Dois dias haviam se passado desde que Lucy havia partido. Ninguém além do mestre Makarov sabia disso, uma vez que os selecionados para o exame não apareceram na guilda nesse meio tempo. Era a manha do terceiro dia quando um gato azul entrou na guilda se arrastando com enorme dificuldade e se jogou sobre a mesa onde Erza e Gray tomavam o café da manha.

– Oe Happy qual o problema? – Perguntou a maga de armadura.

– E onde esta aquele palito de fosforo rosa? Ele já esta atrasado. – Resmungou Gray enfiando uma colher na boca.

– Aye! Esse é o problema! – chorou o neko azul – Natsu sumiu tem dois dias!

– Hã?! Como assim “Natsu sumiu”? Explique isso direito Happy!!! – Exclamou Gray.

– Eu não seeeeeeeei!!! – mais lagrimas desciam dos seus olhos – No dia que o mestre anunciou o nome dos selecionados, ele ficou estranho. Ele não gritou e nem colocou fogo nas coisas como deveria ter feito. Ele ficou todo serio e depois disse que ia falar com a Lucy. Eu queria ir junto, mas ele não deixou! Então eu fui pra casa esperar, mas quando ele chegou... ele... ele... Haaaaaaa!!!!!

Agora o exceed chorava tanto que era impossível entender o que ele dizia. Foram necessários vários minutos e uma atenção especial de Charle pra ele finalmente se acalmar.

– Agora diga Happy: o que havia com o Natsu quando ele chegou em casa? – Erza perguntou com uma voz inacreditavelmente calma e paciente.

– Não era mais o Natsu! – choramingou – Ele estava acabado! Parecia que tinham comido todo o peixe dele! E também estava chorando e não parava de dizer coisas sem sentido!

– Coisas sem sentido? Mais do que o normal você quer dizer? – Gray tentou descontrair, e recebeu um olhar mortal da Erza em resposta. Pigarreou um pouco e tentou de novo. – Que coisas sem sentido?

– Ele ficava dizendo que era um monstro, que tinha machucado a Lucy, e mais um monte de coisas! Ele nem pareceu ouvir quando falei com ele, só ficou repetindo isso sem parar! Depois de um tempo eu acabei dormindo e quando acordei ele tinha sumido. Eu procurei em toda a parte, mas não o achei. Então resolvi olhar na casa da Lucy, mas quando eu cheguei lá ela também tinha sumido! Eu procurei eles por todo esse tempo, mas não achei!

Agora todos estavam realmente preocupados. Natsu sumir logo depois de voltar da casa da Lucy dizendo coisas suspeitas e logo em seguida a mesma desaparecer? Era estranho demais. Já estavam formando grupos de buscas quando a porta voltou a se abrir.

Na entrada estava um Natsu irreconhecível: imundo, cheio de cortes e arranhões, seus olhos estavam opacos e sem vida. Ele se arrastava pra dentro da guilda murmurando algo que parecia ser “Lucy... me desculpar... Lucy...”. Era realmente uma cena chocante e desoladora.

Antes que qualquer um pudesse reagir e sair do estado de petrificação o mestre apareceu e o arrastou pra cima deixando a todos confusos e preocupados.

POVS NATSU

Depois que eu sai da casa da Lucy naquele dia eu me sentia morto. Não, era pior. Eu me sentia um monstro. Uma coisa selvagem que havia assustado e ferido sua melhor amiga. Sua nakama. Uma das pessoas mais importantes da sua vida. Lembro-me de andar ate em casa, do Happy tentando me dizer alguma coisa que não pude ouvir.

Depois disso as coisas são como um borrão na minha memoria...

Uma floresta, alguns ladroes, mais floresta, uma verdadeira mata de espinhos e depois a volta pra guilda. Não sabia muito bem quanto tempo tinha se passado, mas eu precisava falar com a Lucy.

Quando finalmente entrei na guilda, todos me olharam em choque. Bom acho que não era pra menos eu devia estar horrível, mas eu não queria pensar nisso. Olhei em volta procurando a Lucy, mas ela não estava lá. Foi quando o mestre apareceu e me levou pra sua sala onde me encontro agora.

– Natsu me diga o que te aconteceu? – indagou o mestre.

– Eu... Não sei. Eu preciso falar com a Lucy. Tenho... Tenho que me desculpar...

– Natsu, a Lucy foi embora.

Aquelas palavras me doeram mais do que todos os ferimentos que eu já havia sofrido em batalha. Não podia ser verdade! Eu já havia perdido Igneel não iria perder a Lucy também!

– ONDE ELA ESTA?! PRA ONDE ELA FOI VELHO?! – Gritei me colocando de pé.

– Sinto muito Natsu, mas eu não tenho essa informação. E mesmo que tivesse não daria a você.

Eu não podia acreditar... O velho só podia estar brincando.

– A dois dias a trás, veio me procurar. Veio com uma historia estranha, sobre se afastar da guilda por um tempo. Disse que no momento sua magia era fraca e que se afastando de sua família ela poderia se tornar mais forte.

Em momento algum durante todo o discurso o mestre olhou pra mim e quando o fez seu olhar estava mais frio que qualquer magia do gelo.

– Não acreditei em nenhuma palavra do que ela disse. Ela estava visivelmente perturbada e com os braços enfaixados. Machucados. Queimados Natsu! Agora você vai me dizer o que diabos aconteceu entre vocês dois! – exigiu o velho.

Eu não tinha escolha então contei a ele tudo que houve naquele dia. Quando terminei, ele manteve a cabeça baixa por um tempo ate que finalmente falou.

– Você tem alguma noção da gravidade do que fez? – Questionou – Não apenas insultou uma amiga, como também a ameaçou e a agrediu. Eu não posso simplesmente ignorar algo assim Natsu.

Bem... Eu sabia que isso aconteceria. O que eu fiz a Lucy foi imperdoável. Então simplesmente aceitei o inevitável.

– Eu sei Mestre. Eu... Eu aceito a expulsão da guilda.

Nesse momento ele suspirou e relaxou na cadeira na qual se instalara. Não parecia mais o grande mestre da Fairy Tail e sim um pai cansado demais de lidar com tantos problemas de seus filhos.

– Natsu eu não vou expulsar você. Só quero que compreenda o quão grave foram suas atitudes. Eu entendo que você se preocupa com a Lucy, mas isso não te dá o direito de fazer o que fez. Vou suspender você da guilda por um mês. Nesse tempo eu quero que você pense e se acalme. Não vá procurar a Lucy, ela ira voltar quando se sentir pronta, ate lá pense meu filho, nas suas atitudes e nos seus sentimentos por ela.

Depois disso eu me retirei da sala do mestre e sai pela porta dos fundos. Não queria falar com ninguém. Vaguei pelas ruas até que finalmente parei. Estava em frente à casa dela. Não sei por quê. Meus pés simplesmente me levaram ate lá. Encontrei a janela destrancada e entrei. Tudo estava no mesmo lugar, eu podia senti-la em cada canto daquele lugar, aquilo estava me matando, eu já estava indo embora quando algo chamou minha atenção.

Era um pequeno embrulho, vermelho com desenhos de pequenas bolinhas brancas, um pouco menor que a palma da minha mão, ao lado uma carta com meu nome.

Abri a caixa, lá dentro havia um cordão feito de um material especial e extremamente raro, metal do dragão eu acho, completamente resistente a chamas. Nele havia um pingente do mesmo material, um pequeno dragão de fogo muito parecido com Igneel. Na carta havia apenas uma linha escrita, que foi suficiente para me acalmar...

“Espere por mim. Eu vou voltar”.