – Disse o professor, tirando-me de meus devaneios.

– Vai lá – Insistiu Madge percebendo minha insistência em fingir que não era comigo. Finalmente eu me levantei e caminhei até a frente da sala. Mais especificamente, ao lado do Mellark.

– Eu vou precisar da ajuda de vocês dois – Disse o professor referindo-se a nós. Nós concordamos e ele prosseguiu – Bem turma, Peeta Mellark e Katniss Everdeen irão demonstrar do processo de duplicação celular – Dessa vez ele se referia a toda a turma – A mitose é um mecanismo pelo qual células dão origem a outras. Desse modo, é necessário que todas as peças (células) que o compõe estejam em harmonia e funcionando adequadamente - Ele se virou para nós e disse para que nos abraçássemos. Virei-me para o Mellark sem saber ao certo o que fazer, então deixei que ele migrasse um de seu braços para minha cintura e outro para minha nuca o que produziu calafrios no local. Permiti-me então, abraçar suas costas e ficamos ali enquanto o professor prosseguia. Contudo, nada do que saia de sua boca chagava aos meus ouvidos que estavam ocupados demais escutando as agitadas batidas do coração do Mellark. Até que ele se desvencilhou de mim e eu percebi que o professor havia chegado à parte da Telófase. “Maldita Telófase” Gritei mentalmente.

Caminhei de volta ao meu lugar com o Mellark ao meu lado o que foi bom porque tropecei em meus próprios pés e teria caído de cara no chão se ele não tivesse me segurado.

– Obrigada – Murmurei.

– Assim a gente compensa a ajuda de ontem – Murmurou baixo o suficiente para que somente eu pudesse ouvir. Me permiti sorrir e voltei à minha carteira ao lado de Madge.

– Mas que sorriso é este estampado no seu rosto? – Perguntou uma Madge sorridente e com o olhar de segundas intenções.

– Sorriso? – Tratei de ficar séria rapidamente – Que sorriso? – Madge apenas sorriu e virou-separa frente.

A aula finalmente chegou ao fim. Pedi para que Madge não me esperasse, pois eu ainda iria arrumar minhas coisas dentro da bolsa, então nos despedimos. Finalmente terminei, e já estava saindo da sala quando sinto uma mão me segurando. Quando me viro, dou de cara com um belo par de olhos azuis.

– Oi – Ele disse com um lindo sorriso no rosto.

– Oi – Respondi, simplesmente.

– Até que eu gostei daquela demonstração lá na frente – Ele disse tentando ser simpático.

– Eu não – Disse. E assim que as palavras saíram de minha boca percebi que o sorriso que estava estampado em sua face até agora murchar – Bem, é que... – Não sabia como explicar – Eu não gosto de chamar muita atenção. E aprovo a ideia de professor lá – Disse apontando para a frente da sala – E nós aqui – Apontei indicando as carteiras.

– Ah, entendo – Ele disse com aparente alívio. Ficamos nos encarando por um tempo até que eu quebrei o silêncio.

– Eu tenho aula agora – Disse indicando a porta.

– Sim, claro – Ele disse rapidamente – Então serei breve – É que vai ter uma festa hoje lá em casa, e eu queria que você fosse. Chame a Annie também, eu não a vi hoje. Aconteceu alguma coisa?

– Não, ela só não estava se sentindo muito bem, então eu a convencia a ficar em casa.

– Ah, sim – Diga a ela que eu desejei melhoras.

– Claro – Disse simplesmente. Não sabia o que mais dizer até porque nós não nos conhecíamos muito bem, então deixei que o silêncio pairasse.

– Eu já vou então – Ele disse após um tempo, percebendo que não conversaríamos sobre mais nada.

– Eu também, tenho aula de história agora – Disse enquanto fazia uma cara do tipo “ninguém merece”. Dito isto, ele se retirou deixando-me com a visão de um Gale notavelmente aborrecido.

– Oi – Cumprimentei após caminhar até ele.

– Oi – Disse secamente – O que estava fazendo conversando com o Mellark? – Perguntou ríspido.

– Não te interessa, Gale – Disse igualmente seca – Só porque você não se dá bem com o Mellark, não significa que eu tenha que odiá-lo também.

– Foi mal, Catnip – Disse ele aliviando o tom de voz para algo mais brando – É que aquele cara é um idiota, e eu não quero que ele faça contigo o mesmo que fez com a minha irmã.

– E ele não vai fazer, sabe porque? – Disse olhando-o nos olhos – Porque eu não sou loucamente apaixonada por Peeta Mellark como todas as outras garotas desta escola. Fala sério, eu tenho amor próprio! – E dito isso, comecei a arrancar gargalhadas de meu novo amigo – Mas me conta – Comecei assim que conseguimos voltar a respirar normalmente – O que aconteceu entre o Peeta e sua irmã?

– O de sempre – Ele disse – O Mellark seduziu minha irmã, e quando conseguiu o que queria, simplesmente largou ela de lado e foi atrás de outra pra cair na ladainha dele.

– Mas é que, sei lá...

– Você acha que ele não parece ser assim? – Ele me interrompeu – É, ele nunca parece. Mas é o que ele é. E acredite que ele irá fazer a mesma coisa com você se você deixar.

– Eu já disse que não vou deixar ele fazer nada, Hawthorne! – Ele já estava começando a me estressar com isso.

– Tudo bem, me desculpe – Disse estendendo as mãos para o alto num típico sinal de”eu me rendo” – Prometo não falar mais nada sobre o Mellark.

– Assim está bem melhor – Dito isto, começamos a caminhar para a próxima aula, que por sinal ficávamos juntos.