Living Again escrita por Everllark


Capítulo 14
Tristeza, minha velha amiga


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



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Domingo.
Ainda bem que era domingo, pois eu estava completamente acabada. Nunca havia me sentindo tão cansada assim. No entanto não me lembro de algum dia ter dançado tanto quanto na noite passada.
Já passava do meio dia e minha disposição para sair da cama estava perdida em algum lugar.
Na noite de ontem eu havia dançado sem me preocupar com a música, passos, as pessoas ao meu redor ou com quem eu estava dançando. Eu estava fazendo algo que não fazia a muito tempo. Me divertir. E isto me proporcionou uma sensação maravilhosa. Não me lembrava do quão bom era se divertir entre amigos. Na verdade, eu não me lembrava da última vez que tive amigos.
Desde que o Finn se foi, eu passei a me fechar em minha bolha particular o que contribuiu para que as pessoas começassem a se afastar de mim. É claro que assim eu pude ver quem eram os meus verdadeiros amigos; ou melhor quem não era, pois todos passaram a se afastar de mim.
No início a ausência deles não fazia falta, uma vez que a dor da perda impedia que qualquer outra se instalasse em meu peito. Mas com o tempo eu passei a perceber que ficar remoendo aquela dor não seria o suficiente para esquecer a minha vida. E quando eu recebi a carta do Finnick tudo ficou pior. Descobrir que ele sabia o que estava prestes a acontecer foi a pior parte. Como ele conseguiu pensar em mim quando a única vida que estava correndo risco era a dele? Se ele tivesse se importado apenas com ele próprio talvez ainda estivesse aqui.
Ignorei as reclamações do meu corpo e caminhei em direção ao meu armário.
Abaixo das gavetas havia um espaço pequeno, mas suficiente para um pequeno envelope branco. Nele havia, escrito com uma letra extremamente cuidadosa, o meu nome.
Eu ainda podia lembrar do dia que recebi esta carta.
Meus pais haviam acabado de se divorciar e eu estava, como sempre, em baixo da antiga macieira que havia no nosso quintal. Meu pai estava terminando de buscar suas coisas para trazer para Louisville, pois ele havia aceitado uma proposta de trabalho que havia recebido antes de Finnick ir para a faculdade. No início ele havia recusado, mas devido às circunstâncias foi obrigado a aceitar.
Eu estava ouvindo música, a única coisa que me trazia alguma espécie de paz, quado Haymitch foi até mim segurando um envelope branco pequeno.
– É para você - Ele disse me estendendo o envelope.
– O que é isto? - Eu perguntei ainda com os fones no ouvido, negando-me a estender a mão para pegar o pequeno envelope branco.
– Uma carta - Ele disse, desviando os seus olhos dos meus - Uma carta do Finnick.
– Como... - As palavras não conseguiam sair. Eu não entendia porque Finnick havia escrito uma carta para mim. Será que ele sabia o que iria acontecer? Mas como?
Hoje eu entendo que ele sabia o tempo todo, e que tudo poderia ter sido evitado se Haymitch tivesse feito alguma coisa.
Senti algo na minha bochecha, e só então percebi que lágrimas brotavam de meus olhos enquanto eu apertava o pequeno envelope em meu peito. Pode parecer ridículo guardar este envelope depois de tanto tempo, mas esta é a última lembraça que tenho de Finn. E por mais que seja dolorosa, me permite, com toda a sua simplicidade, me lembrar do homem maravilhoso que ele se tornou. Um homem capaz de ignorar a própria vida em função dos outros a quem ama.
É tão doloroso pensar que com tanta gente má neste mundo, foram tirar logo o meu Finn. Meu único irmão. A pessoa que me entendia e me apoiava no que quer que fosse.
Se ele soubesse a falta que faz...
Ouvi batidas na porta, seguidas da voz fina de Effie:
– Katniss, querida. O almoço será servido logo logo - Ela esperou um pouco antes de prosseguir - Gostaria que se juntasse a nós.
Eu respirei fundo algumas vezes para que minha voz soasse normal. No entanto, foi em vão.
– Eu não estou com fome, Effie - Disse mais alto do que pretendia. Esperava que ela não percebesse a melancolia em minha voz.
– Está tudo bem, querida? - Notei um tom preocupado enquanto falava.
– Sim, está tudo bem. Só estou cansada. Chegamos tarde ontem e eu queria dormir mais um pouco. Está tudo bem, não tem nada o que se preocupar.
– Está bem, então - Ela parecia ter acreditado - Qualquer coisa chame a mim ou ao Haymitch - E então foi em bora.
Haymitch.
Com certeza eu chamaria o Haymitch se tivesse algum problema. Só em meus sonhos mesmo.
Guardei o envelope no lugar e fui tomar uma ducha bem quente para retirar as tensões do meu corpo. Se fosse em casa, minha mãe já estaria batendo na porta do banheiro para que eu desligasse o chuveiro, alegando que a conta de luz viria muito alta. Mas aqui, pelo visto, dinheiro era a última coisa com a qual os moradores desta casa precisam se preocupar.
Pelo visto aquela proposta de emprego dada a Haymitch foi realmente boa. Fico me perguntando o porquê dele não ter aceitado antes.

