Meus pais se despedem de mim, em movimentos frenéticos com os braços, á medida em que me aproximo dos imensos portões de metal, que se abrem fazendo um rangido desagradável. Dou alguns passos.

Ouço o portão fechar atrás de mim.

Arrasto as malas com dificuldade pela grama alta, enquanto me aproximo de uma senhora de cabelos loiros, presos rigorosamente em coque em sua nuca.

Ela traja um vestido verde. O que a deixa impressionantemente similar á um grilo.

O pensamento me faz rir, um pouco.

Aproximo-me de um grupo que se acumula em volta da mulher, que fala e gesticula sem parar.

Alguns dos jovens pairam o olhar tedioso, procurando algo para se distrair, enquanto á mulher dá instruções rígidas sobre algo.

– Seus cômodos são por ali. - diz ela, por fim, sem se importar com a minha presença repentina. - Mas antes, passem no setor de revista. Precisamos saber o que estão trazendo consigo.

Revistar os estudantes me deu a ideia de algo estúpido.

Mudei de ideia, logo que vi alguns deles retirando estiletes e lâminas de seus bolsos.

É inútil tentar esconde-los por conta dos detectores de metal.

Sinto-me perdida em meio a centenas de olhares presos a mim. Olhares atentos e vingativos, normalmente acompanhados por três argolas de metal prateado, presos em suas sobrancelhas.

- June? – ouço uma voz familiar logo atrás de mim.

Viro-me, quase por automático.

                O dono da voz suave é um garoto alto, de cabelos curtos e ondulados, num tom sutil de avelã.

Encaro-o por alguns segundos.

- Logan? – pergunto, largando a alça de uma das malas – O que faz aqui?

A pergunta é idiota, mas fico feliz em vê-lo. Feliz até demais.

Não sei de onde surgiu tanta animação, afinal, não o vejo faz quase quatro anos.

É estranho olhar para o meu primeiro namorado alguns anos depois e lembrar-me de tudo que passamos juntos.

Na verdade, nós mal nos falávamos. Na maioria das vezes ficávamos de mãos dadas olhando em direções opostas, enquanto dividíamos a mesma música nos fones de ouvido. Mas eu gostava dele demais para perceber que aquilo nunca daria certo.

-Separem-se em duas filas. Do lado esquerdo os homens, do lado direito as mulheres. – escuto uma voz rouca nos auto-falantes estrategicamente pendurados nas paredes de concreto.

Logan sorri para mim, enquanto se afasta.

- Eu sou a treinadora Gilbert – diz uma mulher de baixa estatura, com cabelos excessivamente oleosos, presos por um elástico na nuca.

Ela anda pelo salão, enquanto segura o microfone com força.

Não duvidaria se ela o jogasse na cabeça de alguém, se o silêncio não fosse dissipado imediatamente.

Os gritos do salão diminuem gradativamente, até serem reduzidos a sussurros abafados.

                - Esse é o treinador Ronan – complementa, apontando para um homem igualmente baixo e acima do peso. – Pedimos que descartem qualquer tipo de material perfuro-cortante que possam estar portando. É restritamente contra o regulamento utilizar vidro, tesouras, estiletes, facas, facões, armas de fogo... – enquanto ela dita exemplos de materiais que não podem ser utilizados dentro do reformatório, escorrego o olhar para a fila à esquerda.

                Uma fileira interminável de garotos com feições entediadas.

                Desvio o olhar abruptamente ao ver que um deles olha na minha direção.

                - Cadáveres, explosivos, bombas, objetos que contenham energia nuclear, explosivos... – a mulher continua citando alguns objetos que nem o Bin Laden levaria para um reformatório de verão.

                Permito-me espiar a minha esquerda novamente, com o canto dos olhos.

                O garoto me encara sem qualquer censura, enquanto cruza os braços e apóia o pé direito na parede.

Sua feição independente denuncia que ele não é novato por aqui.