Chegou a minha vez de ser revistada.

- Esvazie seus bolsos - diz a treinadora.

Não tenho nada nos bolsos além de algumas notas fiscais amassadas.

- Esvazie-os – repete.

Seu tom é tão ameaçador que me faz entregá-la até os papéis de bala.

Ela me fuzila com o olhar.

- Esta me achando com cara de lixo? – pergunta, rígida.

A sala fica em silêncio novamente.

“Sim” alguém sussurra do lado esquerdo do cômodo.

Todos soltam um riso abafado. Escuto algumas gargalhadas censuradas pelo vice-diretor, que bate na mesa cm força, fazendo o barulho ecoar pelas paredes.

Saio da sala, sentindo as bochechas corarem.

- Aquilo foi demais.

Ai.Meu.Deus.

O garoto que estava me encarando.

Meu coração acelera, mas não sei exatamente por que.

- Mas... Eu não fiz nada – digo, arrastando a mala pela grama, agora úmida.

Seu tom é um tanto... Perigoso.

- Relaxa, não to zoando com você. Foi bem engraçado. Aliás, se quiser sobreviver a esse lugar, terá que fazer mais coisas assim. – ele sorri.

Antes que eu possa responder, ele some diante da escuridão.

Percebo que ainda estou sorrindo.

- De onde o conhece? – Vejo Logan sair correndo por de trás de uma árvore.

- Não o conheço – Rio de sua preocupação. – Por quê?

- Nada... Só não gosto dele.

Logan se preocupando comigo? Tem alguma coisa bem errada por aqui.

- Ele não tem cara de ser um psicopata assassino.

- Na verdade, eu achei um pouco...

Rio. Nunca conheci esse lado do Logan.

- Eu te achava com cara de assassino psicopata quando te conheci

- Claro – ele me ajuda com uma das malas – Um assassino psicopata de moletom velho e óculos.

Paro em sua frente. Tem tanta coisa que quero lhe falar.

Nunca tivemos a chance de conversar normalmente, sem a pressão que nossos amigos colocavam sobre nós.

Ele olha para mim, como se entendesse tudo que estou pensando.

- Eu lembro quando saímos pela primeira vez... – falou, quebrando o silêncio – Eu não dormi na noite anterior. Fiquei parado na porta da sua casa por horas e você nem deu sinal de vida. Cruel...

Sorrio.

- Meu pai abriu a porta...

- E já sabia o meu nome de cor.

Quando me toco, estou segurando sua mão.

Ele acaricia a minha bochecha, me puxando para perto.

Quanto mais ele se aproxima, mais sinto que tudo vai ficar bem.

Fecho os olhos.

Sinto seus lábios tocarem os meus.

Sinto com se voltando ao nosso primeiro dia.

Ao nosso primeiro beijo.