O domingo passou despercebido, permitindo à segunda dar o ar da graça.
Como sempre, acordei com as batidas frenéticas de Annie na porta. De uns dias pra cá passei a não ligar mais o despertador uma vez que Annie me acordaria de qualquer maneira.
As aulas foram tranquilas e por mais que as matérias não fossem das melhores, eu tinha Gale em quase todas elas para me acompanhar.
No intervalo, Peeta veio até mim e não pude notar a careta de insatisfação em Gale quando nos deixou a sós.
– E aí, tudo bem ? - Peeta hesitou um pouco, mas enfim me abraçou.
– Sim, está tudo bem
– O Hawthorne pode ser hostil, mas sabe dar privacidade a alguém - Peeta sorria de canto, enquanto olhava de rabo de olho para Gale que estava conversando com alguém - Não sei se eu agiria desta maneira... Você sabe, eu ficaria com ciúmes.
– Não há motivos para Gale ter ciúmes, até porque nós somos amigos - Odiei-me por não perceber antes de falar, o duplo sentido da frase - Você sabe... Eu e você e eu e ele.
– Claro, com certeza - Peeta passou as mãos pelo cabelo e acrescentou rapidamente - Ér... então a gente se vê.
Me deu um beijo na bochecha e seguiu seu caminho sem olhar de volta para mim.
– O que o mauricinho queria? - Gale disse assim que continuamos seguindo nosso caminho para a próxima aula. Eu olhei seriamente para e ele que rapidamente acrescentou - Tudo bem. Não é da minha conta.
– A questão não é esta, Gale - Isto já estava começando a me irritar - Eu entendo que você tenha raiva do Peeta pelo que ele fez com a sua irmã. Eu realmente também não aprovo, mas não custa nada tentar ser educado com ele.
– Eu deixei vocês conversarem em paz - Ele respondeu enérgico - Já é alguma coisa, não?
– É... talvez.
Decidi não continuar insistindo e seguir para a aula.
Depois da aula, dispensei a carona de Annie e fui passear com Gale, como havia prometido quando cheguei em Louisville.
– Afinal, para onde vamos? - Gale havia vindo de moto e eu precisava falar para tirar um pouco da tensão. Ficava arrepiada só de pensar que eu iria subir naquela máquina suicida.
– Ainda não sei - Ele disse me estendendo o capacete - Estou decidindo.
Peguei o capacete de suas mãos e tentei colocá-lo fracassadamente.
– Vejo que o placar está um a zero para o capacete - Ao invés de me ajudar, Gale ficava rindo da minha cara.
– Você podia me ajudar, sabia? - Eu queria demonstrar que estava chateada, no entanto, o sorriso em seu rosto permaneceu intacto.
– Não sei se estou a fim de acabar com esta cena hilária.
Continuei ali, parada encarando-o e ele finalmente veio me ajudar. Não era difícil, mas Gale tinha prática então realizou o processo em segundos.
– Pronto - Ele disse quando acabou de arrumar o capacete em minha cabeça - Preparada?
– Definitivamente, não.
Ele sorriu de canto e subiu na moto e eu agarrei sua mão e fiz o mesmo.
Quando a moto começou a andar, eu apertava tão forte em sua cintura que fiquei pensando se estava dificultando sua respiração. Mas como ele não reclamou, continuei ali, agarrada a única coisa que me impedia de cair.
– Pronto, chegamos na primeira parte do nosso passeio - Disse ele após a torturante viagem.
– A primeira parte? - Incentivei-o a prosseguir.
– Sim, eu disse que iria te apresentar à cidade. Lembra? - Ele sorria calorosamente.
– Ah, é verdade - Havia me esquecido, afinal, já se passara tanto tempo desde que eu cheguei - Então, que lugar é este - Disse enquanto observava uma construção rústica.
– Esta é a casa de Thomas Edison.
– Sério?! Nós podemos entrar? - Meu sorriso, provavelmente mal cabia no rosto.
– Infelizmente, não. Só está aberto para visitação de terça à sábado. E como hoje é segunda...
– Ah. É uma pena.
– Mas não foi para ver a frustração em seu rosto que eu te trouxe aqui. Nós viemos aqui porque quero te mostrar outra coisa, mas apartir daqui teremos que seguir andando.
– Prefiro andar do que subir naquela coisa de novo - Disse apontando para a moto.
– Você terá que subir nela de qualquer forma - Ele sorria cinicamente - Esqueceu que nós ainda teremos que usá-la para ir em bora?
– Prefiro não me lembrar disso. Agora, vamos.
Puxei Gale pelo braço e ele me guiou até uma ruazinha estreita que eu não havia reparado antes. O lugar era bonito e não parecia muito vistado.
– Achei que você iria me mostrar a cidade.
– Tecnicamente, aqui ainda é a cidade - Ele sorria - Mas qual é a graça de te mostrar algo que qualquer um mostraria? Quero te mostrar algo diferente, que te faça se lembrar de mim.
– Tem medo do esquecimento? - Não pude impedir o sorriso que se formou em meus lábios.
– Na verdade, tenho medo que você se esqueça de mim.
Preferi não falar nada e seguir nosso caminho calada.
A caminhada foi altamente exaustiva. Era uma subida e tive que me segurar em Gale diversas vezes para que não escorregasse.
Quando pensei que não aguentaria mais subir, entramos em uma grande clareira. O que me impressionou de imediato foi o formato, ela era perfeitamente arredondada e possuia flores silvestres de todas as cores imagináveis.
– É lindo, não? - Gale retirou-me de meus devaneios.
– Sim - Eu não sabia o que dizer. Nunca pensei que acharia um lugar assim em Louisville. Quando o avião se preparava para o pouso, pude visualizar pela primeira vez a cidade que fui obrigada a adotar como minha casa e a visão que tive não havia me proporcionado alegria. Sempre gostei dos parques de Denver e do ar frio devido a grande presença de vegetação, mas aqui em Louisville tudo o que eu conseguia ver eram prédios e mais prédios, casas e mais casas e nada de árvores, plantas ou qualquer outro tipo de vegetação que não houvesse sido projetada pelo homem.
– Venha, ainda tenho que te mostrar a melhor parte.
– E ainda tem algo melhor do que isso? - Eu duvidava.
Segui Gale, e andamos por mais duzentos metros até a extremidade da clareira que terminava em um precipício. Mas não era qualquer precipício. Quando se olhava para o horizonte era possível ver o sol se pondo atrás de montanhas tão altas que me perguntei como não havia as visto antes.
O clarão final que o sol nos proporcionava era suficiente para tornar alaranjada toda a atmosfera ao redor da montanha dando a impressão de que esta estava em chamas.
– Gale, isso é muito lindo - Eu não sabia como me expressar e a única coisa que eu podia pensar era em como isto era lindo.
– Eu sei - Ele se sentou no chão e eu fiz o mesmo, sem tirar os olhos da bela visão - Costumo vir aqui quando não estou muito bem e quero ficar sozinho. Ninguém nunca vem aqui, por isso é um bom lugar para refletir - Ele olhou para mim por um breve instante - E a visão é magnífica.
Eu olhei de volta para o sol que já estava quase completamente coberto pelas montanhas.
– Eu trouxe algumas coisas para nós comermos - Gale abriu a mochila que carregava e tirou algumas embalagens de biscoitos, doces, sucos e pães.
– Um piquenique? - Ergui uma sobrancelha.
– Não é bem um piquenique. Não é este tipo de coisa que se leva para um piquenique - Disse ele enquanto indicava os pacotes de biscoitos - Mas se você quiser considerar um...
– Bem, eu acho que vou considerar - Olhei para ele, peguei um pacote de biscoitos e completei - Até porque eu nunca fui a um piquenique.
– Está falando sério? - Ele parecia espantado - Se eu soubesse que você nunca havia feito um piquenique teria preparado algo melhor.
– Não há o que melhorar, Gale. Está ótimo - Mesmo que eu tivesse feito um pequinique algum dia, nunca seria em um lugar tão bonito como este.
– Katniss... - Ele hesitou por um instante.
– Diga - Olhei em seus olhos encorajando-o.
– Gostei muito de te conhecer - Ele passou as mãos pelos cabelos em um puro sinal de nervosismo que não passou despercebido por mim.
– Eu também gostei muito de te conhecer - Sorri para ele - Gosto muito de tê-lo como amigo. Acjo que posso até te considerar meu melhor amigo.
– Nossa, que honra - Ele parecia mais relaxado, mas eu acreditava que ainda havia algo que ainda queria me dizer.
– O que foi, Gale? Você parece estranho.
– Não é nada, deixa pra lá - Ele parecia envergonhado, nunca pensei que o veria assim.
– Se tem algo a me dizer, diga. Você sabe que pode confiar em mim.
– Essa não é a questão - Ele parecia refletir.
– Qual é a questão, então ? - Pressionei.
– A questão é que eu morro de ciúmes de você quando está com o Mellark.
– Como assim? Porque? - Eu não entendia - Eu acabei de te dizer que você é meu melhor amigo. Que motivo você teria para ter ciúmea do Peeta?
– Você já pensou que talvez eu não queira ser apenas seu amigo?
– O que você quer dizer com isso?
– Eu quero dizer que eu não gosto de você apenas como amigo, eu... - Eu não pude ouvir, pois meu telefone tocou neste exato momento, impedindo Gale de prisseguir.
– Alô - O número era desconhecido, logo eu não sabia quem era.
– Katniss, é o Haymitch - Maravilha - Onde você está?
Por incrível que possa parecer a sua voz tinha um tom preocupado e não imperativo, como eu estava acostumada a ouvir.
– Estou com o Gale, não sei bem onde. O que foi? - Tentei soar rude, mas a curiosidade me impediu.
– Preciso que você venha para casa - Ele parou de falar, parecia pensar em como me dizer - Aconteceu uma coisa. Preciso que você venha.
– Mas o que foi? - Eu estava começando a ficar preocupada.
– É melhor não te falar por telefone. Venha que eu te explico tudo - E desligou sem me dar a chace de insistir mais.
– O que houve? - Gale que estava me observando durantw toda a conversa com Haymitch, parecia preocupado.
– Eu não sei - Me levantei e fiz sinal para que ele fizesse o mesmo - Preciso ir para casa, aconteceu alguma coisa só não sei o que é.
Gale não ficou insistindo pois sabia que assim como ele, eu não tinha amínima ideia do que estava acontecendo.
A volta foi mais demorada do que eu queria, a curiosidade misturada ao medo me corroiam por dentro. Eu tentei não pensar em nada, mas milhões de teorias involuntárias começaram a se formar em minha mente.
Assim que chegamos na porta de casa, pulei da moto ainda de capacete e apertei a campainha enquanto Gale retirava meu capacete.
– Obrigada - Disse para ele enquanto a porta da sala abria, me revelando uma Annie preocupada.
– O que houve? - Disse assim que avistei Haymitch sentado na sala de estar com a cabela abaixada ente as mãos.
– Katniss, sente-se - Não me importei com seu tom e fiz o que ele mandou - Preciso que você mantenha a calma e seja forte.
– Será que dá pra parar de me enrolar e dizer logo o que está acontecendo? - Minha voz saiu um pouco histérica, mas eu não me importava.
Haymitch sentou-se ao meu lado.
– Katniss, eu preciso te dizer o real motivo para você vir morar aqui em Louisville comigo - Ele olhou em meus olhos, esperando que eu processasse antes de prosseguir - Você não veio para cá porque a empresa da sua mãe faliu.
– O que? - Isso era ridículo, por qual outro motivo minha mãe teria me obrigado a morar com Haymitch sabendo da repulsa que eu sentia por ele?
– Pouco depois de eu e sua mãe nos separarmos, ela passou a sentir umas dores na região lombar. Nós sempre nos comunicávamos, e ao me dizer isso eu disse para que ela fosse ao médico.
– Será que você pode ir direto ao ponto? - Só agora que reparei que estávamos sozinhos na sala.
– Depois de uma bateria de exames, sua mãe descobriu que estava com Mieloma Múltiplo, um tipo de tumor na medula óssea. Ele é um tipo de tumor primário, só que no caso da sua mãe, ele já estava bem avançado, impedindo a possibilidade cirúrgica...
Não pude mais ouvir o que Haymitch dizia, minha mãe estava com câncer devido a um tumor maligno e não havia como retirá-lo. Esta constatação caiu como chumbo na minha consciência. Eu não conseguia acreditar que isto estava acontecendo comigo. Não. De novo, não.
Eu não iria aguetar, a vida já havia me tirado meu melhor amigo e agora queria me deixar também sem minha mãe. A única pessoa que eu podia considerar como minha família. A pessoa que não me abandonou quando a vida quis me tragar para uma tristeza sem fim.
Agora eu não tinha mais ninguém para me amparar. Ninguém para cuidar de mim e dizer, mesmo que não acredirasse nisso, que tudo iria ficar bem.
Eu não me importava com as lágrimas que banhavam displicentemente meu rosto, mostrando o quão fraca eu sou. Eu não me importava que Haymitch estivesse me abraçando e dizendo palavras que eu não conseguia ouvir. Eu não me importava em lembrar de respirar, pois a única coisa que eu queria fazer agora era ser levada para junto de Finn e futuramente de minha mãe.
Não sei quanto tempo eu fiquei ali, parada, esperimentando a tristeza, minha vela amiga atê que senti os braços fortes de Annie me envolverem e chorei ainda mais.
– Eu pedi ao Abe para que deixasse você voltar para Denver. Se você quiser, é claro.
Eu não conseguia fazer com que nenhuma palavra saisse de minha boca e não era preciso. Annie sabia qial seria minha vontade, e por isso, assim que peguei no sono em seus braços, correu para arrumar minhas roupas em uma mala. Quando acordei, eu estava em minha cama e havia dias malas em frente ao closet. Caminhei até elas e lá tinha um bilhete de Annie.

"Seu voo é amanhã de manhã. Descance bastante.
Qualquer coisa estarei em meu quarto.
Eu sinto muito."

Eu não iria até o quarto de Annie e sabia que não conseguiria dormir, então decidi tomar um calmante, que sempre me dava sono e deitei novamente na cama.
Fechei os olhos mas não consegui ser puxada para a inconsciência, até que comecei a pensar: Porque só agora Haymitch resolveu me contar sobre a minha mãe. Talvez ele tenha me dito mas eu não prestei atenção. Só a constatação de que minha mãe estava morrendo era demais para mim.
Decidi então perguntá-lo.
Caminhei até seu escritório. Eu não tinha ideia de que horas eram, mas tinha esperanças de encontrá-lo lá.
Bati algumas vezes na porta e como ninguém disse nada, decidi abri-la.
A princícipio não o vi, pois estava escuro. Mas depois de observar o cômodo melhor consegui visualizá-lo sentado na cadeira com o rosto apoiado na mesa em sua frente.
Cheguei mais perto, ainda decidindo se deveria acordá-lo ou não. Foi então que vi um papel escrito a mão em cima da sua mesa. Mas o que me chamou a atenção foi a primeira frase.

"Caro Hay"

Só existia uma pessoa que chamava Haymitch desta maneira. Peguei cuidadosamente o papel e sai do escritório sem olhar para trás.
"Caro Hay,
Estou piorando a cada dia, de uns dias pra cá não tenho mais conseguido ficar muito tempo em pé, sendo necessário o uso de cadeiras de rodas. Os remédios nem sempre conseguem parar com a dor, apenas amenizá-la. Sinto tanta saudade da Katniss, mas não quero que ela presencie este momento da minha vida. Já foi duro demais para ela a morte do Finnick, e observar dia após dia a vida deixar o meu corpo só seria pior para ela.
Espero que eu tenha conseguido fazê-la me odiar ao mandá-la morar com você, pois assim, ela irá sofrer menos quando eu morrer.
Fiquei muito feliz quando me disse em sua última carta que ela está feliz e fazendo amigos. Queria tanto poder ver o sorriso em seu rosto.
Obrigada por cuidar dela e entender o quanto eu preciso do seu apoio neste momento. O médico disse que eu ainda tenho algumas semanas, o que me deixou ao mesmo tempo aterrorisada e aliviada.
Estou escrevendo uma carta para Katniss, e quero que você entregue para ela quando eu morrer. Ela estará em minha mesa no escritório, não será difícil encontrá-la.
Obrigada por tudo."

Eu não podia acreditar que toda aquela história que minha mãe havia me contado sobre sua empresa falir era invenção para me fazer morar com Haymitch e morrer achando que eu a odiava para que não sofresse tanto.
Eu não aguento mais as pessoas se sacrificando por mim. Primeiro Finnick e agora a minha mãe.
Será que eles não percebem que isso só piora as coisas?
Eu não quero a lembrança deles se sacrifcando por mim. Eu quero a figura covarde deles ao meu lado. O que importa é tê-los comigo, não importam as circunstâncias. Mas eles nunca fazem o que eu quero, e eu odeio isso.
O que eu não entendo é o porquê de Haymitch me permitir voltar para Denver, sabendo qual era a vontade de minha mãe. O que o fez mudar de ideia? Será que ele mandou outra carta após receber esta dizendo que me mandaria de volta para Denver ou eu iria chegar lá e encontrar minha mãe assustada com a minha figura parada em sua porta?
A verdade é que eu não me importo. O meu objetivo é voltar para casa, minha verdadeira casa e passar os últimos dias de minha mãe ao seu lado, sejam eles dez, vinte ou cem.
Não sei o que fez minha mãe pensar que o melhor para mim era receber a notícia de sua morte inesperada pela boca de Haymitch. Será que ela não entende que eu quero ficar com ela independente de como ela esteja?
Eu vou cuidar dela, assim como ela fez comigo, queira ela ou não.
E com esse pensamento, finalmente cai no sono.


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Notas finais do capítulo

O que acharam??



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